Já entrando em clima de fim-de-ano, Manuel Blanco faz seu "pedido automobilístico" ao bom velhinho.
Querido papai Noel,
Nao sei se o senhor se lembrará de mim pois meio século já se passou desde minha última cartinha. Realmente aquela foi a única vez que lhe escrevi, e devo dizer que minhas modestas petições não foram atendidas, o que me causou uma profunda decepção.
Veja só, até pensei que não havia sido um bom menino mas, ao ver minhas lágrimas de tristeza, meu pai me disse que não era culpa minha e que eu não tinha o que havia pedido devido ao fato de sermos pobres. Segundo meu pai, ele é que devia ter comprado o que eu pedia, mas como não tinha condições… decidiu me dizer que o senhor não existia.
Aquela revelaçao me deixou até mais triste e só com o passo dos anos é que cheguei a compreender que, por muito duro que havia sido para mim ouvir suas palavras, para meu pai, certamente, foi ainda mais duro ter que me dizer que o senhor não existia.
Porém, por muito que eu quisesse meu pai, que queria, tenho de admitir que ele não era perfeito (talvez por isso mesmo o queria tanto), portanto pode ser que ele estivesse enganado e o senhor realmente exista. Considerando essa possibilidade, aqui venho a lhe escrever novamente.
Nesta ocasião, não vou lhe pedir nenhum brinquedo. Tampouco pedirei coisas que os adultos costumamos pedir, como paz e harmonia no mundo, pois isso é algo que depende de nos mesmos e deveríamos poder consegui-las sem sua ajuda. Nesta ocasião, lhe pedirei algo a ver com a formula um.
Não sei se o senhor gosta de formula um mas, se gosta e ainda não conhece o site GPTotal, lhe recomendo que dê uma olhada pois é excelente e há muito gente boa por lá. Veja só que boa gente há, que até me deixam participar!
Enfim, o caso é que agora não sei exatamente o que lhe pedir, mas sei que gostaria que a formula um se liberá-se de tantos e infames artificialismos aos que, desde faz tempo, vem sendo impiamente submetida como a tal bandeira azul, safety cars com o único propósito de “gerar” emoção a obrigatoriedade de trocar pneus, contínuos lances sendo “investigados” ou ridículos trecos como o KERS ou o DRS.
Sabe Papai noel, admito que sou um saudoso da formula um de antanho, mas também sei que aquela formula um não vai voltar a ser o que era. Nada volta a ser o que foi!
Sei que nao podemos esperar que os engenheiros esqueçam o que sabem ou que a moderna tecnologia despareça de repente. Tampouco podemos esperar que as equipes prescindam dos atuais e diversos materiais de todo tipo. Tudo isso… eu sei.
De fato, a formula um, como nós mesmos, foi crescendo e atravessando diferentes e bem definidas fases. Em nossa infância, somos muito curiosos e nosso comportamento nos leva a querer saber tudo e a experimentar tudo. Curiosidade e avidez de saber é o que nos impulsa e tudo nos resulta novo ou desafiador e muita indulgência nos é concedida nessa etapa da vida. Acho que assim era a fórmula um no principio.
Tudo era novo e muito estava por descobrir. Assim, as equipes experimentavam de tudo: Tração nas 4 rodas, motores apresentando diversas arquiteturas e número de cilindros ( em V, em H, opostos – além de serem permitidos motores rotativos, turbocomprimidos, e até turbinas ) que, quando passaram à traseira do carro, propiciaram os simpáticos charutinhos que logo se metamorfosearam nas mais diversas formas e, assim, tínhamos bicos em forma de cunha, côncavos, redondeados ou bicos largos com ou sem radiadores.
Surgiram também os aerofólios. No principio, timidamente, mas logo passaram a ser enormes e até perigosos (algo próprio da típica inconsciência infantil!). O uso do chassi monocoque se generalizou e os freios de disco também Os pneus slick entraram em cena, etc. Enfim… uma buliciosa efervescência!
Apos a infância vem a adolescência, com sua rebeldia e irreverência características Nessa etapa, nos impulsa a ousadia e atrevimento e quase nada nos intimida. Neste período da Fórmula Um é quando surgiram as mais ousadas inovações: carros de 6 rodas, o carro asa, o fan car, as suspensões hidropneumáticas e as ativas, a eclosão da era turbo, o duplo chassi, câmbio semi-automático, o bico alto, etc. Aquele período foi uma verdadeira e maravilhosa cornucópia de surpresas.
Contudo, o tempo continua seu inexorável caminho e, quase sem dar-nos conta, um dia nos encontramos no mundo dos adultos. Então nosso comportamento fica totalmente condicionado e submetido a convencionalismos e interesses (alguns legítimos, outros espúrios). Então, a rebeldia se torna em conformismo, assim como o atrevimento em conservadorismo e a inocência perdida… jamais se recupera.
Nesta fase adulta é onde creio que a formula um se encontra, portanto não sou muito otimista respeito a que as coisas mudem. Hoje, a Fórmula Um está tao restringida pelo regulamento, tao submetida a interesses comerciais ou à politica que até parece um passarinho engaiolado.
O dinheiro manda e se impõe a tudo e a todos e, como diz um ditado popular español: “O dinheiro é como o óleo: mancha tudo aquilo que toca!“. Mas, um passarinho engaiolado não pode fazer o que é natural nele: voar. Portanto, creio que seria bom deixar que a Fórmula Um voasse um pouquinho.
É, papai Noel, eu pretendia que o senhor desse um jeito para melhorar, sequer um pouco a formula um atual, mas temo que isso seja muito difícil. Assim, apenas lhe peço que recorde aos caras da FIA, ao tio Bernie, etc. que a formula um lhes proporcionou fortuna, notoriedade e umas muito boas vidas, portanto creio que já é hora de que sejam minimamente gradecidos e lhe devolvam um pouco da naturalidade e frescura da que foram privando a competição enquanto conseguiam tudo isso. Talvez, quem sabe, isso lhes faça refletir!
No entanto, e para terminar, querido papai Noel, lhe suplico que conceda prioridade a cumprir as petições das crianças para que, se for possível, a nenhuma lhe aconteça o que me aconteceu a mim e nenhum pai tenha que dizer aos seus filhos que o senhor não existe. Sem mais, lhe agradeço a atenção prestada e lhe envio um grande abraço.
Afeituosamente, Manuel Blanco
6 Comments
Amigos, muito obrigado pela gentileza de seus comentários !
Fabiano, mais do que voluntário… foi emocional mesmo. Ainda estou muito triste pelo falecimento de meu querido pai e, de soer, me vem à memoria passagens como esta que contei, e uma coisa acabou levando à outra.
Tenham todos um muito bom natal e que Papai Noel atenda vossos pedidos.
grande abraço, Manuel
Belo texto Manuel, parabéns!
E que o nosso querido Papai Noel possa atender a este pedido!
Abraço a todos!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Que site, este GPtotal.
Num intervalo de poucos dias, um diálogo de textos tão geminados e ao mesmo tempo tão complementares, como estes e Edu e Manuel.
Abraços aos dois, e obrigado pelas leituras.
Querido Manuel,
Se isso não é uma autêntica mostra de cândido e incondicional amor ao esporte a motor, não sei como classificar sua carta. Parabéns, meu amigo. Me emocionei.
Abração!
Lucas Giavoni
Realmente, não sei se foi voluntário, mas o Manuel escancarou sua paixão.
Parabéns!
E já que você tem livre acesso ao bom velhinho, transmita a ele meu pedido por algumas vitórias para o Massa em 2013. Ele pode não ser o melhor, mais técnico, mais rápido piloto da F1, mas com certeza é o mais resistente. Me vem a memória o personagem Roky Balboa, que apanhava, apanhava, mas ficava em pé. Quem sabe ele dá uma volta por cima em 2013 e assegura uma vaga decente para 2014.
Abraço e feliz natal pra todos!
Vou pedir para Papai Noel para o MAssa ser campeão em 2013 … será que ele vai me atender? …
Fernando Marques
Niterói RJ