Um ano de ouro

2019 Preview
12/03/2019
Que mingau é esse, meu filho?
18/03/2019

Entra ano e sai ano, o intervalo entre temporadas é uma das coisas mais agoniantes para os fãs da F1. Casos especiais são os anos que temos alterações de regulamento e grande mudanças entre fabricantes e pilotos, como nesse maravilhoso ano de 2019.

Para esse ano a Fórmula 1 preparou um pacote especial. São várias mudanças de pilotos, novatos, retornos. Temos carros em um novo regulamento técnico. Temos novidades esportivas. Temos fabricantes mudando de equipe. Temos um tetracampeão querendo igualar o pentacampeão recém coroado.

2019 pode não fazer desaparecer o gigantesco buraco que separa as grandes equipes das médias. Não há expectativa para o sumiço completo dessa diferença. Há expectativa e elementos evidentes que apontam para um equilíbrio maior pelo título e muitas disputas no grupo intermediário.

Toda essa expectativa na semana do primeiro GP ficou com um gosto agridoce na boca. A morte de Charlie Whiting chocou o mundo da Formula 1. O diretor de corridas da F1 era o rosto técnico da F1 moderna. Um personagem icônico e respeitado unanimemente por pilotos, dirigentes, jornalistas, enfim…todos do mundo da Formula 1.

Descanse em paz , Charlie. E obrigado por cuidar de nossa paixão.

Nesse fim de semana chegamos ao 34º Grande prêmio australiano. Vigésimo terceiro em Melbourne, depois de 11 aparições em Adelaide.

É um destino clássico? Claramente. Já faz parte do cenário da F1. Um destino divertido com uma pista que não merece ser a abertura da temporada. Faz falta aquele circuito tradicional para sabermos as reais forças da temporada. Esse misto de circuito de rua e permanente do Albert Park mascaram o real potencial dos carros.

Com poucos pontos de ultrapassagem, não será nessa pista que poderemos julgar em definitivo se as mudanças das asas dianteiras permitirão maior facilidade nas manobras de ultrapassagem sem o DRS. As impressões dos testes de inverno são de que houve melhora sim na proximidade que se pode andar do carro da frente. Vamos esperar para ver!

Vencedores nessa pista? Claro que na liderança está o eterno Michael Schumacher, com 4. Depois segue a fila com 3 vitórias os campeões Button e Vettel. Hamilton e Raikkonen dividem o ranking com duas vitórias cada.

Com esse grid recheado de novatos (Antonio Giovinazzi, Lando Norris, George Russell e Alexander Albon), com Daniil Kvyat de volta querendo mostrar serviço e, sempre ele Romain Grosjean, nada menos que uma largada “épica” (Dantesca?) é esperada para esse domingo. Vamos torcer para sobrar carro depois da primeira curva.

Não se perca. Os horários desse fim de semana:

Treino Livre 1 – 14/03 – 22:00 – 23:30
Treino Livre 2 – 15/03 – 02:00 – 03:30
Treino Livre 3 – 16/03 – 00:00 – 01:00
Classificação – 16/03 – 03:00 – 03:18
Corrida – 17/03 – 02:10 – 04:10

Os testes de inverno só nos indicam, geralmente, tragédias de desempenho. Quem tem carros bons, esconde o jogo. Quem tem carros médios, mostra mais do que deveria. Só que não podemos cair no lugar comum de rotular esses momentos como inúteis para se pensar na temporada.

De cara sabemos que a Williams caminha para estabelecer sua posição como pior equipe do grid. Carro problemático e lento. Seu diretor técnico pediu “licença” por motivos pessoais, deixou a equipe sem comando e sem motivação. Faltaram peças para terminar os testes, um cenário de abandono e descomando.

Sinto muito por Robert Kubica. O campeão dessa temporada, em Melbourne, é Kubica. A frieza dos números na insossa Abu Dhabi dará o título a outra pessoa, fato. Kubica faz um retorno impressionante para a F1, em todos os sentidos. Não é só a recuperação física e determinação descomunal, ele venceu a barreira de anos sem andar num carro da categoria, barreira que não é superada por pilotos que ficam de um a dois anos fora. Sua última participação em um GP havia sido em 2010. É muito tempo, vencido com muita dedicação e muito talento.

A Williams vai correr sozinha em 2019 e vai ser em último. Kubica tem que superar seu companheiro em todas as provas se quiser alguma vaga em equipe melhor. Russel tem que superar seu companheiro em todas as provas pra não fazer companhia para Vandoorne, Massa, Di Grassi e Piquet Jr na Fórmula E. Nos resta ficar de olho nessa disputa particular.

Não percam na Netflix. Nunca antes foi oferecido tanto acesso aos times da F1 quanto agora. Liberty Media garantindo alguma diversão pra gente ao menos nas coberturas e materiais disponíveis.

E o calendário desse ano? Nenhuma prova nova, seguimos sem surpresas.

17 de Março – Austrália – Melbourne
31 de Março – Barein – Sakhir
14 de Abril – China – Xangai
28 de Abril – Azerbaijão – Baku
12 de Maio – Espanha – Barcelona
26 de Maio – Mônaco – Monte Carlo
9 de Junho – Canadá – Montreal
23 de Junho – França – Paul Ricard
30 de Junho – Áustria – Spielberg
14 de Julho – Inglaterra – Silverstone
28 de Julho – Alemanha – Hockenheim
4 de Agosto – Hungria – Hungaroring
1º de Setembro – Bélgica – Spa-Francorchamps
8 de Setembro – Itália – Monza
22 de Setembro – Singapura – Marina Bay
29 de Setembro – Rússia – Sochi
13 de Outubro – Japão – Suzuka
27 de Outubro – México – Hermanos Rodriguez
3 de Novembro – Estados Unidos – Austin
17 de Novembro – Brasil – Interlagos
1º de Dezembro – Abu Dhabi – Yas Marina

Ano que vem sim, aí teremos a inclusão do Vietnã. O grande problema pra 2020 são as renovações de Inglaterra, México (que perdeu apoio estatal) e Alemanha (sempre deficitário).

As 3 maiores equipes da temporada seguem como as 3 favoritas nesse ano.

Sem loucuras quando falamos de 3 equipes, considerando a Red Bull na jogada. Acontece que a Honda teve muita ajuda de consultores externos (leia-se Ilmor) no ano de vida com a Toro Rosso e também recebeu mais um massivo aporte financeiro para cuidar de dois times. O chassi deve ser impecável, novamente, e manter a mesma linha que forneceu ao time condições de buscar 4 vitórias em 2018. Se Max não fizer besteira (tipo bater no treino livre em Mônaco e destruir o carro para a classificação), a primeira vitória do retorno da Honda vem esse ano. Max é tão brilhante quanto mala. O cara é insuportável só de respirar, não há uma entrevista bacana com ele. Só que ele é brilhante. Pena de Gasly que chega imaturo na equipe principal e vai encarar Max e Jos pela frente. Se ao menos se mantiver perto de Max, cumprirá sua missão para 2019. Se ele ele vencer a primeira da Honda e não Max, há receio pela instabilidade mental da família Verstappen.

Tirando os azuis, entre os vermelhos e prateados a briga vai ser épica principalmente nas fábricas. Quem desenvolver mais rápido e mais acertadamente vai vencer esse campeonato. Lewis contou com o fracasso de Vettel em 2017 (batida na largada de Cingapura) e 2018 (batida na Alemanha) para caminhar para títulos mais tranquilos que o previsto. Dirigiu precisamente? Sim. Vai precisar repetir as atuações de gala de 2018 em 2019 pra levar o Hexa. Já Vettel tem que dar o melhor de sua carreira se quiser o Penta. Pode ser o Canto do Cisne do alemão: um último ano de desempenho estrelar antes de ser eclipsado pelo sol que brilha em cada coração Ferrarista, atendendo pelo nome de Charles Leclerc.

Em 2018 vimos uma alternância de forças muito grande de uma prova pra outra. Um fim-de-semana era Ferrari, duas semanas depois era fim-de-semana da Mercedes. Essa tendência não vai mudar em 2019. Quem começa perdendo, de cara, é a Mercedes. Bottas não está em condições de igualdade de capacidade com Charles Leclerc e vem de um 2018 abaixo da crítica. Se Charles dominar a pressão interna de ser um piloto Ferrari, o time vermelho pode tirar o título de construtores da Mercedes pela primeira vez da era híbrida.

Na turma do confete e da serpentina (em clima de pós-carnaval), o “meião” é onde teremos festão nos salões do mundo. A Renault vai se destacar um pouquinho? Provavelmente sim por conta do grandioso orçamento. Lá pelo meio do ano Ricciardo deve desfrutar das mais tediosas corridas de sua vida: longe demais pra brigar pelo pódio, muito à frente da disputa com a rapaziada do “meião”. Certamente mais rico, Daniel vai ter um ano de paciência. Sua aposta deve se pagar em 2021 com o novo regulamento. Ali está a aposta dele e da Renault em fazer o salto pra briga constante pelo título. Já Hulkenberg vai ter que se provar pra não sair da Formula 1 sem um mísero pódio. A concorrência com Ricciardo poder ser brutal para a sequência de sua carreira.

Da Renault pra traz…a nossa adorada festa. Haas, Toro Roso, Racing Point, McLaren, Alfa Romeo, todas no mesmo balde. Pista de rua, podemos ter qualquer uma delas na frente do pelotão. Mudamos pra pistas de alta, e a ordem da corrida anterior pode ter mudado completamente. Na “corrida armamentista” durante a temporada, há chances de Racing Point se destacar. Não somente pelo histórico de atualizações sempre muito eficientes, mas também pela volumosa contribuição financeira de Dad-Stroll para a equipe. Esse aporte financeiro somados ao novo patrocinador, oferecem um orçamento que nunca foi visto pelos lados dessa equipe.

A Toro Rosso vai sofrer o preço de ser laboratório da equipe matriz além da saída de James Key para a Mclaren. Assim como o James lá da Mercedes (o James Alisson), esse era o grande responsável pelos carros bem acertadinhos do time de Faenza. A Toro Rosso tenta compensar essa perda com o uso de mais peças compartilhadas com a Red Bull. A grife Adrian Newey ajuda em momentos de necessidade de performance. Fato é que depois de 4 fornecedores de motores diferentes, a duas equipes da indústria de bebidas energéticas vão compartilhar o mesmo motor, câmbio e suspensão traseira. O mais intrigante de toda a equação rubro taurina é a volta de Kvyat. Isso realmente não dá pra entender. Albon é fácil, é o cara novinho que precisa passar uns 2 anos no time pra ver se vira um piloto que valeu o investimento.

Com a Alfa Romeo, toda a nostalgia se transforma em expectativa. O time vai usar mais peças da Ferrari e tem um longo histórico de ser uma boa construtora de chassis. Tem tudo para fazer um campeonato decente e dar muita diversão para Raikonnen. O grande pega aqui vai ser com a Haas. A meta será bater o time americano como a melhor “Ferrari B” do grid. Espera-se que a Alfa “vença” essa batalha direta, a Haas ainda usa chassis Dallara, uma empresa que não tem o ritmo de desenvolvimento necessário para estar na F1 de forma competitiva. Sem contar que a Haas mantem a mesma dupla fraquinha do ano passado. Faltou ousadia pra montar um time mais forte atrás do volante.

Por último, a Mclaren. Abraçadinha ali com a Williams no rodapé do grid. Será que agora vai? O primeiro passo foi reconhecer que não sabe mais fazer um carro. O carro de 2018 foi um dos mais tristes da história. O segundo passo foi mandar uma rapaziada embora e contratar sangue novo. Em um curto período de tempo, não vai mudar nada. O projeto para 2021 vai começar agora em abril, com a chegada de James Key. Com calma, em dois anos, podemos ver o time de volta na briga. Aproveitem que esse ano vamos conhecer muito o trabalho feito em simuladores. A presença de Sergio Sette Camara na função vai elevar o nível dessa conversa nas transmissões. Preparem-se.

Nenhum circuito novo? Tudo bem 2019, tradições devem ser mantidas. Mas temos um ano incrível pela frente. Pilotos novos, o Canto do Cisne de Vettel, a turma do “meião” mais incerta do que nunca, a possível redenção da Honda.

Esse ano é imperdível para os fãs da F1. Teremos chance de ver os melhores pilotos do mundo andando nas máquinas mais rápidas da história da categoria, tudo isso acompanhando por uma riqueza inimaginável de imagens e detalhes. Estamos em uma época de ouro do desenvolvimento tecnológico e presenciando a genialidade de Hamilton no seu melhor momento.

Sinceramente, a F1 merece um olhar cuidadoso nesse ano. E por favor, Formula 1, faça-nos ter novamente ter orgulho de você. Não percam esse ano de ouro…..

Pra você, quem leva essa primeira taça pra casa?

Abraços
Flaviz Guerra

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

2 Comments

  1. Sandro disse:

    GP 998 e contando! Piquet ganhou o GP 500 em Adelaide (1990!). Quem terá a honra simbólica de ganhar o GP 1000?

  2. Fernando Marques disse:

    Flavis e galera do Gepeto,

    que bom que a temporada de Formula 1 esteja começando.
    Estava com muitas saudades de comentar aqui no Gepeto.
    E recomeço em 2019 lendo uma excelente coluna do Flavis na qual concordo com tudo que ele diz.
    A temporada de 2019 tem alguns ingredientes que merecem considerações.
    São elas:
    – será que finalmente a Ferrari vai ter um carro para bater as Mercedes?
    – será que a Mercedes vai continuar mantendo seu up grade na questão dos propulsores hibridos da qual ela detém hegemonia e tecnologia digamos assim mais avançadas?
    – será que os propulsores vão dar a RBR aquele up grade que eles tanto pediam a Renault e não tiveram segundo eles mesmos?
    – será que a Renault, agora bem mais focada na sua equipe e não mais dividindo atenções com a RBR , vai evoluir?
    – será que Racing Point vai ser mais eficiente que a antiga Force India?
    – E a Alfa Romeu (antiga Sauber) vai dar um carro bom para o raikkonen em 2019?
    – e o que será da Williams e Mclaren em 2019?
    – num ano de tantos estreantes, que vai se sair melhor ao fim da temporada?

    Pois bem é isso que eu espero da Formula 1 em 2019. Que todas estas considerações se revele e faça desta temporada inesquecível

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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