Responda, caro leitor: não é gostoso imaginar cartolas vaidosos e metidos a gênios verem suas idéias idiotas dando com os burros n’água? Pois é assim que me sinto ao analisar os três dias de pista do GP da Austrália. Mudaram o regulamento de merda (para pior), criaram a regra de um único motor por final de semana, baixaram leis proibindo pilotos de observar os carros dos concorrentes (!!!)… Só não fazem aquilo que realmente deveria ser feito: diminuir as barreiras à entrada de novas equipes, liberando-as da obrigação de construir seus próprios chassis e do pagamento de caução de “módicos” US$ 48 milhões, a serem devolvidos em suaves prestações se não aparecer antes um oficial de justiça na porta, segurando um pedido de falência.
+++ As especulações de pré-temporada apontavam para um ano de muito equilíbrio, com Williams e McLaren em posição de combate para tirar o título da Ferrari, o “carro-onda” da Renault chegando cada vez mais perto e a BAR evoluindo muito, quem sabe beliscando alguns pódios. Apostava-se na “lâmina de barbear”, apelido que o novo Williams FW 26 ganhou devido ao formato do bico. Falava-se muito do carro da McLaren, descendente direto de um modelo que nem chegou a correr por pura falta de confiabilidade, mas que tinha idéias revolucionárias e estaria com todos os problemas resolvidos. Por último, esperava-se que seria a hora de a Ferrari iniciar sua queda, depois de tanto tempo no topo. E havia uma especulação, na verdade fruto de meras esperanças, de que Michael Schumacher já não estaria tão motivado depois de conquistar seis títulos mundiais e ter completado 35 anos de idade. Lembram disso tudo? Aí, veio um “festival de recordes”. Não passava dia em que uma das equipes citadas deixasse de ser notícia ao bater o recorde de alguma pista. Muitos já apostavam em cinco equipes disputando vitórias renhidamente durante o ano. A regra de um único motor por final de semana traria algumas surpresas. E declarações mais pessimistas, como as dos pilotos da McLaren, foram encaradas por alguns como tentativa de despistar os adversários. Quando chegou a hora da verdade, descobriu-se que mais uma vez os tempos de +++ Nos tempos em que a F 1 tinha um sistema decente de definição do grid de largada (isto é, os pilotos faziam tantas voltas rápidas quantas fossem possíveis), havia uma regra muito simples: em caso de empate, a melhor posição de largada ficava com o piloto que havia obtido o tempo antes. Só que, com o sistema classificação que passou a valer em 2003, em que cada piloto tem somente uma volta para marcar tempo, essa regra gerou uma distorção: como a ordem de entrada na pista é inversa à do treino anterior, o piloto que entra na pista depois (ou seja, o mais rápido na volta que define a ordem de entrada na pista) acabava prejudicado. Isso aconteceu no ano passado com Rubens Barrichello, que em algum GP empatou com Montoya e largou atrás do colombiano, depois de ter sido mais rápido que ele no primeiro treino. Este ano, a FIA corrigiu a metadistorção e determinou que em caso de empate no treino classificatório a melhor posição de largada fica com o piloto mais rápido na volta de definição da ordem de entrada. Foi por isso que Montoya largou à frente de Button em Melbourne. Na verdade, é apenas um leve borrifo de perfume no regulamento de… bom, vocês já sabem de quê. +++ Eu pretendia comentar o GP da Austrália, mas a corrida foi tão chata e sem graça (a não ser por manifestações isoladas de agressividade, como nos embates Fisichella/Heidfeld, Montoya/Trulli e Montoya/Button) que creio ser mais apropriado analisar as perspectivas de cada equipe, a partir do que foi visto na telinha e ainda sem acesso a maiores informações de bastidores:
Williams – Preocupante. Com Montoya, o carro mostrou-se capaz de acompanhar a Ferrari… durante uma volta rápida. Na corrida, faltou pouco para Ralf tomar uma volta do irmão – com Montoya, isso só não aconteceu porque Schumacher M. diminuiu seu andamento em três ou quatro segundos nas voltas finais. McLaren – Entre as grandes equipes, protagonizou o maior fiasco de Melbourne. O novo MP4/19 é lento e as queixas dos pilotos quanto à falta de potência do motor e à confiabilidade não eram conversa para despistar os adversários, como chegou a ser dito. Renault – Entre as grandes, foi a que teve desempenho mais digno, graças principalmente ao talento de Alonso. Se Williams e McLaren não melhorarem muito, o espanhol deverá ser o terceiro colocado no campeonato e o maior candidato a vencer corridas quando as Ferrari não estiverem na pista. BAR – Confirmou sua evolução e mostrou que os bons testes não eram fruto de carros fora do regulamento. Pode até beliscar um pódio, mas brigar por vitórias ainda é uma perspectiva distante. Sauber – O de sempre, ou seja, o meio do pelotão é seu lugar. Fisichella mostrou a agressividade habitual. Massa teve um bom momento na disputa com Raikkonen, mas depois errou duas vezes. Jaguar – Como em vários GPs de 2003, teve seu momento de glória nos treinos e não fez nada na corrida. Vai ter mais um ano difícil. Toyota – Junto com a McLaren, o maior fiasco de Melbourne. Os carros foram lentos o tempo todo. Panis e da Matta vão ter um ano bem mais difícil do que imaginavam. Jordan – Vai aparecer muito durante o ano graças às brincadeiras e inscrições que Eddie Jordan vai colocar nas carenagens a cada GP. Nada mais. Minardi – Nem dá para levar a sério. Por enquanto é isso. São três e meia da manhã e vou para a cama. Boa noite e abraços a todos. (LAP) |