Schumy ganha, mas não deve ser tão fácil assim

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Panda

Cresce rapidamente a percepção dos especialistas – incluindo você – de que a temporada 2002 será uma repetição da de 2001, com a vitória fácil de Michael Schumacher.

Concordo com esta percepção em sua essência: sim, Schumacher chegará ao mítico pentacampeonato. Discordo, porém, de que será um título fácil, assim como acho que o título do ano passado só foi fácil em aparência (veja minha coluna de 08/09/01). Acredito que haverá forte reação à Ferrari ao longo de temporada. McLaren Mercedes e Williams BMW têm muito em jogo para não investirem e trabalharem duro, melhorando seus carros. Recursos técnicos, financeiros e gerenciais as duas têm de sobra para isso.

Assim, creio que 2002 será um campeonato decidido em sua primeira metade, com vitórias mais do que prováveis de Schumacher nas quatro ou cinco primeiras corridas. Ele vai se aproveitar da baixa competitividade dos adversários, que terão dificuldades para testar neste período por força das corridas extra-européias.

A partir de maio, McLaren e Williams devem ter carros mais rápidos. Mas aí, talvez, seja tarde demais para resgatar o quinto título das mãos do alemão.

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Michael Schumacher fez a pole em Barcelona em 2001 com o tempo de 1m18.201s. Se não perdi nada, só quatro pilotos baixaram este tempo nos testes recém-encerrados no autódromo espanhol: Wurz, o mais rápido de todos os testes, com 1m17.328s, pilotando o McLaren do ano passado, Raikkonen, Rubinho e Heidfeld. Os demais pilotos, e só uma meia dúzia deles não passou por Barcelona nas últimas semanas, rodaram tempos mais lentos do que a pole assinalada nove meses atrás.

Talvez estejam escondendo bem as suas cartas para a temporada mas prefiro acreditar que a safra 2002 da Fórmula 1 é muito fraca.

Gehard Berger e os pilotos da Williams confessam sua decepção com as qualidades do Fw24. A McLaren está caladinha da silva mas o carro de 2001 foi mais rápido do que o modelo novo em todos os testes. A Jaguar já botinou seu projetista, Steve Nichols. Por que será? Bar (que corre o risco de perder Jacques Villeneuve depois do GP da Austrália), Renault, Jordan e Toyota não conseguiram até agora tempos minimamente animadores, mesmo podendo dar uma “roubadinha”.

Enquanto isso, a Minardi e Arrows retardam a apresentação oficial dos seus novos carros. É a mesma situação da Jordan, que alega estar fazendo os últimos arranjos com os patrocinadores. A verdade, porém, é que se avolumam fatos e boatos que indicam que Jordan e Arrows estão passando por crise financeira.

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Uma das perguntas chaves da temporada 2002 pode ser exatamente esta: será que a crise que soterrou a Prost é um fato isolado? Os problemas da Arrows já são públicos. A equipe fechou com grande prejuízo o ano passado, suportado pelo seu proprietário, Tom Walkinshaw, um dos homens mais ricos da Inglaterra.

Além das insinuações sobre a Jordan, sabe-se também que as coisas na Jaguar andam agitadas. A direção mundial da Ford mudou e torceu o nariz para os investimentos do grupo na Fórmula 1. O mesmo não poderia acontecer com Renault e Toyota?

Bar? É um mistério. Falou-se no final do ano passado que a Honda está disposta a construir o seu próprio carro, um Honda-Honda, como fez nos anos 60. A saída do fundador da equipe, Craig Pollock, não poderia sinalizar uma futura negociação entre a proprietária da equipe, a British American Tobbaco, e os japoneses?

Nada indica que a crise possa atingir as três grandes, Ferrari, McLaren e Williams. Mas me permitam ser só um pouquinho paranóico: Luca de Montezemolo, presidente da Ferrari, anunciou recentemente a sua disposição de investir “na mais moderna fábrica de automóveis do mundo” que teria, entre outras coisa, um bosque dentro dela.

Esta é tipicamente uma iniciativa de anos de vacas gordas. Depois, o mercado dá uma virada, o pátio se enche de carros e você se descobre com as calças na mão, devendo mais do que o valor da empresa. Aí, Montezemolo vai ter de conversar com a Fiat e a GM, que está em processo de aquisição da Fiat em médio e longo prazo, e explicar que precisa de US$ 250 milhões para fechar as contas do ano. Pode ouvir como resposta: “Ah é? Então gaste menos na Fórmula 1…”

Sobre as outras questões a serem respondidas pela temporada 2002, falo na próxima coluna.

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Uma última coisa.

Luca di Montezemolo, leio no www.warmup.com.br, deu um recado claríssimo, que até Rubinho é capaz de entender. “Se Rubens der um passo adiante em seu relacionamento com a equipe e com Schumacher, não vejo motivos para mudanças em 2003. Não há muitos pilotos no mercado com capacidade de guiar pela Ferrari.”

Eu já havia falado sobre isso tempos atrás, considerando boas as chances de Rubinho emplacar 2003 na Ferrari. Pois Luca já deu o primeiro lance na partida de xadrez que será jogada nos próximos três ou quatro meses.

Aguardamos, ansiosos, o lance de Rubinho.

Grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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