Não importa a situação que Max Verstappen enfrente na temporada 2023, que o neerlandês parece pronto para resolver a questão. Ele largou em nono em Miami? Sem problemas, Max foi lá e cravou todo mundo. Choveu duas vezes em sua casa? Verstappen definiu tudo e venceu em Zandvoort. Em Monza, Max teve que enfrentar a torcida da Ferrari, que lotou Monza e tinha esperanças de que Carlos Sainz pudesse fazer frente à Verstappen, contando com a ajuda de Charles Leclerc.
O que aconteceu? Max ficou impassível na segunda posição, esperando os pneus de Sainz se desgastarem e bastou uma ligeira escorregadela do espanhol para Verstappen efetuar a ultrapassagem vitoriosa e caminhar rumo a décima vitória consecutiva na F1, quebrando mais um recorde na categoria.
Se antes Max Verstappen quebrava recordes de precocidade, agora consegue recordes históricos.
Um ano após a triunfo de Felipe Drugovich na F2, o Brasil viu mais um jovem talento nacional vencer em pistas internacionais. Gabriel Bortoleto estava dentro do seu carro nos boxes de Monza quando veio a confirmação do seu título da F3. Bortoleto não fez um campeonato com vitórias consecutivas, mas usou a inteligência e principalmente a consistência para conquistar o campeonato logo em sua estreia na F3, algo bastante apreciado pelos chefes de equipe da F1. Sem contar que Bortoleto tem a providencial ajuda de Fernando Alonso como manager.
Logicamente que com o título, vem logo a pergunta: para onde irá Gabriel Bortoleto em 2024? O caminho natural seria a F2 ou a entrada numa vaga das academias de F1. Bortoleto tem o seu belo currículo e o agenciamento de Alonso (que deve abrir muitas portas) para seguir sua caminhada rumo a F1 e já fica a torcida de todos para que o jovem consiga seu objetivo.
Corridas de motos são bem mais perigosas do que de carros por motivos óbvios. O piloto pode cair a qualquer momento da moto e está totalmente exposto no instante da queda. Uma semana depois da tragédia que se abateu no Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, a MotoGP viveu momentos de altíssima tensão numa situação parecida nesse domingo: uma queda na primeira volta. E a vítima foi o atual campeão Francesco Bagnaia, que foi ejetado de sua Ducati na curva 2 de Barcelona e ao ficar no meio da pista, acabou atropelado por Brad Binder, principalmente nas pernas. Milagrosamente, Bagnaia saiu do hospital de Barcelona andando (mesmo que de muletas) e sem nenhuma fratura. Deus seja louvado!
Voltando vinte e sete anos no tempo, um Alex chegava à América querendo refazer sua carreira após um período irregular na F1, apostando numa equipe que tentava se estabelecer na Indy. Zanardi marcou época com suas vitórias emotivas e seus donuts após os triunfos. Um segundo Alex chegou à América após uma carreira titubeante na Europa a ponto de leva-lo ao Japão e ser indicado pela Honda como um grande talento. Não demorou muito para Palou mostrar todo o seu talento na Indy e ao chegar na Ganassi, a mesma equipe que Zanardi apostou no final dos anos 1990 e se tornara uma gigante no automobilismo americano, o espanhol conquistou o bicampeonato nesse domingo, repetindo o feito de Zanardi vinte e cinco anos atrás.
Palou pode não ter o carisma de Zanardi, mas o espanhol tem um talento grandioso e é mais frio que o quente Zanardi dentro das pistas. Já fora das pistas… os constantes problemas que Palou vem se metendo em cima de contratos feitos e quebrados pode lhe causar danos que afetem seu desempenho nos anos vindouros. Com um grande talento, Palou precisa de equilíbrio para que siga mostrando sua capacidade.
Conta a lenda que nos anos 1980, quando a Ferrari sofria de um jejum aparentemente mais profundo que o atual, os italianos colocavam motores ilegais nos carros durante os treinos em Monza para impressionar os tifosi e lotar as arquibancadas para o resto do final de semana. No sábado a Ferrari impressionou a todos ao colocar Sainz na pole, interrompendo brevemente o domínio avassalador da Red Bull em 2023, promovendo belas imagens com a festa ferrarista com certeza. Porém, a linguagem corporal de Sainz e Verstappen nas entrevistas demonstrava que no domingo a situação seria bem diferente.
O sol apareceu com força em Monza no domingo, ao mesmo tempo que dava um banho de água gelada nos tifosi. Por mais que estivesse bem posicionado, Sainz sabia que seus pneus teriam ainda mais dificuldades no calor, deixando a vida de Max Verstappen ainda mais tranquila, bastando o neerlandês usar a cabeça. A largada em Monza foi tranquila, talvez ainda resquícios do que acontecera na MotoGP uma hora antes, com praticamente todos os pilotos se comportando e mantendo suas posições. Com Russell mantendo Pérez em quinto, os três primeiros rapidamente se destacaram, com o trio Sainz, Verstappen e Leclerc andando bem juntos. Era nítido como quatro dividido por dois são dois que a ultrapassagem de Max era questão de tempo, mas Verstappen teve que usar algo que ele não gosta muito: a paciência. Agressivo por natureza, Verstappen não demorou a ir para cima de Sainz com toda a força do seu Red Bull, mas Sainz não entregou a rapadura facilmente, enquanto Leclerc apenas observava de perto, talvez esperando que um entrevero entre os dois lhe entregasse uma vitória no colo. Verstappen se acalmou e esperou quinze voltas. Os pneus de Carlos iam ficando cada vez mais desgastados e Max esperou um erro de Sainz na freada da primeira chicane para que o espanhol saísse menos embalado e Verstappen ficasse por fora no Curvone, mas por dentro da chicane Della Roggia. Simples e cirúrgico. Max efetuou a ultrapassagem e não demorou três voltas para ter mais do que suficientes 3s para administrar a corrida até a bandeirada.
Contudo, a corrida estava longe de estar terminada atrás de Max. Leclerc se aproveitou do desgaste maior que Carlos teve que colocar em seus pneus e partiu para cima do seu companheiro de equipe, até porque Pérez já havia ultrapassado Russell e se aproximava das duas Ferraris. Numa corrida onde os dez primeiros colocados pararam apenas uma vez, a estratégia não fez muita diferença e no longo segundo stint a Ferrari teria que enfrentar outra Red Bull, mesmo que sendo a mais fraca. Pérez capinou bem mais do que Max, que só teve que ultrapassar uma Ferrari, mas o mexicano fez dele o que se espera. Pérez forçou, saiu da pista algumas vezes, choramingou via rádio, mas efetuou as duas ultrapassagens que renderam mais uma dobradinha à Red Bull, continuando a já inacreditável sequência da equipe austríaca, com vinte e quatro vitórias nas últimas vinte e cinco corridas, sem contar que 2023 o time permanece invicto, com Verstappen contabilizando impressionantes doze vitórias, sendo dez consecutivas, quebrando o recorde do outro dominador da equipe, Sebastian Vettel.
Leclerc ainda tentou uma segunda pressão em cima do seu companheiro de equipe, chegando a efetuar a ultrapassagem, mas ao errar, o monegasco tomou o troco. Nas últimas voltas Frederec Vasseur respirou fundo, temendo um vexame dos seus dois pilotos em Monza, mas no final Sainz conseguiu segurar o ímpeto de Leclerc e numa corrida onde olhou mais para o retrovisor do que para frente, o espanhol garantiu o seu primeiro pódio do ano. Russell fez uma corrida solitária após ser ultrapassado por Pérez, mesmo que colocando Ocon para fora ao sair dos boxes, a prova do inglês foi bem tranquila. Já Hamilton tentou uma tática diferente ao largar com pneus duros e fazer um primeiro stint mais longo, provavelmente tentando colocar pneus macios no final, mas ao perceber que estava perdendo muito tempo, a Mercedes antecipou a parada e colocou a borracha médio no carro do Lewis, que como não poderia deixar de ser, reclamou da estratégia escolhida pela equipe. Se não for blefe, a visão de corrida de Hamilton chega a ser pífia, pois o heptacampeão tinha um ótimo ritmo no stint final, inclusive recebendo uma punição num toque com Piastri, onde os dois saíram da pista, mas o australiano da McLaren acabou se dando mal ao quebrar a asa dianteira, só que Lewis acabou abrindo os 5s para manter a sua posição. Hamilton ainda superou a Williams de Albon e sua temida velocidade final para ser sexto, mesmo que bem longe de Russell. Albon ficou claramente sem pneus nas voltas finais e foi bastante atacado, mas o tailandês só perdeu uma posição para Hamilton, segurando a sétima posição dos ataques de Norris, que teve que se conformar com a oitava posição.
Num final de semana bem ruim da Aston Martin, Alonso ficou num opaco nono lugar, enquanto Stroll sequer se aproximou da zona de pontuação. Praticamente contando com apenas um piloto, a Aston Martin já caiu para quarto no Mundial de Construtores, enquanto Felipe Drugovich é apenas reserva na equipe. Quando Piastri foi aos boxes trocar a asa dianteira danificada, Logan Sargeant entrou na zona de pontos, o que poderia acabar com o jejum de pontos do americano, contudo, Logan já tinha Bottas nos seus calcanhares e ele não resistiu ao ataque da Alfa Romeo, que terminou nos pontos, após longo tempo sem pontuar. Após um pódio em Zandvoort, a Alpine esteve em lugar nenhum em todo o final de semana italiano e ainda viu Ocon ser o segundo abandono do dia, se juntando à Tsunoda, que encostou seu Alpha Tauri ainda na volta de apresentação com o motor quebrado, atrasando um pouco a largada.
Se havia um lugar que todos esperavam que a Red Bull fosse derrotada, era em Monza. Mesmo o motor Red Bull/Honda debitando muita potência, o circuito relativamente simples e de pouca dependência aerodinâmica poderia diminuir a maciça diferença dos austríacos frente aos demais. A pole da Ferrari no sábado deu até ligeiras esperanças de que a dupla Sainz e Leclerc repetisse o feito de 1988, mas tudo não passou de um sonho de verão na idílica Itália.
Mesmo tendo um pouco mais de trabalho nesse domingo, Max Verstappen não deixou de vencer mais uma corrida em 2023, quebrando mais um recorde, enchendo as mãos de vitórias e sua recente forma nada indica que o neerlandês parará na décima vitória consecutiva. A Red Bull tem o melhor carro disparado e mesmo fazendo uma temporada mezzo mezzo Pérez vai aos poucos se consolidando como o vice-campeão. E a Red Bull tem o melhor piloto. Max Verstappen vai nos mostrando um verdadeiro recital de como massacrar a concorrência sem dó.
Abraços!
João Carlos Viana
4 Comments
Nunca me arrependo de passear por aqui. Excelente semana a todos.
Verstapen este ano tá avassalador além do seu carro que é impecável
Excelente matéria, parabéns.
JC Viana
Gostei do GP de Monza esse ano … se tinha alguém na Formula 1 que poderia fazer essa corrida menos chata que as anteriores, esse alguém era Ferrari … e a Ferrari fez isso … Sainz e Le Clerck certamente usaram muito pouca asa … as Ferrars estavam um foguete nas retas e a meu foi isso que segurou o Holandes por 15 voltas … nem de asa aberta ele conseguia passar o Sainz na reta … o erro” do Sainz que permitiu Verstappen assumir a ponta foi mais pelo desgaste dos pneus que erro em si … o espanhol deu um show de pilotagem …
o duelo entre Peres e Sainz e o proprio duelo Sainz e Le Clerck fizeram da Ferrari esse alguém diferente para o GP da Italia ter sido um dos 3 melhores desta temporada até agora .
Na Moto GP o Bagnaia deu muita sorte em todos os sentidos … cair na frente de trocentas motos deve dar um desespero daqueles … ele saiu no lucro … Amem!!!
Gabriel Bortoleto … mais um brasileiro brilhando nas categorias de base … campeão na Formula 3 … mas quando um brasileiro vai ter realmente uma oportunidade de mostrar seu talento na Formula 1 … só Deus sabe …
Fernando Marques
Niterói RJ