Indivíduo vs Equipe – parte II

Indivíduo vs Equipe
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A segunda parte da análise freudiana do comportamento que faz com que uns acatem e outros ataquem ordens de equipe.

Infelizmente, respeito parece ser um bem que não desfruta de muita popularidade atualmente (jovens desprezam os velhos, alunos desrespeitam os professores, etc) e aqueles que o exercem são criticados e submetidos a escárnio público. Possivelmente, o maior paradigma de vítima de tais críticas seja Rubens Barrichello que, a meu ver, sempre foi destinatário de todo tipo de impropérios por fazer o que a equipe lhe pedia e esperava que fizesse: cumprir seu dever!

Talvez seu caso mais notório foi o acontecido no GP da Áustria em 2002, quando Barrichello liderava com vantagem sobre Schumacher, e recebeu a ordem de ceder a posição ao alemão. O brasileiro, a principio, se mostrou relutante, mas acabou obedecendo, o que lhe custou duras criticas. No entanto, Schumacher, o outro protagonista necessário da jogada, ficou isento de críticas.

Apesar de que ambos aceitaram o papel que se lhes assignou – um cedeu e o outro acedeu – só Rubens foi criticado! Como outro exemplo, temos o caso de Massa durante o GP da Alemanha de 2010, quando Domenicali “informou” o brasileiro de que Alonso, que vinha atrás, era mais rápido do que ele, e Felipe não ofereceu resistência ao espanhol.

Não sei se o famoso “Alonso is faster than you” era uma ordem disfarçada ou não, mas Felipe, em qualquer caso, cumpriu seu dever velando pelos interesses da equipe, ainda que isso representasse renunciar a objetivos pessoais. Duras críticas também lhe foram dedicadas. Assim, num meio onde se critica o cumprimento do dever, não me surpreende que Vettel não acatasse a ordem recebida.

Cresceu num entorno competitivo e, desde tenra idade, se lhe vem apoiando para que satisfaça seu desejo de vencer (ID). Tem condições e se lhe proporciona equipamento para vencer desde faz tempo, portanto tem se acostumado a vencer, satisfazendo assim seu EGO. Nessas condições, não é estranho que o alemão desse prioridade a seu próprio desejo de vencer, em detrimento do respeito à equipe e do dever a cumprir.

O rapaz queria vencer, podia vencer e… venceu, sem considerar possíveis implicações (SUPEREGO). Como em qualquer atividade que envolva uma equipe, o chefe é quem deve decidir como melhor aproveitar seus recursos, sejam estes materiais, técnicos ou humanos, e é responsabilidade do chefe conhecer a gente com a que trabalha e saber o que pode esperar deles em todo momento.

Portanto, este episódio com Vettel me parece que deixa em evidência as carências de Christan Horner nesse sentido. Horner devia prever que as contínuas mostras de soberba de seu pupilo não pressagiavam nada bom. Horner é o último responsável do acontecido, por não haver infundido o respeito devido à equipe.

Contudo, atualmente, há um forte condicionante por trás das ordens de equipe. Faz alguns anos, escrevi sobre o antigo sistema dos melhores resultados e sobre como sua abolição havia acabado promovendo comportamentos muito mais conservadores e conformistas nos pilotos.

Sem a possibilidade de se recuperar de algum acidente, avaria ou seja lá o que for, é lógico que arrisquem menos e tratem de conservar o conseguido. Pois bem, isso mesmo é um efeito secundário desse sistema que também afeta as equipes e sua forma de afrontar as corridas.

Pior ainda, isso é magnificado pelo fato de que boa parte de suas receitas dependa dos pontos conseguidos durante a temporada. Assim, com frequência, vemos como aos pilotos (inclusive quando são de diferentes equipes) se lhes ordena manter as posições pois, uma disputa que pudesse provocar um acidente e a perda de posição ou abandono, representaria uma mingua importante do dinheiro a receber.

Bom exemplo é o da Sauber, ordenando a Sergio Pérez, durante o GP da Malásia do ano passado, que mantivesse a segunda posição, quando se aproximava a Alonso no fim da prova.

Durante o GP da Inglaterra de 2011, nas voltas finais, a Webber, que se aproximava de Vettel, lhe foi ordenado que mantivesse a distância com o alemão. Horner diría depois que não queriam arriscar a perda dos pontos por um acidente entre ambos (como na Turquia em 2010).

Neste recente GP da Malásia, Horner diria que ele pensava nos 43 pontos para a equipe, enquanto Vettel só pensou nos 7 pontos a mais que podia conseguir, o que foi uma equivocação. No que a mim respeita, não tenho nenhum problema com as ordens de equipe, pois sempre existiram de uma forma ou outra e o seu cumprimento faz parte do jogo. Nesse mesmo GP da Malásia, Rosberg, ao contrário que Vettel, obedeceu a ordem de manter a posição e diria mais tarde: “É um esforço conjunto da equipe, e eu respeito a opinião da equipe!”.

Eu também! Respeito é o fator fundamental na relação entre as pessoas… em qualquer atividade. Na formula um, a história nos mostra que quando este prevaleceu sobre interesses pessoais, como nos exemplos citados de Moss, Collins, etc., o respeito sempre foi um fator de estabilidade e de sucesso nas equipes.

Creio que todos deveríamos ser respeitosos com aqueles que cumprem seu dever e, também como disse Lee, não deveríamos esperar menos.

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

8 Comments

  1. Tassio Bruno disse:

    olá Manuel, gostei do argumento q vc usou para embasar seu texto. Mas no todo ha um problema. admito que o tempo que se vive influencia e muito as decisoes dos q vc citou no texto anterior, mas o fato prepoderante, é q em todos eles, a decisao de nao vencer o piloto numero 1, foi deles mesmos, e nao da equipe propriamente dita.

    Se eu for fazer uma analise kantiana do caso, penso q chegaria no seguinte ponto: nao houve fator externo que coibisse a decisao, alem doq, a decisao dos pilotos antigos é apoiada pela sua universilidade — respeito é oq se espera para viver numa sociedade.

    Mas no fundo, vc tem razao. o Respeito também como esperado para viver numa sociedade deveria coibir as ações de Vettel, ou de Shumacher, portanto eles n agiram pensando na universalidade, mas neles mesmos. — sao uns egoistas, como o tempo de hoje nos ensina ser.

    De um jeito ou de outro, vc tem razao, rsrs. O que penso q é mais prepoderante foi oq disse acima. O tempo de Hoje e a decisao dos antigos — nao era preciso em toda corrida a ordem “someone is faster than you”, ele sabia q nao ia querer ultrapassar o piloto numero 1. ele havia tomado para si, este dever. E fazer um Dever q vc nao toma para si, eu nao diria q é um dever, mas só uma ordem.

    Abração e otimo texto!

  2. Mauro Santana disse:

    Belo texto Manuel!

    Parabéns!

    O seu outro Texto Marciano e Descartes é um dos meus favoritos, e aí que aproveitar para lhe fazer uma pergunta:

    Você ainda prefere o sistema antigo com os Descartes ou não mais!?

    Eu preferia o Sistema com os Descartes.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Manuel disse:

      Oi Mauro,
      Agradeço muito seus elógios. Obrigado !

      Sim, ainda prefiro o antigo sistema.

      um abraço, Manuel

      • Mauro Santana disse:

        Bacana!

        E Manuel, na sua experiência, existe alguma chance de um dia o sistema de Descartes voltar na F1?

        Abraço!

        • Manuel disse:

          Mauro, nao abrigo nenhuma esperança de que aquele sistema volte !

          Já faz muito tempo que estamos com o atual e, desde que esta vigente, a cobertrura televisiva cresceu muito, atraindo grandes audiências de geraçoes de aficionados ou simples espectadores, que creesceram com este sistema e eu diría que eles já sao a maioría da audiência… e nao se queixam. Portando, por que haveríam de mudá-lo ?

          um abraço.

  3. Fernando Marques disse:

    Manuel,

    muito bom o desfecho mas na Formula 1 a rigor só não pode faltar respeito com o dinheiro que rola no circo … no caso do Vettel como ele ganha mais em momento algum ele faltou o respeito com Webber assim como nem o Massa um dia faltará com Alonso, assim como, que de bobo não tem nad, o BArrichello não faltou em relação ao Schumacher …

    PS: No caso do Vettel e o Webber bastava a RBR publicamente definir que o Vettel é seu primeiro piloto e fim de papo .. . e não ficar com este papo furado que de querer agir como a Mclaren que nestas horas tem uma politica bem clara nestas disputas na pista … Não seria mais simples?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Leonardo - RS disse:

      Fernando,

      Concordo plenamente. O culpado é o Cristian Horner, se fosse na Ferrari teriam mandado um “Seb is faster than you” para o Webber, mas acho que Horner não sabe lhe dar muito bem com este tipo de coisa e também não acredito que Webber teria obedecido.
      Ao contrário do que muita gente pensava, o GP da Malasia nos mostrou que ordens de equipe na RBR nem sempre são para favorecer Vettel, dependendo da circunstância podem favorecer tanto um quanto o outro. Claro que existe uma certa preferência para Vettel, afinal ele é mais piloto.
      Mas isso jamais veríamos na Ferrari por exemplo, ou alguém acredita que pediriam para o Alonso ficar atrás do Massa?

  4. Lucas Giavoni disse:

    Um desfecho brilhante para um texto brilhante, meu querido Manuel.

    Você conseguiu traduzir tudo o que penso do episódio.

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