Treinos na Espanha

DINHEIRO AJUDA, MAS NÃO É TUDO
22/04/2002
DE NOVO ELE… O título de 2002 já tem dono: Michael Schumacher.
28/04/2002

Panda

Os treinos desta manhã de sexta-feira na Espanha foram dedicados, como sempre, aos acertos dos carros para a corrida – ou você acha que a Arrows progrediu tanto desde a última corrida a ponto de fazer o 2º e 6º lugares?

(Para saber os tempos de hoje, amanhã e acompanhar as últimas notícias direto da Espanha, clique www.grandepremio.com.br.)

Nos testes pré-temporada houve quem rodasse até três segundos mais rápido do que os tempos assinalados hoje. Em compensação, Schumacher foi quase um segundo mais rápido do que a melhor volta da corrida do ano passado. A pole, amanhã deve ficar em torno de 1m17s5 ou menos.

A Ferrari é favorita destacada à pole e à corrida. Mas pressinto que as coisas não serão tão fáceis para Schumi&Cia como a vitória em Imola leva a crer. As condições de competitividade da Williams e dos pneus Michelin podem ter melhorado muito em relação a Imola e, aí, o favoritismo da Ferrari volta a depender do talento do alemão. As Williams foram muito lentas nos treinos desta sexta-feira, com Ralf em 15º e Montoya em 17º, tão devagar que dá até para desconfiar.

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No ano passado, todo mundo parou duas vezes para reabastecer e trocar pneus e acho que não dá para pensar em outra estratégia. As paradas da Ferrari devem acontecer em torno das voltas 24 e 44 enquanto os Williams e McLaren (não que alguém se importe com o time do Ron) devem parar algumas voltas depois.

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Os acontecimentos se precipitam para Rubens Barrichello.

Sabemos agora que ele tem uma proposta concreta da Toyota para três temporadas a partir de 2003. Confirmou-se também minha impressão de que a Ferrari o convidaria a permanecer na equipe no ano que vem. O que Rubinho escolherá: a competitividade italiana ou a segurança nipônica?

Trata-se de uma falso dilema: um piloto como ele, que ainda tem ambições na vida (se justificadas ou não é outro papo) tem de optar pelo melhor carro. Tem de baixar a crista para Schumacher, é verdade, mas lhe garante assento no melhor carro da categoria. Com um Ferrari, ele pode ganhar; com um Toyota ele pode ganhar uns trocados a mais mas terá de carregar uma mudança inteira nas costas e vibrar ao conquistar um 6o lugar.

Rubinho sabe do que eu estou falando. Basta se lembrar dos anos Stewart. Foram 49 corridas, 31 abandonos e apenas onze pontuações. Na Ferrari, foram 38 corridas até Imola, apenas oito abandonos, 27 pontuações, a maioria delas terminando em pódium.

Sossega Rubinho. Tape o nariz e segura as pontas na Ferrari nem que seja mais um ano. Você terá tempo para ganhar dinheiro depois – se é que já não tem o suficiente hoje. Ou você vai querer terminar seus dias como o Eddie Irvine?

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Não chore por Eddie Jordan e a derrocada da sua equipe. Este cara é um bom fdp, isto sim.

Os cortes de pessoal e orçamento se devem mais à incapacidade de Jordan em entregar o que promete aos patrocinadores do que a qualquer outra coisa. E fique tranqüilo que ele segue sendo um dos homens mais ricos da Inglaterra (o ranking saiu recentemente mas não guardei os números)

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Se você ou nossos leitores querem chorar por alguém, que o façam por Jacques Villeneuve.

Pobre garoto. Esnobado na mesma semana pela Renault e pela Toyota, que lhe negaram um contrato para 2003 e ainda disseram que ele é um piloto decadente. É mesmo. O que sobra para o campeão mundial de 97, o único piloto na face da Terra a quem Schumacher temeria, segundo acreditam alguns?

Pois eu lhe digo: vencer uma 24 Horas de Le Mans e tornar-se o segundo piloto em toda a história a acumular as façanhas de vencer as 500 Milhas de Indianápolis, o Campeonato Mundial da Fórmula 1 e aquela que já foi conhecida como a mãe de todas as corridas.

Villeneuve disse que toparia o desafio de vencer Le Mans quando se aposentasse na Fórmula 1. Talvez seja já no próximo ano…

Quem foi o primeiro piloto a vencer os três desafios? O grande Graham Hill, pai do Damon, uma dos dez melhores pilotos de todos os tempos, nunca devidamente reconhecido pelos seus méritos de pilotagem e sim pelo seu cavalheirismo e elegância nas pistas.

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Aguardo seus comentários sobre a corrida domingo, lá pela hora do almoço

Grande abraço

Eduardo Correa

 


 

WITH A LITTLE HELP
FROM OUR FRIENDS
24/04/2002

A SINA DE LEVEGH

As 24 Horas de Le Mans (24 Heures du Mans) foram disputadas pela primeira vez em 1923. Entre 1940 e 1948 por causa da segunda guerra e seus reflexos, foi interrompida. Mas em 1949, ali aconteceu a primeira vitória da Ferrari, com equipe de fábrica. O saudoso Christian Heinz, o Bino, grande bota brasileiro, faleceu na edição de 1963, pilotando um Renault-Alpine de fábrica, e em 1978, Paulão, Guaraná e Marinho chegaram bem colocados num Porsche 935 alugado.
Le Mans é um clássico do automobilismo. Por lá andaram Porsche 917, Ferraris aos montes, Ford GT 40 e tantos carros sensacionais… E outros nem tanto, mas que beliscaram… Havia a “largada Le Mans”: carros de um lado da pista, pilotos do outro. Dado o sinal a turma saía correndo, atravessava a pista, subia nas baratas e pé em baixo. O filme “Le Mans”, com Steve McQueen, mostra uma variação: os carros ficavam ao lado da pista, mas com os pilotos dentro. Em 1971, a “largada Le Mans” foi substituída pela largada em movimento.
Dizem que numa madrugada, no meio do nevoeiro, de repente o piloto de um dos carros começou a enxergar bem demais. Começou a ultrapassar os adversários, nem ele entendia bem porquê. Ao parar no box para a troca de pilotos, o cara foi olhar a frente do carro e viu um pedaço de papel amarelo preso num dos faróis. Estava inventado farol de neblina amarelo!
Lenda? Le Mans foi também o carma do piloto francês Pierre Levegh. Fez algumas provas antes e depois da Segunda Guerra e em 1951, num Talbot, chega em 4º na geral. Ao terminar a prova, tem uma idéia fixa na cabeça: ganhar no ano seguinte. Compra da Talbot um carro novo e o prepara sem se preocupar com dinheiro. Quer ter o melhor carro, e realmente prepara um canhão.
Largada! 4 da tarde. Levegh atravessa a pista correndo, pula no seu carro e sai em disparada. Vai galgando posições calmamente. Um carro roda, outro se avaria e ele vai seguindo. Até esse ano, não havia regulamento específico sobre o tempo que cada piloto poderia permanecer guiando. Vai fazendo sua corrida, suas paradas programadas e pelo meio da madrugada, numa das paradas, é informado que é o 1º na geral. Até ali, não tinha cedido o carro ao seu co-piloto. Apesar de estar muito cansado, a notícia lhe injeta uma energia nova. Volta à pista novamente. Ao amanhecer, após umas 16 horas de corrida, já tinha umas voltas de vantagem sobre seus perseguidores, que corriam com Ferrari, Mercedes, Aston Martin e Talbot. Em uma próxima parada, seu aspecto é tão lastimável, que toda a equipe, seu co-piloto e sua esposa, lhe imploram que ceda o carro. Levegh está tão hipnotizado que simplesmente os ignora, e parte novamente. Ele, um francês, com um carro francês, preparado por ele, vencer sozinho as 24 Horas…
A notícia de tal façanha que se desenrola extrapola os limites do circuito, e logo uma quantidade enorme de moradores das cidades próximas se dirige à pista. Pela hora do almoço, ninguém se afasta. Todos esquecem de comer ou compram sanduíches. Finalmente, na última parada nos boxes, faltando umas duas horas para o fim da prova, os que ali estavam vêem o aspecto de zumbi que Levegh tem. Ninguém mais lhe pede para passar o carro ao co-piloto. Ele iria conseguir aquela glória imortal para a França. No circuito todo ninguém desgruda os olhos do Talbot nº 8.
Uma hora e meia para o fim. Levegh na ponta, com uma vantagem enorme sobre o segundo colocado. Dizem que seus tempos variavam, que seu traçado era irregular, mas prosseguia. Uma hora… 40 minutos para o final. Numa redução, ele erra uma marcha e seu motor quebra, na frente de uma platéia incrédula. Encosta o seu carro à margem da pista. A multidão está paralisada. Alguém se aproxima, vê o piloto descer do carro e voltar a pé aos boxes. Sua mulher o recebe. Terminava sua aventura. A multidão após os momentos de silêncio, de incredulidade, vê um sonho se desfazer, e todos começam a criticá-lo…
Em 1953 e 1954 Pierre Levegh competiu novamente nas 24 Horas, mas não foi bem. Mas em 1955, a Mercedes o convida para guiar um dos seus 300SLR. Vai fazer dupla com o americano John Fitch. Nos outros dois carros, vão Fangio e Kling. Começa a corrida e Fangio e Mike Hawthorn, num Jaguar, começam um verdadeiro racha, sensacional. Pelas 18:30, Hawthorn vem pela reta dos boxes muito rápido e de repente, após ultrapassar um pequeno Austin-Healey pilotado por Lance Macklin, resolve entrar nos boxes, à sua direta (não havia muro separando a pista dos boxes). Freia forte e desvia para os boxes. Macklin, no reflexo, joga seu carro para a esquerda, no exato momento que Levegh, em seu Mercedes, vem passando, a uns 250 km/h. Não há tempo para nada. O Mercedes sobe na traseira do Austin-Healey, bate ainda na mureta entre a pista e a tribuna e, voando em chamas e aos pedaços, cai em cima do público. Morrem 83 espectadores e tembém Pierre Levegh. A Mercedes, às duas da madrugada retira seus carros da prova e abandona o campeonato de construtores. Note-se, que apesar da gravidade do acidente, a prova não foi interrompida, e ao final Hawtorn vence. Mais tarde é declarado inocente do ocorrido. No final de 1955 a Mercedes se retira também da Fórmula 1. Lance Macklin sai ileso, participa de mais algumas provas, mas finalmente abandona as corridas. Ele dizia que nunca iria esquecer aquele Mercedes passando por cima de sua cabeça…
Alexandre Zamikhowski Filho (São Paulo-SP)

Muito legal, Alexandre. Só tenho duas coisas a acrescentar: 1) Segundo li em algum lugar, os organizadores optaram por não interromper a corrida porque, se o fizessem, a massa de espectadores deixando o autódromo congestionaria as estradas e atrapalharia as ambulâncias que estavam removendo os feridos; 2) Foi por causa deste acidente que a Suíça proibiu a realização de corridas em seu território. A lei vale até hoje e há quem ache que sua revogação será um ponto de honra para o automobismo… Abraços e obrigado! (LAP)

AS HISTÓRIAS DO ÁGUIA

Oi, Pandini. Gostei muito do GPtotal e gostaria de colaborar contando duas historinhas de corridas das quais participei – uma nos anos 60 e outra nos anos 80, mas que tiveram um mesmo personagem central: Luiz Pereira Bueno.
1) Corrida de uma hora no Autódromo Paulo Pimentel, em Curitiba, 1968. Corri com um Gordini 1093 patrocinado pela Torke, uma oficina da rua Jesuíno Pascoal (bairro Santa Cecília, em São Paulo) comandada por Luiz Carlos Fagundes “Tigrão” e apoio da Pintal Car (do famoso Sid Mosca). Venci depois de disputar com o Luiz Pereira Bueno, que pilotava outro Gordini. Esse carro era do Cláudio Daniel Rodrigues (construtor dos primeiros karts brasileiros, em 1959-1960), mas havia sido preparado escondido no departamento de competições da Willys. Como a fábrica não estava disposta a colocar na pista os carros oficiais, escalou o Luizinho (que era piloto oficial da Willys) para vencer com um carro particular que, na verdade, tinha o motor e o câmbio dos carros de fábrica.
Esta vitória foi uma surpresa para o Luizinho e uma realização para mim, que além de jovem corria por uma equipe particular. Fiquei logo atrás do Luizinho a partir da metade da corrida e passei por ele na última volta, quando ele abriu demais na curva Sul. Fiquei mais feliz ainda quando recebi os cumprimentos dele.
2) Em 1983, o Luizinho emprestou para mim um Opala Stock Car para eu, o Dedê Gomez e o Mike Mercede disputarmos a Mil Milhas Brasileiras. Caberia a mim e ao Dedê conseguir os patrocínios (Comind e CCE). Com a ajuda do Silvano Pozzi (Silpo), preparamos um Stock “manso” pensando na resistência e, também, em parar menos vezes. Nosso carro era mais lento, mas muito mais econômico. Andávamos duas horas e meia sem parar, enquanto os Stock “bravos” tinham autonomia para andar uma hora e meia. Todos eles pararam por quebra do câmbio.
Nossa estratégia estava certa. Faltando umas três horas para acabar a corrida, queimou uma junta do coletor de admissão e o carro perdeu rendimento. Estávamos em 2º lugar, atrás de um Passat pilotado pelo Vicente Correa, Waldir Silva e Fausto Wajchemberg. Nas últimas voltas, o Passat ficou sem freios e se arrastava na pista, mas não deu tempo de alcançá-los. Ficamos em 2º e vencemos na categoria Stock Car.
Um abraço!

Luiz Evandro “Águia” – São Paulo-SP

Para quem não o conhece, o “Águia” foi campeão brasileiro de rali e campeão paulista de turismo, além de ter competido nos Estados Unidos e no Canadá. Sua colaboração vem ao encontro do desejo de muitos leitores carentes de mais histórias sobre o que rolou nas corridas brasileiras. Obrigado, Águia. Escreva sempre. (LAP)
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Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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