Nas ondas do rádio

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O rádio equipe-piloto entrou nas transmissões das corridas de F1 relativamente a pouco tempo, ainda rescaldo da polêmica do GP da Áustria de 2002. Isso nos permitiu escutar as conversas entre pilotos e engenheiros durante a corrida, claro, que com um ligeiro delay (com os devidos pi) e selecionadas pela produção da TV. A corrida desse domingo em Hungaroring nos revelou pelo rádio toda a tensão da prova magiar, como também pudemos escutar o momento atual de Max Verstappen.

O neerlandês ainda tem o controle do campeonato, mas o fim do domínio esmagador da Red Bull na F1 parece mexer na cabeça de Max Verstappen, que se mostrou irritadiço e até mesmo mal educado com seu engenheiro-chefe, que em certo momento falou que Max estava sendo infantil. Os pitis via rádio de Max Verstappen estariam revelando que o piloto da Red Bull está sentindo a pressão da McLaren?

Contudo, o rádio também nos mostrou que a McLaren ainda precisa crescer como equipe, pois se está fazendo um trabalho brilhante de engenharia na concepção e desenvolvimento do modelo MCL38, a McLaren ainda peca na tática, causando um constrangimento a todos os envolvidos no melhor dia da McLaren em 2024 até o momento.

A Red Bull chegou à Hungria exalando confiança com as suas novas atualizações, tentando impedir o forte crescimento de Mercedes e, principalmente, McLaren. Pilotos e dirigentes do time austríaco se mostravam confiantes, mas como diz o velho ditado ‘esqueceram de combinar com os russos’. Ou com a McLaren. Mesmo com a Red Bull chegando com a maior atualização de 2024, a McLaren começou o final de semana húngaro mostrando que os ingleses viriam com tudo, marcando a primeira dobradinha no grid em quase doze anos.

Seguindo a tradição magiar, não tivemos uma corrida lotada de ultrapassagens em Hungaroring e a luta pela vitória foi decidida na largada. Para se tornar um piloto completo, Lando Norris precisa aprender que ele não pode deixar nenhuma brecha para os adversários e largar bem é conseguir um bom posicionamento que pode ser decisivo para o resto da corrida. Largando da pole, novamente Norris foi superado pelo companheiro de primeira fila, nesse caso, por Oscar Piastri. Lando ainda tentou espremer o australiano, mas com isso acabou abrindo a porta lindamente para Max Verstappen ficar por fora na primeira curva. Na freada para a primeira curva, havia um ‘three wide’, com Piastri por dentro, tendo a vantagem. Isso fez com que Norris alargasse a primeira curva e não sobrasse muito espaço para Verstappen, que acelerou na área de escape e tomou a segunda posição de Norris, que ainda foi ultrapassado por Hamilton, mas o piloto da Mercedes se animou demais num ataque em cima de Verstappen e acabou tomando o troco do compatriota logo em seguida.

Piastri liderava a corrida, com Max recortando a desvantagem para o australiano e Lando, reclamando da manobra de Max, num longínquo terceiro lugar. Foi o início das até mesmo cômicas intervenções radiofônicas entre Max e seu staff nos boxes. Era bem claro que Verstappen precisava devolver a posição para Norris, mas Max teimou com a equipe, só o fazendo quando estava mais de 3s na frente de Lando, ou seja, Piastri tinha bons 4s de vantagem na ponta quando a troca foi feita.

Como esperado, fez um calor quixadaense em Budapeste e o desgaste de pneus seria um fator por toda a corrida. Largando fora de posição (ou não, no caso de Checo), George Russell e Sérgio Pérez largaram com pneus duros, enquanto a grande maioria escolheu a borracha média. Piastri liderava com boa vantagem, enquanto Norris abria do trio Verstappen, Hamilton e Leclerc, que largara muito bem, enquanto Sainz saiu muito mal, teve que ultrapassar Alonso e ficar num isolado sexto lugar. Quando começaram as paradas para os líderes, a McLaren se viu numa situação onde o principal objetivo era proteger a posição de Lando Norris e continuar a dobradinha, fazendo o inglês parar antes de Piastri, conseguindo nesse primeiro momento o seu propósito, que era o 1-2 da McLaren após o primeiro stint.

O problema é que com pneus novos por algumas voltas, Norris tirou boa parte da vantagem de Piastri, que ainda cometeu um ligeiro erro e viu Norris ficar no limiar de usar o DRS. Enquanto isso, Verstappen trocava patadas com seu engenheiro, Giampiero Lambiase, pelo rádio, principalmente quando Max esticou seu primeiro stint e como consequência, perdeu a posição para Hamilton. Max foi para cima, atacou o inglês como pôde, permitindo a aproximação de Leclerc para a briga pelo último lugar no pódio. A cena se repetiu na segunda rodada de paradas, com Hamilton e Leclerc parando juntos, enquanto Max ficou mais tempo na pista e quando colocou seu jogo de pneus médios novinho em folha, estava 8s atrás de…Leclerc!

Max Verstappen parecia que rasgaria as vestes de revolta, soltando cobras e lagartos para os táticos que lhe garantiram tantas vitórias num passado recente. Max remou, ultrapassou Leclerc, mas talvez frustrado pela tática escolhida, tentou numa manobra ‘banzai’ em cima de Hamilton e os dois se tocaram. Verstappen alçou voo, dando até a sensação que abandonaria, mas provando que os carros atuais além de grandes são fortes como tanques, Max continuou na corrida, porém, separando a dupla da Ferrari, num obscuro quinto lugar.

Com tudo isso, a vida da McLaren estava ganha, certo? De forma inacreditável, a McLaren novamente chamou Norris para o segundo pit na frente do líder Piastri. Em outros tempos, o piloto que lidera sempre tem a preferência de fazer o pit-stop antes, mas no caso da McLaren isso resultou num erro de cálculo e um imenso constrangimento.

Piastri parou duas voltas depois de Norris e sem maiores surpresas, Lando emergiu na frente de Oscar e foi abrindo vantagem. Percebendo o erro, a McLaren avisou à Norris que deveria ceder sua posição ao companheiro de equipe, que cobrava a manobra. Obviamente Lando questionou a situação, chegando a abrir 6s para Oscar. O engenheiro de Norris usou até mesmo a frase ‘preciso protege-lo’ (do que?) e que ‘para ser campeão do mundo, precisamos da equipe e de Oscar’ para tentar persuadir Norris a cumprir uma embaraçosa troca de posições já nas voltas finais para garantir a primeira vitória de Oscar Piastri na F1.

A falta de coordenação da McLaren faz com que a equipe ainda tropece em situações de estratégia de corrida. Apesar de cumprimentar Piastri, Lando Norris não escondeu seu descontentamento por perder mais uma vitória e lembrando que ainda faltando praticamente metade do campeonato, esses sete pontos podem fazer falta no final do ano para Lando.

Lando Norris foi muito criticado por ser considerado ‘bonzinho’ demais nas lutas com Verstappen e ter aceitado a troca de posições proposta por sua equipe aumentará a sensação que falta à Norris o ‘instinto assassino’ que vários campeões tiveram ao longo dos anos.

Se não brigou pela vitória, o terceiro lugar de Lewis Hamilton confirmou o crescimento da Mercedes e ainda se tornou o primeiro piloto da história da F1 a conseguir a marca de duzentos pódios na carreira. A Mercedes não lutou pela vitória dessa vez, mas já conta com o quinto pódio consecutivo.

No sábado a Red Bull amargou outro desastre com Sergio Pérez, que destruiu seu carro durante a classificação e como consequência o mexicano largou do fundo do pelotão. A situação de Checo já está se tornando insustentável, mesmo Pérez tendo chegando em sétimo na corrida, apenas duas posições atrás de Verstappen na primeira corrida decente do mexicano em semanas. Sergio Pérez simplesmente parece destruído mentalmente nesses anos todos de Red Bull e sem nenhum sinal aparente de reação. Mesmo com o contrato renovado por dois anos, Checo assiste sua vaga na Red Bull sendo especulada em plena luz do dia.

O problema para a Red Bull é encontrar um substituto para Pérez, seja para 2026, 2025 ou até mesmo para a volta das férias da F1, no final de agosto. Ricciardo fez uma boa classificação, chegando a liderar o Q1 nesse sábado, mas o australiano não convence e novamente ficou de fora da zona de pontuação na corrida. Tsunoda chegou a cobrar um lugar na equipe principal, sofreu um forte acidente na classificação, mas se recuperou na corrida ao ser o único a fazer um pit-stop. Contudo, todos sabem que Tsunoda é um piloto Honda, que debandará para a Aston Martin em 2026 e isso depõe contra o pequeno nipônico.

Resta Liam Lawson, que fez apenas cinco largadas de F1. O certo é que a solução não parece nada fácil para a cúpula da Red Bull, que já enxerga nos seus retrovisores a McLaren no Mundial de Construtores. Horner falou que a Red Bull corre com apenas uma perna, mas pelo visto nas últimas corridas, está correndo com meia perna…

A Ferrari teve um final de semana medíocre na Hungria, onde Leclerc ainda salvou um quarto lugar, muito pela presepada de Max Verstappen. Desde a vitória em Mônaco, a Ferrari não se achou mais e com os últimos resultados, perdeu o segundo lugar no Mundial de Construtores para a McLaren, já enxergando a Mercedes se aproximar.

Tsunoda foi o melhor do resto com a Racing Bulls, ficando à frente da dupla da Aston Martin, com Lance Stroll superando Fernando Alonso dessa vez. Hoje a Aston Martin luta, no máximo, para ser a quinta força da F1 atual. E nem sempre ganha, para tristeza de Alonso e até mesmo de Adrian Newey, alvo principal de Lawrence Stroll. Numa corrida onde apenas Gasly abandonou, houve equilíbrio no pelotão de trás, mas a Alpine, depois de uma fase boa, pontuando com regularidade, voltou aos seus piores dias num circuito de alto downforce.

O campeonato ainda está muito nas mãos de Verstappen, mas o neerlandês precisa colocar a cabeça no lugar e trazer consigo a Red Bull, mesmo com todos os problemas e a clara divisão interna dentro da equipe. Max demonstrou total descontrole emocional e a manobra em cima de Hamilton lembrou mais uma criança birrenta querendo um brinquedo do que uma manobra calculada de um tricampeão mundial.

Já a McLaren quase estraga seu dia por erros próprios e seus pilotos tem do que reclamar. Lando deve cobrar a equipe pela troca de posição, enquanto Piastri também tem todo o direito de protestar da estratégia da equipe, que o prejudicou novamente.

Com o campeonato passando agora da metade, a F1 vê uma McLaren na crista da onda, enquanto Max Verstappen  tentará administrar um campeonato que parecia ser seu ainda nas primeiras voltas da temporada 2024, mas que faltando pouco menos da metade do certame terminar, muita água ainda irá rolar no campeonato.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    fim de semana em Buzios … eta trem bom … não voa corrida (nem treinos e nem nada) … mas hj lendo as noticias na midia cheguei em algumas situações digamos assim que conclusivas;

    1) O Piastri é melhor que o Norris …
    2) O inglés já percebeu que tem um osso duro na equipe …
    3) O “X” do problema é ele querer dar uma de chorão igual ao Le Clerck

    Obs: Neste fim de semana fui desafiado pelo meu neto de 15 anos para uma corrida de kart em Buzios … topei … 63 anos 110 ks mas o braço ainda muito bom no volante … antes da corrida um tempo para tomadas de tempos para a largada … aí a coisa deu “ruim” pra mim … logo após sair dos boxes um mané foi de encontro nos pneus e vendo a bandeira para parar, parei … um outro Mané atrás não freiou e entrou na minha traseira … minhas costelas (uma, duas sei lá foram pra casa do car … mas aguentei a dor, fiz o 3º melhor tempo mas com grid invertido larguei lá trás …
    Durante a corrida passei todo mundo e o velhinho de 110 ks venceu a corrida (meu neto chegou em 5º)… mas precisei de uns 3 para me tirar do kart … resumindo essa foi a melhor corrida do fim de semana e meu neto teve que me pagar um cheeseburguer … hehehehehe

    Obs: Já estou em casa e as minhas costelas doendo tbm …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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