COBERTORES, AQUECEDORES E MANTAS
Aconteceu no Grande Prêmio do Canadá de 1974, disputado no autódromo de Mosport. Naquela época, a corrida canadense era disputada em setembro ou outubro, no outono do hemisfério norte – normalmente, sob um frio de rachar, e isso quando não chovia.
Em 1974, o GP do Canadá era a penúltima corrida do campeonato e quatro pilotos tinham chances concretas de chegar ao título: nosso Emerson Fittipaldi (McLaren), Clay Regazzoni e Niki Lauda (Ferrari) e Jody Scheckter (Tyrrell). Nos treinos, todas as equipes tinham um problema: por causa do frio, os pneus demoravam umas cinco voltas para aquecer até a temperatura ideal de trabalho.
Teddy Meyer, então diretor e um dos donos da McLaren, improvisou uma solução: comprou um aquecedor a gás. Por razões óbvias, deixou para usá-lo só no dia da corrida. Prevenido, Meyer pediu aos mecânicos que levassem para os autódromos todos os cobertores que encontrassem nos quartos do hotel.
Três horas antes da largada, os pneus foram colocados em uma grande caixa de madeira, devidamente aquecida. Duas horas antes da largada a Ferrari descobriu a mágica e tentou imitar, mas a essa altura já não havia qualquer chance de comprar um aquecedor. Sem alternativa, colocaram os pneus dentro de dois carros de rua e ligaram o aquecedor! Não adiantou nada: os pneus estavam frios ao serem colocados nos carros de Lauda e Regazzoni. O frio era tamanho que Emerson, mesmo com o aquecedor, cobriu os pneus com cobertores logo após a volta de alinhamento.
Emerson era o pole position nessa corrida. Na largada, Lauda tomou a liderança e ficou por ali, sempre acossado por Emerson, até sair da pista. O brasileiro venceu, à frente de Regazzoni, Ronnie Peterson (Lotus), James Hunt (Hesketh), Patrick Depailler (Tyrrell) e Denis Hulme (McLaren).
Com essa vitória, Emerson e Regazzoni chegaram à última corrida, nos Estados Unidos, empatados na liderança com 52 pontos. Scheckter, com 45, tinha chances matemáticas de ser campeão. E Emerson confirmou a conquista do título ao terminar em 4º lugar, enquanto Regazzoni, com problemas, não pontuou. Scheckter, por sua vez, quebrou.
A vitória no Canadá tem muito mais importância do que parece na história da Fórmula 1. Ela foi um passo importantíssimo na luta de Emerson para ser campeão. Mas, mais do que isso, mostrou que havia necessidade de manter os pneus pré-aquecidos antes de um carro ir para a pista. Do aquecedor e dos cobertores de Teddy Meyer nasceu a idéia de fabricar as mantas aquecedoras de pneus, hoje comuns em qualquer categoria do automobilismo mundial.
Marcelo Caram (Campinas-SP)