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AS CORRIDAS E A VIDA – PARTE 4
14/05/2002
chega de Áustria!
20/05/2002

Amigos

Essa história do GP da Áustria ficou na minha cabeça mais tempo do que eu gostaria e do que achei que ela iria ficar. Acabou virando o tema principal das conversas amenas (mas nem tanto) entre mim e meus amigos, colegas, parentes, clientes, desde o último domingo. E olha que eu gosto de corrida como terceira opção, bem depois do futebol e do tênis!

Ficou na cabeça porque saiu do circuito de Spielberg e invadiu a vida comum, em seus aspectos tão fundamentais quanto complexos, como ética, moral, honestidade etc.

Concordo com boa parte do que vocês falaram e, naquilo em quedivergiram, engasguei. Depois de ler a tréplica do Edu (mandando que todo mundo apontasse o dedo para o Schumacher), achei que eu estava sendo simplista demais em aceitar que “Fórmula 1 é só um negócio” e, nela como na vida, as puxadas de tapetes são uma seqüênca tão inexorável quanto a das voltas de uma corrida, como a carta seguinte do Pandini deixou evidente, com seus imbatíveis registros históricos. Aceitar isso é assumir como lema aquela frase famosa do Rui Barbosa cujo teor é mais ou menos o seguinte: de tanto ver vencer a desonestidade, o homem começa a achar estranho ser honesto.

É um negócio, sim, mas mexe com a emoção de todos aqueles que se plantam em frente à TV domingo sim, domingo não. Aquilo pode não ter nenhum sentido prático na vida dessas pessoas (não ficam mais ricos, mais fortes, mais bonitos ou mais inteligentes por assistir e até torcer), mas pode acelerar o coração, trazer angústia, satisfação, alegria, decepção. Aquela uma hora e meia pode ser a da catarse, a do “dane-se o resto” (o emprego, o desemprego, o mau casamento, o filho desajustado). Daí, é legítimo que o telespectador se sinta agredido com um desfecho tão amoral quanto o desse último GP.

E mais: se aceitarmos simplesmente que tudo é um negócio e não há o que fazer contra os interesses econômicos, então vamos deixar que os donos do dinheiro decidam, por essa lógica, o que deve ser feito com o patrimônio histórico-cultural de um país, suas reservas ecológicas, suas riquezas minerais. Porque a lógica seria a mesma. Mas, felizmente, há entidades e até leis que nos protegem dessa mercantilização universal e, quando uma empresa insinua derrubar um casarão centenário, desmatar uma área verde, usar produtos que agridem o meio-ambiente, ainda há pessoas ou instrumentos que se insurgem contra isso.

Alguém poderia argumentar: mas isso é muito mais sério que umacorrida de Fórmula 1. Será mesmo? Será que aquele sujeito sentado à frente da TV, com cara de idiota, sentindo-se o próprio, não é o símbolo de uma agressão à sociedade, mesmo que o instrumento para essa agressão tenha sido uma simples corrida de carros?

Edu, só para terminar: não era preciso que você pedisse a cabeça de Schumacher. O público do autódromo, consciente ou não, fez um gesto histórico (no sentido milenar), mostrando polegares para baixo, como se fazia com os gladiadores “reprovados” na Roma antiga. Schumacher, ainda que tenha sido só uma ferramenta do negócio-Fórmula 1 (como diria o Panda, eu sei…), já recebeu sua sentença.

Um abraço,

Alessandra


Ao contrário do que Piero Lardi (em anexo, Ferrari) disse, creio que seu pai deve ter se mexido no túmulo, sim.

Porque, por mais que lhe interessasse valorizar a equipe e não seus pilotos (Frank Williams deve ser o expoente máximo dessa tese, hoje em dia), creio que era um esportista, antes de mais nada. Duvido que privaria um de seus pilotos de uma façanha tão acachapante quanto essa. Se o Rubens tivesse ganho o primeiro lugar por obra do acaso, vá lá, ainda seria compreensível.

Mas tirar uma conquista depois de demonstrar uma superioridade tão flagrante fica decididamente ridículo, para não dizer desumano. Afinal, ele passou de piloto desacreditado (principalmente em sua própria terra), a vencedor factual e moral de um duelo contra um dos mais talentosos pilotos de todos os tempos.

Agora vamos analisar o Michael campeão: talvez seja o mais talentoso de todos os tempos, mas ficará marcado pra sempre por ter ganho um título batendo propositalmente no carro do seu adversário direto e perdido outro usando o mesmo estratagema. Uma espécie de Dick Vigarista. Agora, vai ser penta com uma ajuda injusta, que vai tornar opaca sua glória.
Francamente, não sei se vale a pena conquistar títulos desse jeito.

É bom que se lembre que a Ferrari deixou Irvine à sua própria sorte (ou pior, mas não vou entrar em polêmica), preferindo ficar na fila mais um ano (ou mais, portanto correndo um risco muito maior do que esses 4 pontos) só porque queria porque queria voltar a ser campeã com o Sapateiro. Do jeito que vai, é melhor aproveitar que estão pondo as ações da Ferrari na bolsa e vender de uma vez para o Michael, Jean, Ross e Rory, para que possam finalmente botar seu nome em algo que na prática já lhes pertence.

Discordo de quem acha que o Michael foi demagogo no pódio. Acho que ele tem alma de esportista e é inteligente, logo essa era a única maneira de ser fiel a seus princípios e ao mesmo tempo diminuir o vexame (embora também deva ter ficado bem satisfeito com os 4 pontos na poupança).

Discordo ainda dos que falam que o Rubens deveria ter se rebelado. Aliás, acho muito cruel ressaltarem esse ponto, ao invés de enfocarem sua esmagadora superioridade sobre o tetracampeão, como se isso fosse um fato normal. A F1 de hoje é negócio e não esporte, e negócios são regidos por contrato, ainda que eles contrariem o princípio básico pelo qual um piloto de corridas exerce sua profissão.

Concordo com o ponto de que McLaren já fez isso e ela e a Williams fizeram um inédito jogo de equipes no passado recente, mas, como se sabe, um erro não justifica o outro.

Enfim, triste vermos a comprovação de que a F1 que conhecemos não existe mais e provalvemente nunca ressuscitará.

Finalmente, só quero ressaltar que as conseqüências desse pensado gesto não terminarão por aqui. Creio que o público, agora que descobriu que isso não é um esporte e que o melhor nem sempre vence (ao contrário do que imaginava), ainda não deu sua última palavra.

Se os Montezomolo e Todt da vida continuarem a patrocinar resultados arranjados, temo que enterrarão de vez o que resta de carisma nessa atividade.

Carlos Chiesa


Amigos do GPTotal,

com muita tristeza e decepção assistimos no ultimo domingo a um GP de F1 tão frustrante. A decisão tomada pela equipe Ferrari, foi uma das coisas mais ridículas, grotescas, inoportunas e sem uma justificativa decente, que o mundo já teve conhecimento. A minha decepção e a vergonha que senti, (tive que trocar de roupa, pois vestia uma camiseta da Ferrari) me deixou por dias meio sem chão, meio sem saber o que dizer.

Como Ferrarista desde 1964, com Surtees campeão pela Ferrari, após a corrida sabedores da minha exagerada opção fui cobrado, por amigos e parentes, por email, telefonemas, e pessoalmente, e tive que ouvir de tudo um pouco. Desde os “brasileiros patriotas” que defendem Barrichello acima de qualquer coisa, até aqueles que sempre disseram que F-1 não é esporte, e que se aproveitaram da situação para reforçar ainda mais suas convicções. Os anti Shumacher deitaram e rolaram à vontade. Tripudiaram.

Infelizmente a F-1 toma um rumo em que o bom senso, a desportividade e a ética ficam em segundo plano, para desgosto de nós puristas, que ainda acreditamos “no braço”, no arrojo, na determinação (sem sacanagem) na astúcia (também sem sacanagem) dos pilotos que elegemos como nossos heróis.

Infelizmente não vejo saída para a situação. O jogo de equipe não é nenhuma novidade, sempre existiu e vai continuar a existir. Somente um acordo de cavalheiros (cadê? Onde estão?) poderia acabar com a forma acintosa e desrespeitosa usada atualmente. O regulamento é omisso nesta questão. A FIA embora tente fazer alguma coisa (já chamou os envolvidos dia 26 de junho) não vai fazer nada. Na minha opinião é marcar a hora e escolher a pizzaria.

Acho que boicotar, Fiat, Shell etc, não vai levar a nada.

Prefiro ainda torcer por pilotos, vibrar com curvas bem feitas e manobras espetaculares que continuarão a acontecer, pois técnicamente bons pilotos falizmente tambem continuarão a existir.

E a polemica vai continuar.

E as perguntas sem respostas vão ficar aí, nos jornais, na TV, na Internet. Rubens agiu certo ao assinar aquele contrato? O contrato do alemão tambem tem a clausula de acatar as decisões de Todt/Brown? Os pilotos poderiam mudar alguma coisa? Se rebelar? Quem tirou o pé? Quem brecou? O alemão foi fingido e hipócrita no episódio do podium? E a comemoração de Barrichelo ao som do hino alemão? E?… E?… E?… E?…

E que saco que é ser fanático por Fórmula 1. Pois temos de concordar e discordar ao mesmo tempo, das opiniões de Pandini e Edu.

Obrigado mais uma vez pelo site.

Abraços

Romeu Nardini.


WITH A LITTLE HELP
FROM OUR FRIENDS
15/05/2002

Amigos

Como já disse Shakespeare, “muito barulho por nada”.

O GP da Áustria de 2002 foi vencido por Rubinho, mas quemchegou em primeiro foi Schumacher. Ordem da equipe, ponto final. Todo mundo viu, não restou dúvida. Não foi a primeira e nem será a última vez que isso acontecerá no automobilismo, seja amador ou profissional. A coisa repercutiu muito por causa da ampla cobertura da televisão e também pelas vaias — público sempre tem raiva de Golias e paixão por Davi. Agora, aposto que no GP do Brasil de 2003 Schumacher será ovacionado pela torcida no autódromo, repetição do que ocorreu com Prost. O francês e o alemão demonstraram ser humanos acima de tudo.

Talvez minha visão seja diferente da do grande público, por motivos óbvios. Eu mesmo já determinei troca de posição quando chefiava o empenho da VW no campeonato brasileiro de marcas e pilotos, defendendo os interesses da fábrica. Estava no contrato de cada piloto essa prerrogativa da contratante.

Forte abraço.

Bob Sharp

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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