Acabo de chegar de Interlagos. O som dos motores ainda ecoa em meus ouvidos, o vermelho dos Ferrari, mais vivo e sanguíneo do que qualquer fotografia é capaz de transmitir, ainda brilha em minhas retinas, o leve odor da gasolina deflagrada desperta-me lembrança dos anos 70, quando comecei a frequentar o autódromo e era possível ficar mais perto dos carros.
Não importa que já se passaram 32 anos de meu primeiro contato pessoal com a Fórmula 1, ainda me impressiono com estes carrinhos velozes e ariscos e com a insensatez de fazer marchar por Interlagos 16 mil cavalos, fazendo-os passar em boa ordem (ou quase) por caminhos improváveis como o S do Senna e depois, por toda a Reta Oposta, bem na direção de onde eu estava, na Curva do Lago.
Mas a lembrança mais forte que fica desta corrida foi ver, na fase final, Alonso, Sato, Ralf e Schumacher correndo juntos, disputando o 4º lugar, seus motores acelerados em uníssono soando como as trombetas do Juízo.
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Assistindo à corrida da pista, tive uma idéia apenas superficial do que estava acontecendo. Mas tudo ficou claro depois que pude rever a prova pelo vídeo. A conclusão é inapelável: Rubinho vacilou, um vacilo – não um erro – de uma volta, não mais, retardando a sua primeira parada para trocar os pneus intermediários pelos de pista seca.
Isso lhe custou a possibilidade de lutar pela vitória. Notem: lutar pela vitória pois os Ferrari e os pneus Bridgestone não renderam bem em Interlagos, o que pode ser visto pelas dificuldades de Rubinho em reduzir a distância para os líderes a partir da metade da corrida e também pelas dificuldades de Michael Schumacher em melhorar o seu posicionamento, mesmo quando disputava posição com o inofensivo Jacques Villeneuve.
Fica por esclarecer se foi a Ferrari a ordenar a Rubinho que continuasse na pista ouse ele o fez por conta própria – lembrando que Michael Schumacher parou antes de Rubinho. Num caso é outro, a sua responsabilidade não se esvai: era o líder da prova, tinha a obrigação de decidir a estratégia a seguir.
De explicação, por enquanto, só dispomos da fornecida pelo surpreendentemente articulado e observador Luciano Burti na Globo: a de que os pneus Bridgestone só renderiam bem em uma pista perfeitamente seca. De fato, Rubinho continuou a perder tempo para os líderes quando voltou do seu primeiro pit stop.
E, se formos especialmente rigorosos para com ele, podemos acusa-lo de não ter sido mais rápido nas primeiras voltas da corrida, quando poderia ter aberto vantagem sobre os rivais. Mas não sei se este é um julgamento justo: não deve ter sido fácil segurar o Ferrari naquela pista meio molhada, meio seca.
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A vitória de Montoya, em condições de paridade tão pronunciada em relação a Kimi Raikonenn, parece ter se dado por um pequeno detalhe.
Eles pararam juntos para trocar pneus e, por uma questão de centímetros, Kimi saiu à frente dos boxes. Mas Montoya conseguiu recuperar a posição logo na Reta Oposta, diante de um finlandês inexplicavelmente indefeso.
A partir daí, Montoya não cometeu o menor erro, assim como os seus mecânicos nos demais pit stops, não deixando espaço para uma recuperação de seu futuro companheiro na McLaren. E assim se decidiu o resultado deste GP do Brasil.
(Incrível: o intercomunicador de algum mecânico voou à frente do carro de Kimi, quando saia de seu primeiro pitstop. Ele conseguiu desviar sem maiores problemas. Já pensou se, por azar, o tal intercomunicador provoca um furo de pneu? Ia sobrar para a organização do GP.)
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Massa teve a largada facilitada pela falha de Montoya e quando este tentou recuperar o 3º posto já na Curva do Lago, teve o espaço fechado sem maiores cerimônias pelo jovem brasileiro que partiu, decidido, para cima de Rubinho.
Mas Massa não teria vida fácil: logo depois, perde a posição para Button e Montoya, recupera uma posição no Junção – e ele ainda nem havia completado a primeira volta.
Haveria mais nas voltas seguintes, Massa batendo e apanhando até se fixar na 4ª posição, graças à quebra do motor de Button. Depois, chegaria brevemente à liderança da corrida mas pagaria caro por ter retardado tanto a sua primeira troca de pneus.
Fez a corrida possível na sequência, terminando em 8º enquanto Fisichella, apesar de ter rodado no comecinho da corrida, terminava logo atrás.
Se eu fosse Felipe Massa, estudaria em detalhes as estratégias de corrida de Giancarlo Fisichella. Acho que o ajudaria a se tornar um piloto melhor e mais constante.
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Ricardo Zonta passou todo o começo da prova à frente do companheiro Jarno Trulli, o que não é pouca coisa.
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Como lápide, não se poderia esperar por nada mais emblemático do que a batida entre Webber e Klein, marcando o fim das atividades da Jaguar na Fórmula 1.
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Alguém pode me explicar para o que serve a previsão do tempo? E por que nos damos ao trabalho de discuti-la?
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Ainda há espaço para o bom humor na Fórmula 1.
Desde o GP de Monza os mecânicos da Jaguar passaram a levar para as corridas um burrinho que foi fotografado em situações engraçadas, por exemplo espiando os boxes de outras equipes ou “embriagado”, durante uma visita à Muralha da China. Ricardo Divila já havia me enviado um link para o site onde estão as fotos do burrinho (www.donkeydoesf1.co.uk) e hoje a Folha de S. Paulo publica uma reportagem de uma página sobre a brincadeira.
No começo os dirigentes da equipe não gostaram da brincadeira mas acabaram por aceita-la, até para manter o moral da tropa, depois de anunciado o fim da equipe.
E o burrinho acabou vindo ao Brasil. Aproveitando um atraso de Michael Schumacher para a foto oficial dos pilotos ele ganhou um lugar ao lado de Rubinho.
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Sai dos treinos de sábado sentindo-me um perfeito idiota por ter ido até lá para ver os carros passarem acelerados duas vezes – duas vezes! – diante de mim.
Eu ainda podia ter remediado a situação se me dispusesse a chegar às 8h da matina ao autódromo mas, no ano que vem, nem isso me salvará, já que, em teoria, com o regulamento de um único jogo de pneus para todo o GP, vai sair-se melhor quem rodar menos nos treinos livres.
Como costumava dizer Rubem Braga, as coisas antigamente eram piores, mas elas foram piorando…
Uma boa semana a todos.
Eduardo Correa |