Maximalismo absurdo

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Foto: LAT Images

A Fórmula 1 entra na reta final do seu gigantesco calendário em um ano cercado de absurdos. Entre números, domínios e polêmicas fora das pistas, nada nesse ano parece regular, singelo ou normal.

O campeonato de 2023 é algo que antagoniza com a razão. É desprovido de sentido frente as previsões do começo do ano. Desafia números históricos e, logicamente, nos parece for a do normal e causa espanto.

É semana de corrida, mais do que isso, é semana de perseguição de novos números e consolidação de outros. É fim de semana que ninguém aposta em outro piloto além daqueles que pilotam o carro azul escuro da Red Bull Racing.

Max fez a 10a vitória seguidinha. Por si só um recorde grandioso e prova de um domínio absoluto sobre a concorrência. Mas acabou por aí? Ainda não…esse ano poderemos ver algumas marcas serem batidas. Algumas marcas bem bobas, é verdade, mas se a temporada caminha para esse cenário de terra devastada e arada por Max, vamos trazer algumas amenidades!

O primeiro (esse é o bobo) record que pode ser batido é o de número de vitória largando de diferentes posições do grid. Em Monza, Max igualou Fernando Alonso ganhando de 9 posições diferentes! Dentro do top-10, falta pra Max vencer largando em quinto ou oitavo. Acho que vale uma troca de caixa de câmbio, né Red Bull?

Na sequência….o mais fácil: número de voltas lideradas. São 661 pra Max contra 739 de Vettel em 2013. Por que mais fácil? Nessa temporada Max só não liderou na Arabia Saudita. Tirando a duplinha da Redbull, o próximo da lista é Carlos Sainz Jr (pasmem!) com singelas 14 voltas (todas em Monza). Isso mesmo, em 14 corridas, o terceiro colocado na lista de voltas lideradas tem 14 voltas no bolso. Dentro da RedBull, Max liderou 80% mais voltas que Perez. Para superar Vettel são necessárias 78 voltas e Cingapura nos oferece “só” 63. Não será no final de semana, mas está perto.

O GP de Cingapura dessa semana é uma daquelas provas que sempre geram expectativas do inesperado surgir. Circuito de rua, prova longa, calor, desgaste absurdo dos conjuntos piloto-máquina.

Isso seria o aceitável num campeonato minimamente normal, mas esse campeonato não é. Essa geração de carros, não é. Em que pese na avaliação a corrida abaixo da média em 2022 feita por Verstappen, a vitória ficou na mão da outra Red Bull com Sergio Perez. Não devemos esperar nada diferente disso esse ano.

Mas de um ano pro outro pode haver alguma mudança de forças num circuito específico? Pode sim. Menos nesse ano. Vamos pegar só os circuitos de rua pra entender o cenário. Arábia Saudita, Austrália, Azerbaijão, Miami e Monaco. Obviamente todas com vitórias da RBR, com alguma disputa na classificação e nada mais.

O que podemos esperar aqui é um desempenho mais regular da Aston Martin (de Alonso) e das Mercedes. O time verde gosta desse tipo de pista com necessidade de mais downforce e tem no espanhol um diferencial inimaginável no começo do ano. O espanhol está em uma de suas melhores temporadas da história e levando ao mundo imagens de que um piloto ainda sim faz diferença na F1. Na Mercedes, vale o mesmo racional sobre o carro. É um carro que não anda em reta, mesmo depois de 1,5 ano nesse regulamento a Mercedes foi incapaz de mudar essa característica do carro. Seus pilotos não mostram a mesma fome de Alonso e Max, mas se o final de semana correr bem é possível que Lewis e George tragam um pouco mais de combatividade. Não custa lembrar da pole de Hamilton na Hungria.

A grande dúvida é sobre a evolução da Ferrari e da Mclaren. A Ferrari trocou todos os parafusos dos seus carros para Monza e andou bem forte. Motor, câmbio, porcas e arruelas, tudo novo para extrair o máximo de desempenho na frente de sua torcida. Isso se mantem em Cingapura? Como o conjunto vai lidar com os pneus no desgastante clima? No box da Mclaren, um exemplo claro de como “evoluir” um carro com o planejamento correto. O time iniciou a temporada fadada a andar nas últimas posições e suas atualizações trouxeram o carro para o Top-10 constante. Têm agora uma chance de provar que está na luta até o final da temporada.

Do restante do grid, a surpreendente Williams deve ser a que mais vai sofrer. Seu carro não é feito para circuitos de alta pressão aerodinâmica. Sem grandes retas, o carro não fica parado na pista e vai sofrer até pra passar para o Q2 na classificação. A “sorte” da Williams é que Haas está em mais um ano fraco e sempre tem um Lance Stroll pra ficar atrás.

Segunda temporada de um novo regulamento, é difícil de entender como times do tamanho, histórico e dinheiro como Mercedes e Ferrari não conseguem ser mais que ameaças pontuais ao domínio da Reb Bull de Max Verstappen.

Falta muito para serem concorrentes diretos ao título. Na Mclaren e na Alpine (discussões a parte sobre a seriedade de cada projeto), os resultados (não) apresentados geraram mudanças dramáticas.

O tempo de Ferrari e Mercedes já se esgotou. A reação ainda não veio. Resta a dúvida se serão coadjuvantes até 2026 ou se entrarão em alguma briga real até lá.

Não. Não teremos na coluna de hoje a abusrda tentativa de processo do Massa. Nem absurda esperança que Hamilton o apoie.

Seguimos.

Na onda de domínio absoluto, o recorde de 2002 de Michael Schumacher de 19 pódios seguidos também pode ir embora. São 15 para Max (igualzinho ao Alonso, um atrás de Hamilton) e falta um monte de corrida esse ano. Parece que mais um recorde imbatível de Schumacher vai desaparecer esse ano.

Nesse show de números absurdos, aqui um número que pode não ser batido esse ano por Max! Segurem a respiração: maior número de pole-positions em uma temporada! Esse recorde é do querido Sebastian Vettel, detentor de 15 poles em 2015. Max tem 8 esse ano e precisaria cravar todas as poles até o fim do ano. Difícil? É. Impossível? Acho que ninguém aposta dinheiro nisso.

E pra fechar, o record de vitórias em “Sprint Races”. Esse recorde é do Sr. Valteri Bottas e foi igualado por Max esse ano. São duas vitórias pra cada piloto na mesma temporada. Com mais 3 Sprint Races no calendário, podemos imaginar ao menos o desempate?

Uma das maiores marcas do mundo. Inspiração para jovens. Uma potência no mundo do marketing. Além disso, uma empresa que desafiou a lógica e resolveu construir carros de corrida para a principal e mais tecnológica categoria do mundo. Sim, claramente falo da Red Bull.

Todas essas credenciais e recordes avassaladores que vem conquistando não dão direito de manter uma pessoa com Helmut Marko na sua lista de colaboradores.

Em sua mais nova série de ataques aos seus funcionários, dessa vez direcionada a Sergio Perez, ele conseguiu não só ofender dois povos e mostrar sua total burrice. Vou deixar de lá o fato de nunca ter entendido a lógica de atacar um funcionário da sua equipe publicamente.

Nesse novo ataque, para Marko o piloto Perez não é tão focado quanto Max ou Vettel, pelo fato de ser Sul-americano.

Ofensas racistas como essas não deveriam ser permitidas, não é mesmo F1? Por que esse cidadão ainda frequenta o Paddock sem passar por um dos programas de letramento que vocês submetem os pilotos?

Marko ofendeu os sul-americanos e os Mexicanos. De uma vez. Além de apresentar ao mundo a sua face mais burra: a que faltou no ensino fundamental de geografia.

Um perfeito idiota. Helmut Marko poderia claramente ser afastado do paddock e da Red Bull. Mas aí seria uma mostra que não é só o dinheiro que importa, não é mesmo? Helmut Marko é indefensável.

Já que falamos de F1 e dinheiro, por que não falar da entrada do time de Michael Andretti na Fórmula 1? A absurda novela sem fim.

A recém renomeada equipe Andretti Global notoriamente quer uma vaga na F1. Tem dinheiro e fechou com a GM-Cadillac uma parceria para ser um “time de fábrica”.

Na soma dos fatores dessa equação, a FIA ainda liberou a entrada de novos times e chancelou quem se candidatou (sem divulgar nomes ainda). Mesmo assim, nenhum sinal da F1 aprovar a entrada da Andretti.

Os 10 times estabelecidos não querem dividir o bolo? Ok. Os 10 times querem poder de barganha no novo Pacto de Concordia de 2026? Entende-se! Isso tudo pude ser negociado nas salinhas dos advogados. Mas é inegável o impacto da entrada de mais um ou dois times no Grid. A categoria cresce, voltar a ter grids maiores que os 20 carrinhos atuais e o interesse gerado por novas marcas no esporte vai sim fazer a categoria crescer.

Aliás, a F2 agradeceria de ter mais alguns assentos disponíveis para seus pilotos campeões. Sem testes, uma equipe de F1 hoje tem levado mais que um ano (menos o indefensável Marko) para avaliar os pilotos egressos do certame preparatório. Com essa carência no processo de avaliação, está ficando cada vez mais difícil um campeão chegar à categoria principal e isso pode causar uma perda de interesse (e dinheiro) no caminho da F2.

Nesse teatro do absurdo, onde não achamos muitas explicações para como chegamos até aqui, Ferrari e Mercedes precisam se encontrar em uma situação que faça sentido, que tenha algum propósito e ambição de luta por títulos.

Se isso não acontecer, os números serão aniquilados por implacavelmente por Max Verstappen e sua Red Bull até o distante mês de novembro de 2025.

Enquanto isso, manteremos a esperança de que pessoas racistas com Helmut Marko se iluminem (longe da vida pública)

Boa semana a todos!
Flaviz Guerra

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Flavis,

    eu daria todos os créditos ao Verstappen se todos esses recordes fossem alcançados tendo ele um ou dois adversários brigando pelo titulo com ele … como ele corre numa categoria diferente na Formula 1, onde só ele faz parte dessa categoria, sinceramente não me empolgo em nada …


    Quanto ao Massa … sei lé só a Globo está dando IBOPE pra ele … nem a Ferrari o apoia nesse sentido … mas é um direito dele … e surpreso ficarei se ele conseguir mudar o resultado do campeonato de 2008 … quem aposta que ele muda?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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