A cara de 2012

10 + 1
27/07/2012
O que mais?
01/08/2012

O fim-de-semana, apesar da pouca emoção, foi um grande reflexo do ano de 2012...

A velha frase de Piquet sobre Hungaroring (“é um circuito de rua sem os prédios“) nunca pareceu tão verdadeira como nesse último GP. Foi sem dúvida a corrida mais soporífera do ano até aqui.

No entanto, apesar da escassez de brigas na pista, foi muito interessante analisar o GP como reflexo da temporada atual.

A vitória de Lewis Hamilton o coloca ao lado de Ayrton Senna como segundo maior vencedor do GP da Hungria (3, uma a menos que Schumacher) e 14° vencedor no geral (19, uma a menos que Hakkinen).

Foi uma vitória muito merecida, fazendo jus a quem dominou os treinos livres e a classificação. Hamilton afirmou que está na briga pelo título, apesar de 47 pontos distante do líder Fernando Alonso.

Essa temporada vem confirmando o que já se comenta desde, pelo menos, 2008: Hamilton é o piloto mais veloz da Fórmula 1 atual. Veloz, porque Vettel ainda deve ser considerado o mais rápido.

Hamilton tem consistentemente largado à frente, e o comparativo com Button nesse aspecto é amplamente favorável ao inglês mais jovem.

Acima de tudo, a McLaren parece ter confirmado um grande upgrade. A conferir em Spa.

Apesar da vitória de Hamilton, a “equipe” do fim-de-semana sem dúvidas foi a Lotus. Com seus dois pilotos completando o pódio – e Grosjean conseguindo sua primeira largada na 1ª fila – o time chegou ao pódio de número 180 de sua história.

Por um momento pensei que Raikkonen poderia vencer sua primeira corrida em três anos.

E por falar em jejuns de vitória, o abandono de Schumacher ontem já é o sexto em 11 corridas em 2012: o alemão teve como pior marca de abandono por temporada os 7 de 1993 e 2005. Do jeito que a coisa, anda, ele deverá estabelecer mais um recorde nesse ano.

Não pude deixar de rir com a ótima a charge do cartunista da Lotus sobre Schumacher e seu, digamos, descuido na largada: afinal, o que aconteceu com o alemão? Ele pôde largar normalmente. A hipótese do sono, no melhor estilo Nigel Mansell-Montreal-91, parece ser uma boa explicação.

Será que já não chegou a hora de Schumacher cantar aquela estrofe de “Trocando em Miúdos”, do Chico Buarque?

httpv://www.youtube.com/watch?v=hn4JyodL7K4&feature=player_detailpage#t=97s

Fernando Alonso, aniversariante do último domingo, está chegando a importantes marcas de longevidade e consistência na Fórmula 1: no GP da Hungria, atingiu sua 23ª corrida consecutiva marcando pontos, apenas uma prova abaixo dos 24 GPs nos pontos de Michael Schumacher – entre 2001 e 2003.

A prova húngara também foi a 48ª de Alonso como líder do mundial, igualando número de Ayrton Senna: como a diferença de pontos para Mark Webber garante a Alonso a liderança do campeonato no mínimo até o GP da Itália, ele já pode ser considerado o terceiro da estatística, somente atrás de Prost (78 GPs como líder) e Michael Schumacher (121).

Números são apenas números, fato. Mas o que as estatísticas acima mostram é que, além de estar cada vez mais se confirmando no panteão dos grandes deste esporte, Alonso vai dando passos largos rumo ao seu terceiro título na F1: numa corrida em que não podia brigar pelo pódio, conseguiu ampliar sua vantagem para o segundo colocado, Mark Webber.

E Alonso, novamente, apesar de muito pressionado, conseguiu resistir tranquilamente aos ataques iniciais de Raikkonen e depois aos de Webber e Button. Todos os três tinham rendimento que lhes credenciaria superar o espanhol.

Falando em Mark Webber, o australiano foi o maior perdedor do GP da Hungria. A começar pelo sábado, quando não conseguiu passar ao Q3, e por fim a corrida.

No entanto, o desempenho aquém do esperado de Webber passa diretamente pela boa corrida de Bruno Senna: nas palavras de Emerson Fittipaldi, “em termos de ‘guiada’, [Bruno] pode ter feito sua melhor corrida na F1 até agora“. Senna saiu confiante, acreditando que isso pode representar uma guinada na Williams.

httpv://youtu.be/5Qo5BaDUvqU

O mesmo não se pode dizer de Felipe Massa.

Durante o fim-de-semana, Massa vinha se apresentando bem, tendo superado Alonso na segunda sessão dos treinos livres, e na classificação ficando a apenas 0.050 do espanhol.

Porém, uma má largada somada às dificuldades inerentes ao circuito ‘meio de rua’ comprometeu de vez sua performance. Se a permanência de Schumacher na Mercedes anda ameaçada, a de Massa na Ferrari está cada vez mais perigosa – e a ambiguidade desta palavra deve ser interpretada nas duas formas.

O brazuca já até virou alvo de piadas MUITO infames.

Pude acompanhar boa parte da etapa americana de MotoGP ontem. A prova foi bastante movimentada, com vitória de Casey Stoner.

Acostumados que estamos a ver as pistas “desérticas” da F1 (Bahrein, Índia, Coreia do Sul) não causarem qualquer emoção, o circuito de Laguna Seca — conhecido também pelas provas de F-Indy — é muito bom. A curva “saca-rolhas” é qualquer coisa de espetacular.

Stoner venceu pelo segundo ano consecutivo, e o “deja-vu” de 2011 vai além: foi contra o mesmo Jorge Lorenzo, no mesmo ponto, e quase na mesma volta que o australiano ‘jantou’ o espanhol para caminhar à vitória. Mas a manobra do ano passado foi ainda mais ousada:

httpv://youtu.be/ELwpShNQ2I4

Para o campeonato, Lorenzo ainda segue com folga na liderança. E vendo tais performances, só podemos lamentar o anúncio de aposentadoria feito por Stoner dois meses atrás.

A decepção acabou sendo Valentino Rossi. “Il Dottore” abandonou após uma derrapada a algumas voltas do final. A comparação com Schumacher é inevitável…

E já que eu comecei esse texto falando dele, não poderia deixar de mencionar aqui os 34 anos da estreia de Nelson Piquet na Fórmula 1.  O debut do brasileiro aconteceu no GP da Alemanha de 1978, a bordo de um Ensign, número 22, modelo N117, equipado com motor Ford Cosworth. O piloto largou em 21° e abandonou na volta 31, com problemas no câmbio.

httpv://youtu.be/UFt8cCENrkI

Piquet ainda disputaria alguns GPs num McLaren alugado, até se mudar pra Brabham e iniciar uma das maiores parcerias da história da F1.

Abraços a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

10 Comments

  1. ronaldo disse:

    Tanto Schumacher quanto Rossi merecem elogios por terem saído de sua zona de conforto. O que eles fizeram seria algo como Loeb ir para a Ford…

  2. Rodrigo Felix disse:

    Laguna Seca e seu saca-rolha é uma das mecas do automobilismo…. precisa muita coragem para passar ali, quem dirá ultrapassar por ali…
    Acho plausível uma tentativa de Massa em ir pra Mercedes, como sugere o amigo Cassio, ainda mais pensando que a Monster deverá ir pra McLaren, mas isso depende se Massa vai querer deixar de se acomodar.

  3. Mauro Santana disse:

    Infelizmente, a curva saca-rolha também foi palco de tragédias.

    http://www.youtube.com/watch?v=19Fl1e79O1Y&feature=related

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  4. Fernando Marques disse:

    Zanardi em Laguna Seca

    http://www.youtube.com/watch?v=6bLSNIfO6LM

    Fernando Marques
    Niterói- RJ

  5. Mauro Santana disse:

    E falando em Valentino Rossi, na minha opinião, a maior vitória dele foi essa aqui, na Catalunya em 2009.

    http://www.youtube.com/watch?v=V0FSTy7Gu44

    Neste dia, ele colocou o Jorge Lorenzo no bolso em plena Espanha.

    Batalha inesquecível, e minha vibração assistindo a corrida, foi praticamente igual a dos mecânicos!

    Show de Rossi!!!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  6. Mauro Santana disse:

    Rossi também deixou sua marca na curva saca-rolha em 2008.

    http://www.youtube.com/watch?v=6PNqQc7eQl8

    Um Show!!!!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

  7. Fernando Marques disse:

    O GP da Hungria de certa forma foi chato em comparação aos demais deste ano mas o Raikkonen deu um pouco de expectativa a corrida ao andar junto com Hamilton na parte final da corrida.
    Eu de certa forma me decepcionei com o rendimento do Hamilton. Nos treinos ele voou de tal forma que pensei que fosse disparar na frente na corrida e vencer com folgas … ele venceu mas a Mclaren não foi tão superior na corrida…
    Quanto ao B. Senna não sei o por que de tanta festa … a pista de Budapeste não permite ultrapassagens e quem está na frente defende a sua posição sem problemas se não cometer erros primarios …
    Se tem um momento especial em Laguna Seca é a ultrapassagem, creio na ultima volta da corrida, do A.Zanardi em cima de seus adversarios por fora na curva do saca rolhas nos seus tempos de Indy … foi inacreditavel …
    A fase do Valentino Rossi apenas prova que o conjunto é que faz vencer corridas … de nada adianta ser o melhor se não tiver o melhor equipamento … O Schumacher na certa apertou algum botão errado e se atrapalhou na largada …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  8. Lucas disse:

    A comparação de Rossi com Schumacher é inevitável, mas injusta. Rossi foi o único piloto da Ducati a conseguir um pódio esse ano, e ter feito um segundo lugar com uma moto com o qual Hayden (um ex-campeão mundial) nunca foi além do sexto lugar mostra que o problema é muito mais falta de equipamento que de competência. Schumacher guia um carro com o qual seu companheiro conseguiu cinco pódios e uma vitória desde 2010 e que o vem batendo desde então. Já Rossi bateu Hayden ano passado e estava à frente dele no campeonato até o abandono em Laguna Seca. Não dá pra comparar.

    • admin disse:

      Verdade, Lucas. Schumacher vem envergonhando, Rossi apenas deixou de vencer como fazia antes. A comparação se dá, na verdade, apenas pelo fato de serem os maiores vencedores em atividade…

  9. Cassio disse:

    Vitoria merecida de Hamilton. E com a evolução da McLaren nos últimos dois GPs, acredito que ele pode voltar a brigar pelo título com Alonso.

    Schumacher parece realmente pronto para uma aposentadoria definitiva. Até dormindo na largada ele está! Di Resta é um nome cotado para ocupar o lugar do alemão, mas até Felipe Massa pode ser cogitado.

    Alonso fez uma corrida discreta, dentro de suas possibilidades. Isso confirma a exuberância que foi sua pilotagem nas três corridas anteriores. A partir de agora, com a evolução concreta das McLaren, a consistência da Red Bull e a chegada da Lotus e seu novo pacote aerodinâmico, entraremos em uma fase do campeonato em que a Ferrari já não brigará mais pelas primeiras posições, salvo corridas com chuva ou um desempenho magistral de Alonso. Cabe ao espanhol saber administrar e continuar pontuando para se manter vivo.

    Finalmente, Bruno Senna fez uma corrida de destaque. Com certeza a melhor de sua carreira na F1. Mas ainda precisa comer muito arroz com feijão pra justificar sua presença no grid no próximo ano. E com as novidades no comando da Williams, é bem provável que o time inglês não seja uma opção.

    ///

    Sobre Laguna Seca, a saca-rolha é uma das curvas mais desafiadoras que se tem por aí, pois exige freada forte em subida, sendo que sua saída é cega e em descida. Parece mais parte de uma montanha russa do que de uma pista de corridas.

    Abraço

    Cassio

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