Schumacher mandou a estratégia de corrida às favas

Tazio Nuvolari
15/10/2001
PROFUSÃO DE BOBAGENS
19/10/2001

Panda

Você pode me explicar uma coisa? Schumacher parou só duas vezes para reabastecer, não parou? Então, o seu Ferrari pesava tanto quanto o Williams de Montoya, não pesava? Pois então, como ele conseguiu ser tão rápido no começo da corrida, abrindo mais de três segundos por volta nas duas primeiras voltas? Enquanto isso, lá atrás, uma certa pessoa largou com menos combustível no tanque, já que ia fazer três paradas, e nem consegue chegar ao segundo lugar.

Quer saber? A estratégia da Ferrari no Japão era a seguinte: Rubinho larga mais leve, dispara na frente e Schumacher corre em segundo, tentando fazer uma corrida de defesa para o pequeno companheiro, como Senna fez com Berger em 91.

Quando viu que Rubinho não conseguiu arrancar para a liderança – ele largou mal mas conseguiu se recuperar um pouco, graças a uma ultrapassagem corajosa na primeira curva -, Schumacher pisou fundo e mandou a estratégia às favas. “Não vou entregar outra corrida”, deve ter pensado o alemão, lembrando-se de Indy, uma corrida que ele certamente poderia ter vencido não fosse a moleza que deu para Rubinho.

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E nosso amigo brasileiro não pode ser queixar.

Ele teve a equipe trabalhando para ele nas últimas corridas e não conseguiu corresponder: simplesmente não foi rápido o bastante, rápido como Schumacher costuma ser. Infelizmente para Rubinho, seu parâmetro de comparação é um piloto que se alinha entre os cinco maiores de todos os tempos, ao lado de Senna, Clark, Fangio e Nuvolari, um piloto diante do qual gente como Piquet, Lauda, Stewart, Grahan Hill e Moss teriam de baixar a crista.

Ainda que tenha feito ultrapassagens arrojadas, mostrado coragem e determinação em muitos momentos das últimas corridas – estou falando do GP da Alemanha para cá -, Rubinho pôs a nu a sua principal falha como piloto: a incapacidade de ser constantemente rápido durante uma corrida e de mudar a sua forma de pilotar consoante a estratégia da equipe.

Isso contará pontos contra ele durante o campeonato de 2002.

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Piquet, em sua coluna no Jornal da Tarde de ontem, diz torcer para que Schumacher se aposente. Mas que coisa mais estúpida! E perder estes verdadeiros espetáculos de pilotagem? E digo mais: torcer para ele parar e depois perder as disputas extraordinárias que serão inevitavelmente travadas entre ele e Montoya?

Edu, que nota você dá para o palpite do Piquet? Zero!!

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Ainda Ralf x Montoya. O alemão sabe que vai precisar de mais que as suas habilidades automobilísticas para bater Montoya. Por isso, começa a exercitar os seus dotes políticos. Na Autosport da semana passada – não recebi ainda, só vi os comentários nos jornais e internet – Ralf diz que se a Williams não indicar um primeiro piloto se dará mal no campeonato de 2002.

Trata-se de uma sugestão tão inútil como um apelo do Papa à moderação e paz. Frank Williams nunca vai indicar um primeiro piloto – nunca indicou, geralmente se deu mal por causa disso e, mesmo assim, insiste em fechar os olhos e ver no que dá (na verdade, ele tentou uma vez, com Alan Jones frente a Carlos Reutmann, mas as coisas saíram pior do que a encomenda).

A questão em relação a chefes de equipe como Williams e Ron Dennis (que já avisou que não vai ter boi para Coulthard no ano que vem) é que eles estão disputando um campeonato com Enzo Ferrari, que está no céu acelerando uma boa nuvem.

Assim, não podem permitir que um piloto brilhe além de um certo limite, ganhe mais do que uma certa quantia, mande mais do que um tanto dentro da equipe. Importante tem de ser eles, não o piloto, nem o projetista.

Boa sorte, Frank Williams, mas Enzo está bem na frente.

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Ele tinha dito que o faria – e o fez. Ukyo Katayama, um dos japoneses que assombrou a Fórmula 1 com seu talento e audácia, chegou ao topo do Monte Everest.

Não é façanha para qualquer um: são 8 848 metros acima do nível do mar, uns 3 500 metros acima do acampamento base. Meus respeitos pelo feito esportivo do pequenino japonês que correu pela Tyrrel e, acho, pela Arrows.

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Nosso leitor Ernesto Soares escreveu reclamando que temos contado poucas histórias aqui do GPTotal.

Ele tem toda a razão. É que a gente se empolga comentando as corridas e esquece das histórias. Mas não tem nada não, Ernesto. Nos próximos meses, vamos ter tempo de sobra para histórias.

Para não perder a viagem, o próprio Ernesto mandou uma, do Emerson. Lá vai:

“dizem que o Emerson Fitipaldi era grande amigo de um dos integrantes do Zimbo Trio (acho que é o Hamilton Godoi). Um dia o Emerson o leva para assistir alguns treinos livres em Interlagos. O Hamilton estava assistindo e só ouvindo o barulho do carro do Emerson. Em um determinado momento ele disse aos mecânicos: o carro passou meio tom (musical) abaixo do que estava passando antes. Todos riram. Na volta seguinte o Emerson parou com problemas no motor.”

É isso aí Ernesto. Mande mais história sempre que quiser.

Um abração para você e outro para o Panda

Eduardo Correa

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