A Favorita

Corridaça! Quer dizer…
13/06/2012
Os favoritos vencem
19/06/2012

Na Tríplice Coroa do esporte a motor, sou irredutível: amo o GP de Mônaco, amo as 500 Milhas de Indianápolis, mas meu coração pertence às 24 Horas de Le Mans.

Minha corrida favorita não é a mais antiga. Tampouco é a mais rica, ou mais charmosa. Também não é recordista de audiência em arquibancadas ou na TV, e não tem tradição alguma no Brasil. Por outro lado, é mais nobre, com a maior diversidade, e é a mais desafiadora, podendo ser traduzida como o mais extremo casamento entre homem e máquina disponível no automobilismo. Na Tríplice Coroa do esporte a motor, sou irredutível: amo o GP de Mônaco, amo as 500 Milhas de Indianápolis, mas meu coração pertence às 24 Horas de Le Mans.

Neste sábado, a partir das 11h da manhã do horário de Brasília, poderemos testemunhar novamente a história sendo construída diante de nossos olhos. Disputada em trechos rodoviários do verdejante interior da França, que se transformam no famoso circuito de La Sarthe, de 13,629 km, a prova completa 80 edições este ano.

Já passaram por lá incontáveis carros e pilotos que se dispuseram a enfrentar o relógio, sob sol ou chuva, dia e noite. Le Mans é um dos poucos lugares em que vencedores são elevados a heróis. E o simples fato de terminar a corrida já pode ser considerado uma vitória.

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Ainda está fresca na memória a corrida espetacular de 2011. No quinto duelo entre as marcas, vitória da Audi contra a Peugeot por míseros 13 segundos – um fio de cabelo se considerarmos o tempo total da prova. A Peugeot, em crise por conta da queda de vendas na Europa, encerrou seu programa de protótipos, decretando o fim do belíssimo modelo 908 HDi FAP, vencedor em 2009.

Como comentei na nossa página do Facebook, seria ótimo se a Peugeot disponibilizasse seus carros encostados para equipes francesas como a Pescarolo e a Oreca, como em anos anteriores – seria presença da marca na corrida com um carro potencialmente vencedor, a custo zero.

Para este ano, a Audi tem uma nova rival, a Toyota. Depois de sair da Fórmula 1 pela porta dos fundos no fim de 2009, o departamento de competição europeu trabalhou quietinho em um novo protótipo de endurance. O resultado é o TS030 Hybrid, sucessor espiritual do belíssimo GT-One, que por pouco não venceu nas duas edições que participou, em 1998 e 1999.

O novo carro tem tecnologia híbrida: o motor é um V8 3.4L aspirado, à gasolina, é auxiliado nas rodas traseiras por um motor elétrico alimentado por um sistema de recuperação de energia dos freios – o Kers da F1. E para pilotá-lo, a Toyota escalou dois trios que misturam ex-pilotos da Peugeot a ex-pilotos da Fórmula 1 – um staff de respeito.

A Audi, por sua vez, armou-se até os dentes. Chegou a La Sarthe com dois modelos R18 aprimorados e rebatizados como Ultra, empurrados por um motor turbodiesel V6 3.7L – silenciosíssimo, mas com um torque capaz de deformar o mundo. A eles se juntam as novas estrelas da marca: dois novos R18 e-tron, com motores elétricos acoplados no eixo dianteiro, também abastecidos por Kers. Como estes novos carros têm tração nas quatro rodas, ganharam o famoso nome Quattro que alçou a Audi ao estrelado a partir de seus carros de rally com tração integral. Os dois trios principais da equipe vão correr com o e-tron.

Para quem previa uma surra homérica proporcionada pela Audi (ainda mais em um ano em que ela trouxe 4 carros), é necessário rever conceitos. O TS030, se não é mais rápido, ao menos está acompanhando o mesmo ritmo dos favoritos desde os primeiros treinos torna-se,sim, uma ameaça real à hegemonia das quatro argolas.

Na qualificação, André Lotterer fez história ao marcar com o Audi e-tron #1 a primeira pole-position de um híbrido, com volta em 3:23.787 – garantindo que ele, Benoît Treluyer e Marcel Fässler, trio de atuais vencedores, saia na frente como em 2011. Ao seu lado ficou o Audi Ultra #3, qualificado por Loic Duval, 3:24.078.

E logo em seguida aparece o Toyota #8 classificado por Anthony Davidson, com 3:24.842 – portanto apenas 1,1s da melhor marca dos favoritos. Em seguida, o octacampeão Tom Kristensen, Mr. Le Mans, fecha a 2ª fila com o e-tron #2 de seus companheiros veteranos quarentões Allan McNish e Dindo Capello. O Toyota #7 e o Ultra #4 fecham a 3ª fila.

Os demais times da categoria LMP1 (carros com número branco em fundo vermelho), principal, não têm a menor chance. Entre eles figuram protótipos interessantes como o Honda ARX-03 particulares da equipe Strakka, o melhor do “resto e os dois Lola-Toyota da equipe Rebellion. Este ano, a Pescarolo corre com um novo protótipo japonês Dome, que não parece ser competitivo, e um protótipo de carroceria aberta que nada mais é do que uma recauchutagem do chassi Aston Martin que fracassou vergonhosamente ano passado – havia dois, e eles foram os primeiros a abandonar.

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A categoria LMP2 (números brancos em fundo azul), de carros mais simples e menos potentes, luta de vários chassis combinados a vários motores. O mais rápido nos treinos foi o Oreca-Nissan de carroceria aberta da equipe ADR. E é no meio do pelotão dos LMP2 que se classificou um dos carros que mais chamou a atenção para esta corrida, o DeltaWing-Nissan número zero, criado pela All American Racers, do lendário Dan Gurney – ele, um vencedor em Le Mans com o Ford GT-40.

O protótipo, que chegou a participar do processo de escolha do novo chassi da Indy, participa de Le Mans como convidado e não se enquadra em nenhuma das quatro categorias de disputa, mas está na pista para mostrar novas tecnologias. O carro tem aspecto muito incomum, marcado pelo eixo dianteiro supercurto e pela ausência de aerofólios. Ele foi levado à França pela equipe Highcroft, tradicional nas disputas do American Le Mans Series.

Para quem imagina que um carro tão estranho seja desequilibrado ou lento, as estimativas eram de o DeltaWing fizesse tempos na casa de 3min45s, mas na qualificação o trio Marino Franchitti (irmão de Dario), Michael Krumm e Satoshi Motoyama fez voltas em 3min42s.

Assim como no ano passado, a categoria GT, de superesportivos baseados em modelos de rua, está dividida em duas categorias: trios compostos por pilotos profissionais (GT-Pro); e trios com gentlemen drivers (GT-AM). A equipe de fábrica da Corvette, vencedora ano passado, enfrenta com seu C6 ZR1 a concorrência de equipes particulares munidas de foguetes como a Ferrari 458 Italia, Aston Martin Vantage V8 e o sempre tradicional Porsche 911 GT3 RSR. Infelizmente não teremos este ano carros BMW M3, já que a marca bávara está concentrando seus esforços no DTM alemão.

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No Brasil, o canal Fox Sports (ex-Speed Channel) deverá fazer a cobertura da largada, primeiras horas e depois retomar a transmissão bem cedinho no domingo, para acompanhar as voltas finais. E pela internet espalham-se alternativas e materiais de cair o queixo. No site oficial da prova, LeMans.org (com opção em língua francesa ou inglesa), eles soltam notícias em tempo real, de acordo com cada movimentação na pista. A cronometragem oficial fica a cargo do site Live.LeMansTV.com.

Equipes também presenteiam os fãs com materiais de cair o queixo. O melhor deles, como não poderia deixar de ser, é o da Audi. Através do site Audi-LiveRacing.com, é possível acompanhar a prova de dentro dos carros, com informações de telemetria em tempo real. Ano passado, foi emocionante ver de meu notebook a onboard do Audi #2 cruzando a linha de chegada, ao mesmo tempo em que acompanhava as imagens da TV.

A Corvette Racing também disponibilizou uma câmera onboard em seus carros, e neste ano deverão repetir o agrado – vale visitar a página deles. Também vale a visita no site da Michelin (LeMansLive) e da revista Autosport, que faz uma cobertura bem detalhada da prova, com textos contando a corrida de hora em hora.

E para os usuários de redes sociais, vale a pena procurar páginas e perfis de pilotos e equipes oficiais, pois também há fartura de informações e materiais especiais. E claro, o GP Total também está nessa, com nossa página no Facebook, cheia de materiais especiais.

Opções para acompanhar a corrida não vão faltar!

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Prognósticos? Eu diria que a Audi tem 80% de chances de vencer, e os outros 20% são da Toyota, que tem um carro comprovadamente rápido, mas que faz apenas sua estreia em corridas. Na LMP2 eu não me arrisco a apostar, e na GT, 50% de chances de dar Corvette, 40% de Ferrari e 10% de Aston Martin.

Os Porsches? Bem, eles estão um pouco fora de forma. Mas não se preocupe com a Porsche. A marca está meio caidinha agora, mas eles retornam com equipe oficial em 2014, disposta a aumentar a coleção de 16 vitórias. Depois de fabricar modelos como o 917, o 936, o maioral 956-962 e 911 GT1, como não acreditar que eles vão entrar para ganhar? Se cuida Audi, se cuida, Toyota!

Retorno dia 18, com texto com a cobertura da corrida. Boa prova a todos!

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

5 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    É uma pena a gente não ter como assistir esta corrida aqui no Brasil … só tem carreta na pista … imagina estar lá, comendo um churrasquinho e tomando umas cervejas … seria o máximo …

    Vovô Xaruto

  2. Lucas R disse:

    A batalha Audi X Toyota promete! Estou ancioso para ver pelo menos a largada dessa corrida.

    Apesar de admirar muito o trabalho da Audi, confesso que eu não tenho torcida ainda. Seria bacana ver a Audi ganhar mais uma, mas também torço para que a Toyota tenha uma corrida MUITO melhor do que teve em 1998 e 1999, quando tinha tudo para ganhar, mas não conseguiu.

  3. Lucas Giavoni disse:

    Amigos, tenho uma importante errata a fazer:

    O canal FOX SPORTS, que entrou na grade no lugar do Speed Channel, NÃO VAI TRANSMITIR Le Mans 2012. No mesmo momento ela passará uma programação muito mais atraente, que inclui VTs emocionantes de futebol de areia, da segunda e terceira divisão da Nascar e da Copa Libertadores – torneio que ocupa 80% do tempo do canal. (Seria o caso sugerir para o canal mudar de nome para FOX LIBERTADORES?)

    Não, amigos, não é só VT, que no domingo incluem o sempre divertido Monster Jam – torneio daqueles carros com pneus gigantes que amassam ferro-velho. Eles também têm programação ao vivo! Em rodada dupla, Sporting Cristal enfrenta em casa o Cerro Portenho e o Boca Juniors enfrenta o América do México na Libertadores… Sub-20. Realmente imperdível.

    E enquanto a tal corridinha na França estiver acabando, às 11h deste domingo (17), o público vai estar ligado em automobilismo, na reapresentação da etapa da Grécia do Mundial de Rally, que aconteceu duas semanas atrás. A vitória foi do Loeb, com Hirvonen em 2º e Latvala em 3º. Estraguei a surpresa? Ooooh, desculpe por falar o resultado…

    Sugiro aos amigos leitores que cubram o FOX SPORTS de elogios por sua programação e respeito com os fãs do esporte a motor através dos dois canais oficiais do canal nas redes sociais:

    Facebook.com/foxsportsbrasil
    Twitter.com/FoxSports_br

    Abraço a todos! E um abraço especial à FOX SPORTS! TORCEMOS JUNTOS!

    Lucas Giavoni

    P.S.: Caso eu descubra algum sinal pirata da corrida pelo EuroSport, por streaming na internet, compartilharei o link aqui, nos comentários da minha coluna, e em nossa página do Facebook.

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