Visitando as raízes, parte 5

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Seguimos nossa viagem na temporada 1964 da Fórmula 1.

[Relembre as colunas anteriores clicando aqui]

Indy Jones: nesse momento Jim liderava o campeonato por apenas 1 ponto sobre Graham (21 a 20). Richie Ginther e Peter Arundell estavam empatados em terceiro, ambos com 11 pontos, com Dan apenas um ponto atrás. Onde estava Surtees?

Em 11 de julho o circo estava pronto para correr em Brands Hatch. Aintree tinha sido vendido e, na incerteza de que o novo proprietário teria interesse em hospedar esse GP, decidiu-se por Brands.

Este circuito também pertencia a uma empresa privada, Grovewood Securities, e seu diretor geral, John Webb, confirmou o interesse. Esse GP também valia como o GP da Europa.

httpv://youtu.be/VKVisW7_AKs

Peter Arundell tinha ficado seriamente ferido na corrida de F2 em Reims no fim de semana anterior e foi substituído por Mike Spence.

Indy Jones: lembro que os organizadores da corrida pagavam prêmios de largada e chegada para as equipes e pilotos, como forma de incentivar a participação, e essa verba era importante para todas as equipes.

Trevor Taylor arrebentou sua BRP ao escapar da pista na curva Hawthorn na classificação, felizmente sem grandes consequências físicas mas sem chance de competir.
A aparição de um BRM com tração nas 4 causou muita curiosidade. Esse projeto tinha sido desenvolvido em conjunto com uma companhia chamada Ferguson, que já tinha produzido um F1 com esse tipo de tração em 1961. O piloto inscrito era Richard Atwood mas o carro acabou sendo retirado da competição antes de largar. Talvez porque tenha obtido o 15º tempo na classificação, 0:6 atrás do 14º, Richie Ginther com a outra BRM convencional.

Jim conquistou a pole com 1:38.1, seguido por Graham com 1:38.3, com Dan completando a primeira fila com 1:38.4. Jack apareceu em quarto, com 1:38.5, em companhia de Big John, com 1:38.7. Na terceira fila, já com tempos de 1:39 para cima, estavam Bruce, Bob Anderson com Brabham particular e Bandini. Jo Bonnier e Innes Ireland, com a outra BRP, fecharam os top 10.

A corrida iria ser disputada com tempo quente e seco.

Dada a largada Jim assumiu a ponta, com Dan em segundo e Graham em terceiro, mas este conseguiu inverter a posição na segunda volta. Dan tinha problemas de ignição e teve que parar nos boxes logo em seguida.

Graham continuou perseguindo Jim até o fim, sem sucesso. Recebeu a bandeirada 0:02:8 atrás. Surtees assumiu o terceiro lugar e se manteve assim. Jack perdeu a quarta posição para Bandini quando parou nos boxes para uma verificação na suspensão, mas a retomou faltando 14 voltas para o final. Jim fez a volta mais rápida, a 73a. das 80, com 1:38.8.

Campeonato dos pilotos: Jim 30 pontos, Graham 26, Richie, Peter e Jack com 11.

O GP da Alemanha teria lugar no mítico Nurburgring completo, o Inferno Verde, no dia 2 de agosto. Naquela época não havia férias de verão para a categoria.

Mais de 22 quilômetros de extensão. 15 voltas. Quem disser “só 15 voltas?” não tem ideia dos desafios presentes naquele circuito, naquela época.

Começa com um acidente fatal durante os treinos. Carel Godin de Beaufort bate com seu veterano Porsche em um grupo de árvores, ao escapar na curva Bergwerk, na parte mais ao norte do circuito. Sofre diversas lesões na cabeça e falece no dia seguinte ao da corrida, em um hospital neurológico de Colonia.

Uma boa noticia é que a Honda finalmente aparece, com um carro para Ronnie Bucknum.
Mas não é propriamente um começo muito auspicioso, pois se classifica um minuto mais lento que o pole. A grande noticia é que a Ferrari parece ter encontrado o caminho, porque é Surtees quem obtém a pole (Ferrari 158), com Bandini em quarto (Ferrari 156).

Nessa pista o grid tinha a disposição 4-3-4, assim entre Surtees (8:38.4) e Bandini (8:42.6) estavam os dois principais contendores até aquele momento, Clark (8:38.8 ) e Gurney (8:39.3).

Na segunda fila estava Graham (8:43.8), acompanhado por Jack (8:46.6) e Bruce (8:47.1).
A terceira era composta por Phill Hill (8:52.7), Amon (8:54.0), Jo Siffert (8:56.9) e Ginther (8:57.9).

Indy: observe como as diferenças de tempo eram grandes. Não havia computadores para projetar nem telemetria para informar.

A corrida seria disputada com tempo seco.

Bandini surpreende na largada e assume a liderança, mas logo é ultrapassado por Clark, depois Gurney e o colega Surtees. Este logo passa o americano, depois Clark, mostrando a nítida evolução do carro italiano. Clark começa ter problemas em seu motor e acaba abandonando.

Graham e Brabham tinham ultrapassado Bandini e mantinham terceiro e quarto lugares. Mas.. o motor de Gurney começa a superaquecer e ele tem que diminuir o ritmo. Brabham, por sua vez, começa a ter problemas de transmissão. E assim o pódio é composto por Big John – primeira vitória da Ferrari na temporada – Graham, Bandini.

John também faz a volta mais rápida, 8:39.0, a 11a..

Com a quebra de alguns favoritos as zebras fizeram a festa: Siffert foi o quarto, Trintignant o quinto (mesmo tendo parado na 14a. volta com problemas na bateria), Tony Maggs o sexto.

Estes foram os últimos pontos conquistados pelo veterano Maurice Trintignant em sua longa (14 temporadas) carreira.

O campeonato de pilotos agora estava assim: Hill liderava com 32 pontos, Clark se mantinha com 30, Surtees assumia o terceiro posto, com 19, ultrapassando Ginther, Arundel e Brabham, que se mantiveram com 11.

No dia 23 desse mesmo mês, o circo estava acampado no aeródromo ocasional de Zeltweg, na Áustria. Um circuito oposto ao alemão, com meros 3,2 km. Os organizadores já tinham realizado uma corrida extra-campeonato em 1961, vencida por Innes Ireland com uma Lotus, e outra em 1963, vencida por Jack Brabham. Desde 1950 queriam realizar o GP e agora conseguiam.

As equipes tinham ouvido falar que a pista era cheia de ondulações e isso se comprovou rapidamente cobrando um preço alto.

Na classificação, Graham é o único a baixar de 1:10, marcando 1:09.84.

Confirmando a boa fase da Ferrari, John marca o segundo tempo, 1:10.12, seguido por Jim com 1:10.21. Dan e Richie marcam exatamente o mesmo tempo, 1:10.40, seguidos por Brabham com 1:10.57 e Bandini com 1:10.63. Mike Spence marca 1:11. cravado, Bruce 1:11.25 e Jo Bonnier 1:11.59.

O tempo no momento da largada era seco. Formação do grid em 4-3-4.

Jim tem problemas com o cambio e perde posições, sendo acompanhado por Graham, que patina além da conta. Jack inaugura a sessão de visitas aos boxes com problemas de alimentação de combustível. Gurney completa a liderança na primeira volta mas é John quem aparece na ponta na segunda. Bandini, com a 156, está em terceiro. Atrás dele há uma ferrenha disputa, que logo termina com a primeira de uma impressionante sessão de quebras, que vai vitimar os favoritos.

Graham é o primeiro a abandonar, volta 5, por problemas no distribuídor.

A suspensão traseira faz Surtees abandonar na volta 9 e assim Dan volta a liderar, seguido por Bandini. Jim, em terceiro, se aproxima rapidamente do italiano, consegue passar mas não tirar a diferença para o americano.

Jim abandona por quebra no semi-eixo/transmissão na volta 40 e Mike Spence, queestava em quinto, faz o mesmo, pelo mesmo problema, na volta seguinte. Gurney abandona na volta 47, problemas na suspensão dianteira.

Com as bruxas soltas, as zebras se mostraram ainda mais galopantes que no GP da Alemanha.

A classificação registra a primeira – e infelizmente única – vitória de Lorenzo Bandini, após 105 voltas. Ginther é o segundo e o único na mesma volta. Bob Anderson herda o terceiro lugar de Jo Bonnier, que tem problemas no motor, Tony Maggs, Innes Ireland. Jo Bonnier consegue garantir o sexto lugar e um ponto no campeonato.

Phill Hill se acidenta na volta 59, e o carro pega fogo.

Jochen Rindt faz sua estreia, a bordo de uma Brabham-BRM da Rob Walker. Tinha 22 anos e já era a esperança nacional. Foi o primeiro austríaco a competir na F1. Largou em 12º e abandonou na volta 58 com problemas de direção.

Dan Gurney fez a volta mais rápida, a 32a., 1:10.56.

Com os favoritos zerando, Richie se mantém no 4º lugar do campeonato de pilotos com 17 pontos e Lorenzo passa a fazer parte do grupo dos 5 melhores colocados com 15 pontos.

O próximo GP era o da Italia e logicamente, momento da Ferrari aproveitar o bom momento.

E assim John faz a pole, percorrendo os 5.750 km de Monza de então em 1:37.4, o único a baixar de 1:38.

A seguir se classificam Dan, com 1:38.2, Graham com 1:38.7, Jim com 1:39.1, um surpreendente Bruce McLaren com 1:39.4, um não menos surpreendente Jo Siffert com 1:39.7, Bandini com 1:39.8, agora também com uma 158, Mike Spence com 1:40.3, Ginther com 1:40.4 e, a melhor surpresa, a Honda de Bucknum com 1:40.4 em 10º.

As novidades eram uma terceira Ferrari, a 156, para Ludovico Scarfiotti e a ausência – não explicada – de Phill Hill na Cooper, substituído por John Love, um rhodesiano que vinha fazendo boa temporada com a equipe de Ken Tyrrel da Formula Júnior, mas que não se classifica para a largada.

Grid no formato 3-2-3, tempo seco, 78 voltas pela frente.

Mais surpresas na largada: Bruce encontra um caminho para assumir a ponta mesmo saindo da segunda fila. É seguido por Gurney e Surtees. Graham fica por lá mesmo, com quebra da embreagem.

O tradicional jogo “Quem não aproveita o vácuo é bobinho” começa. Dan e John conseguem ultrapassar Bruce e vão pouco a pouco abrindo distancia, enquanto se alternam na ponta.

Clark se aproxima de Bruce e os dois replicam esse jogo até que na volta 27 o escocês é obrigado a se retirar, com problemas no motor.

Jack tinha conseguido se destacar da turma que brigava logo atrás, chegando ao 4º posto, para também quebrar o motor na volta 59.

Bandini e Ginther duelam até o fim pelo terceiro lugar. Dan, mais um com problemas de motor. tinha ficado para trás. Bandini vence pela margem mais estreita registrada até aquela época, calculada em um décimo de segundo. Innes e Mike completam a turma da zona de pontos.

Indy: a cronometragem da época, manual, não permitia a precisão dos equipamentos digitais de hoje.

John faz a melhor volta, a 63, em 1:38.8, e agora encosta em Graham e Jim no campeonato de pilotos, com 28 pontos. Richie e Lorenzo também consolidam os 4º e 5º lugares, com 20 e 19.

A conclusão dessa história virá na próxima coluna.

Abraços,

Chiesa

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

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