Young guns

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Olá, amigos!

 

Dias atrás vi a foto de um piloto de corridas da década de 70, ele tinha aparência semelhante ao meu avô, quando eu era uma criança. Isso me fez refletir sobre como, de alguns anos para cá, os jovens estão dominando as categorias esportivas cada vez mais cedo. Max Verstappen foi tricampeão no alto dos seus vinte e seis anos e, se compararmos com os tricampeões anteriores, temos os seguintes números. Lewis Hamilton foi tricampeão em 2015, com trinta anos. Sebastian Vettel, tricampeão em 2012, então com vinte e cinco anos. Já Michael Schumacher tinha trinta e um anos quando foi tricampeão em 2000, seu primeiro título com a Ferrari.

O grande Ayrton Senna venceu seu tricampeonato em 1991, ano em que completou trinta e um anos. A geração anterior demorou um pouco mais para chegar ao tricampeonato e isso pode ser atribuído por diversos fatores, desde terem começado mais tarde na F1, como também pela alta competitividade na época. Alain Prost tinha trinta e quatro anos quando venceu seu controverso título em 1989. O tricampeão Nelson Piquet venceu seu derradeiro título a bordo da Williams no ano de 1987, quando tinha trinta e cinco anos, assim como Niki Lauda que também tinha trinta e cinco anos em 1984, quando levou o título com a linda McLaren. Voltando para a década de 70, Jackie Stewart foi tricampeão com trinta e quatro anos em 1973, ano de sua despedida da F1.

Em 1966, Jack Brabham foi tricampeão no alto de seus quarenta anos, enquanto o lendário Juan Manuel Fangio ganhou o terceiro de seus cinco títulos quando tinha quarenta e quatro anos. Sinal dos tempos? Muito provável que sim, mas não deixa de ser espantoso o quanto cada vez mais cedo os jovens se tornam estrelas competitivas.

 

Esse também foi o assunto na final da NASCAR, quando tivemos a média de idade mais baixa entre os pilotos presentes no Championship 4 (aqueles que poderiam ser campeões) de todos os tempos, com vinte e oito anos de média.

Claro que isso não é uma coincidência, já que é possível observar muitas vantagens ao se colocar um jovem piloto como estrela principal de um time de corridas. Os jovens aceitam muito mais a vida cada vez mais exigente de um piloto, faz parte de uma experiência deslumbrante que, em alguns momentos, nem sempre pode ser motivador para alguém que já tem uma bagagem e passou por muita coisa na vida. Pense na sua própria vida, se você passou dos trinta anos de idade. Não é o mesmo fazer uma viagem com amigos aos dezoito anos e aos trinta e dois, convenhamos.

De qualquer forma, acredito também em algumas desvantagens ao promover pilotos muito jovens em disputas onde muito está envolvido. Muitas vezes o novato, seja por falta de experiência ou até de limite, pode tomar atitudes um pouco inesperadas em disputas agressivas, além de dizer coisas que patrocinadores ou até a organização podem considerar ruins. É preciso lembrar que, especialmente hoje em dia, as competições são feitas para se ganhar muito dinheiro. Para isso é preciso mais do que um piloto rápido. Ele precisa ser “vendável” no ponto de vista do marketing. Com esse viés em mente, as equipes precisam de alguém que seja veloz, controle sua língua, tenha personalidade, não seja polêmico, não se meta em confusões e que saiba vender os produtos que o patrocinam somente com sua imagem e postura. Fácil, não?

Os que acompanham as corridas há mais tempo sabem que nem sempre foi assim. Piquet não pode se enquadrar no perfil descrito acima, por exemplo. Se voltarmos mais atrás ainda, a imagem dos pilotos fumando cigarros e tomando cerveja era habitual e nada estranho. Dá pra imaginar isso em pleno 2023?

O fato é que, mesmo os pilotos tendo ou se enquadrando para caber no perfil necessário, a condição si ne qua non ainda permanece ser veloz. Ninguém vai sobreviver na categoria máxima do automobilismo, para correr em equipes de ponta, se não tiver em si a velocidade como fator preponderante. A não ser que você seja o Lance Stroll. Esse é café com leite, não conta.

 

O tempo sempre é o senhor da razão e, por mais que tenhamos jovens rapidíssimos nas pistas, não se pode desdenhar da experiência de um Hamilton, com seus trinta e oito anos, ou de um Fernando Alonso, já em seus quarenta e dois anos de vida. Para corroborar esse ponto de vista, basta olhar a classificação dos “velhinhos” em comparação com seus jovens companheiros. Hamilton somou duzentos e trinta e quatro pontos e subiu ao pódio seis vezes, enquanto seu companheiro George Russell, de vinte e cinco anos, somou cento e setenta e cinco pontos, indo ao pódio apenas duas vezes. Alonso foi além e bateu o jovem Lance Stroll, com vinte e cinco anos e filho do dono do time, por duzentos e seis contra apenas setenta e quatro. Em pódios a situação foi mais humilhante: 8 a 0.

 

Acredito que o misto de juventude e experiência, como vemos na equipe da Mercedes na F1 ou na Aston Martin, compõem o cenário ideal para um time que disputa um campeonato tão competitivo. Combinando a ousadia e energia dos jovens pilotos com o conhecimento e destreza dos “senhores” das pistas, faz com que se tenha todos os ingredientes para vencer em qualquer situação. Brincadeiras à parte, se Lance Stroll tiver a cabeça no lugar e não permitir que o ego entre no caminho, ele pode aprender muito com Alonso e, quem sabe, até disputar uma vitória em 2040.

Os jovens já mostraram que podem tomar atitudes erradas ao serem colocados sob os holofotes quando ainda não estão no nível exigido, mas também mostraram que podem ser invencíveis. Max Verstappen e Marc Marquez não me deixam mentir.

 

Grande abraço,

Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Infelizmente nós amantes do automobilismo vamos encerrar o ano de 2023 com uma triste noticia.
    Gil de Ferran faleceu aos 56 anos … que pena … um grande campeão com toda certeza …
    faz parte né.

    Um bom 2024 para todos

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Fernando Marques disse:

    Rafael,

    muito bacana a sua coluna … concordo plenamente com tudo o que vc diz na couna “Young Guns” …
    Hoje realmente temos mais jovens no automobilismo, possivelmente em razão da segurança, o que possivelmente permitem aos pais deixarem eles correrem … não sei … é apenas uma tese …
    Mas acho que é preciso dizer, que a vida útil da carreira dos grandes pilotos, também me parece mais duradoura … aquelesq ue são realmente bons perduram …
    Eu sempre me questionei tipo até quando Tony Kanaã vai continuar correndo na Indy, vale o mesmo pro Helinho … esse ano Kanaã se aposentou de vez da Indy né … alguém se lembra do ano que ele estreou na categoria?
    Adorei o tema da coluna

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Robertão disse:

      Oi Fernando. Não é apenas uma tese o que vc pensou. Até a decada de 90 era temerario sentar naqueles carros de competição. O esporte a motor era muuuito mais perigoso do que hoje e as familias faziam o diabo para o rebento desistir daquela “loucura”. Sei bem pois fiquei enfiado nesse meio nas decadas de 70, 80, e acompanhando de perto ate meio dos 90. Se voce visse os fuscas da Divisão 3, os Opalas D3 e o que era feito nos carros para corridas longas era… insano. Só como exemplo o Puma do Zé Martins que correu nas 24 horas de 72 tinha do lado do piloto um tanque de 120 litros de gasolina de avião, fora o tanque normal. Qual familia normal permitiria que seu filho ou filha participasse de uma competição que notoriamente matava piloto adoidado no mundo inteiro?
      Quanto a precocidade dos pilotos de hoje tem uma explicação super simples: até o final da decada de 80 a condição sine qua nos para carteira de piloto de automovel era a carteira de habilitação, ou seja, vc tinha que ter 18 anos. Rubinho ja pega um afrouxamento dessa regra no final dos 80 quando corre de F Ford com 17. Observe bem… 17. Idade em que Max Verstapen ja esta sentado num F1. Senna só sentou em um carro de corrida um formula Ford aos 21!!
      A meu ver essa precocide se da em razão da liberação para que pilotos de Kart de 6 anos comece competindo para valer.(Na deca de 70 a idade minima para a Junior era de 13 anos). A isso se soma o nivel de segurança dos carros e das pistas hoje e a abertura para que pilotos cada vez mais jovens sentem num carro de competição incentivados pelas suas familias.
      Dá medinho? dá! Mas não é o pânico de 50 anso atras. Sinal dos tempos
      Abs e bom Natal
      Robertão

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