AINDA A FERRARI 250 GTO
Prezado Pandini,
Pesquisado na Internet, deparei com um artigo com o título “With a little help from our friends”, de 22 de setembro de 2002, relativo a Ferrari utilizada pelo Camilo Christófaro no GP IV Centenário disputado no circuito da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 19/09/1965.
O tema teve origem em uma carta do leito Maurício Kakassu, de São Paulo, nos seguintes termos:
“Muito se fala sobre a Ferrari 250 GTO de Camilo Christófaro, utilizada no GP do IV Centenário do Rio de Janeiro. Porém, observando uma foto do carro na oficina do piloto, verifiquei que a mesma possuía quatro faróis dianteiros (as GTO tinham somente dois) e as molduras superiores das portas eram arredondadas, muito semelhantes às da 275 GTB/4 (na GTO original, as molduras formavam um ângulo quase reto). Pergunto: o carro de Camilo Christófaro era mesmo uma Ferrari 250 GTO ou era uma Ferrari “rebodied” (modificada)? Se for uma legítima GTO, qual o número de seu chassi (pesquisei nos registros de Ferrari e não encontrei menção sobre a existência de uma GTO legítima no Brasil). Obrigado”.
A seguir, passamos prestar algumas informações que levam a um resultado:
1) Foto na oficina do piloto – Ao que tudo indica, o leitor refere-se à foto divulgada na revista Motor 3 e divulgada no site http://eduvette.vilabol.uol.com.br/camilo/camilo.htm, com a legenda: “A Ferrari GTO do IC”. Essa foto nada tem a ver com o carro utilizado no Rio de Janeiro e, como o leitor informa, trata-se de uma 275 GTB.
2) A GTO utilizada pelo Camilo – De acordo com as publicações da época (Quatro Rodas, Autoesporte, Jornal O Globo, etc), tratava-se de uma Ferrari 250 TR que teria sido “recarroçada” para 250GTO. Com efeito, no site http://www.barchetta.cc/english/All.Ferraris/Detail/0716TR.250TRhtm, é informado que o chassi 0716TR57/dec, originalmente com carroceria Scaglieti 250 TR Spyder, teria sido adquirida em 1958 por Celso Lara Barberis em 1958 e “recarroçada” para 250GT em 1964, por Drogo. Tudo indica que seja esta a Ferrari utilizada pelo Camilo no Rio de Janeiro.
3) Corridas desse carro como GTO – A referida “Ferrari GTO” estreou no GP John Kennedy em Interlagos, em 11/10/1964 sob a condução de Luciano Della Porta, quando abandonou logo o início da corrida. Em 19/09/1965, Camilo correu com esse carro e venceu o GP IV Centenário do Rio de Janeiro. Depois disso, o carro voltou a participar de três corridas nas mãos do carioca Paulo César Newlands, nas seguintes provas:
04/06/1967 – 2ª etapa do Campeonato Carioca – abandonou
30/07/1967 – X Circuito de Petrópolis – 1º lugar.
30/08/1967 – 3ª etapa do Campeonato Carioca – abandonou
4) Conclusão – Muito embora fosse uma prática utilizada à época, o “recarroçamento” de chassis Ferrari, não podemos considerar aquela carro como uma “autêntica GTO”. As carrocerias GTO confeccionadas pela Drogo, tinham algumas diferenças entre as GTO originais, que podem ser verificadas comparando as fotos da Ferrari utilizada pelo Camilo e as autênticas GTO, como grade dianteira, capô dianteiro, entradas de ar auxiliares (no capô) dianteiro, portas, etc.
Disponho de diversas fotos de Ferrari GTO, da Ferrari utilizada pelo Camilo e posteriormente pelo Newlands e da 250TR do Celso Lara Barberis. A comparação entre as fotos serviria para elucidar melhor essas diferenças, mas infelizmente, não encontrei o e-mail de vocês, e assim não tive como remetê-las.
Caso seja do interesse de vocês, basta entrar em contato pelo meu e-mail, que terei prazer em remeter as fotos referidas.
Não sei se vou criar mais polêmica sobre a Ferrari 250 GTO, mas o interesse é apenas de tirar a dúvida dos leitores, pois acho que as respostas apresentadas à época não foram conclusivas.
A Ferrari original, chassi 076TR57, é a da foto FERRARI 250TR, que foi pilotada pelo saudoso Celso Lara Barberis em Interlagos.
A foto a que o Sr. Kakussu enviou deve ser a FERRARI 275, cuja legenda no site aparece como “A Ferrari do IV Centenário”.
As demais fotos servem para a comparação do modelo Made in Drogo com as 250GTO “Autênticas”.
Nas fotos FERRARI 250GTO-001 e 002, já dá para notar que os carros são diferentes.
Nas fotos FERRARI 250GT0-003 e 004, nota-se diferença na grade dianteira, nas entradas de ar auxiliares (três na 004 e uma retangular na 003), no pára-brisa e até mesmo no capô.
Nas fotos FERRARI 250GTO-005 e 006, nota-se diferença na armação da porta, no final do carro, etc. Repare nas três fotos que a Ferrari Drogo parece mais alongada e mais baixa.
Esclarecida a dúvida do leitor, permita-me fazer mais algumas considerações sobre a participação da Ferrari no Rio de Janeiro.
A principal discussão ocorreu após uma argumentação do Chico Landi de que o carro seria um Protótipo e não um GT. Tal discussão ocorreu porque, naquela época, era pago prêmio em dinheiro para os primeiros colocados exceto para os “Protótipos”.
Se tal argumentação prosperasse, o Abarth Simca do Jayme Silva (que havia abandonado, mas se classificado em quarto lugar) deveria receber essa premiação, já que em segundo ficou o DKW Malzoni do Marinho e em terceiro o Alpine do Luisinho Pereira Bueno, ambos inscritos na categoria “Protótipos”.
Nessa época, embora adolescente, eu já acompanhava as corridas de automóveis e me recordo que, depois de muita discussão, o carro foi considerado GT, com base em documento enviado da Itália homologando a GTO-Drogo.
Nas demais vezes em que esse carro competiu não mais foi discutido se se tratava de GT ou Protótipo e sempre foi considerado na primeira situação.
Um abraço
Napoleão Augusto Ribeiro
Rio de Janeiro-RJ