O Mundial de Formula 1 chega ao GP que nunca deveria acontecer para desfilar seus bólidos pela 920º vez de sua historia.
As areias do Bahrein agora não castigam os carros mais com o calor do meio dia como antigamente, também não são mais base dos testes de pneus na pré-temporada, assim, tudo que podemos concluir é que é o lugar errado para uma corrida (como sempre foi) ainda mais quando vemos os cenários tradicionais com Hockenhein e Nurburgring sofrendo para sediar uma prova a cada dois anos.
Vamos lá Sheiks (Xeques ou Xeiques), desfrutem de mais um dia de domínio prateado. O prazer é todo (e somente) de vocês!
Em 2014 a corrida foi épica por conta dos seus dois protagonistas. Os dois pilotos da Mercedes duelaram por posições. Brigaram. Quase tocaram rodas. Mudaram de estrategias e ao final, depois da temperatura da disputa ter diminuído, ainda contaram com um safety car para recomeçar o duelo.
Quem não lembra do genial petro-piloto Maldonado catapultando o carrinho de Gutierrez para for a pista em uma cambalhota magnifica?
Fato inegável é que houve sim uma corrida disputada, dois pilotos se divertiram. De 2014, a cena mais marcante poderia ser facilmente escolhida nos momentos seguintes aos dois, Nico e Lewis, estacionarem seus carros e saírem brincando um com o outro. Imaginem só vocês terem lutado a vida inteira para chegar a F1, por todas as categorias que passaram, tiveram que cruzar com o mesmo adversário e, de repente, vocês estão juntos nos melhores carros disponíveis da maior categoria do mundo da velocidade e ainda trocando tinta? Era um alegria genuína e contagiante.
Foi um lampejo de uma Formula 1 mais humana, uma disputa verdadeira, amigos se divertindo. Mas a alegria desse sonho de uma noite fervente Barenita não durou um carnaval. Todos sabemos o resultados durante a temporada e o afastamento entre os amigos.
Aí você corta para 2015 e vê Rosberg na tentativa mais atabalhoada da história em destabilizar Hamilton. Num coletiva feita de cabeça e fundilhos quentes, Rosberg manda o repórter perguntar a Hamilton porque ele deliberadamente reduziu o ritmo para fazer dele, Rosberg, uma presa fácil para Vettel. A resposta de Hamilton foi categórica: cada um no seu quadrado. Ele cuidou da corrida dele conforme plano da equipe e ponto final.
Rosberg se tocou, chegou no Bahrein com o discurso básico de quem está histérica é a imprensa. Pra ele não foi nada demais. Para Lewis também não. O time se reuniu na quinta para o debrief e estava tudo bem, Rosberg foi o amigão de sempre e parece que o que tinha que ser falado, foi falado. Pra coroar Hamilton mandou uma pérola: “O meu recado eu mando na pista, como tenho feito nessas situações desde meus 8 anos de idade”.
httpv://www.youtube.com/watch?v=Br93YstP8Lk
Está chateado com o ritmo de procissão da Formula 1? É possível que tenha uma explicação.
O Mundial de Endurance, WEC, onde disputam durante o campeonato a 24 Horas de Le Mans, iniciou sua temporada no final de semana passado em Silverstone. Foram 6 horas de corrida no tradicional traçado inglês para percorrer graciosamente 1.184 km, aproximadamente. Para fazer esse trajeto, o vencedor usou um Audi R-18 novinho em folha com um maravilhoso V-6 turbodiesel conectados as rodas traseiras e um par de motores elétricos nas rodas dianteiras. Juntos, entregam algo em torno de 820 cavalos. Esse motor, nesse carro, preparado para rodar uma corrida sem parar por 6 horas e pesando 900 kg, fez sua volta mais rápida em 1’40″839.
A Mercedes de F1 com seu modelo W06 Híbrido, no mesmo Silverstone, pesando 702 kg, para uma corrida que pode parar a cada 306 km para descanso-ajustes-lubrificação (considerando que o motor dura 5 corridas), percorre a mesma volta em corrida em 1’37.176. Pensando que a cada 10 kg de peso adicionados ao F1 o carro gasta mais 0s3 segundos na volta (dados da Lotus de 2014), é fácil concluir que a F1 hoje seria uma “GP2 do WEC” se tivessem o mesmo peso mínimo. Ou estariam em outra classe se fossemos usar a denominação do WEC.
É para se pensar. Se o WEC fosse disputado em corridas de 300 km? Seriam seus carros o ápice da tecnologia ou seus carros da classe LPM1 seriam o futuro da F1? Eles tem rodas cobertas, cockpit fechado…. Alguém já viu alguma dessas idéias passeando pela F1?
httpv://www.youtube.com/watch?v=kphK8cvbzy0
Para termos alguma discussão sobre a parte esportiva do campeonato de 2015 precisamos depositar algumas fichas na Ferrari. Hoje o time italiano é o que tem mais chance de incomodar a curto prazo o time alemão.
O time vermelho melhorou de 2014 para 2015? Para avaliar isso vamos ter que descartar a prova da China e analisar os dois primeiros GPs (Melbourne e Malásia). Por que descartar a China? Por conta da preservação de motores, Mercedes e Ferrari andaram tão devagar em corrida que foram mais lentos que em 2014. Pois bem, na média de Melboure e na Malasia, a Ferrari teve um tempo 1 segundo mais veloz na sua volta mais rápida de seu carro mais veloz. A Mercedes conseguiu ser 1s15 mais veloz. Isoladamente o ritmo em uma volta rápida ainda apresenta um vantagem significativa da Mercedes. Mas surge a variável que a Ferrari melhora significativamente, ela fica mais próxima dessa faixa de tempo por mais tempo que a Mercedes.
Como a Mercedes contornou isso na China? Simples, andou mais devagar. Andou no ritmo da melhor volta da sua concorrente. É um ritmo mais lento que seu potencial. Em Melbourne a diferença entre melhores voltas da Mercedes e da Ferrari ficou na casa de 0s5. Na Malásia, 1s5 e na China caiu para 0s8. Não tão rápidos, mas economizando pneus. Economizando pneus, ficam longe de estrategias ousadas de seus concorrentes e garantem o fim-de-semana. Podemos apostar algumas fichas que se Vettel entrasse na zona de ativação do DRS, os prateados acelerariam o passo.
httpv://www.youtube.com/watch?v=jIOSyDqFW-w
Por isso tudo, não chore Rosberg, são só negócios! Tudo para manter o 1-2 no final da prova.
Fora da dupla Mercedes e Mclaren, quem vem em recuperação é a Red Bull. Está se entendendo com o carro e tirando erros dos pilotos, apresenta um ritmo de corrida muito bom. Kyviat ainda paga o preço da inexperiência, mas Ricciardo apesar de ter problemas em acertar o carro, vem se recuperando.
A Williams ainda sozinha como terceira força, já vê a Red Bull chegar e ser uma ameaça. Se não atualizarem direitinho o carro para a prova de Barcelona, ficarão para trás.
A Lotus pode voltar a surpreender e veio brigar com Sauber e Toro Rosso no meio do pelotão. O problema é a dupla de pilotos. Incrível, mas a dupla da Toro Rosso já prova ser uma melhor escolha do que manter Maldonado e Grosjean. Na Sauber, sem patriotismo algum, a equipe conta com um carro só. Marcus tem provado que não está no mesmo nível do brasileiro recém chegado. Um novato que se impões não é bom para a carreira do Sueco.
A turminha novata da Toro Rosso vem bem. Max vem melhor depois de uma corrida apagada e cheia de erros de Sainz Jr. Resta saber se a Renault não entrega pontos preciosos pelos ares.
E a Force India? Para frente que se anda? Parece que não, o carro foi feito com o que sobrou de dinheiro da equipe. Vai sobreviver em 2015 e torcer para chegar ao fim do campeonato. A única certeza é que vamos passar o ano lamentando a ausência de Nicolas “Nico” Hülkenberg em um carro de ponta.
Na turma do fundão nada muda. McLaren continuará lá na rabeira até, no mínimo, Barcelona. A meta é chegar até o fim da corrida com os dois carros. Ironicamente é a mesma meta da Manor-Marussia. Que fase triste para os dois times. A diferença é que a McLaren tem condições financeiras e dois pilotos campeões do mundo pra sair do buraco. O que esperar da Manor? Um comprador?
Hülkenberg e um carro de ponta na F1 pode ser mais uma história sem final feliz na F1. Sem sentimentalismo barato, já vimos algumas promessas naufragarem, outros com sucesso efêmeros, mas sempre fica aquela ponta de dúvida e o famoso “E se…”. Mas a vida existe fora da F1 e o jovem alemão conseguiu uma vaga na Porsche para disputar as 24 Horas de Le Mans. Talvez seja nossa melhor oportunidade para ver o piloto disputando uma corrida de forma competitiva.
Circuito: Bahrain International Circuit
Voltas: 57
Comprimento: 5.412 km
Distância: 308.238 km
Recorde da Pista: 1:31.447 – P De la Rosa (2005)
Programação
Sexta-Feira: 8h00 – 1º treino livre e 12h00 – 2º treino livre
Sábado: 9h – 3º treino livre e 12h – Classificação
Domingo: 12h – Corrida
O que podemos esperar para essa infeliz prova no deserto é que dê menos sono que a prova da China, uma prova que entrou para história com uma das piores da Terra.
Pois é, mais uma vez, Bahrein!
Boa corrida para todos nós!
Abraços, Flaviz Guerra – @flaviz
5 Comments
O WEC realmente apresentou uma corrida muito melhor que a da F1.
Com um formato mais atraente, corridas mais curtas, talvez pudesse realmente tomar o lugar da F1 como ápice do automobilismo.
Lembro quando, na época do Max Mos lei, as montadoras ameaçaram criar uma categoria própria. Talvez o WEC seja a melhor oportunidade de livrarem-se dos grilhões do Bernie.
Vamos ver o que o GP do Bahrein reserva para este fim de semana.
A idéia de realizar a corrida a noite é a mais acertada. O mesmo deveria ser feito nos GPs da Malásia e da China!
Quanto a corridas curtas no WEC, já imaginei isso também. Inclusive cheguei a comentar em um site, esta semana mesmo, que um campeonato com os carros e regras do WEC em corridas de até 2 horas teriam tudo para ganhar a atenção do público. Pois o que “espanta” um pouco a audiência da WEC é justamente o fato de serem corridas de longa duração.
Olá amigos,
ano passado o GP do Deserto acabou surpreendendo todo mundo pela carreira que foi e bem lembrada pelo Flavis … mas este ano acho meio complicado … a não ser que o Raikkonen engrosse pra cima do Vettel … pelo 3º lugar no pódium … infelizmente ainda podemos contar comas Willians brigando tete a tete com a Ferrari …
Se vai dar Hamilton ou Rosberg saberemos no domingo mas 1-2 da Mercedez na prova é pule de 10 …
Fernando Marques
Niterói RJ
É por estas que eu fico feliz ao perceber que minha encomenda da lotus 78 do Peterson em escala 1/20 chegou e posso namora-la por muito tempo!
Lewis campeão fácil este ano, como já foram Vettel, Schumacher, Prost, Mansell, Andretti, Stewart, Clark e Fangio.
Quem sabe algo muda essa nossa fatídica rotina.
Bom GP a todos.
Como sempre, uma ótima coluna!
Sinceramente, espero que a Ferrari incomode muito a Mercedes. Infelizmente, no momento é a única salvação do campeonato (A McLaren continua trilhando o caminho que eu não gostaria de estar vendo. E a Williams? bom, e a Williams… difícil esperar algo melhor no momento que um 3º lugar). Fazer o que, é o que temos pra janta, ou melhor, para o almoço de domingo.
Abraços!