VIDA DE PRIVILÉGIOS

OS MELHORES E PIORES DE 2004 – 8ª PARTE
17/12/2004
COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI I
07/01/2005

Na correria cotidiana, a gente vive maldizendo a vida. Falta tempo, dinheiro e diversão, sobram deveres e preocupações. Fiquei com este sentimento há poucos dias, antes de parar uma noite e refletir com calma. Após meditar, a conclusão: sou um privilegiado.

Se você acessou o GP Total e está lendo esta coluna, é um apaixonado por corridas (ou está completamente perdido). Pois eu sou igual a você. Passo o ano sofrendo e me divertindo com as idas e vindas da Fórmula 1, pirando com a qualidade do WRC e da DTM, me aborrecendo com a artificialidade das provas nos EUA e lamentando os grids minúsculos de muitas categorias no Brasil. No máximo, diferimos em opiniões, mas temos o mesmo tesão pelo mesmo assunto.

Só que eu posso me dar ao luxo de, nos três meses finais do ano, reviver esta paixão dos nove meses anteriores com absoluta intensidade e ao lado de pessoas tão malucas como nós. É o período em que produzimos o Anuário AutoMotor Esporte, o livro do mestre, amigo e parceiro de tênis Reginaldo Leme (que não anda freqüentando as quadras por estar entregue ao departamento médico com uma contusão no pé – eu acho que é medo mesmo).

Já é a sexta edição de que eu participo e é impressionante como a qualidade da equipe cresce a cada temporada, como numa versão editorial da Ferrari. A base vencedora de 2003 foi mantida. Temos o pianista Luiz Vicente, nosso diretor de arte, que estala os dedos antes de diagramar cada página, uma mais linda que a outra, como Chopin fazia antes de tocar suas sonatas. Temos a presença indispensável do Miguel Costa Júnior, um dos melhores fotógrafos do mundo (sobre qualquer tema), dono de um senso de humor afiado e irresistível e uma capacidade absurda de selecionar as melhores imagens para o livro dentro de um universo de opções que chega às dezenas de milhares.

Temos o paradoxo humano Rodrigo França, que alterna uma capacidade absurda de concentração no trabalho (faz ao mesmo tempo o livro, toca sua assessoria e colabora com uma revista) com incessantes e hilariantes tiradas, todas (vai, a maioria) de ótima qualidade. Temos o Fernando Alonso do jornalismo, Tiago Mendonça, que aos 20 anos de idade produz textos que deixam muitos veteranos para trás. Sem falar nas ótimas imitações que faz, completando com o Rodrigo a dupla de “comadres” (eles não páram, sério) mais divertida das redações deste País. Temos uma novidade, sim, Rafael Caetano Costa, o Rafa, que apareceu para apagar um incêndio e ajudar na finalização das páginas. Mas, no fundo, ajudou bem mais, atuando como DJ da nossa sala com seleções musicais refinadas e que colaboram para manter o astral legal.

Enfim, uma turma louca por corridas, mas que acima tudo é formada por pessoas muito especiais. Sou ou não sou um privilegiado?

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Sou sim. Na última quinta-feira rolou o almoço de fim de ano do pessoal do GP Total. Claro que a refeição é mera desculpa. O verdadeiro filet mignon é poder ficar duas horas ao lado do Edu, Panda, Tite e Castilho (todos feras, o último ainda é mestre meu e do Panda), ouvindo as histórias mais saborosas sobre o mundo do automobilismo. O Tite, aliás, veio com uma das antigas, envolvendo sexo, violência e traição. E é engraçadíssima. São momentos especiais, que me fazem perguntar às vezes o que é que eu fiz para merecer tanta coisa boa.

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Coisa boa é compensar a melancolia da despedida dos amigos com o retorno para casa, na bela e fria Europa, onde finalmente poderei me aquecer nos braços da inigualável Claudia, minha esposa, meu maior privilégio.

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Falando em coisa boa, uma dica aos que deixam tudo para a última hora e ainda não encontraram o presente de Natal para o amigo fã de corridas: o livro “Rally dos Sertões – Emoções a mil de Goiânia a São Luís na disputa da maior competição off-road da América Latina”, do amigo e colega Tiago Toricelli.

Para quem não sabe, o Tiago foi um dos felizardos que disputou a edição 2003 do Sertões na categoria Imprensa. Em cerca de 300 páginas, graças a uma memória prodigiosa e uma linguagem fluente e comunicativa, faz um relato minucioso de cada segundo desta aventura que, admito, é cada vez mais um sonho que pretendo realizar logo. Mesmo se você não entende e nem se interessa por rali, o livro vale a pena. Vai, no mínimo, mudar seus conceitos.

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Para terminar, meus votos mais sinceros de boas festas e um 2005 iluminado aos nossos leitores. O que torna o GP Total, hoje, um dos melhores sites de automobilismo do mundo não é o time de colunistas, mas a participação constante e inteligente de vocês todos. Há polêmicas, há um ou outro que extrapola os limites do bom senso mas há, acima de tudo, uma democracia incrivelmente rara num espaço democrático como é a Internet. Vida longa ao GP Total!

Abração e até o ano que vem,

Luis Fernando Ramos
GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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