Assim que a nova temporada de 2016 da Fórmula 1 começar, podemos nos deparar com um grande festival de encerramentos. Em seu 67º desfile anual de tecnologia automotiva as expectativas são maiores sobres as grandes incertezas e grandes pontos de interrogação do que sobre quem será o novo possível campeão mundial. Sem grandes surpresas, tudo indica que a Mercedes continuará na frente e a briga restrita aos seus dois pilotos.
Novos carros? Novas pinturas? Novas estrelas? Não, o que mais chama atenção na terceira temporada do motores turbinados-híbridos-ecológicos é a quantidade de ciclos que podem ser terminados, as despedidas indefinidas e a incerteza do que será o ano de 2017. Quem estará no grid, com quais carros? Como esses carros serão?
A falta de definição da Formula 1 em 2016 parece ser a grande estrela da temporada.
O primeiro desses ciclos com possível encerramento: as regras!
Até o começo da temporada efetiva em Melbourne os times saberão se 2017 é a janela para o início de um novo regulamento. É pouco tempo? Perguntam-se todos os envolvidos no esporte. É sim, mas a culpa é de quem? Papel e caneta na mão, a lista é grande. FIA? FOM? Jean Todt? Tio Bernie? Chefes de equipe? Todas as anteriores. Sim, todas as anteriores. A FIA, como órgão regulador poderia exigir um tempo maior para um regulamento entrar em vigor. A FOM, por sua vez, poderia ditar as regras do jogo. Jean Todt poderia sair da omissão. Tio Bernie poderia avisar que nada muda. Os chefes de equipe? Esses preferiam disputar um campeonato monomarca cada um com suas próprias regras, só não confessam isso para não ficar feio com os fãs.
Sabe quem vai sofrer por conta dessa demora de definição dos carros para 2017? As equipes pequenas que não tem dinheiro para um sem fim de horas de pesquisas e simulações. Imagine uma Sauber que nem um simulador possui. Faz o que?
Pois bem, em pauta estão as mudanças de largura de carro, comprimento, aumento de peso, restrições aerodinâmicas e dimensões dos pneus. Nada muito simples de ser alterado, então imagine a bagunça que vem pela frente.
Pelo menos esse é um ciclo que ninguém sentirá muita falta, além dos caras da Mercedes. Vamos dizer que os dois últimos campeonatos não foram dos mais divertidos.
Aproveitando o tópico regras, 2016 nos despedimos do sistema de “Tokens” para atualização dos motores. Esse ano sumiram as áreas restritas de atualização. Pode mexer no que quiser mas gastando suas “moedinhas”, 32 no total.
Em 2017, tudo liberado. Pode mexer onde quiser e a quantidade de vezes que quiser. Únicas restrições: os 4 fabricantes atuais devem fornecer motores para as equipes atuais – e futuras – por não mais de 12 milhões de Euros por temporada e um novo regulamento de motor será feito para 2018 e permanecerá até 2020.
O principal apoio da medida de liberar o desenvolvimento foi dado pela Mercedes. Segundo seu engenheiro chefe para a área de motores, o time não quer ouvir choro de fabricante que diz que não pode alcançar a Mercedes por causa das regras. Está liberado e o recado está dado. Quem for capaz que alcance a engenharia alemã.
Na sequencia de despedidas de 2016, os pilotos. Pastor Maldonado queimou a largada novamente (irresistível comentário) e se despediu com antecedência. Todos os escribas que resolveram deixar textos saudosistas do Venezuelano, deixo as favas. Ganhou uma corrida, mas era ruim e estragou a corrida de muita gente boa. Não fará falta alguma. Zero. Era simpa´tico no paddock e respondia perguntas com sinceridade? A falta de virtude dos outros não o torna especial.
Mas não é esse o ponto. O que será de veteranos como Kimi Raikkonen, Felipe Massa, Jason Button e Fernando Alonso?
Todos os citados, por motivos diversos, sem surpresa alguma, podem encerrar seus ciclos na F1 em 2016.
Kimi por falta de paciência dele ou da equipe. Está em seu último ano de contrato da equipe mais desejada do sonhos infantis de 100 em 100 pilotos. Massa, não senta no carro mais desejado mas não é o piloto dos sonhos das equipes e também enfrenta seu último ano de contrato. Renovar seria surpresa.
A dupla budista da McLaren caminha para aposentar Button e sepultar Alonso. O caixão preto apresentado para 2016 pode acabar com a paciência dos dois. Button já está na hora extra (não por falta de qualidade) e Alonso sem paciência. Além do mais, na fila, tem Stoffel Vandoorne, louco por uma vaga.
Esse ano de 2016 pode encerrar o ciclo de 4 pilotos que fizeram história na F1, 3 deles com títulos mundiais.
Mas só aposentadorias de pilotos consagrados podem ser consideradas encerramento de ciclos? A turma juvenil também sofre pressão em 2016 para não ter que lidar com despedidas prematuras. Não está fácil para essa moçada.
Na Toro Rosso, Sainz e Max provaram merecer um lugar nesse segundo ano de equipe. Geralmente é o limite da Toro Rosso para seus pilotos no time-escola. Quem será promovido para a Red Bull? Havendo a promoção, quem sai? Daniil ou Daniel? Esses 4 pilotos terão um ano de pressão interna constante, seus lugares são cobiçados e seus chefes gostam de mudanças que desafiam a lógica.
A turminha da Renault também não viverá dias fáceis. O carro perdeu sua melhor característica para 2016 (o motor) e os pilotos foram premiados com um aninho de contrato somente. É uma equipe de fábrica, lugar cobiçado independente dos resultados de 2016. Um ano de muitos acidentes e desempenhos pífios pode encerar o ciclo dessa moçada na F1.
Para a Sauber, sinceramente, deve ser o fim da equipe em 2016. Se as regras mudarem radicalmente para 2017, não parece que o time tenha forças para continuar. Os dois pilotos são pagantes e literalmente sustentam a equipe. Nasr tem a obrigação de se destacar para conseguir algum lugar melhor para 2017. Ficar disputando palmo a palmo com Ericsson não enche ninguém de orgulho e não abre muitas portas.
E mais triste ainda pode ser o destino da Force India. O time não fechou o acordo com a Aston Martin e não fechou esse ano por conta do excelente carro do segundo semestre de 2015. Há esperança para 2016, mas pouco dinheiro. Terão fazer um bom começo de temporada para fechar novos acordos comerciais, senão seus dois pilotos também estarão na rua.
Não é possível contar como fim de um ciclo a carreira de qualquer piloto da Manor/Marussia/Virgin, então…bom, deixa pra lá.
Fim de mais um domínio histórico? Será um domínio histórico da Mercedes em 2016 fechando a trinca 14-15-16? Tudo indica que sim e a proximidade de novas regras abrem espaço para mudanças no equilíbrio da forças da F1.
A F1 em sua história recente se acostumou a ciclos dominantes. De 1984 a 1991 foi marcado pelo poderio da McLaren. Foram 6 títulos em 8 disputados, o primeiro grande domínio da história que contou com os gênios Niki Lauda, Prost e Senna. Depois vieram as incríveis Williams de 1992 a 1997, com 5 títulos em 6 disputados. Na sequencia a Ferrari voltou a vencer e voltou de forma arrasadora entre 2000 e 2004, apesar dos títulos de 1999 e os de 2007 e 2008 não entrarem na conta desse período arrasador de supremacia. Até que chegamos ao domínio do conjunto Red Bull – Vettel entre 2001 e 2013.
Com exceção do período da RedBull, que conviveu com mudanças de regras (autorização do difusor duplo, eliminação do escapamento soprado, etc), todos os ‘reinados’ foram encerrados com alterações das regras, por isso podemos ter em 2016 a despedida de mais um ciclo vitorioso.
Será o ano de 2016 o ano de compactação do Grid? Essa é uma grande dúvida para a nova temporada. Alguns pontos precisam ser relativizados. Explico.
A Mercedes certamente tem um dos piores times de relações públicas da história do esporte motor. Desde a introdução dos motores turbo-hibridos-eletronicos-eletricos todo o sucesso do time e de Hamilton é creditado a obra de arte que é esse motor. Mas e o trabalho da aerodinâmica? E do chassi? E os anos que passaram se preparando para uma mudança de regras? Caramba, e o trabalho de Aldo Costa (lembram dele?) e Geoffrey Willis? Dito isso, é bastante duvidoso apostar no sucesso da Mercedes somente a beleza e força de seu espetacular motor. O raciocínio é simples se pegarmos as 4 primeiras provas dos dois últimos anos, por exemplo. É certo que todas as equipes clientes da Mercedes andavam ainda com a mesma especificação de motor que a matriz. Quem andou perto? Temos Melbourne, Sepang, Bahrein e China, uma grande diversidade de pistas. Lotus, Force India, Williams, ninguém sequer ameaçou, arriscou…Nadinha de nada.
Por “compactação do grid”, podemos esperar uma briga melhor pelos pontos. Talvez 4 vitórias de times “sem ser a Mercedes” ao invés das três de 2015? Compactação mesmo, disputa pela liderança, difícil. O que pode tornar o campeonato interessante é o fato de ser um campeonato de endurance em 2016. Serão 21 provas e 5 motores por carro. Cada motor terá que aguentar 1200-1300 km de corrida (sem contar treinos e classificações) que é exatamente o intervalo de quilometragem que um carro do Mundial de Endurance percorre em uma prova como as 6 horas de Spa.
Só potência e um carro rápido para 2016 não vão resolver o problema. Tem que andar rápido por muito tempo sem quebrar e só a Mercedes tem feito isso com propriedade desde a introdução das atuais unidades de potência.
Para ninguém se perder, a classe de 2016 que inicia o ano. Uma equipe nova, 3 novatos e um ressurgido das cinzas. Esperamos todos ao final do ano!
Mercedes: Lewis Hamilton, Nico Rosberg
Ferrari: Sebastian Vettel, Kimi Raikkonen
Williams-Mercedes: Valtteri Bottas, Felipe Massa
Red Bull-TAG (Renault): Daniil Kvyat, Daniel Ricciardo
Force India-Mercedes: Sergio Perez, Nico Hulkenberg
Renault: Kevin Magnussen, Jolyon Palmer
Toro Rosso-Ferrari: Max Verstappen, Carlos Sainz Jr
Sauber-Ferrari: Felipe Nasr, Marcus Ericsson
McLaren-Honda: Fernando Alonso, Jenson Button
Manor-Mercedes: Pascal Wehrlein, Rio Haryanto
Haas-Ferrari: Romain Grosjean, Esteban Gutierrez
Nessa segunda, todos os carros de 2016 na pista, menos o da Sauber.
Aquela famosa frase batida de que não vale nada, é verdade. Os números não mentem. O primeiro teste em 2015 apresentou a Ferrari liderando 3 dias e a Sauber um deles. No teste seguinte em Barcelona (pista dos testes inaugurais de 2016), 3 dias de liderança da Lotus e um da Red Bull. A Mercedes foi somente liderar o último treino, e só duas sessões. Com o desenrolar da temporada de 2015 ficou evidente a diferença para o que foi apresentado nos testes, não?
Mas para quem gosta de números, vamos deixar alguns aqui para acompanhar e comparar….
No primeiro dia de testes de 2015 (em Jerez) a McLaren deu 6 voltas, 18 segundos atrás do melhor tempo. Aqui é possível fazer algumas avaliações em 2016. Se der 7 voltas, já é um inicio mais promissor. Ficar 9 segundos atrás é um ganho de 100% de performance de um ano para o outro. Nesse mesmo dia, Nico Rosberg andou singelas 157 voltas, mais que o dobro que qualquer outro carro. Já em Barcelona, na mesma época do ano (mesma semana) que os testes de 2016, Button completou 21 voltas, menos que ¼ das voltas de Max Verstappen que, diga-se, tinha um motor Renault. Bonifica-se o campeão inglês por ter andado na frente de Susie Wolf com um tempo somente 3 segundos mais lento que o mais rápido do dia.
Regras, pilotos, equipes, há uma nuvem de incertezas para 2016 que podem afetar o futuro da Formula 1 que conhecemos. As expectativas são altas e não dá mais para esperar o campeonato!
Que venha 2016, se o fim desses ciclos se confirmarem, de qual (quais) sentiremos mais falta?!
Abraços, Flaviz Guerra – @flaviz
2 Comments
Minha Opinião… Do jeito que está a F1, o melhor é não alterar as regras.
Em qualquer segmento mudar as “regras do jogo” não beneficia o todo. Isso valo pra economia, política e com F1 não deve ser diferente.
Acredito que esse seja o ano de consolidação dos carros diante as regras inovadoras de 2014. Vide a Mercedes desse ano por exemplo: trouxe um bólido muito semelhante ao de 2015. Pra mim, (Pra mim!) isso é um indicativo de que o domínio da Mercedes está alcançando um certo limite de performance.
Partindo desse ponto, eu aposto (mais por uma questão de fé do que em qualquer outra coisa) que a distância da Mercedes para as demais equipes (diga-se: Ferrari em primeiro nível) diminua mais comparada ao ano passado.
Olhando para a Ferrari, o salto de performance de 2014 para 2015 foi gigantesco! Acredito que o ano de 2016 continuará apresentando melhorias no desempenho, é o mais lógico considerando a evolução.
O fato da Renault entrar no mundial como construtura ajuda também a trazer um salto de performance para seus motores… O nome Renault foi muito depreciado na temporada passada e estão entrando no mundial nessa condição de equipe justamente para mudar isso, não existe outro motivo mais plausível… Para 2017 é sinal de esperança.
A McLaren-Honda tem um ano de consolidação. Eles devem apresentar um salto de performance senão podem “dizer adeus”, ´´e impossível fazer mais do mesmo nessa temporada. Conseguir posicionar seus carros entre a 4ª e 5ª deve ser a meta… Feito isso não há porque não esperar por um 2017 em alto nível de competitividade, é um questão também de evolução.
Enfim, embaso essa análise num campo totalmente especulativo é verdade, mas não dá pra esperar melhora se as regras continuarem mudando. Se estabilizar as regras, com mais ou menos tempos, as equipes vão se ajustar…
A F1 que nos emocionava era dominada por três equipes, que roubavam vitórias umas das outras. O que falta é a aproximação de duas equipes ao “padrão” Mercedes e compactação do bloco intermediário do grid. Mudar as regras não vai trazer isso.
É Flavis!!! … Vai ser dada a largada.
Como não houve grandes mudanças no regulamento para este ano, tudo leva a crer que nada será diferente de 2015.
No caso da Mercedes a expectativa se faz saber se o Nico Rosberg vai continuar sendo o melhor piloto 1B da Formula 1, titulo que Barrichello honrou durantes anos na Ferrari …
Quanto a Ferrari, numa coisa pelo menos para mim eles já são os melhores … a pintura deste ano está espetacular … agora se Vettel vai andar embolado com as Mercedes serão outros quinhentos …
No mais é torcer por um bom desempenho dos Felipes brasileiros pois senão correremos o risco de não ter um piloto brasileiro em 2017 …
Fernando Marques
Niterói RJ