Tazio Nuvolari

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Ele superou uma lei absoluta do automobilismo: quem arrisca, entusiasma; quem conserva, vence

Um leitor cobra mais explicações* sobre a inclusão do italiano Tazio Nuvolari na lista dos meus cinco melhores pilotos de todos os tempos, junto com Fangio, Clark, Senna e Schumacher. “Ajoelhou tem que rezar… Ma que catso a fatto Nuvolari?”, pergunta o leitor.

Há uma lei no automobilismo, meu caro: quem arrisca, entusiasma (exemplo: Gilles Villeneuve); quem conserva, vence (exemplo: Alain Prost).

Só uns poucos como Tazio entusiasmou e venceu. Ele ganhou corridas, muitas corridas, pilotando carros apenas mais ou menos diante de gigantes da Mercedes-Benz e Auto Union. Ganhou corridas fazendo milagres para manter seu carro em movimento – ficou famosa uma foto em que ele chega aos boxes segurando diretamente no eixo do volante, que simplesmente havia se soltado em plena corria. Ganhou corridas julgadas impossíveis, como o Grande Prêmio da Alemanha de 1935, quando derrotou Mercedes e Auto Union no quintal delas correndo com um Alfa Romeu que custou o equivalente às rodas dos adversários. Tazio ganhou também a corrida pela vida, sobrevivendo a incontáveis acidentes graves, que lhe deram a fama de ter sete vidas.

Tazio correu sua última prova em 1950, sete anos antes de eu nascer. Estreou em 1920, aos 28 anos, com motos. Até 1930, corria simultaneamente com motos e carros. Não acumulou títulos porque, naquela época, não se organizavam campeonatos. Eram corridas individuais, umas mais, outras menos famosas. Tazio sempre se destacou: em 124 corridas de moto, venceu 39 chegando em segundo 17 vezes e fazendo 40 vezes a volta mais rápida da prova. Com carros, disputou 229 provas – a última delas quando contava 58 anos, é bom frisar – vencendo 66 e chegando 45 vezes em segundo ou terceiro.

A partir de 1934 até 1939, Tazio esteve totalmente envolvido com o que se pode considerar o embrião da Fórmula 1, as corridas de carros de Grand Prix, que reuniram Mercedes-Benz, Auto Union, Alfa Romeo e a  equipe Ferrari em pistas que permanecem até hoje, como Monaco, Spa-Francorchamps, Monza, Donington e Nurburgring. Outras pistas ficaram pelo caminho: Reims, Tripoli, Tunis, Rio de Janeiro – o famoso Trampolim do Diabo, nas estradas da Gávea –, Bern.

httpv://youtu.be/YmCJvDUWXaY

Tazio correu 55 provas neste período na categoria e ganhou 11,5 – sim, era possível dividir o carro naquela época e Tazio ganhou uma corrida revezando-se ao volante com Carlo Pintacuda. O alemão Rudolf Caracciola, primeiro piloto da Mercedes, correu 52 corrida e ganhou 15 enquanto Bernd Rosemeyer correu 33 e ganhou 10. Ou seja, Tazio não é nem o maior vencedor nem aquele que tem a melhor média de largada/vitória. E mesmo assim é um dos cinco maiores? Mas como?

É que ele fazia a diferença. No braço, na coragem, na valentia, na sacada inesperada, superava a limitação do carro e vencia. E entusiasmava a torcida, despertava paixão, atraia público. Foi com Tazio que a equipe Ferrari começou a construir a sua lenda. Juntos, Tazio e Enzo Ferrari transformaram a Itália no coração do automobilismo.

Não posso negar, por fim, que aponto e sustento Tazio entre os cinco maiores de todos os tempos porque respeito profundamente os pilotos do passado. Era mais difícil e muito mais arriscado correr nos anos 30. Tazio correu, venceu e entusiasmou.

Eduardo Correa

*Coluna publicada originalmente em 22/10/2001

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

1 Comments

  1. Mário Salustiano disse:

    Edu

    eu sou um dos que juntamente com sua opinião, também elejo Tazio na minha lista dos melhores de todos os tempos, compartilho de pensamento semelhante aos fatos que voce aponta e no meu imaginário a corrida na Alemanha 35 está entre as dez melhores de todos os tempos.

    Complemento que houve uma corrida de moto em Monza onde o mantuano simplesmente correu com as duas pernas engessadas, devido a um acidente a poucos dias antes dessa corrida, precisou ser ajudado pelos mecânicos tanto na partida quanto na chegada, e não é lenda ele ganhou essa prova.

    abraços

    Mário

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