Não sou particularmente entusiasta de textos que falam de universos paralelos, que colocam os “e se” no primeiro parágrafo e fantasiam em cima disso. Os que tratam da morte de Ayrton Senna são definitivamente os piores, pois são vendidos como “verdades jornalísticas” para o público, diante de um inconsciente coletivo cada vez mais bagunçado em torno da imagem do falecido piloto. [E quanto mais o tempo passa, maior a bagunça…]
Mas o exercício desta coluna nada tem a ver com isso. É puramente um exercício lúdico, totalmente voltado à diversão. A temporada de 1997 foi uma das mais interessantes da história da F1; talvez eu não tivesse dificuldades em colocá-la dentro de um Top Ten de toda a história.
A turma de 1997 reunida na Austrália
Tivemos uma grande batalha pelo título entre Jacques Villeneuve e Michael Schumacher (com a impressionante estatística deles jamais dividirem um pódio em toda temporada!), além de todos os predicados que uma bela temporada precisa ter: carros interessantes (motor V10 berrando, condução nervosa etc.), corridas e performances memoráveis, imprevisibilidade (n-a-t-u-r-a-l), bons circuitos, bons pilotos e um desfecho grandioso.
Tivemos vitórias para seis pilotos diferentes, com pódios para nove das onze equipes – nem vou considerar a Mastercard Lola equipe para o ano, hehe… E mais: só a Minardi não pontuou, o que mostra uma bela distribuição de forças, apesar do título ter se concentrado em apenas dois candidatos.
Vou até colocar o resumo da temporada aí abaixo, para quem quiser relembrar.
A temporada foi, repito, muito boa. Mas poderia ser absolutamente insana se algumas pequenas coisinhas acontecessem de modo diferente, corrida a corrida. É o que eu explico a seguir:
Round 1 – Austrália
Já foi loko o suficiente com o strike do Eddie Irvine, que eliminou o Jacques Villeneuve, além do atraso do Michael Schumacher e do problema do HH Frentzen com os freios. Mantido sem alterações.
1) Coulthard 10
2) M Schumacher 6
3) Häkkinen 4
4) Berger 3
5) Panis 2
6) Larini 1
Round 2 – Brasil
A corrida teve uma primeira largada abortada, para sorte de Villeneuve. Se fosse mantida, o canadense, que fez uma excursão pela terra, precisa de um pit extra, perdendo uns 30s, o que o jogaria para a terceira posição, promovendo os dois primeiros. Sim, Berger venceria a corrida!
1) Berger 10
2) Panis 6
3) Villeneuve 4
4) Häkkinen 3
5) M Schumacher 2
6) Alesi 1
Round 3 – Argentina
Dessa vez, Olivier Panis ganha uma injeção de sorte e não abandona com problema de acelerador. Isso faz com que ganhe a corrida, a primeira vitória da equipe Prost. Villeneuve, sem pneus no stint final, não tem como segurar o francês e, desmotivado, ainda perde a segunda posição para Irvine.
1) Panis 10
2) Irvine 6
3) Villeneuve 4
4) R Schumacher 3
5) Herbert 2
6) Häkkinen 1
Round 4 – San Marino
Não haveria muito no que mexer, mantidas as posições, pelo abandono do Villeneuve com problema de câmbio.
1) Frentzen 10
2) M Schumacher 6
3) Irvine 4
4) Fisichella 3
5) Alesi 2
6) Häkkinen 1
Round 5 – Mônaco
Neste mundo paralelo, Schumacher perde a Ste. Dévote e deixa o motor morrer, deixando a vitória para Barrichello e seu bom pneu Bridgestone de chuva. Festa do Brasil, festa para Jackie Stewart, que assim se torna construtor vencedor em sua estreia.
1) Barrichello 10
2) Irvine 6
3) Panis 4
4) Salo 3
5) Fisichella 2
6) Magnussen 1
Round 6 – Espanha
Os comissários ficaram atentos e deram bandeira azul para todos os retardatários à frente de Olivier Panis, que tinha pneus inteiros e passou Villeneuve nas voltas finais, vencendo mais uma.
1) Panis 10
2) Villeneuve 6
3) Alesi 4
4) M Schumacher 3
5) Herbert 2
6) Coulthard 1
Round 7 – Canadá
Coulthard simplesmente não vai para o pit extra e vence a corrida após o grave acidente que tira o LÍDER DO CAMPEONATO Panis, até então com 32 pontos (15 a mais que o vice-líder Schumacher), da luta pelo título.
1) Coulthard 10
2) M Schumacher 6
3) Alesi 4
4) Fisichella 3
5) Frentzen 2
6) Herbert 1
Round 8 – França
A condição climática adversa, com pista meio seca, meio molhada, já foi divertida o suficiente. Mantido.
1) M Schumacher 10
2) Frentzen 6
3) Irvine 4
4) Villeneuve 3
5) Alesi 2
6) R Schumacher 1
Round 9 – Grã-Bretanha
Schumacher abandona com problema na roda traseira, mas o motor de Mika Häkkinen aguenta até a bandeirada, dando ao finlandês sua primeira vitória.
1) Häkkinen 10
2) Villeneuve 6
3) Alesi 4
4) Wurz 3
5) Coulthard 2
6) R Schumacher 1
Round 10 – Alemanha
Gerhard Berger mantém sua brilhante vitória final da carreira, mas Fisichella consegue sua P2, sem ter sofrido problema de pneu nas voltas finais.
1) Berger 10
2) Fisichella 6
3) M Schumacher 4
4) Häkkinen 3
5) Trulli 2
6) R Schumacher 1
Round 11 – Hungria
Claro, Damon Hill consegue sua merecidíssima vitória. O que mais eu mudaria nessa corrida???
1) Hill 10
2) Villeneuve 6
3) Herbert 4
4) M Schumacher 3
5) R Schumacher 2
6) Nakano 1
Round 12 – Bélgica
Mais chuva, sempre divertida. Massacre de Schumacher, não dá pra mexer. Mantido.
1) M Schumacher 10
2) Fisichella 6
3) Frentzen 4
4) Herbert 3
5) Villeneuve 2
6) Berger 1
Round 13 – Itália
Um daqueles lampejos de competitividade de Coulthard que não dá pra cortar. Mantido.
1) Coulthard 10
2) Alesi 6
3) Frentzen 4
4) Fisichella 3
5) Villeneuve 2
6) M Schumacher 1
Round 14 – Áustria
Villeneuve finalmente vence sua primeira no ano (!), tendo que segurar um inspirado Jarno Trulli, que não tem o motor explodido.
1) Villeneuve 10
2) Trulli 6
3) Coulthard 4
4) Frentzen 3
5) Fisichella 2
6) R Schumacher 1
Round 15 – Luxemburgo
Na vida real, o duo da McLaren abandonou quase ao mesmo tempo por explosão de motor. Nada mais jutos do que dar merecida vitória para Häkkinen, piloto mais rápido do fim de semana. Ele e Coulthard fazem dobradinha, mostrando o potencial da McLaren para o futuro.
1) Häkkinen 10
2) Coulthard 6
3) Villeneuve 4
4) Alesi 3
5) Frentzen 2
6) Berger 1
Round 16 – Japão
Brilhante nó tático da Ferrari, sem alterações. Mantido, inclusive a exclusão do Villeneuve. Corrida decidiria título para o Schumacher.
1) M Schumacher 10
2) Frentzen 6
3) Irvine 4
4) Häkkinen 3
5) Alesi 2
6) Herbert 1
Round 17 – Europa
Villeneuve e Schumacher vão para o duelo com o desfecho que sabemos, mas dessa vez não tem acordo pra deixar as McLarens passarem. Correndo sem pressão ,Villeneuve vence. Como Schumacher já é campeão, não é punido pela FIA.
1) Villeneuve 10
2) Häkkinen 6
3) Coulthard 4
4) Berger 3
5) Irvine 2
6) Frentzen 1
Conclusão: Schumacher campeão tirando a Ferrari da fila já em sua segunda temporada; Jacques Villeneuve com apenas duas vitórias; nove diferentes vencedores de prova, com duas equipes estreantes triunfando. Sim, seria muito doido. Fiz até as tabelas desse mundo alternativo:
Claro que eu propus muitas mudanças, corrida a corrida. Mas se eu pudesse mudar apenas uma coisinha em todo o campeonato, ah, Damon Hill ia certamente sair da Hungria com o troféu de vencedor…
Ah, Damon… que injustiça você não ter vencido na Hungria!
Abração!
Lucas Giavoni
1 Comments
Lucas,
.faltou Villeneuve tentando jogar Schumacher pra fora da corrida no GP da Europa.
Fernando Marques
Niterói RJ