Apesar de relativamente novo, o Circuito das Américas já tem o asfalto bastante castigado a ponto da MotoGP ameaçar não voltar lá enquanto o asfalto não fosse recapeado. Alguns remendos foram feitos aqui e ali, mas é bastante claro que as ondulações da pista texana são maiores do que a média geral vista no extenso calendário da F1. Nesse domingo Max Verstappen venceu mais uma vez, chegando a incrível marca das cinquenta vitórias na F1, tudo isso com apenas 26 anos de idade. Pela atual forma de Max, que em Austin igualou o recorde que já é dele de quinze vitórias numa mesma temporada, é bem provável que até o final do ano ele consiga ser o terceiro maior vencedor da história da F1.
Porém, a corrida texana ficou marcada por mudanças horas depois da bandeirada. Felizmente os famigerados ‘track limits’ não foram os culpados, mas um velho conhecido da F1: a prancha que fica no assoalho dos carros. Para quem não lembra, Schumacher teve uma vitória retirada em 1994 pelo mesmo motivo no Grande Prêmio da Bélgica, quando rodou por cima de uma zebra. Não houveram rodadas, mas os carros de Lewis Hamilton e Charles Leclerc foram pegos no escrutínio da FIA e ambos foram desclassificados da corrida já no final da noite.
Austin foi palco de mais um final de semana de Sprint Race e mais uma vez ficou a sensação de qual seria a serventia da corrida curta para a F1. Assim como acontece na maioria das vezes, a Sprint Race foi um longo bocejo, com os pilotos sabendo que os pontos são conquistados de verdade no domingo e mal se esforçando na corrida do sábado.
O próprio vencedor Verstappen é um ferrenho crítico da corrida, até porque um treino livre é tirado da programação e nesse final de semana, o cronograma da Sprint Race fez com que Mercedes e Ferrari não pudessem observar o desgaste já excessivo da prancha que fica no assoalho dos seus carros, que ficou ainda mais desgastado no domingo, causando as desclassificações de Hamilton e Leclerc.
Porém, se na F1 a situação da Sprint já não é das melhores, na MotoGP a coisa está ainda pior. Com a Sprint Race acontecendo em todo final de semana de corrida, os pilotos viram o número de contundidos aumentar bastante devido aos acidentes, lembrando que a Dorna impôs a Sprint sem pedir opinião de pilotos e equipes. Juntando à Sprint Race colocada goela abaixo, mais contratos quebrados de forma unilateral, os pilotos da MotoGP planejam criar uma entidade nos moldes da GPDA muito em breve para defender o ponto de vista dos pilotos, causando um reboliço nos bastidores. Talvez isso explique a grande preocupação de segurança da Dorna nesse final de semana em Phillip Island, quando a corrida principal foi antecipada para o sábado e a Sprint foi cancelada, tudo por causa do clima inclemente na Austrália.
Novamente a Ferrari mostrou um ritmo muito bom em voltas lançadas, com Leclerc verdadeiramente brigando pela pole com Verstappen tanto na Sprint, como na corrida principal. Porém, no sábado era claro que Verstappen tinha um ritmo de corrida muito superior ao monegasco e os demais pilotos, vencendo a Sprint com facilidade. Largando em sexto no domingo, por ter sua melhor volta no Q3 deletada, todos esperavam uma corrida de recuperação avassaladora de Verstappen no domingo. Porém, isso não visto na prática.
Debaixo de muito calor no Texas, a corrida em Austin não foi das mais empolgantes, mas as potenciais variantes táticas animou a prova norte-americana, que viu um enorme público no COTA. Na largada, mesmo saindo do lado sujo, o segundo no grid Lando Norris ultrapassou facilmente o pole Charles Leclerc na corrida até a primeira curva, assumindo a liderança, trazendo consigo o piloto da Ferrari, Sainz, Hamilton e Verstappen em quinto, se aproveitando de uma largada ruim de Russell. Nas primeiras voltas Verstappen não imprimia um ritmo muito forte, dando a sensação de que o neerlandês estaria se poupando e, quem sabe, armando uma estratégia de parar apenas uma vez. Isso ligou o sinal de alerta para as demais equipes, fazendo com que uma parada única fosse levada em conta.
Norris liderava de forma consistente no primeiro stint, enquanto Verstappen evoluía na medida em que os pneus dos carros da Ferrari iam pedindo arrego. Quando Hamilton pulou para segundo, ficava claro que a Mercedes tinha um ótimo ritmo e Lewis poderia se tornar, como de fato foi, um postulante à vitória. Hamilton sempre andou muito bem no belo circuito de Austin!
Quando a primeira rodada de paradas se aproximou para quem estivesse numa tática com dois pit-stops, foi com bastante surpresa que Verstappen entrou nos pits e entregando sua estratégia, trocou pneus médios por pneus médios, dizendo a todos que faria uma segunda parada. Foi a senha para que McLaren, Mercedes e Ferrari considerassem parar apenas uma vez. Leclerc, Hamilton e Russell esticaram ao máximo suas paradas, tentando dar o pulo do gato. Até mesmo Norris, que parou ainda no primeiro terço de prova, tentou uma tática de uma parada. A Red Bull mandou Verstappen acelerar e saindo próximo de Norris, atacou o inglês. Na cabeça da McLaren, se Norris aguentasse ficar na pista com um bom ritmo, daria para fazer apenas uma parada. Porém, com Max se aproximando dos seus retrovisores, Lando cometeu um pequeno erro na entrada da reta oposta, fazendo com que Verstappen encostasse de vez e a ultrapassagem, com o DRS tão forte numa pista com alto downforce, fosse inevitável. Tendo esticado sua primeira parada, Hamilton perdeu 5s para Norris, mas com pneus mais novos, Lewis tirou a diferença para o compatriota. Foi quando as equipes perceberam que o calor texano faria com que a estratégia de uma parada fosse uma barca bastante furada.
Norris procurou rapidamente os boxes pela segunda vez para colocar pneus duros novamente, já que a McLaren tinha guardado esse tipo de borracha para a corrida. Logo, todos que pensaram em parar uma vez mudaram de ideia e trocaram de estratégia, atrapalhando o ritmo de cada um dos pilotos. Já tendo a tática de duas paradas em mente desde o início, Max Verstappen não se abalou com toda essa movimentação. Na verdade, a falta de ritmo de Max (para os altíssimos padrões dele, deixando bem claro) foi por um problema nos freios, tirando um pouco a confiança do neerlandês. O piloto da Red Bull ainda teve algumas discussões com seu engenheiro que lhe falava no rádio na hora errada, mas assumiu a ponta na metade da corrida. No entanto, Hamilton ainda tinha um ás na manga. O inglês da Mercedes fez sua segunda parada e colocou pneus médios, tornando-o um dos pilotos mais rápidos das voltas finais. Hamilton ultrapassou Norris e partiu para uma perseguição em cima de Verstappen. Lewis chegou a tirar 1s por volta, mas infelizmente os cálculos provavam que ainda faltaria uma volta para Lewis encostar de forma definitiva em Max, que mostrou toda a sua maturidade em ficar todo o primeiro setor atrás do retardatário Zhou para ter a sua disposição o DRS na reta oposta na última volta. Além de extremamente rápido e talentoso, Verstappen vai mostrando o quão completo se tornou e com cinquenta vitórias, já se aproxima merecidamente do olimpo dos grandes pilotos da F1.
Hamilton chegou apenas 2s atrás de Verstappen, mas horas depois o inglês foi desclassificado da prova por uma infração na prancha do assoalho do carro. Por sinal, a chegada do novo assoalho no carro da Mercedes ajudou sobremaneira a Hamilton a ter um dos melhores finais de semana de 2023, podendo ser um caminho para a Mercedes pensando em 2024. Tudo isso amenizou outro final de semana desencorajador de Sergio Pérez. O mexicano corre com a pressão de saber que, se perder o vice-campeonato, Halmut Marko não terá nenhum pudor em rasgar o contrato para 2024 e apontar o olho da rua para Pérez. Em Austin Checo teve outro final de semana sorumbático, onde só terminou em quinto lugar após uma corrida burocrática, mas que virou quarto com a desclassificação justamente de Hamilton, que era o que mais ameaça o vice-campeonato de Pérez. Uma sorte que ninguém poderia suspeitar no princípio da corrida e que poderá sustentar o posto de Pérez em 2024.
Após liderar o primeiro stint da prova com a calma de um veterano, a primeira vitória de Lando Norris ficou para depois, porém, a McLaren já se consolidou como uma das postulantes a segunda força de 2023. Lando já começa a se animar em ficar no quarto lugar no Mundial de Pilotos, enquanto a McLaren já ultrapassou a Aston Martin na luta pelo quarto lugar no Mundial de Construtores. O time britânico estava tão mal após a corrida Sprint, que a Aston Martin resolveu mudar todo o acerto do carro e largar dos pits. Fernando Alonso, que perdeu e invencibilidade de estar sempre no Q3 na sexta, estava nos pontos quando teve que abandonar. Lance Stroll fez uma boa corrida e também finalizou nos pontos, mas até no dia em que acerta, o canadense apronta. Lance simplesmente esqueceu que iria largar dos boxes e ao completar a volta de instalação, levou seu carro ao grid, onde não havia ninguém lhe esperando. Os mecânicos da Aston Martin saíram correndo para buscar o carro do filho do patrão, que ou está no mundo da lua ou está pensando na bela e longa aposentadoria que terá pela frente quando sair da F1.
A Ferrari novamente sofreu com os pneus, potencializado com o calor em Austin. Leclerc teimosamente permaneceu na tática de uma parada, deixando-o apenas com uma melancólica sexta posição, antes da sua desclassificação. Carlos Sainz foi dos mais beneficiados com as desclassificações e foi ao pódio, conseguindo uma estranha marca de conseguir alguns troféus sem subir ao pódio. E novamente a Ferrari veio com seu alfabeto de táticas, onde nenhuma funciona. Os tifosi choram de saudade de Ross Brawn.
Usando um belo capacete em homenagem à François Cevert, Pierre Gasly foi o melhor do resto, terminando em sexto com a Alpine após as desclassificações, onde no sábado o francês chegou a andar no ritmo da Mercedes de Russell, mas no domingo a realidade foi bem diferente. Ocon foi um dos abandonos do dia ao se chocar com Piastri na primeira volta, fazendo com que os dois desistissem alguns minutos depois.
Tsunoda voltou a marcar pontos e ainda fez a melhor volta da corrida, dando um recado à Red Bull que trouxe Daniel Ricciardo de volta de uma aposentadoria compulsória para tomar o lugar de Pérez num futuro próximo, mas na comparação direta dentro da Alpha Tauri, o japonês está levando vantagem no momento. Por sinal, Ricciardo teimou na errática tática de uma parada e terminou na última posição dos que receberam a bandeirada. Com as desclassificações, a dupla da Williams entrou na zona de pontos e Logan Sargeant finalmente saiu do zero, justamente em sua corrida de casa, se tornando o primeiro americano a pontuar desde Michael Andretti no já longínquo ano de 1993.
Mesmo Hamilton fazendo uma boa corrida e terminando a prova próximo de Verstappen, dando um calor no neerlandês, atualmente Max só permite pequenos vislumbres aos rivais. Mesmo com problemas nos freios e andando num ritmo abaixo do seu potencial, Max ainda conseguiu vencer e entrando na casa das cinquenta vitórias, ficou apenas a uma de Prost e a três de Vettel. Depois disso, Max só terá Schumacher e Hamilton à sua frente. Não é bom duvidar de Max Verstappen e a Red Bull. Se o recorde de Schumacher parecia impossível e bater e o foi, o de Hamilton também poderá ser batido e atualmente, quem mais do que Verstappen para quebra-lo?
Abraços!
João Carlos Viana
3 Comments
JC Viana,
não assisti a corrida … O Flamengo jogava no mesmo horário … e a ideia era assistir o vt depois … mas fiquei pensando … pra que ver mais um passeio do Verstappen? …
mas pelo seu relato até que foi uma corrida agradavel e Hamilton esteve nos seus melhores dias …
Me parece que o filme do Peres está totalmente queimado na RBR … e seja lá quem for ocupar o lugar do mexicano já sabe que será um piloto 1 B … isso para lembrar os bons tempo do Barrichello na Ferrari do Ross Brawn
Fernando Marques
Niterói RJ
Muito boa a coluna e muito bem humorada. A expressão os tifosi choram de saudade Ross Brawn foi sensacional.
Muito boa a coluna e muito bem humorada. A expressão os tifosi choram de saudade Ross Brawn foi sensacional.