Sideshow

Fim de jogo?
03/10/2013
Sexo e aceleradores
09/10/2013

O GP da Coreia se dividiu em duas partes: Sebastian Vettel e o resto. E foi esse "resto" que trouxe alguma emoção.

Já houve vezes em que, convidados para uma refeição, nos deparamos com a seguinte situação: o prato principal está insosso, medíocre, sem graça; mas algum elemento na mesa – uma salada, um creme, um purê, uma sobremesa – se revela muito mais atraente e salva a refeição. “Ah, a carne não estava aquelas coisas, mas o purê de mandioquinha estava ótimo”. Por aí.

O GP da Coreia foi assim: a luta pela vitória – o prato principal – foi insosso, medíocre, sem graça. Sebastian Vettel fez nada menos que o Grand Slam do esporte a motor: pole, vitória de ponta a ponta e volta mais rápida. O conjunto Vettel/Red Bull, de cara pro vento, pode ser cerca de 1,5s mais rápido por volta que qualquer outro. Sim, eu disse conjunto: o mérito é dividido entre Adrian Newey e seu piloto – não há como dissociá-los.

A despeito da carência de público e de quão irritante é o circuito de Yeongam (onde está a semelhança com Jacarepaguá? Tem gente que andou comendo alfafa…), o espetáculo secundário, o sideshow, foi interessante, com lutas entre Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Nico Rosberg e Hülkenberg e Mark Webber.

Kimi Räikkönen pode até não estar apresentando velocidade visceral nos treinos, mas está impecável em ritmo de corrida. Seu ritmo forte tem a ver com uma boa combinação de consistência em tempos de volta e conservação dos pneus – foi um dos últimos a se livrar do péssimo pneu supermacio, na volta 12, sendo que alguns como Jenson Button fizeram sua troca na volta 5. Claro, quem está com pneus em melhor condição, mesmo com equipamento inferior, vai render mais. E Kimi é ótimo nisso.

Romain Grosjean, único que tentou perseguir Vettel, desempenhou bem seu papel, superando Lewis Hamilton ainda na primeira volta e suportando a pressão do rival na primeira rodada de pits, para novamente abrir vantagem. No momento em que o pneu de Sergio Pérez explodiu, no giro 32, Grosjean estava 8,4s atrás de Vettel, enquanto o resto do pelotão figurava mais de meio minuto atrás. Com o fim das diferenças, Romain cumpriu a estranha escrita de toda vez que chega em 3º, ter Räikkönen na 2ª posição…

Hülkenberg, o 4º, foi o nome da corrida. Deu uma prova definitiva de que merece uma chance em um carro competitivo. A meu ver, seria um nome muito mais atraente que Ricciardo na Red Bull. Mas Dr. Helmut Marko mantém o programa de jovens revelações. Na outra ponta, seu companheiro Esteban Gutiérrez se apresenta, junto com Max Chilton em sua carroça chamada Marussia, a prêmio de pior piloto do grid. A disputa é grande…

A Ferrari segue em um dilema: sabe que não tem um bom carro e que é desperdício de tempo e dinheiro desenvolvê-lo. Ao mesmo tempo, sabe que seria interessante financeiramente terminar o campeonato de construtores na vice-liderança, à frente da Mercedes. Neste fim de semana, os carros vermelhos jamais conseguiram desempenho andando com pneus supermacios, e nos médios, foram superados pela Sauber de Hülkenberg.

Webber, como mencionado, estava no pelotão que deu à corrida algum tempero. Mas teve um final quente e novamente sem terminar a corrida – ainda que, desta vez, sua carona não tenha sido de Ferrari. Entre falhas de kers, de pit stop, de porca de roda, câmbio, embreagem, câmbio, motor e até falha de Multi21, Mark precisa mesmo é cair fora e curtir seu status de estrela no programa de Le Mans da Porsche.

Sabem por que Felipe Massa recebe tantas críticas? Porque ele dá margem para que isso aconteça. Sua rodada ao fim da grande reta na primeira volta, ao frear demais, foi coisa de amador correndo em kart indoor, com as rodas traseiras bloqueadas. Ao ver a manobra em replay, consigo ver claramente o que ele queria: passar Alonso, ficar na frente de Alonso, superar Alonso. E quase faz um boliche logo no começo da corrida.

Quando Massa disse que não vai ajudar Alonso neste fim de contrato, agora entendo o que ele quer dizer: Ele não vai ajudar Alonso porque não consegue ajudar nem a si mesmo.

Mudanças de ares farão bem a ele. Seja lá quais forem.

Sabem por que Hermann Tilke recebe tantas críticas? Porque ele dá margem para que isso aconteça. Seus circuitos sempre exigem a mesma (alta) carga de downforce. O exemplo veio durante a corrida: o bico de Nico Rosberg, de alto arrasto, cedeu ao sair do vácuo de Lewis Hamilton. Não adianta projetar uma reta enorme, como de Yeongam, se você tem que suar asas “pesadas”.

Esse projetista picareta é incapaz de fazer um circuito de alta velocidade, ou simplesmente projetar curvas de alta – já se tem ideia do crime que cometerá com a Peraltada de Hermanos Rodríguez, que volta a sediar o GP do México no próximo ano.

Ao menos foi bonito ver as faíscas saindo da asa dianteira…

Ao que parece, Lewis Hamilton virou simpatizante da Cientologia. Vocês já ouviram falar dela: é uma seita de ideias abitoladas criadas por um picareta escritor de ficção científica que (pasmem) foi levado a sério que adora arrancar milhões dos atores de Hollywood com cabeça fraca, como Tom Cruise e John Travolta.

Que falta faz a Lewis um Ron Dennis como padrinho conselheiro.

Por falar em Ron Dennis, a McLaren está numa situação um tanto peculiar. Além da óbvia falta de desempenho do carro com suspensão pull-rod, e de ter que competir diretamente com Force India nos construtores,o diretor Martin Whitmarsh está com uma estranha insistência de que a equipe gostaria de ter Alonso de volta.

Claro que os predicados técnicos de Alonso fariam bem a qualquer equipe que o asturiano vá, mas alimentar a silly season desta maneira está bastante estranho. Estaria a McLaren fazendo isso apenas para provar que estaria com saúde financeira para bancar o maior salário do grid? Estaria tentando atiçar Button e/ou Pérez? Peço ajuda dos amigos para dissecar esse episódio.

Seguimos para Suzuka, circuito que eu adoro. Toda vez que penso em Suzuka, me vem à mente a música Truth, do grupo japonês instrumental T-Square. Ela foi usada por muitos anos como tema de abertura da F1 da TV Fuji.  Encerro a coluna com ela.

httpv://youtu.be/kXQfWIKWPuI

Aquele abraço!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

10 Comments

  1. wladimir duarte sales disse:

    Grato pela lembrança, Mario. O que me entristece foi ver o gp Brasil ao vivo em Jacarepaguá/88 e não ver uma vitória de Senna que deu show na corrida e foi desclassificado. Enquanto “monsieur” Prost passeou na pista e quase foi ameaçado por Berger mas acabou nos brindando com outra de suas dezenas de vitórias burocráticas. Apesar de serem casos raros vimos incêndios nos carros em 1982, 1983 (Keke Rosberg), 1989 (Berger em Ímola) e alguns nos anos 90. Quanto ao socorro pelo que vc disse seria demora semelhante aos casos de Lauda (Alemanha/76), Peterson (Monza/78) e Paletti (1982). Mas é inconcebível na F1 do século 21 bombeiros e fiscais de pista se atrapalharem desse jeito. Queria ter assistido corridas no Interlagos original e também me entristece que o último homem a defender a restauração do traçado antigo, Antonio Carlo Avallone, tenha nos deixado sem ver seu sonho se realizar.

  2. Fabiano Bastos das Neves disse:

    Me parece que o Massa deve ter “pisado no calo” de alguém do GPTo, pois aqui só leio comentários amargos direcionados ao piloto.
    Não sou advogado do cara, e sei que sua performance não é a dos sonhos, mas a corrida dele (exceto pela rodada) foi muito boa. Ele recuperou-se bem, ultrapassou uma Sauber (coisa que o Alonso não conseguiu) e realizou uma das manobras de ultrapassagem mais bonitas da corrida.
    Até mesmo a manobra mal sucedida no início da corrida, na minha avaliação, foi interessante. Olhem novamente o replay da manobra e vejam que, não fosse pela fechada de porta que ele levou do Rosberg, ele teria ganho diversas posições, provavelmente ficaria em 5º naquele momento. Os fatos demonstram o quanto a manobra foi arriscada, mas na situação dele esse risco é plenamente justificável.
    Espero estar enganado quanto ao “pisão no calo”, pois sempre achei que aqui as opiniões eram isentas. Até peço desculpas por ter “levantado esta lebre”. Noutro caso, vocês precisam esvaziar suas mentes das expectativas criadas, da necessidade de que nossos pilotos sejam sempre os melhores. Na minha opinião, bem mais da metade do grid fez corridas piores que a do Massa, e nem por isto sofreram tantas críticas (ex.: Mercedes, Hamilton, Rosberg e sua corridinha burocrática, ou mesmo Webber que não consegue fazer sua RedBull andar nem perto do que a do Vettel).
    Não há dúvida de que as melhores corridas foram as dos quatro primeiros colocados, mas fora estes quem mais levou emoção à prova foi Massa, os demais fizeram aquela corridinha burocrática para chegar ao final e só.
    Já conheço a resposta que virá (espaço democrático, blá blá blá, respeito às opiniões, blá blá blá), nem precisam publicar, pois não escrevo para vocês, escrevo somente por que precisava escrever.

    • Flaviz disse:

      Fabiano,
      Escreva sempre! É muito bom ter contrapontos.

      Ele não pisou no calo de ninguém aqui, não seria nem o caso. Aqui fazemos um jornalismo opinativo, são opiniões dos colunistas desse site. Portanto, essencialmente, não precisamos agradar piloto x ou y, somos comprometidos com a sinceridade das nossas opiniões, respeito aos leitores e profissionais do meio.

      O ponto é: a gente conversa muito sobre as sensacionais desculpas que ele sempre tem na ponta da língua para um desempenho ruim. Principalmente por elas não serem vistas pela “grande mídia” como as desculpas de Barrichello. Também achamos bem “engraçado” a mídia isenta e verdadeira defendê-lo como um piloto de “bom caráter” (os outros não são/eram?) e nunca falarem da sua pilotagem.

      Sobre a corrida. A manobra dele foi muito otimista. Digna de Playstation. Ele só faria a curva se batesse em alguém e seu carro fosse indestrutível. Por isso ele travou as rodas e rodou. Olhando a tabela de tempos da corrida, ele anda consistentemente abaixo dos tempos de Alonso (mesmo carro, mesma equipe), sempre por volta de 2 décimos de segundo. Isso deu pra ele um 9º lugar? Ótimo. Atrás dele uma McLaren que, veja você, briga no campeonato com Force India e a Sauber de um Esteban, devidamente elogiado nessa coluna. Depois dos dois só chegaram ao final, duas Williams, duas Caterhams e duas Marussias. Não é uma corrida digna de nota. No prestigiado Autosport, as notas de Massa não passam das notas dadas Max Chilton, Charles Pic e van der Garde.

      Webber, coitado, ele é foco de nossas homenagens pré corrida. Sempre com uma boa foto que mostra toda sua preocupação com a F1.

      Abraços
      Flaviz

      • Mário Salustiano disse:

        Flaviz

        Esse ponto que voce aborda sobre isenção e estar atentos a fatos opinativos independente de agradar x ou y é fundamental para muito dos leitores que aqui circulam, eu sou um deles, sim estou de acordo que precisamos ter contrapontos e os que assim se postarem serão respeitados, por isso Fabiano não deixa de vir por aqui, no contraponto temos a liberdade de pensar fora da caixa e muitas vezes isso enriquece o debate , e debate rico sem baixarias é uma das maneiras mais gostosas de convivência, ao final todos ganham, ganhamos amizades, ganhamos conhecimentos, ganhamos uma coisa cada vez mais rara nos dias atuais, relações pautadas pela sinceridade

        abraços
        Mário

  3. wladimir duarte sales disse:

    Vettel é tetra! É só uma questão de tempo e Kms de gp para a confirmação! Em 2014 vejo uma temporada de cão para Alonso caso continue na Ferrari, pois se Kimi Raikkonen tira leite de pedra com a Lotus que já foi um carro 92% e agora está em 88% imagine o que fará voltando a Maranello e tendo um carro melhor. Alguém por favor confirme se a especulação de Whitmarsh sobre uma possível volta do asturiano à McLaren tem algo de concreto. Quanto ao Massa, seu desempenho é pior do que Nigel Mansell entre 1981 e 1984. Com a diferença que o leão ainda era pouco experiente mas mesmo assim conseguia milagres com aquela Lotus na época entre os últimos anos de Colin Chapman e a “zona de Warr” (trocadilho de Cristopher Hilton para o período em que Peter Warr chefiou a equipe). Mansell conseguiu alguns pódios e uma pole mas marcou poucos pontos pois Elio de Angelis era um pontuador tão irritante quanto Raikkonen é hoje. Felipe só conseguiu alguns pontos porque até o 10º colocado pontua hoje em dia. Graças a um certo grupo de mídia televisiva que tem a exclusividade das transmissões da f1 há mais de trinta anos muitos fãs da categoria estão mal acostumados pois querem ver brasileiros vencendo e disputando o campeonato sempre. Se esses senhores da mídia fizessem campanhas contra o descaso da CBA e das federações estaduais quanto à manutenção das categorias de base de monopostos e parassem de encher linguiça daquela monomarca ridícula maquiada de multimarca em que se transformou a stock car Brasil! Eu não ligaria se houvessem campeonatos de gran turismo semelhantes aos dos anos 70 (divisão 1, divisão 3, grupo 1 classe C…) mas que fossem multimarcas como a fórmula truck! E quantos campeonatos de monopostos temos sequer na América do Sul? A f3 sulamericana é uma pálida sombra do que foi até o final dos anos 90. A F-ford formou grandes campeões mas foi extinta, também tivemos f-chevrolet e f-renault mas quando as fábricas retiraram o apoio acabaram num instante! E quanto ao sr. Ecclestone? Fala que é importante ter pelo menos um piloto brasileiro no grid ao mesmo tempo em que declara não poder fazer nada para que Massa permaneça na categoria! Se é pra continuar sendo hipócrita e dúbio é melhor ficar calado! Muito ajuda quem não fala demais e não exibe demagogia.

    • Mário Salustiano disse:

      Wlademir

      gostei muito de todos os pontos que voce menciona,se me permite assino embaixo

      abraços

      Mário

  4. Lucas dos Santos disse:

    GP bastante movimentado, por incrível que pareça.

    O erro do Massa no começo foi bem primário mesmo. Deu para ver claramente que ele travou as rodas traseiras, mas mesmo assim houve quem dissesse que ele foi tocado por alguém! Mas também, tinha quatro(!) carros lado-a-lado rumo àquela curva. Quando eu vi os carros em “four-wide” logo imaginei que iria sobrar para alguém. O mais interessante é que o Massa quase levou o Alonso junto naquele acidente! O tempo iria fechar na Ferrari se isso acontecesse!

    Quanto ao bico do carro do Rosberg, fiquei com a impressão que a equipe não o parafusou direito, o que ocasionou o incidente. Pois, se vocês repararem bem, ele se solta exatamente no encaixe com o carro, não foi necessariamente uma quebra – a menos que o mecanismo de fixação não tenha suportado a pressão, o que eu duvido muito.

    Vettel mais uma vez demonstrando a sua superioridade, e acredito que deve ser assim até o fim do ano. A Red Bull conseguiu evoluir o carro justamente em um momento em que as outras equipes estão pensando no carro do ano que vem e não querem perder tempo com o carro atual. Desse jeito, o alemão só não conquista o título se quebrar em todas as corridas restantes ou se algo o afastar das pistas até o fim da temporada.

    E a tão aguardada chuva torrencial não apareceu e sequer ameaçou a corrida. Acho que ela seria a única capaz de mudar o resultado desta corrida. Mas é melhor assim, pois desfile de Safety Car ninguém merece.

  5. Fernando Marques disse:

    O GP da Coreia manteve os script da temporada com Vettel vencendo e o Massa fazendo merda …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  6. cruz disse:

    os circuitos do alemão são ruins pra quem assiste, mas td mundo (que corre) sabe que em curvas de alta ninguém ultrapassa ninguém…do massa, ele é radical: ou fica no morninho e se fode ou arrisca demais e se fode – mas quem não arrisca não petisca, ainda mais com essa bosta vermelha que ele ainda pilota e saiu e último pra 9º, o que pra torcidinha de brasileirinhos novinhos isso não é bom. ah, e pq só o carro da rosberga quebrou o bico e outros não? culpa do tilke.
    p.s.: bah, mas que música brega meu querido!

  7. Mauro Santana disse:

    Bela coluna amigo Lucas!

    Aproposito, o que a dupla da RG de mais de 40 anos falou de Jacarepaguá?

    Pergunto, pois nas duas vezes que escutei o nome do finado circuito eu perdi o papo, pois o sono estava mais forte.

    E o incêndio no carro do Webber!?

    Que atendimento precário, e fiquei imaginando se o piloto estivesse preso dentro do carro.

    Será que iríamos ver uma cena muito comum como nos anos 70?!

    Bela música, e eu sempre gostei muito dela.

    Segue uma das aberturas da TV japonesa.

    http://www.youtube.com/watch?v=pJCcuny4xwo

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

Deixe um comentário para Fernando Marques Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *