BRASILEIRO É MAL-ACOSTUMADO

GP da Itália
15/09/2002
Massa, McLaren e IRL
20/09/2002

Edu,

A reação de alguns leitores a certas notícias e particularmente à sua carta do último domingo reforça algo que sempre reparei: brasileiro não sabe conviver com críticas.

Cerca de 90% das cartas que recebemos desde o último domingo foram no sentido de cobrar de nós um apoio irrestrito a Barrichello e considerando absurda a sua opinião sobre a vitória do brasileiro. É impressionante como se confunde discordância com inimizade ou declaração de guerra. Uma dessas manifestações tinha somente duas frases, sendo uma delas “vocês são f….” (o leitor mandou assim mesmo, não estamos censurando nada).

Se houvesse um conta-giros para medir a reação das pessoas, o ponteiro ficaria em apenas duas posições: no batente do instrumento ou no pico da faixa vermelha do mostrador. Não haveria escalas. No começo do ano, Barrichello era motivo de chacota em praticamente todas as manifestações que recebemos (para comprovar isso, basta ler as cartas enviadas por nossos leitores depois do GP do Brasil). Nossas colunas foram das poucas que anunciavam aquilo que estava diante dos olhos de todos: o brasileiro estava prestes a fazer sua melhor temporada. Depois da corrida da Áustria, tudo mudou: criticar Barrichello ou emitir uma opinião que não fosse de apoio absoluto ao brasileiro virou quase um crime.

Definitivamente, não é fácil agradar à opinião pública. É por isso que nunca penso nisto quando escrevo.

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Lamento dizer, mas a carreira de Felipe Massa na F 1 parece estar caminhando para um final muito diferente daquele que você previu há alguns dias.

Um acidente como o que ele teve com Pedro de la Rosa em Monzaera a última coisa que poderia acontecer neste momento crucial. A TV não mostrou a batida, mas quando percebi o que havia acontecido tive a mesma sensação ruim de quando Roberto Moreno bateu com o Jordan no GP da Itália de 1991 – logo depois de ser despedido pela Benetton para dar lugar a Michael Schumacher. Moreno bateu logo nas primeiras voltas por causa de um problema numa pinça de freio, mas a razão do acidente era o mais irrelevante naquele momento. O brasileiro precisava muito de uma atuação convincente para mostrar que merecia continuar na F 1. Não conseguiu. Com Massa, foi a mesma coisa. A reação geral entre muitos colegas especializados é que sua imagem saiu mais chamuscada de Monza.

Confirmada a ida de Cristiano da Matta indo para a Toyota, Massa passa a ter uma batalha duríssima pelas outras vagas. Na Jaguar, só haverá lugar se Eddie Irvine sair. Nesse caso, Massa passa a disputá-la com Mark Webber, Enrique Bernoldi e outros menos cotados. Outro lugar disponível é na Jordan, que pode ter também o próprio Irvine, Takuma Sato ou o inglês Justin Wilson, campeão de F 3000 em 2001. E há ainda os dois lugares da Minardi, abertos a quem tiver mais dinheiro para comprá-los. Mas será que vale a pena?

Outro brasileiro considerado “voador”, o amazonense Antônio Pizzonia, encerrou o ano com bons desempenhos, mas sem ao menos uma vitória na F 3000. Também está sem rumo para o ano que vem. Se continuar como piloto de testes da Williams, já terá saído no lucro.

O automobilismo está a cada dia mais cruel com os jovens promissores. Antes, ser campeão de F 3 (especialmente do Campeonato Inglês) ou de F 3000 era quase garantia de uma vaga na F 1 na temporada seguinte. Hoje, se a tal vaga não pintar imediatamente, o risco de se perder na poeira é muito grande. As vagas na F 1 são poucas e existem hoje menos categorias de elite do que no passado.

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A CART, que nos últimos anos abrigou muitos “exilados” do automobilismo europeu, está prestes a morrer de inanição. Comenta-se que apenas 8 carros estão confirmados para 2003. Não é para menos que ninguém aposta na sobrevivência do campeonato da CART.

Aconteceu aquilo que 99% dos entendidos (inclusive eu) considerava impossível no começo de 1996. Tony George, dono do autódromo de Indianapolis e criador da Indy Racing League, está atingindo sua meta de acabar com a CART.

Abraços,

LAP

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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