10 anos!

E assim se passaram dez anos desde a estreia do GPTotal.

Coube a mim assinar o primeiro texto. Título: “Rubinho deve ter batido com a cabeça”. Estava dado o tom do site: crítica dura à Fórmula 1 e aos seus atores, mesmo que falassem português. Não adiantou muito, é verdade, mas não critico a categoria pra muda-la; a critico para que ela não mude a mim.

Ao olhar pra trás, não há outro sentimento possível que não o prazer e orgulho de ter conquistado tantos e tão fieis leitores e ter trazido para o site jovens jornalistas como Márcio, Marcel e Lucas para juntarem-se a mim, Roberto, Tiago e Chiesa. Foi este grupo que, com a sua dedicação e talento, me estimularem a seguir adiante.

Também gosto de pensar que acertei ao abrir – escancarar, seria mais preciso – o site aos leitores. Há dez anos, acreditem, não havia mídias sociais e os leitores tinham de se contentar com os fóruns de debate. Saído de uma experiência de, naquela altura, 25 anos em jornais e revistas, pensei que seria legal abrir um espaço determinado no site para os leitores, para que eles enviassem as suas opiniões e perguntas, mais ou menos como jornais e revistas costumavam fazer.

Espaço aberto, os e-mails começaram a chegar às dezenas, centenas, milhares. Eram majoritariamente elogiosos mas um ou outro tecia críticas às nossas opiniões. Nas empresas em que havia trabalhado até então, dificilmente eles seriam publicados mas me pareceu injusto e desproporcional agir deste forma também no GPTotal e passei a publica-los intactos, só eliminando algum xingamento pessoal. Foi uma das melhores decisões profissionais que tomei. O único problema é que receber os e-mails dos leitores, dar o que chamamos de um penteada nos textos, organiza-los e pesquisar fotos agregou um bom trabalho a um dia já normalmente cheio. Como esta era uma tarefa a qual costumava me dedicar no final do expediente, deixei de consumir várias e várias caixas de cerveja. Valeu, leitores…

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Não por coincidência, na medida em que os blogs, Twitter e Facebook proliferaram, o volume de e-mails foi caindo. Culpa totalmente minha, a cabeça dura como a fibra de carbono, resistindo às novas tecnologias e possibilidades criadas pelas chamadas mídias sociais.

Agora, qualquer teimosia minha veio abaixo e vocês notarão uma guinada, estando disponíveis todas as facilidades para que entrem direto no ar, sem qualquer controle prévio. Ficam aqui as minhas desculpas pela demora.

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Como vocês já viram, estamos comemorando os dez anos do GPTotal com uma nova apresentação visual, fruto do trabalho do Flaviano Guerra, parceiro de longa data, também ele tendo se aproximado do site a partir da sua leitura, e da equipe da Elo Digital.

Mais textos na home, álbuns de fotos, espaço privilegiado no Twitter e no Facebook e navegação simplificada são as maiores novidades. Gostei particularmente de editar nosso perfil no Facebook. Tenho algumas ideias que vou implementando aos poucos e me entusiasmam as facilidades para a participação de vocês.

Ainda sobre o novo lay out, peço a compreensão de todos: há muitos detalhes a serem apurados no site, o que faremos nas próximas semanas. Qualquer ajuda é bem-vinda.

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Um trecho da coluna de Tiago Toricelli, sobre o Festival de Goodwood, grudou na minha cabeça:

“Emerson pilotou o carro que chamou de “The Beast”, de 1994. Foi, segundo ele, o carro com mais potência que já teve nas mãos”.

Fiquei imaginando a sensação que um grande piloto tem ao pilotar um carro que ele próprio define como “um monstro”. É um momento raro: um campeão, experiente, corajoso e sábio, encontra um grande carro, esta grandeza expressa não em facilidade de pilotagem, segurança ou conforto mas em potência e velocidade final. Um desafio em seu estágio mais avançado, uma relação de fascínio que pode levar até à morte.

Fiquei pensando em quantas ocasiões isso aconteceu na história do automobilismo, além de Emerson e seu Penske Mercedes. Lembrei de Dan Gurney e o Ford Mk IV, de Jo Siffert e outros pilotos que fizeram o desenvolvimento do Porsche 917 e, principalmente, de Mark Donohue e Nelson Piquet, quando se sentaram no Porsche 917/30 e no Brabham BMW BT52B, ambos carros excepcionais, principalmente pela potência estúpida que ofereciam aos seus condutores – se eles tivessem a coragem e habilidade para domá-la.

httpv://www.youtube.com/watch?v=LvD0QVQnYqM

Nos dois casos, não faltou nem uma coisa nem outra e o mundo viu toda aquela potência transformada em tempos demolidores e vitórias. Fala-se, nos dois carros, de 1100 cavalos ou mais mas a verdade é que a potência exata daqueles motores nunca foi medida com precisão pois Porsche e BMW não dispunham de dinamômetros tão grandes mas basta saber que o último ato da relação Donohue-917/30 foi o estabelecimento, em 1975, em Talladega, do recorde absoluto de velocidade em circuito fechado, a uma média horária de 355 km/h.

httpv://www.youtube.com/watch?v=UYBtCJDQqqg

Não creio que Donohue e Piquet tenham sido capazes de expressar em palavras o que sentiram no momento em que, presos ao cockpit, solitários como astronautas ou alpinistas no trecho final de uma escalada especialmente difícil e perigosa, tiveram de se entender com seus carros. Posso apenas imaginar que sentiram uma mistura de medo e excitação depois substituída pela concentração fria e embriagante – os dentes trincados e o senho franzido – na medida em que as imagens nas bordas da pista foram se tornando mais e mais borradas, os limites de aceleração e frenagem sendo testados e superados, eles mergulhando naquele túnel surreal mencionado por Ayrton Senna. Imagino que Donohue e Piquet saíram dos carros em silêncio e talvez tenham tido um pouco de dificuldade para conciliar o sono, à noite.

Pilotos, astronautas, alpinistas. Não me ocorrem outros paralelos porque aqui falamos de um mistura de coragem e habilidade, desprendimento e virilidade – e de solidão, muita solidão porque, por mais apoio que tenham tido dos boxes, dependia apenas deles descobrir até onde era possível. Esta face toda especial do automobilismo está além da nossa compreensão. É um mistério só raramente entrevisto. Só podemos sonhar com ele.

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Bom final de semana a todos, votos aos quais junto meus sinceros agradecimentos pela companhia tão agradável neste dez anos de caminhada, aqui no GPTotal.

Eduardo Corrrea