Rubinho, Schumacher e as novas regras da F1

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Rubinho rendeu-se aos fatos.

Com a renovação de seu contrato com a Ferrari até o fim da temporada 2006, quanto contará 34 anos e estará rumando para um honroso final de carreira na Fórmula 1 , ele passará para a história como o segundo piloto por excelência de Michael Schumacher, abandonando qualquer perspectiva tangível de se tornar um campeão com luzes próprias.

Não entendam esta afirmação como uma crítica. Trata-se da aceitação de uma realidade que mesmo o caráter mais firme não pode contestar. Bater Schumacher é tarefa quase impossível; batê-lo correndo com um Ferrari é tarefa decididamente impossível. Mesmo se o alemão (toc, toc, toc) tiver de se afastar temporariamente das pistas, será ele a ditar os rumos da equipe. Que o diga Eddie Irvine em 1999.

Olhando as coisas pelo lado positivo, mais três anos de Ferrari conferem a Rubinho:

1) acesso garantido ao melhor ou a um dos melhores carros das próximas temporadas – e garantir para si o melhor carro possível é a primeira responsabilidade de um piloto.
2) Boas chances de ultrapassar Emerson Fittipaldi em números de vitórias na categoria (Emerson venceu 14 GPs; Rubinho, até agora, 7) e Piquet em número de pontos conquistados ao longo da carreira (Piquet marcou 485 pontos, Rubinho 337).
3) Uma sólida posição no ranking dos melhores pilotos de todos os tempos, posicionando-se inclusive, junto com Schumacher e Riccardo Patrese, entre aqueles de carreira mais longa.
4) Possibilidades reais de conquistar um ou dois vice-campeonatos e
5) um considerável reforço nas finanças familiares.

Olhando pelo lado negativo, o que se vê? Chances microscópicas de ele chegar ao título mundial? Sejamos francos: enquanto Rubinho não for capaz de correr todas as 16, 17 ou 18 corridas do ano como correu no último GP da Inglaterra, suas pretensas chances mundiais são apenas retóricas. E não sei se, depois de onze anos na Fórmula 1, ele ainda tem direito de pedir paciência ao seu eleitorado.

E não vale dizer que Rubinho poderia almejar a posição de primeiro piloto na Williams, em lugar de Montoya. Acredito até que algum tipo de negociação tenha se estabelecido entre ele e Frank mas duvido que Rubinho tivesse chances reais de ocupar um lugar na equipe, tanto mais ganhando o que vai ganhar na Ferrari. E, mesmo que tudo se arranjasse, não me parece que o ambiente notoriamente hostil da Williams, com Patrick Head distribuindo patadas regulares em seus pilotos, fosse lugar adequado para alguém de personalidade frágil como Rubens. A propósito, as últimas fofocas européias dão como certa a ida de Mark Webber para o lugar de Montoya.

Para Rubinho, fica em aberto a possibilidade de estender sua carreira na categoria por um ano ou dois depois de 2006, muito provavelmente numa equipe média, como a Sauber ou a Toyota, e encontrar finalmente a paz de espírito de quem, um dia, sonhou seriamente ser o herdeiro de Ayrton Senna.

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Quem é o favorito para o título de 2004? Na ausência de evidências confiáveis de desempenho dos carros, não acho indevido renovar as apostas em Michael Schumacher.

Impávido que nem Muhammad Ali, este Pantagruel da motivação não parece ter saciado o seu apetite por vitórias e pode estar de olho num novo recorde, daqueles que, até o seu advento, pareciam impossíveis de serem batidos: o de ganhar cinco títulos em sequência. Fangio, como se sabe, ganhou quatro títulos consecutivos, entre 54 e 57. Os pilotos que mais se aproximaram deste feito espetacular venceram apenas dois títulos em seguida.

Para a Ferrari, o recorde de títulos consecutivos já está no bolso desde o ano passado, tendo superado a marca de quatro títulos da McLaren, entre 88 e 91. Na história da Williams, o melhor retrospecto é de três títulos, entre 92 e 94, igualando o feito da Ferrari entre 75 e 77.

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Mas eu não estou oficializando minhas apostas – vou guardá-las para as vésperas da Austrália. E não considero que será um campeonato fácil. Pelo contrário. A exigência de se usar um mesmo motor por todo o final de semana certamente levará a muitas quebras, ampliando as possibilidades de resultados inesperados.

Motores menos potentes e mais econômicos possibilitarão estratégias de corridas com mais paradas (coincidência ou não, o limite de velocidade nos boxes foi ampliado, dizem que por sugestão da Ferrari), a troca manual das marchas pode favorecer mais as ultrapassagens (ainda que não a quebra de motores por marchas engatadas erradas, já que o acionamento do câmbio continuará sendo eletrônico) e a batalha entre Michelin e Bridgestone continuará sendo imperativa para os rumos do campeonato. No lançamento do novo Ferrari, Ross Brawn deixou isso bem claro: “venceremos ou perderemos segundo a força dos nossos pneus”.

E pelo que se viu até agora tudo leva a crer num equilíbrio entre as três grandes da Fórmula 1, abrindo chances reais para Michael Schumacher, seu irmão Ralf, Montoya e Kimi Raikonenn jogarem o título até o GP do Brasil.

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Informação interessante colhida em Autosprint, especialmente para aqueles que gostam de comparar Fórmula 1 a outras categorias.

A Illmor, projetista e fabricante dos motores Mercedes que equipam a McLaren e também dos motores Honda usados na IRL, conta 502 funcionários; 460 deles trabalham nos motores Mercedes enquanto 42 se dedicam aos Honda. No ano passado, foram produzidas cerca de cem unidades dos motores para Fórmula 1 e 70 para a IRL.

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Para informação dos nossos leitores: a Comissão Fórmula 1, que reúne dirigentes e técnicos das equipes para as discussões mais rotineiras do regulamento, vetou, em dezembro, a utilização de fornos de microondas para pré-aquecimento dos pneus, em lugar das mantas térmicas

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Perguntaram ao piloto Alfonso De Portago por que insistia em arriscar a vida nas pistas dos anos 50. Ele respondeu: “porque em duas horas se vive mais do que em dois anos de vida normal”.

Pilotando um Ferrari, De Portago (saiba mais sobre ele usando a nossa ferramenta de busca) perdeu a vida em um acidente na Mille Miglia de 57, levando consigo o co-piloto mais onze espectadores. O acidente foi tão terrível e cruel que acabou provocando o cancelamento da prova, uma das mais tradicionais do automobilismo mundial.

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Férias são boas, voltar à ativa no GPTotal é melhor e fazê-lo depois de um novo recorde de visitas ao site, em janeiro, é quase uma apoteose. Só espero que o recorde não tenha acontecido justamente porque eu estava fora.

Boa semana a todas.

Eduardo Correa 


Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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