Para quem acompanha o carnaval do Rio de Janeiro a muito tempo, lembra das famosas fantasias do carnavalesco Clóvis Bornay, que de tão elaboradas e bonitas, fazia com que o mestre em fantasias ganhasse todos os prêmios do carnaval ano após ano. Tanto que chegou um momento em que Clóvis Bornay se tornou hors concours, pois já havia se tornado covardia lutar com ele. A temporada 2023 da F1 bem que poderia colocar Max Verstappen como hors concours.
Empurrado pela torcida inglesa que lotou a velha base aérea de Silverstone, Lando Norris chegou a liderar algumas voltas após a largada, mas nada, absolutamente nada parece impedir uma vitória de Max Verstappen em 2023. Por mais que o piloto da Red Bull reclame dos pneus ou do vento, o neerlandês vai lá e crava toda a concorrência. Max desfilou mais uma vez e chegou a sua oitava vitória na temporada, além de ajudar a Red Bull a igualar a outro recorde histórico, de onze triunfos consecutivos, contando as vitórias do ano passado. A Red Bull de Verstappen, Marko e Horner simplesmente se igualou à McLaren de Senna, Prost e a Honda. Feito esse que nem a Ferrari de Schumacher e Todt ou a Mercedes de Hamilton e Wolff conseguiram.
O mais atento leitor perceberá que não foi colocado o nome de Sérgio Pérez junto aos líderes da Red Bull atual. Mesmo ajudando esse recorde com duas vitórias no começo dessa temporada, Checo Pérez passa por uma fase terrível e rumores começam a circular se o mexicano seguirá na Red Bull em 2024.
Em Silverstone, Pérez conseguiu o ‘feito’ de ficar fora do Q3 pela quinta oportunidade consecutiva, sendo que na Inglaterra Checo sequer foi ao Q2, atrapalhado pelas condições mistas da pista por causa da garoa que caiu em Silverstone durante a classificação. A verdade é que Sérgio Pérez teve sua confiança totalmente esmagada pela fase atual de Max Verstappen e o experiente piloto da Red Bull simplesmente não tem respostas para fazer frente ao neerlandês. Porém, quem colocar no lugar de Pérez? Ricciardo? Albon?
Na situação atual dentro da Red Bull, com a equipe formada em torno de Max, qualquer piloto que estiver ao lado de Verstappen sofrerá horrores e Pérez terá que se concentrar em pelo menos garantir o vice-campeonato, que é seu grande desafio no momento, mesmo fazendo corridas sorumbáticas como a de hoje, onde Checo garantiu um pálido sexto lugar.
Nesse ritmo, nem Chapolin conseguirá defende-lo!
O paddock de Silverstone recebeu a visita de uma ‘décima primeira’ equipe, que nada mais era que o começo das filmagens do filme que será ambientado na F1, com a presença de Brad Pitt e tendo ajuda da Mercedes. E foi Toto Wolff quem deu uma declaração, no mínimo, contraditória. Na novela que se arrasta com a chegada ou não de uma verdadeira décima primeira equipe à F1, tendo a família Andretti e a GM-Cadillac à frente, Wolff disse que ‘a logística da maioria dos circuitos da F1 não suporta uma décima primeira equipe’.
Ora, ora Toto. Se você estivesse na F1 em 1989 e as trocentas equipes que tinham no paddock, você provavelmente enlouqueceria. Sem contar que uma equipe extra para filmar uma película, cujo produtor é seu protegido Lewis Hamilton, você não reclama, né?
Se a chuva ajudou a embaralhar um pouco a classificação no sábado, isso não impediu que observássemos uma McLaren totalmente surpreendente em todo o final de semana, com uma performance espetacular após a chegada dos novos updates. Norris e Piastri ficaram em segundo e terceiro no grid, quando a pista estava seca e no Q3 estavam as duas Ferraris e as duas Mercedes, que ficaram atrás do carro do tio Zak Brown. Se em uma volta o ritmo da McLaren estava muito bom, restava saber como seria em ritmo de corrida.
Com a precipitação esperada para domingo passando ao largo de Silverstone, isso significava uma corrida normal na frente de uma torcida que lotou Silverstone, mas se haviam 480.000 pessoas em três dias do final de semana, isso é uma conta bastante discutível. Afinal, a informação que há é que Silverstone cabem 150.000 expectadores…
O que não deu para discutir foi a forma como a dupla da McLaren largou muito bem, principalmente Oscar Piastri, pela primeira vez largando tão na frente na F1. Lando saiu feito um foguete e quando Verstappen tentou ir para cima, a McLaren já estava totalmente ao lado e não havia nada para que Max pudesse fazer, a não ser se defender de Piastri, que não se importou com a fama de bicampeão (quase tri) de Verstappen e partiu para cima da Red Bull, porém Max segurou o ímpeto do novato. A torcida inglesa urrou como nos bons tempos de Nigel Mansell com a liderança de Lando Norris, mas até as placas de identificação de Silverstone sabiam que aquela festa seria tão curta quanto um coice de porco. Verstappen se segurou até o momento em que o DRS esteve à sua disposição e com facilidade ultrapassou Norris.
No entanto a McLaren deu uma ótima resposta para quem duvidava de seu ritmo de corrida, com Norris e Piastri não perdendo tanto tempo para Verstappen, enquanto Leclerc segurava Russell com pneus macios. Muito se falou numa estratégia de duas paradas, mas com o clima ameno nesse domingo na Inglaterra, logo se percebeu que a melhor estratégia seria parar apenas uma vez, tirando como exemplo George Russell, que largou com pneus macios e aguentou com um ritmo forte toda a primeira metade de prova.
Quando a corrida se assentou, a Ferrari começou sua usual tática de alto-sabotagem. Os italianos chamaram Leclerc para colocar pneus duros ainda no primeiro terço de prova, o que se provou um tiro no pé. Não satisfeitos, não demoraram para trazer Sainz para emular a mesma melada de vara. A forma como Russell, após fazer seu pit-stop e sair com pneus médios, ultrapassou Leclerc com pneus duros apenas demonstrava de forma cristalina o tamanho do erro (mais um) da Ferrari. O carro italiano simplesmente não funcionava com a borracha mais dura.
No entanto, o momento decisivo da corrida veio quando restavam aproximadamente vinte voltas para o fim e o carro de Kevin Magnussen apareceu parado na pista, com um princípio de incêndio. Safety-Car na pista!
Max Verstappen fez sua única parada e colocou pneus macios, que já estava nítido que segurariam o tranco para as voltas finais. Hamilton, Alonso e Albon fizeram a mesma coisa, dando um pulo na classificação. Porém, a McLaren deu uma de Ferrari e resolveu seguir com o plano de colocar pneus duros. Quando soube pelo rádio que relargaria com pneus duros contra Hamilton, que estava calçado com macios usados, Lando ficou desconsolado. Parecia impossível para Lando segurar Hamilton, que se deu muito bem com o SC e ganhou a posição de Piastri, que parara um pouco antes do SC. O que se seguiu foi uma luta de gerações de piloto britânicos e de forma surpreendente, um adjetivo que foi o que mais a McLaren ganhou nesses três dias em Silverstone, Norris segurou Hamilton, após uma enorme pressão inicial do multi-campeão. Enquanto isso, Max Verstappen desfilava na frente, não se importando com a briga caseira dos pilotos da casa.
Verstappen e Hamilton tiveram uma batida polêmica em 2021 na mesma pista de Silverstone, que levou o piloto da Red Bull ao hospital, enquanto Hamilton ia para os braços da torcida. Isso foi no auge de uma batalha histórica, contudo os dois estavam em outra vibe hoje. Quando brigaram com as McLarens na mesma curva Copse, onde ocorreu o polêmico acidente, tanto Verstappen quanto Hamilton tiveram atitudes diferentes. Max chegou a ir pelo lado sujo da pista para não fechar a McLaren no começo da prova, enquanto Hamilton não enfiou seu bico por dentro em cima de Norris na Copse.
Quanta diferença…
Alonso amargou o pior final de semana até agora da Aston Martin em 2023, onde esteve longe dos pódios que lhe eram tão habituais no começo do ano. Stroll fez uma corrida atrapalhada, onde ficou o tempo inteiro fora da zona de pontos e no final foi justamente punido por um toque em Gasly que valeu o abandono do francês. Se Alonso já enxergava Pérez mais de perto na luta pelo vice-campeonato, o espanhol nesse momento vê Hamilton mais próximo dele. Piastri tinha o mesmo problema de Norris após a relargada, onde com pneus duros, teria que segurar uma Mercedes com pneus mais macios que o dele. E o australiano mostrou que a McLaren acertou em brigar com a Alpine pelo australiano. Oscar não teve muito trabalho para segurar um Russell com pneus médios, garantindo sua melhor posição na F1 até o momento com o quarto lugar. Ainda falando em destaques, Alexander Albon fez outra corrida assombrosa com sua Williams e na relargada não apenas segurou Leclerc, como ultrapassou Sainz e partiu para cima de Alonso nas últimas voltas. Com corridas assim, Albon começa a ser observado com mais carinho pelos chefes de equipes maiores.
A Ferrari teve que lamber suas feridas com outra corrida ruim devido a estratégia, com seus dois pilotos fechando a zona de pontuação, sendo que Leclerc ainda tentou consertar o erro da equipe com uma segunda parada, colocando pneus médios, enquanto os demais à sua volta estavam com macios. Provavelmente a Ferrari ficou com receio do seu alto desgaste de pneus, mas com tanta gente com borracha mais macia por perto, Leclerc pouco pôde fazer para evoluir. A fase da Williams está tão boa que Sargeant conquistou sua melhor posição na F1 graças à punição de Stroll, enquanto Alfa Romeo, Haas e Alpha Tauri sofreram com um ritmo bem ruim. Já a Alpine viu seus dois pilotos abandonarem e pior do que isso, foi ultrapassada pela McLaren no Mundial de Construtores, com os franceses claramente ficando cada vez mais para trás.
Mesmo com outro desfile de Verstappen em Silverstone, a corrida ganhou vida com a entrada do SC e as últimas voltas (que só não foram mais pela lentidão de se retirar o carro de Magnussen da pista) transformaram o Grande Prêmio da Inglaterra numa das melhores corridas de 2023, com várias lutas por posições ao longo do pelotão, além de manobras bonitas, como a de Russell em cima de Leclerc e Gasly em cima de Stroll. Essa deve ser a tendência para as corridas em 2023. Uma bela prova… do segundo para trás.
Abraços!
João Carlos Viana
1 Comments
JC Viana
1) Com relação a Sergio Peres, o mexicano está totalmente desanimado na RBR … as duas vitorias dele esse ano não lhe credenciaram dentro da equipe para lutar pelo campeonato de igual para igual com Verstappen … para mim fica claro a falta de transparência neste sentido na RBR … não tem lógica com o carro que tem ele por cinco corridas consecutivas sequer chegar no Q3. O que eu penso … ele não tem o mesmo carro e pacotes de atualizações em relação a evolução do carro do Verstappen … aí desanima mesmo … tem o melhor carro da Formula 1 e ao mesmo tempo não tem … só não reclama por que está sendo bem pago para cumprir esse papel …
2) Com relação a bela corrida do Noris, ninguém na Formula 1 hoje vai querer disputas com Verstappen na pista … a RBR dele é tão superior que até penso que ele sequer precisa do DSR para ultrapassar alguém na pista .. não seria Noris que ia comprar essa briga … aliás ninguém hoje … nem Hamilton perde temo tentando ficar na frente do Verstappen … deixa o cara passar e vai atrás de outros objetivos … daí o holandês estar tão bonzinho nas pistas
3) Apesar das modificações que Silverstone recebeu nesses últimos anos, gosto muito de ver as corridas disputadas lá … pista de alta … um monte de curvas feitas acima dos 200 km/h … acho lindo …
4) O problema da Ferrari é aquela situação de tentativa e erro … daí tanta besteira que fazem nas corridas … mas em Silverstone sei lá nem acertando na estratégia eles teriam sido superiores as Mercedes e sequer as Mclarens … e sei lá hoje li um comentário de um amigo que Carlos Sainz não é piloto pra Ferrari …
5) Show de bola das Willians … também …
Fernando Marques
Niterói RJ