Acabou

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2011 foi assim: surpreendente, triste, emocionante, frustrante, mas nunca entediante. Na motovelocidade isso não existe.

Escrevo sem saber o que aconteceu em Valência, derradeira etapa de 2011 de mais um Mundial de Motovelocidade, e isso por conta da “malvadeza” que fizeram comigo, de me convidarem para viajar com tudo pago embarcando justamente no… sábado à noite, véspera do GP, e voarei horas e mais horas, chegando ao meu destino só quando as arquibancadas de Valência já estiverem vazias e a página 2011 virada.

Mas nem isso me impedirá de, agora, fazer um restrospectozinho desta temporada que, por certos versos foi entusiasmante, até o megabalde de água gelada recebido em Sepang, com a tragédia que envolveu Marco Simoncelli.

Das três categorias, somente uma estava decidida até meu check-in em Guarulhos, a maior em importância, a MotoGP.

Em seu derradeiro ano com as 800cc – ano que vem voltam os motores 1000! – a categoria coroou o australiano Casey Stoner campeão mundial, título mais do que merecido pois não houve Lorenzo, Pedrosa e muito menos Rossi que sequer parecesse próximo do estado de arte que Stoner atingiu em seu ano de estreia como piloto oficial da Honda.

Rápido como um trombadinha, Casey mostrou que tinha uma marcha a mais que seus melhores adversários desde os treinos pré-temporada. Ao guidão da melhor moto do grid, se permitiu até dias menos bons, ocasião nas quais seus adversários conseguiram vitórias que mantiveram um certo suspense até a liquidação da fatura que aconteceu na Austrália, pátria de Stoner, e no dia de seu aniversário. Presente e tanto esse 2º título, que dissipa qualquer dúvida que porventura houvesse sobre o pequeno e não muito simpático piloto de Kurri Kurri, localidade que com esse nome só pode gerar gênios que correm correm…

O 1º título Mundial de Casey na MotoGP foi em 2007 com a Ducati, e foi um susto, inclusive para a marca italiana que sonhava em derrotar as poderosas marcas japonesas, mas sabia que isso era um sonho até acordar com um piloto que guiava a peculiar moto de Bolonha como se ela fosse uma moto qualquer. Aliás, essa é talvez a principal característica de Stoner: é rápido com qualquer coisa. Enquanto todos os pilotos que passaram pela Ducati dizem que a moto isso, a moto aquilo, ele foi, viu e venceu. Simples assim.

OK, depois vieram temporadas não tão boas com a rossa de Borgo Panigale, mas o australiano sempre venceu com elas: fora as dez vitórias do ano do título, 2007, Stoner venceu seis vezes em 2008 (foi vice), quatro em 2009 e três em 2010. E com essa afirmação entramos no outro ponto de destaque dessa temporada, destaque ao avesso, que foi o fracasso de Valentino Rossi com a Ducati.

Para a equipe italiana, trazer o multicampeão para o lugar de Stoner parecia um sonho, e ao cabo da temporada – salvo milagres valencianos –, o maior piloto italiano na equipe mais italiana virou pesadelo. Rossi e Ducati não se acharam e assim a marca terminou 2011 com ZERO vitórias, coisa que não ocorria desde sua estreia no Mundial, em 2002.

Constatar que mesmo gênios do guidão como Valentino podem mostrar incompatibilidades com soluções técnicas pitorescas – a Ducati tem um chassi de fibra de carbono com motor portante enquanto todo o restante do grid se vale da clássica receita trave dupla de alumínio – é reduzir a tecnicismos uma temporada onde Rossi efetivamente não foi Rossi. Veremos em 2012 se ele volta a ser o que foi o se a fonte, infelizmente, secou.

Duas linhas merecem espanholíssimos como Pedrosa e Lorenzo: o primeiro, se não fosse pelo acidente com dodói na França, que o fez perder quatro corridas, poderia ter dado trabalho a Stoner: em quatro ocasiões chegou à frente do australiano, vitorioso em três delas. Já a Lorenzo faltou um tanto de sorte e um tantão de moto, e seu vice-campeonato é espelho do que ele, em sã consciência, poderia almejar de melhor.

 

Separador

 

Paro de falar da MotoGP (não, não vou falar de Simoncelli, pois isso nos deixaria muito tristes) para abordar a Moto2.

Em termos técnicos, uma categoria “chulé”: motor de CBR 600RR fuçadinho, chassi “do it yourself” e…. toneladas de competitividade! Quase quatro dezenas de pilotos no grid e disputas no fio da navalha consagraram dois pilotos acima de todo restante: o alemão Stefan Bradl e o espanhol Marc Marquez. Venceu mais o espanhol, levou o título (99,9% de certeza) o alemão, que combateu a exuberância de Marquez com um tutano de quem foi criado a chucrute e eisbein. Se não tivesse caído tanto… daria Marquez, nome que certamente veremos em breve nas paradas de sucesso da MotoGP.

 

Separador

 

E com relação a 125, em seu derradeiro ano, o que dizer? Encerra-se a página dos motores dois tempos e seu campeão será com toda a certeza Nico Terol, nenhum fenômeno, diga-se de passagem, mas homem que soube explorar da melhor forma o melhor equipamento oferecido pela melhor equipe. Se ninguém chamará esse quase certo campeão de gênio do guidão, o mesmo não se pode dizer de ao menos um dos grandes estreantes da 125 este ano: Maverick Viñales, garotão (16 anos) que poderá brilhar intensamente caso não se perca pelo caminho que ainda tem a trilhar.

Enfim, 2011 foi assim. Surpreendente, triste, emocionante, frustrante, mas nunca entediante. Na motovelocidade isso não existe.

Roberto Agresti

Roberto Agresti
Roberto Agresti
"Rato" de Interlagos que, com sorte (e expediente), visitou profissionalmente Hockenheim, Mônaco, Monza, Suzuka e outras. Sempre com uma câmera na mão e uma caneta na outra.

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