Spa Francorchamps. Essas duas palavrinhas mágicas significam velocidade, clima instável e emoção nos 75 anos de F1. Se os dois primeiros adjetivos marcaram presença nesse final de semana belga, a terceira parte ficou em falta. O belíssimo traçado de Spa emociona pilotos e público, com suas curvas históricas e de tirar o fôlego de quem está no carro e assistindo. A esperada chuva deu às caras no domingo e atrasou em mais de uma hora a largada, muito pelos problemas técnicos dos carros atuais da F1. No entanto, a corrida em sua maior parte ficou longe de empolgar. Nem mesmo o sensível momento de trocar os pneus intermediários para o slick ainda no primeiro terço de prova fez com que a corrida tivesse alguma emoção mais forte na luta pela vitória.
Lá na frente, no reino encantado da McLaren, Oscar Piastri aprendeu bem a lição de sábado na Sprint e após a bobeada (mais uma) de Lando Norris na largada lançada, o australiano ultrapassou facilmente o companheiro de equipe para administrar a corrida por inteiro e frear a reação de Norris no campeonato.
Tivemos nosso tradicional programa de análise da corrida na noite de segunda-feira, como já é tradição em nosso Canal de Youtube. E promovemos mais uma estreia de convidados: Junto ao meu companheiro de sempre de “bancada” Lucas Giavoni, tivemos a participação de Roberto Taborda e André “Boina” Bonomini comentando o GP belga.
A estreia do Boina como colunista já aconteceu, em seu relato sobre as 6H de São Paulo. E nos próximos dias, teremos o relato do Betão também. É a volta de uma marca registrada do GPTo: o retorno da icônica coluna FRIENDS – a qual já passaram tantos colunistas fixos aqui do site.
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As duas semanas sem corrida de F1 foram bem agitadas. Especificamente para o torcedor brasileiro, houve a notícia da troca da TV Bandeirantes pela TV Globo a partir de 2026. Algo esperado desde todo o problema que a Band teve com a Liberty Media no ano passado, além do maior alcance da Globo no território brasileiro.
Três dias depois do Grande Prêmio da Grã-Bretanha a Red Bull causou um terremoto na F1 com a demissão sumária de Christian Horner, chefe de equipe e a cara da Red Bull Racing desde 2005. A saída de Christian suscitou vários questionamentos, mas o principal é: Horner saiu porque a Red Bull já sabe que perdeu Max Verstappen ou Horner saiu para segurar Max Verstappen numa tentativa desesperada?
Essa pergunta pode ser respondida nas próximas semanas.
Laurent Meckies foi o escolhido para substituir Horner na Red Bull e o engenheiro francês começou com o pé direito na equipe austríaca. Max Verstappen deu um verdadeiro show ao vencer a Sprint Race do último sábado, ultrapassando o pole Oscar Piastri na primeira volta e controlando a dupla da McLaren em todas as quinze voltas da corrida mais curta. A manobra de Verstappen ressoou na cabeça de Piastri e reverberou no domingo.
Oscar Piastri não escondeu o descontentamento de perder a pole da corrida principal para Lando Norris por tão pouco, mas o australiano sabia que tinha boas chances de vitória largando da mesma posição de Verstappen na Sprint. Max foi superado surpreendentemente por Charles Leclerc na classificação, fazendo o neerlandês largar apenas em quarto.
Desde o início da semana passada se falava que o clima instável se faria presente em Spa e após dois dias de relativa calmaria e piso seco, a chuva veio com força no domingo. Nosso colunista e meu irmão que a Internet me deu Lucas Giavoni falou algo certeiro da F1 atual. Se antigamente vibrávamos com uma corrida debaixo de chuva, hoje soltamos um palavrão.
A corrida da F3 foi suspensa e no momento da largada da F1, a pista estava encharcada. Por contrato a volta de apresentação ocorreu na hora marcada e no final dela os carros já estavam de volta aos boxes, com a bandeira vermelha à mostra, enquanto a chuva aumentava. Sim, mais uma vez a F1 mostrou sua alergia à chuva. Atrasos de largada devido à chuva SEMPRE aconteceram na história da F1 e é simplório demais afirmar que ‘os pilotos atuais não tem coragem de correr na chuva’. Os problemas são outros e são de origem técnica. O primeiro é o assoalho soprado, que em asfalto molhado cria uma nuvem de spray que torna a visibilidade praticamente nula para quem vem atrás dos carros. Outro ponto é o pneu de chuva forte da Pirelli, que tem a mesma serventia de um fósforo a prova de fogo. Basta observar que mesmo com a pista muito molhada, todos os vinte pilotos saíram para a volta de apresentação calçados com os pneus intermediários.
Os comissários esperaram oitenta minutos para autorizar a largada e ainda assim, atrás do Safety-Car. De forma geral os pilotos apoiaram a FIA em atrasar a largada, pois a visibilidade estava bastante precária, mas a gritaria foi geral na demora em dar a nova largada. Várias equipes apostaram num acerto de pista molhada e quando o Aston Martin de Bernd Maylander foi à pista, fazia até sol em Spa, destruindo a tática desses times, pois se correu muito pouco tempo com a pista molhada.
Já está se tornando folclórico os vacilos que Lando Norris dá quando larga na ponta e hoje o inglês repetiu seus ‘feitos’ ao acelerar cedo demais na largada lançada, permitindo que Piastri o perseguisse muito de perto os primeiros metros valendo do Grande Prêmio da Bélgica. Oscar tinha em mente o que sofrera no dia anterior. Após fazer a Eau Rouge colado em seu companheiro de equipe e debaixo de muito spray, Piastri colocou de lado na Kemmel e com muita facilidade, tomou a ponta da corrida. Cópia carbono (os mais velhos saberão do que estou falando) do que acontecera no sábado, mas com Piastri sendo o beneficiado.
Para complicar as coisas para Lando Norris, a pista já tinha pontos secos e com o sol do lado de fora, o asfalto secou rapidamente. Com Piastri na ponta, ele teria a prioridade no crítico momento de se colocar pneus slicks com a pista ainda úmida. Um dos pilotos mais rápidos dos que largaram mais atrás, Lewis Hamilton abriu os trabalhos para colocar os pneus slicks, dando o sinal de que havia chegado a hora de fazer a troca. Com a dupla da McLaren separada por menos de 2s, a parada dupla não era possível, portanto, Piastri entrou nos boxes para colocar pneus slicks, com Norris tendo que esperar uma volta para calçar slicks. A diferença que era em torno de 2s subiu para 8s, mas a disputa entre os dois discípulos de Zak Brown não havia terminado totalmente.
Com os rivais novamente longe em outro domínio da McLaren, Norris resolveu arriscar e ao invés de seguir o que todo pelotão fez (colocar os pneus médios), o inglês saiu dos pits com pneus duros, dando um claro sinal a todos: não pararia mais. Mesmo com uma bela vantagem nas mãos, Piastri precisou administrar seus pneus o resto da prova e o próprio australiano chegou a duvidar se seria possível ir até o fim com os pneus médios.
E foi nisso que o nível da corrida caiu demais. Com praticamente todo o pelotão com pneus médios, todos precisaram administrar a borracha, pegando leve se quisesse chegar até o fim. Se alguns pilotos não conseguiram, boa parte de quem largou entre os dez primeiros conseguiu fazer apenas uma parada, incluindo Piastri e sua McLaren, que é conhecida por tratar bem a borracha da Pirelli. Sem maiores arroubos, Oscar Piastri venceu pela sexta vez em 2025 e voltou a abrir uma boa vantagem para Lando Norris no campeonato.
Depois da corrida, Piastri comemorou como sempre, ou seja, sem esboçar qualquer expressão de alegria, enquanto Norris estava nitidamente chateado por perder uma corrida que estava em suas mãos e por (mais um) vacilo dele, Lando acabou derrotado. Uma vitória em Spa, a terceira consecutiva, seria decisiva para Norris no campeonato, mas em mais um momento decisivo, Lando entregou a rapadura e nos fez lembrar do seu maldoso apelido: Dando Mollis. Enquanto isso, a McLaren, que conquistava sua primeira dobradinha em Spa em muitos anos, consolida seu bicampeonato no Mundial de Construtores, só faltando a confirmação matemática.
Com a dupla da McLaren lá na frente de forma imponente, Charles Leclerc fez uma prova bem aguerrida, onde se não teve a mínima condição de atacar os pilotos da frente, segurou como pôde um ameaçador Max Verstappen. Com a pista molhada, Leclerc fez um enorme favor à McLaren ao segurar Verstappen numa situação onde o piloto da Red Bull poderia fazer a diferença frente a dupla da McLaren, mas Leclerc não se fez de rogado e manteve Max em quarto até a única parada deles.
Ambos saíram no meio do trânsito de carros mais lentos por estarem calçados com pneus intermediários, fazendo com que Charles e Max ficassem colados, além de receberem a pressão de Russell, que ultrapassara Albon ainda quando a pista estava molhada e parara uma volta antes. Os três chegaram a andar colados, mas não houve trocas de posições entre eles. No fim, Russell perdeu contato com Leclerc e Verstappen, ficando isolado na quinta posição.
Verstappen chegou a usar o DRS contra Leclerc, que quando avisado pelo engenheiro, encarnou Kimi Raikkonen e soltou ‘leave me alone’ pelo rádio. Charles fez um bom trabalho e administrando os pneus, segurou Verstappen rumo a mais um pódio. A nova suspensão traseira da Ferrari funcionou bem em sua estreia em situação de corrida e Lewis Hamilton fez uma bela corrida de recuperação, principalmente quando a pista estava molhada, ganhando várias posições após largar dos boxes, depois uma classificação muito ruim de Lewis. Sendo o primeiro a visitar os pits para colocar pneus slicks, Hamilton ganhou muito terreno e pulou para sétimo, mas empacando atrás de Albon. Mesmo não podendo atacar a Williams de Alex por mais da metade da corrida, as onze posições ganhas de Hamilton lhe garantiram uma das suas melhores corridas na Ferrari até o momento.
Se a dupla da Ferrari conseguiu bons pontos em Spa com a sua dupla, o mesmo não se pode falar de Red Bull e Mercedes. Tsunoda largou entre os dez primeiros e tinha boas chances de pontuar, mas ao esperar Verstappen fazer sua parada, perdeu terreno e saiu da zona de pontuação. Empacado num trem de DRS, Tsunoda ainda foi ultrapassado por Bearman e nas voltas finais por Hulkenberg, terminando numa opaca 13º posição. Mais uma atuação ruim do pequeno nipônico.
Max Verstappen terminou em quarto e reclamando bastante do atraso da largada. O piloto da Red Bull sabe que somente em condições traiçoeiras ele pode fazer algo a mais contra a dupla da McLaren e com a corrida sendo realizada em torno de 80% em pista seca, Max não teria nenhuma chance. Sobre o futuro de Verstappen, a imprensa neerlandesa falou que com o terceiro lugar garantido no Mundial de Pilotos antes das férias de verão, Max não poderá executar umas das cláusulas de desempenho, impossibilitando sua saída da Red Bull em 2026, tendo que se contentar em mais um ano na equipe austríaca. A verificar.
Andrea Antonelli teve um final de semana de chorar. Literalmente. Após se emocionar depois de mais uma péssima classificação, o jovem italiano não impressionou durante a corrida e não esteve perto da zona de pontuação, acabando empacado atrás de Ocon na 16º posição nas voltas finais, após ter feito uma segunda parada. Outra corrida ruim de Antonelli já faz aumentar a pressão sobre o italiano e questionamentos surgem se Kimi entrou cedo demais numa equipe grande na F1. Albon confirmou sua ótima classificação e se manteve nos pontos o tempo inteiro, sendo ultrapassado por Russell no começo da prova, mas suportando bem a pressão de Hamilton nas voltas finais. Albon marcou bons pontos para a Williams depois de uma fase menos boa da tradicional equipe no campeonato, mas assim como outros times, a Williams só pôde contar com um carro, pois Carlos Sainz esteve longe de brilhar e terminou numa horrorosa 18º posição.
A Racing Bulls também seguiu essa toada, só que com o piloto inesperado. Se até o meio do ano Hadjar vinha superando de forma sistemática Liam Lawson, em Spa os dois tiveram destinos diferentes, mesmo tendo largado juntos e antes da parada estivessem muito próximos, mas se Lawson cresceu com pneus slicks, a corrida de Hadjar foi por água abaixo e o francês terminou em último.
Lawson sofreu a pressão de Gabriel Bortoleto, que mostrou bastante personalidade nesse domingo. Sempre entre os dez primeiros na corrida, Bortoleto viu Hulkenberg se sobressair inicialmente pela estratégia, quando o alemão parou junto de Hamilton e pulou para nono, logo à frente de Gabriel. Com mais ritmo, Bortoleto exigiu a troca de posições e a Sauber aquiesceu com o pedido, que logo se mostrou coerente. Se Gabriel não conseguiu atacar Lawson, ele abriu grande vantagem sobre Hulkenberg, que precisou fazer uma segunda parada e saiu da zona de pontos, enquanto Bortoleto manteve a ótima sequência da Sauber nos pontos, com um nono lugar.
Com Hulkenberg tendo que fazer uma segunda parada, quem se aproveitou disso foi Pierre Gasly, garantindo mais um pontinho para a Alpine, onde o francês sempre teve alguém lhe fustigando, mas Pierre fez um bom trabalho para segurar o ímpeto de Bearman, Tsunoda e quem mais estivesse lhe atacando. A Haas esteve próxima de pontuar com Bearman, mas o inglês não conseguiu ultrapassar Gasly, enquanto a Aston Martin, que ficou com as últimas posições na classificação, esteve longe de pontuar.
A cautela dos comissários da FIA fez com que boa parte da corrida ocorresse com piso seco e repetindo o que houve na Sprint Race, não vimos muitas ultrapassagens, principalmente nas primeiras posições. Com a F1 seguindo uma estrofe da música ‘Súplica cearense’ de que se for pedir para chover, que chova de mansinho, umas gotas a mais transforma qualquer corrida num caos e expõe-se ao ridículo de uma categoria que parece ter medo da chuva. Todavia, após a troca de pneus intermediários para pneus slicks, a corrida ficou morna e Spa esteve longe de ver uma prova emocionante.
Se Piastri precisava responder à recente boa fase de Norris, num dos poucos momentos de briga na corrida entre os primeiros colocados, o australiano superou o companheiro de equipe e voltou a abrir no campeonato, que tende cada vez mais a ser uma disputa particular entre a dupla da McLaren.
Abraços!
João Carlos Viana
1 Comments
J . Vc. viana
Vc foi quase perfeito.
Só faltou dizer que corrida em SPA com chuva , com toda raiz e beleza, com essa fórmula 1 tem sido a pior corrida dos últimos anos … isso quando tem corrida
E aí assino com Verstappen.
SPA Francorchamps merece algo muito melhor
Fernando Marques
Niterói RJ