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Uma sociedade transmutada surgiu após o término da segunda guerra mundial em 1945, um conflito arrasador em todos os sentidos, vidas ceifadas, vidas ainda pouco vividas, uma juventude que mal havia se recuperado do trauma da primeira guerra, que teve de conviver com morte e destruição, era esperado uma sociedade brutalizada, surpreendentemente o que se viu foi uma sociedade muito mais compartilhada e que colaborava com a reconstrução, os anos 50 foram marcados pela euforia e uma juventude afoita e alegre emergiu nessa época.

Na década de 1950, os valores da sociedade, foram sofrendo mudanças, O cinema, a música e a literatura, tiveram um papel muito importante nessa transformação, principalmente entre o público jovem.

Antes dos anos 50 não havia separação entre jovens e adultos. Independentemente da idade as pessoas se vestiam e agiam da mesma forma.

Nesta época surgiram verdadeiros ídolos, modelos que iam de encontro a rebeldia e caráter libertário que a juventude ao se identificar passou a seguir à risca.

A juventude não aceitava mais de forma passiva a incorporação de costumes passados, a contestação era o comportamento que aflorava e que essa mesma juventude está em processo de formação, num ciclo que vai se estender até maio de 68.

Esse período ficou marcado pelo rótulo de “Anos dourados”, que por fim tratava-se do triunfo da modernidade aliado aos valores morais burgueses tradicionais, que voltaria a ser contestado ao final dos anos 60, a sanha por liberdade enfim mostra que os valores morais do passado também precisavam ser contestados, mas essa é uma outra história

Nessa época, pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às criações da moda sintonizada com as tendências do momento. O termo “modernidade” passam a ser utilizados no imaginário social e além da moda, a arquitetura, e o design de carros, são fortemente influenciados, houve uma forte influencia baseada na corrida espacial que marcou o período pós segunda guerra, na chamada “guerra fria”, que até os anos 70 foram marcadas pelo crescente armamento nuclear e pela corrida a ida a lua

O tradicionalismo, antes instaurado pela antiga sociedade do pré-guerra, converte-se numa crescente modernidade nesse período. Dessa forma, a juventude passa a fazer parte de uma relativa massificação, mas não sem buscar sua própria identidade.

O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme “Juventude Transviada” (1955), que usava blusão de couro e jeans. Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme “Um Bonde Chamado Desejo” (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da juventude rebelde que na época da alta costura lança um visual mais “largado” como contestação do que lhes era imposto.

Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os “teddy-boys”.

O que ficou patente é que a rebeldia dessa juventude estava principalmente na necessidade de se justificar. Na necessidade de encontrar um caráter em si, de se identificar consigo e não com o que os obrigavam a ser.

Na música essa rebeldia foi simbolizada com o rock and roll, que surge nos Estados Unidos no final dos anos 1940 e início dos anos 1950. A juventude dos “anos dourados” adotou o rock and roll como estilo musical e elegeu grandes ídolos como, por exemplo, o maior deles, Elvis Presley.

Na literatura não podemos esquecer de Jack Kerouac e seu On the road, que iniciou uma verdadeira revolução na cultura da época, que ficou conhecida como Geração Beat. Os chamados beatniks queriam uma consciência nova, libertada de padrões, escolhiam a marginalidade. A obra de Kerouac, deixava mais evidente esse sentimento de busca pela liberdade e novas experiências.

O fato é que pela primeira vez era possível ver moças fumando, pegando carona e namorando rapazes que suas famílias não conheciam. Os rapazes saíam a rua com o cabelo desalinhado e expondo sua camiseta, que era roupa de baixo. As festas eram regadas às batidas de rock, tido como imoral na época. Sem falar nos “rachas” disputados pelos jovens com suas motocicletas e carros.

A difusão do automóvel como elemento que possibilitava a mobilidade necessária para que essas tribos pudessem se reunir e dar vazão aos seus anseios, também trouxeram como consequência a descoberta que existia vida fora do seio familiar, afinal muitas das relações familiares eram colocadas em xeque pelas ruptura do modelo tradicional, filhos que não aceitavam mais as ordens e que entravam em conflitos com os pais, a maneira de atenuar o conflito era saindo de casa e partir em busca de sua tribo

Sem dúvida os ícones da década de 50 influenciaram os jovens com sua arte e comportamento.

E a Fórmula 1? Como ela se encaixa nesse período?

Na segunda metade dos anos de 1950 aconteceu o que chamamos de baby-boom a grande geração de pessoas que eram adolescentes na época da guerra e representavam grande parte da população no pós-guerra. As oportunidades econômicas possibilitaram que mais jovens fossem a universidade e tivessem uma carreira profissional, isso possibilitava a independência financeira necessária para que os jovens vivessem seus valores, sem dar mais tanta satisfação ou se submeter ao jugo dos pais.

Bem, na verdade a Fórmula 1 surge exatamente nesse período, lembrando que as competições automobilísticas na Europa, que foi um dos continentes mais afetados e destruídos pela segunda guerra, tiveram seu inicio ainda antes da primeira guerra mundial.

Com a retomada das competições nos anos 20, logo o automobilismo surge como forma de desafiar homens que ainda viviam um conceito de virilidade e batalha na formação de seu caráter, e assim eles tinham nas corridas a devida válvula de escape para toda essa virilidade nos períodos de paz, e claro sem esquecer que as indústrias ainda em fase embrionária precisavam de publicidade para mostrar o quanto os seus carros eram máquinas viáveis e melhores, as corridas eram um ótimo local para tal

Nos anos 30, as corridas estavam estabelecidas na Europa, o automóvel já estava se estabelecendo cada vez mais como meio de transporte a com as vendas decolando, vale lembrar que nessa época havia quase que uma corrida importante a cada final de semana, o que faltava era organização e estrutura que definisse melhor uma digamos ligação entre todas aquelas corridas.

Foi desse anseio que surge a ideia da criação de um campeonato anual oficial, afinal com tanta competição em andamento, um grande vencedor precisava ser declarado, e não apenas um vencedor de finais de semana, nada menos que um campeão mundial precisava ser produzido

A eclosão da segunda guerra fez essa ideia ficar hibernada

Logo após o término da guerra, timidamente a princípio, as corridas começam a ser retomadas, de forma mais amadora e utilizando carros recuperados que foram escondidos durante o período da guerra, afinal numa Europa devastada não faria muito sentido investir em algo “supérfluo”

Com a reconstrução em andamento a velocidade frenética, foi um passo natural a criação do campeonato mundial de Fórmula 1, e tudo começa em Silverstone em 1950

Com máquinas antigas, muitas recuperadas, o que predomina nos primeiros anos da Fórmula 1 é a hegemonia de uma geração, tanto de carros como de pilotos, oriundos dos escombros da guerra, uma geração que havia perdido o seu auge de juventude lutando e sobrevivendo nos campos de batalhas, ou na melhor das hipóteses, esperando o mundo se recompor daquele período

Nem espantar tanto quando vemos que os dois primeiros campeões do mundo, Farina em 1950 estava com 44 anos quando foi campeão e Fangio campeão do ano seguinte contava com 40 anos

Alberto Ascari contava com 32 anos ao conquistar o título de 1952, parecia ali que a renovação jovem estava por vir também no mundo da Fórmula 1, infelizmente o italiano morreu em um acidente em Monza em 1955

Tendo conquistado os quatro títulos entre os anos de 1954 até 1957, Fangio se torna um grande senhor das pistas sem dúvida alguma, entretanto o mundo estava tão diferente e tomado pelos jovens, que parecia que o universo da Fórmula 1 era paralelo e não fazia parte desse mundo, a rebeldia e renovação não conseguia vencer nesse universo

Bem: tudo muda a partir de 1958, e são dois ingleses que vão dar a lufada necessária para essa renovação; Mike Hawthorn e Peter Collins

Na próxima parte dessa coluna vamos falar sobre essa amizade que trouxe a Fórmula 1 para a geração baby boomers

Até lá,

Mário

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

2 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Belíssimo tema, Salu!

    No aguardo da continuidade.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba PR

  2. Fernando Marques disse:

    Mario,

    um belo tema, uma bela introdução e estou com muita curiosidade em ler a continuação desta história.
    Me parece que vem coisa muito boa …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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