Caro Panda
Minhas observações sobre o GP da Bélgica:
1 – como é fácil ganhar um Grande Prêmio quando se é tetracampeão! Os carros à sua frente simplesmente páram de funcionar ou ficam pendurados em cavaletes, os motores mais potentes perdem força, os retardatários abrem caminho, o tempo ajuda, o champagne está gelado… Na Bélgica, Michael Schumacher passeou tranquilo, tão tranquilo que até notou um certo bico vermelho perdido pela pista e perguntou pelo rádio: “é do Rubens?” (não é brincadeira não. Esta na Gazzetta dello Sport de ontem!).
2 – Pense, agora, nas agruras da Williams. Frank e Patrick acordaram domingo pensando que o pior que lhes podia acontecer era uma chuva sujar um pouco os carros da sua equipe, enquanto brigavam pela vitória. Foram dormir com um sonoro vexame zunindo em seus ouvidos. Eles descobriram como transformar dois primeiros lugares no grid em dois últimos – e os seus carros quase batem na segunda largada.
3 – Digo vexame não só pelos acontecimentos nas seguidas largadas, que servem para nos relembrar que a Fórmula 1 não é nenhum laboratório imaculado. Por mais sofisticação, tecnologia e glamour, c… (desculpe o palavrão mas ele é o único termo que se aplica ao acontecido) ocorrem direto. É o tempo mal calculado necessário para um conserto, um pneu que se perde nos boxes (Irvine, Ferrari, Nurburgring, 99), uma barra de direção que se quebra (você sabe quem) e por aí vai.
4 – Mas vexame, dizia eu, em ver que os motores BMW não renderam nada nada nada em Spa. Não foi só a ultrapassagem ridiculamente fácil de Michael sobre Ralf na primeira largada. No terço inicial da corrida, Ralf penou atrás de Panis e Verstappen e só os passou quando um foi para o box e outro cansou de segurar o alemão e acabou errando alguma coisa. E no final, Ralf, com aquele avião, teve de se conformar em perseguir o teco-teco do Alesi. Detalhe: segundo Autosport, o motor BMW tem 838 cavalos, o Honda, de Alesi e Panis, 814 e o Asiatech da Arrows, este ninguém sequer se importa. Acho que ainda vai surgir uma explicação melhor para o mal desempenho da Williams na Bélgica.
5 – Por falar em motores, alguém me conte a mágica que a Renault aprontou. Seu motor é considerado o mais fraco do grid, com 744 cavalos. Mesmo assim, Coulthard suou para tomar a segunda posição de Fisichella.
6 – Você notou, no segundo grid, como os sulcos dos pneus do Williams de Ralf praticamente sumiram depois de apenas meia dúzia de voltas? E a Fia acredita que os sulcos iriam limitar a velocidade dos carros. Hahaha!
7 – Irvine disse que não esperava a ultrapassagem de Burti. Outros pilotos disseram que ali é um ponto de ultrapassagem tão exótico que eles não olham pelo espelho. De fato, o acidente me pareceu um erro de julgamento do brasileiro que tinha melhor aceleração naquele trecho da pista e não quis aliviar ou imaginou que Irvine estava indo para a direita. Mas note como o espaço de manobra de Burti era pequeno, indo para a grama logo que sai de trás de Irvine. Acho que ele calculou mal os espaços. Entre o pessoal da Fórmula 1, a maioria absolve Irvine de culpa mas há quem, como Briatore, defenda dois GPs de suspensão para o irlandês. Segundo o Corriere della Sera, Burti quis dar porrada em Irvine no posto médico do autódromo.
8 – O acidente foi assustador. Temi por coisa mais grave pois achei que o tiraram rápido demais de dentro do carro. Você sabe: um piloto só deve ser removido rapidamente de dentro do carro, sem cuidados em imobilizar sua coluna vertebral, se tiver problemas respiratórios e de pressão arterial.
9 – A má fase da McLaren Mercedes já rende fofoca da boa: F1Racing de setembro diz que Ron Dennis vem mantendo contatos regulares com a Honda para uma possível associação em 2004. O problema é que a Mercedes tem 40% das ações da McLaren.
10 – As vitórias e os recordes humanizam os pilotos, tornando-os mais gentis, tranquilos, seguros de si. Michael, domingo, após a vitória, disse que sua única tristeza em correr em Monza dentro de duas semanas é lembrar-se de um amigo jornalista, morto sábado passado. No GP da Alemanha, após quebrar, sua longa conversa com um humilde fiscal à beira da pista mostrou como o alemão aprendeu a dominar seus instintos e ver as corridas, da mesma forma como Senna, por exemplo, as via nos meses anteriores a sua morte. Sabe o que isso significa? Que Schumacher tornou-se de fato e de direito um Grande Senhor das Pistas, um piloto em torno do qual tudo gira e acontece. Significa também, meu amigo, que ele ainda vai ganhar muitas corridas, muitos títulos, quebrar muitos recordes. É isso o que quis dizer no começo desta carta: como é fácil ganhar quando se é um Grande Senhor das Pistas.
11 – Só não pense que Schumacher ganhou o título deste ano fácil. Mas sobre isso, falo no dia 8
abraços
Edu