1994 x 2006 II

1994 x 2006 I
05/08/2011
Talvez sim, talvez não
11/08/2011

*Confira clicando aqui a primeira parte deste texto.

Estamos em 2006 e encaramos uma situação bastante parecida com aquela de 12 anos atrás. Agora Schumacher possui um papel semelhante àquele desempenhado por Senna em 1994: é o principal nome da categoria. O início da temporada também é muito parecido: assim como Senna fizera no Brasil, Schumacher perfila na pole para o GP do Bahrein.

E, também da mesma forma que acontecera com Ayrton, Schumy é superado após os pit stops: porém, seu adversário havia efetuado a troca de pneus/reabastecimento antes, e conseguiu chegar à sua frente.

A técnica utilizada e consagrada por Michael Schumacher durante os anos 90 e nas vezes em que precisou brigar por posições nos anos 2000, era agora posta contra ele: voltas (mais) rápidas antes dos pit stops, trabalho eficiente da equipe, e… primeira posição na pista.

Porém, ao contrário de Senna em 1994, Schumacher se contentou com a segunda colocação…

A corrida seguinte aconteceria na Malásia. Um treino desastroso para a Ferrari: Schumacher parte em 14º e Massa em 21º. Mas o final é inverso: Felipe consegue uma boa quarta colocação, ante um 6º lugar do primeiro piloto. Lá na frente, Alonso, que partira em sétimo, consegue um segundo lugar atrás do companheiro de equipe Giancarlo Fisichela.

A etapa posterior acontece na Austrália, e novo treino fracassado para as Ferrari: Schumacher larga apenas em décimo, ante o terceiro posto conquistado por Alonso na qualificação. O resultado da corrida seria ainda pior.

Logo no início, uma batida provoca a entrada do safety-car. Nesse momento, Alonso já havia pulado para a segunda posição e Schumacher conseguiu a oitava colocação. Na saída do carro de segurança, o espanhol assume a ponta que só perderia quando fosse aos boxes. Venceu a corrida com uma breve vantagem para Kimi Raikkonen, seu grande adversário da temporada anterior.

Já Schumacher andava em sexto quando ia abrir a 33ª volta. O alemão, ao sair da curva Senna e entrar na curva Prost (!), tocou a zebra, perdeu o controle do carro e chocou-se contra o muro, ocasionando uma nova entrada de safety-car.

Ao relembrar a temporada, Schumacher diria: “Cometi alguns erros, como por exemplo aquela derrapada em Melbourne”. De fato, foi um erro tão ou mais grave que aquele de Senna em Interlagos-94. E com a incontestável vitória de Alonso, o espanhol já somava 28 pontos ante apenas 11 de Schumacher. Essa diferença de 17 pontos seria mais latente se pelo regulamento que vigorou até 2002: 26 a 7.

Chega-se então a San Marino. Outra vez um cenário parecido a 1994: Schumacher faz a pole. E o mais curioso: aqui, ele superava o recorde de 65 poles, estabelecido por Ayrton Senna justamente nessa pista (!). Mostrando a superioridade dos Ferrari ante os Renault, Massa é quarto (entre ele e Schumy, as duas Honda) à frente de Alonso.

Na largada, Schumy parte sem problemas e mantém-se em primeiro, enquanto Alonso assume a 4ª colocação. Mas outra coincidência com o GP de 12 anos antes acontece: as primeiras voltas são feitas com safety-car, devido a um acidente ocorrido no fundo do pelotão (Lehto e Lamy sob a forma de Albers e Ide).

A corrida é reiniciada com Schumy em primeiro e Alonso pulando para 4º. Conseguindo retardar sua parada nos boxes, o espanhol assume o primeiro posto na volta de número 21, logo à frente de Schumacher, mas após o pit stop de algumas voltas depois se vê em segundo, atrás do alemão. A partir daí, o duelo se intensificaria, com o Renault rendendo muito mais, e Fernando buscando a todo o tempo uma ultrapassagem.

Mas isso não acontece, e Schumacher defende-se perfeitamente, sagrando-se vencedor com 2 segundos de vantagem.

Schumacher mostrou que estava vivo, e a diferença para Alonso agora era de 15 pontos, com ainda 14 etapas por serem disputadas. A corrida seguinte acontece em Nurburgring, e mais uma vez a Ferrari demonstra força: ainda que Alonso marcasse a pole, a 2ª (Schumy) e a 3ª (Massa) posições são ocupadas pelos pilotos da Ferrari.

A corrida mostra uma intensa disputa entre os dois líderes do mundial. Alonso parte à frente mas é seguido de perto por Schumacher. Nas duas vezes em que foi aos boxes, Alonso retornou atrás do alemão. Na primeira delas, conseguiria recuperar-se. Na segunda, porém, não teria o mesmo sucesso e terminaria a etapa europeia 3,7s atrás de Schumacher, com Massa em terceiro a apenas 0,9s do espanhol.

Tudo indicava que a Ferrari – e Schumacher – iria virar o jogo, mas eis que Alonso vence as 4 (!) etapas seguintes, chegando ao incrível feito de conquistas 84 pontos em 90 disputados (93,3%) e de quebra estabelece uma vantagem de 25 pontos para Schumacher com 9 etapas restantes.

Nessas 4 provas, em apenas uma Schumacher não conseguiu a segunda colocação: foi em Mônaco. Nos treinos, o alemão foi punido por ter deliberadamente atrapalhado a melhor volta de Fernando Alonso, que o havia superado nas duas primeiras parciais — para surpresa de 0 pessoas, Massa confirmou que isso foi deliberado em reunião.

A 10ª etapa acontece em Indianápolis, e a Ferrari mais uma vez mostra superioridade: Schumacher (1º) e Massa (2º) fazem a dobradinha no grid, com a Renault de Fisichella aparecendo em terceiro com mais de 1s de desvantagem. Alonso partiria em 5º. Na corrida, um passeio italiano, e Alonso terminou na mesma posição do grid.

A prova seguinte acontece na França e o grid apresenta a mesma situação: 1-2 da Ferrari, e nova pole para Schumacher. Na corrida, no entanto, Alonso consegue a segunda colocação em boa disputa com Felipe Massa. O panorama apontava 17 pontos de vantagem para Alonso (os mesmos de antes do GP de San Marino) com ainda 70 em disputa. No entanto, a disputa, como aconteceu em 1994, passaria a ter interferências externas.

Antes do GP da Alemanha (tal qual 1994) acontece um grande debate acerca dos “amortecedores” de massa. A FIA proibiu o uso dos aparatos, alegando que eles tinham efeitos aerodinâmicos. A principal dúvida do paddock era: “mas por que tais amortecedores haviam sido declarados legais e eram utilizados desde a temporada de 2005?”

No GP, a primeira pole de Massa não evitou nova vitória (a terceira seguida) de Schumacher. Alonso terminou a prova em 5º, 23 segundos atrás.

Nas duas etapas seguintes, Alonso consegue aumentar a diferença para Schumacher em apenas um ponto, depois de abandonar na Hungria (Schumy foi oitavo) devido a falha mecânica quando andava em primeiro tendo dado uma volta no alemão (!), e ser segundo na Turquia (o alemão ficou em terceiro). Mas a polêmica da temporada aconteceria na Itália.

Michael Schumacher conquistou a pole e o espanhol fez o 5º melhor tempo. No entanto, Alonso teria de largar em décimo. Motivo: teria “atrapalhado” – como Schumacher, em Mônaco? – a volta de Felipe Massa. A FIA decidiu que ele perderia 5 posições no grid, e pronto. Alonso faz um protesto, em vão. Ao seu lado, Flavio Briatore. O mesmo de Silverstone, 1994.

A punição foi tão estranha que o próprio Schumacher se solidarizou ao espanhol e disse “lembrei do que aconteceu comigo em 1994”. Na corrida, vitória de Schumacher, com Alonso abandonando a poucas voltas do fim em virtude de quebra de motor (!), quando andava em terceiro – assim, o espanhol manteria a diferença em 8 tentos.

Schumacher venceu a corrida e, na coletiva, anunciou sua aposentadoria ao final daquele ano, independendo da conquista ou não do octocampeonato.

Agora, míseros dois pontos os separavam no certame.

Com a bela vitória de Schumacher na China, a Fórmula 1 chega ao Japão com dois pilotos empatados em 116 pontos. A chance de um oitavo e até então inimaginável título era mais do que real.

E tudo parecia ainda mais perfeito quando a Ferrari fez novo 1-2, e Alonso partiu apenas em 5º. No início da terceira volta, Massa abre caminho para a passagem de Schumacher, e Alonso lutava na 4ª posição. Marcando a volta mais rápida da prova e contando com eficientes trabalhos da Renault nos boxes, o espanhol chega à 2ª colocação.

36ª volta. Schumy lidera com 5 segundos de vantagem. Até que a Ferrari número 1, que tivera sua última falha no propulsor havia mais de 6 anos (no GP da França de 2000!), quebra o motor. Alonso vence a prova e com isso “liquida a fatura”.

Haveria ainda o GP do Brasil, é claro, mas as chances eram ínfimas: Schumacher precisava vencer e Alonso deveria abandonar. Era a única combinação possível. Schumacher tem problemas nos treinos, e logo no começo da corrida precisa fazer uma troca de pneus emergencial. Fernando larga e termina em segundo, com toda segurança e tranquilidade do mundo. Livre de pressões, Schumacher faz uma exibição e tanto, lembrada até hoje com uma estranha “certeza” de que ele ganhou aquela corrida.

Alonso era bicampeão do mundo aos 25 anos.

Criaram-se, então, duas imagens opostas com essa conquista: a primeira, vinda das mesmas vozes que afirmavam Schumacher ser o Dick Vigarista, dizia agora que “Alonso aposentou Schumacher”. E a segunda, vinda dos mesmos que diziam Senna ter morrido tentando superar o alemão, gritam até hoje que ele “só perdeu o título de 2006 porque seu motor quebrou”.

Marcel Pilatti

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

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