Hexa?

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Uma marca expressiva foi atingida esse final de semana na China. Estamos falando da milésima corrida oficial do campeonato da Fórmula 1. E iniciamos com uma pergunta tão prematura quanto provocadora:

– Pelo que aconteceu nesse GP, podemos concluirque tanto a Mercedes como o piloto Lewis Hamilton vão ganhar o hexacampeonato este ano?

Alguns vão dizer: Espera aí, calma, é só a terceira corrida do ano… tem certeza que é hora de falar sobre isso? Tem mais 18 GPs pela frente…

Vamos a pontos que levam a trazer essa pergunta:

A equipe Mercedes, numa das atitudes mais ousadas dos últimos anos, lembrando talvez os grandes estrategistas militares em algumas batalhas, chama seus dois pilotos simultaneamente na volta 36, realiza os dois pitstops mais perfeitosjá vistos e entrega os carros de voltasem nenhuma perda de tempo.Foi um sinal claro o quanto eles estão confiantes e quepossuem uma tremenda equipe em todos os aspectos.

A combinação entre estratégia, carro, piloto e integrantes fazem desse time um dos melhores da história.

É bom tanto a Ferrari como as demais equipes estudarem bem o que aconteceu em termos de estratégia nesse GP e usar a Mercedes como referência. Faz tempo que isso é falado e, pelo visto, o que se estuda pós corridas não tem servido de lição.

Esse pit stop da Mercedes tem na palavra perfeição a melhor definição. Sem dúvida foi, em termos de paradas nos boxes, a imagem da década e do GP, digno de uma corrida histórica.

Hamilton, por sua vez, fez uma prova ao seu estilo quando está mentalmente forte. Largou muito bem, assumiu a ponta e liderou todas as 56 voltas, não cedendo a liderança em nenhum momento, nem durante as paradas para pneus. Quanto aValtteriBottas, vai ficando a impressão que a sua atuação na Austrália foi ponto fora da curva. Ele correu de forma burocrática e o segundo lugar é o que tem para hoje, com o carro que ele guia.

A Mercedes chega a sua terceira dobradinha nas três provas iniciais. Não fosse pelo ponto extra da volta mais rápida (assunto que falaremos mais adiante) seriam 100% de aproveitamento na pontuação – eles precisam se contentar com“apenas” 98,5% de aproveitamento…

O GP foi muito morno, sem nenhuma intervenção de SafetyCar ou imprevistos, como chuva ou quebras. Essa corrida na verdade pode ser resumida pela declaração pós-GP de Daniel Ricciardo, que disse ter feito uma corrida de forma muito solitária.

Avaliando, vemos que houve pouquíssimas disputas na pista. Os treinos já eram um prenúncio de corrida enfadonha, pois mostrava a importância do carro: as cinco primeiras filas ficaram nas mãos das cinco melhores equipes: Mercedes, Ferrari, Red Bull, Renault e Haas.

Na corrida, tirando a Fórmula Mercedes,as demais equipes e pilotos tiveram seus resultados com o seguinte cenário:

Começando pelasegunda força do grid, a Ferrariviu seus dois pilotos terminando respectivamente em terceiro e quinto lugares. Vettel mais uma vez precisou da intervenção da equipe para passar CharlesLeclerc. Este ano os italianos estão pródigos em soltar ordens durante a prova e pelo terceiro GP seguido vemos essa intervenção acontecer.

Claro que não se discute a estratégia que uma equipe deva adotar, mas está sendo vexaminoso até para a carreira do Vettel ficar tão exposto a esses acontecimentos. Vale pontuar que Leclerc e sua atitude em confrontar o engenheiro é digna de elogio, esse moleque vai dar o que falar muito mais rápido que possamos imaginar. Atitude ele tem, vamos torcer para todo o seu talento trazer os resultados esperados.

A Ferrari prejudicou sua dupla de pilotos no vacilo em suas decisões. No balanço após a prova, Leclerc foi mais prejudicado que Vettel e acabou perdendo o quarto posto para Max Verstappen. A equipe está em segundo no campeonato de construtores, já 57 pontos atrás da líder Mercedes.

Max Verstappen está surpreendendo nesse início de campeonato de forma positiva.Continua com seu espírito combativo, muito talento, mas já apresenta sinais de amadurecimento. Isso está sendo benéfico pois ele tem feito provas e terminado em posições acima do que o carro pode entregar – não à toa, está em terceiro no campeonato. Vale lembrar que o motor de seu Red Bull é Honda, que pelo jeito começa a entregar boas performances e confiabilidade. Seu companheiro o francês Gasly deu uma melhorada na prova de hoje. Fez sua melhor qualificação no ano, sexto, e chegou na mesma posição. Seu fraco rendimento nesse início de temporada, no entanto, reflete para a Red Bull no campeonato de construtores,

Já começam os rumores que o lugar de Gasly pode estar ameaçado e que Alexander Albon pode ser seu substituto. Vale pontuar que o tailandês da Toro Rosso teve uma atuação destacada nessa corrida. Largando dos boxes após destruir seu carro na qualificação,ele fez uma prova bem consistente, terminando na décima posição e salvando um ponto.

Das demais equipes, destacamos a corrida de Kimi Räikkönen, ele está tirando leite de pedra com o carro da Alfa Romeo, terminando na nona posição.

Ricciardo finalmente terminou seu primeiro GP pela Renault, sendo o melhor do resto, com um sétimo lugar.

Em seguida veio o mexicano Sergio Pérez, dono de uma grande largada com sua Racing Point – apelidada pelo Lucas Giavoni de Daddy Stroll Racing.

Como ponto negativo da prova temos o naufrágio da Haas, largando em boas posições e não terminar na zona de pontuação, deixou a equipe em dívida com os torcedores.

A McLaren estava com boas chances de pontuar, apesar da má posição de sua dupla, mas a batida entre eles e o “Torpedo” Daniil Kvyat estragou mais uma vez as chances do time. Fica a pergunta: o Carlos Sainz vai terminar algum GP esse ano? Por enquanto está zerado nos pontos.

Falando em Kvyat, ele segue em sua montanha russa (com o perdão do trocadilho) em que intercala resultados pífios com resultados ruins, a reclamar que está sempre no lugar errado na hora errada e tudo de ruim acontece com ele. A única coisa que ele ganhou hoje foi uma penalização pelo incidente com as duas McLaren…

Fechando o grid, como de costume, a dupla da Williams. O carro é ruim e tomara que não prejudique a carreira do jovem George Russell. Quanto a RobertKubica, é de se louvar seu esforço em voltar a categoria. Esta semana foi divulgado um vídeo em que as câmeras onboard mostram que o polonês usa apenas a mão esquerda para subir e descer marchas. Ora, se ele não consegue acionar uma simples alavanca tipo clique, isso nos traz a real extensão dos danos em sua mão direita no horrível acidente de rally que sofreu em 2011. Saber disso só aumenta nosso respeito por ele, já que mesmo limitado, tem acompanhado de perto os tempos de seu colega de equipe.

Na prova de hoje a volta mais rápida ficou com Pierre Gasly. Correndo bem isolado na sexta posição, a Red Bull o chamou a duas voltas do final, colocou pneus macios e deu a orientação para ele ir buscar esse ponto extra, feito que ele conseguiu na última volta.

Essa mudança no regulamento, que voltou a instituir esse ponto extra, está sendo muito comentada nas transmissões, principalmente quando um piloto ou outro for em busca desse ponto como neste último GP. A própria transmissão tenta dar uma ênfase, mostrando pilotos falando no rádio com quem está o ponto, ou que estratégia adotar para ir buscar esse ponto.

Indo na contramão, analisamos sob a ótica do sistema de pontos atuais:

Aposto que a possibilidade de o campeonato ter seu resultado final afetado pela nova regra pode não ser na dimensão que os dirigentes esperam. No passado, quando esse sistema existia, o vencedor levava 8 pontos, ou seja, marcar mais 1 ponto melhorava em 12,5% a pontuação do piloto. Hoje, com vitória valendo 25 pontos em jogo, o ponto adicional melhora 4%, para quem está na liderança. A recompensa muitas vezes não vai valer o risco.

Se a corrida em si não foi a pérola de disputas e emoções que esperávamos para a marca dos 1.000, ao menos uma cena muito bacana no final. Escolheram Alain Prost para dar a bandeirada, ícone dos anos 80,junto com tantos outros pilotos que fizeram dessa categoria o ápice máximo ao automobilismo. Vê-lo por lá foi algo que representou muito bem o que a Fórmula 1 representa para muitos de nós.

Os dirigentes deviam ter feito com mais entusiasmo e festividades coisas para marcar mais a marca dos 1.000 GPs, foi muito tímida as atividades pré GP para comemorar a marca.

Quem não se fez presente, não sabemos se proposital ou não, foi Bernie Ecclestone. Alegando problemas de saúde, a velha raposa não foi à corrida e até anda fazendo muitas críticas a Liberty. O engraçado é que ele critica muita das coisas que ele ajudou a implantar…

Bernie, com essa, me lembra uma cena em que um cidadão vende sua empresa por uma fábula de dinheiro e depois não se conforma em ser afastado, começa uma guerra de bastidores com os novos controladores, que evidente usam do poder de novos donos e o afastam. Num momento de lamentação pelo afastamento, ouve de volta de um amigo a seguinte pérola:

– Quando você vende seus sonhos, o que lhe resta?

Amigos ainda temos muitas corridas pela frente. O futuro, apesar de incerto, tem a nossa torcida já pensando no GP de número 2.000.

Um abraço

Mário

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

3 Comments

  1. CLEITON DARÉ disse:

    Caro Mário,
    Não assisti à corrida toda, uma por ser no meio da madrugada e outra pelo fato dela não ter proporcionado nenhuma emoção, como ultrapassagens e até mesmo aquela chuva “imprevista”.
    Penso que o domínio de uma equipe não seja assim tão interessante pro campeonato. Torço para que a Ferrari melhore suas estratégias de corrida e pits, e que até mesmo a Red Bull chegue a apertar a Mercedes, apesar das minhas restrições ao Verstappen.
    No mais, resta a nós acompanhar o caminhar da temporada, esperando sempre grandes emoções no asfalto.
    Abraços.

  2. Fernando Marques disse:

    Já a motovelocidade outra corridaça boa de ser ver.
    Mas cabe uma pergunta: será que a Yamaha, Ducatti e Suzuki vão conseguir fazer frente ao conjunto Marquez/Honda em 2019?
    Pelo visto só se ele cair como aconteceu em Assen

    Fernando marques

  3. Fernando Marques disse:

    Grande Mario,

    eu não vi a corrida … acordar de madrugada para ver a Formula 1 não anda muito nos meus planos … pelos melhores momentos deu pra sentir que a corrida foi morna … em todo caso foi legal ver o “X” de Vettel no Versptappen … por dois motivos: um Vettel não rodou, como costuma ultimante a rodar quando briga direto por uma posição e nem Verstappen foi “Dick Vigarista” ao não tentar jogar seu carro em cima do Vettel como ele costuma a fazer … uma vez ele disse, se tiver que jogar meu adversário pra fora da pista para não perder a posição eu jogo … dessa vez ele jogou limpo …
    Hamilton a caminho do Hexa em 2019? … se a Ferrari não reagir daqui pra frente é pule de 10 …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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