Apesar de planejada muitos anos atrás, a coluna Em busca da ultrapassagem perfeita foi, claro, escrita às pressas e sujeita, portanto, aos percalços próprios da situação, com os esquecimentos e distrações de praxe. Me arrependo, acima de tudo, de não ter considerado um quinto item de avaliação, para a beleza da ultrapassagem. Ok; os demais quatro itens podem até levar em conta a plasticidade da manobra mas não totalmente. Uma ultrapassagem pode ser inventiva, rápida, corajosa e hábil porém feia. Mas… a coluna já foi ao ar e, pra mim, é como se estivesse impressa na pedra; não se pode altera-la. Isso, porém, não me impede de voltar ao tema e comentar mais algumas grandes ultrapassagens, a partir de lembranças tardias e sugestões recebidas dos amigos leitores e dos colegas aqui do GPTotal, principalmente o Márcio Madeira. Vamos lá: Mansell x Piquet – Silverstone 87 Quando se aproximou de Piquet, não havia nada que o brasileiro pudesse fazer, tanto mais numa pista larga como um aeroporto como Silverstone. O tal drible final sempre me pareceu um brilhareco barato.
Mansell x Senna Espanha 91
Prost x Senna – Portugal 88 Ayrton Senna sabia ser duro, quase desleal, quando queria. O que se vê aqui é tanto uma ultrapassagem corajosa de Alain Prost como, na via oposta, algo próximo de uma tentativa de homicídio, que rivaliza com Rubinho x Schumacher na Hungria 2010. Em defesa de Senna, diga-se que ele deve ter se irritado com a tentativa de aperto de que foi vítima na largada e também que ele se desculpou com Prost depois da prova…
Senna x Prost – Japão 88 Aqui, vemos o troco de Prost, com o atenuante de que não havia um muro do outro lado… De se registrar que Prost tinha problemas graves de câmbio, o que permitiu a Senna descontar uma grande vantagem do francês.
Peterson x Depailler – África do Sul 1978 Vale mais pelo conjunto da obra, o fato de ser a última volta da corrida e também pelo controle do sueco (seu carro obviamente também devia estar no osso) do que pela ultrapassagem em si.
Schumacher x Hill – Portugal 95 A aproximação de Michael Schumacher é tão mortífera que sugere uma distração de Hill já que, pela baixa velocidade, era fácil defender-se da ultrapassagem.
Villeneuve x Schumacher – Portugal 96 No entanto, considero que a ultrapassagem de Jacques Villeneuve só se tornou possível porque executada numa velocidade inferior à normal. Suspeito que o Ferrari teve alguma falha de motor ou câmbio ou então Schumacher cometeu um pequeno erro que o fez entrar na curva um pouco menos veloz. Caso contrário, nem Villeneuve conseguiria segurar seu Williams por fora, nem Schumacher o Benetton por dentro.
Zanardi x Herta – Laguna Seca 1996 Uma merecida exceção à regra de só comentar ultrapassagens na Fórmula 1. O mesmo impulso que moveu Juan Pablo Montoya em Interlagos 2001 move Alex Zanardi nesta ultrapassagem clássica mas extrema, talvez a mais extrema de todas já vistas, a ponto de sugerir um milagre pela forma como o italiano conseguiu segurar seu carro, tanto mais por ser praticamente a última curva da última volta da corrida, com freios e pneus já bem desgastados.
Alboreto x Mansell e Alboreto x Prost – Mônaco 1985 A primeira ultrapassagem está logo no primeiro minuto do vídeo e é belíssima, como tende a ser qualquer ultrapassagem em uma corrida numa sala de jantar, tanto mais se você estiver pilotando uma besta-fera, com uma potência que mal podia ser medida, câmbio manual e o tanque de gasolina cheio até a boca (era a abertura da segunda volta). Na teoria, a tomada da St Dévote é um ponto de ultrapassagem mas concretiza-la é sempre uma manobra extrema porque a pista é estreita e não perfeitamente reta. As dificuldades para segurar o Ferrari na aproximação da curva falam por si. Uma grande manobra, que rendeu o 2º lugar na corrida a Alboreto, que depois assumiu a liderança com o abandono de Senna.
Mas o italiano é atrapalhado pelo assustador acidente quando Nelson Piquet tentou passar Riccardo Patrese na tomada da St Dévote (aos 2m40 do vídeo) e perde a liderança para Alain Prost. Endiabrado, Alboreto parte em perseguição e retoma a liderança com outra bela ultrapassagem na St. Dévote (aos 4m de vídeo), desta vez por fora. Valoriza a manobra a defesa da posição por Prost e a rapidez de reflexo do italiano, inventando um caminho novo. Sensacional!
Incrivelmente, Alboreto tem algum problema, para nos boxes, volta e recupera mais uma posição na mesmíssima curva, recuperando o segundo lugar à custa de Elio De Angelis. Mas nem era necessário: a aula já estava completa. Rubinho x Kimi e Rubinho x Schumacher – Silverstone 2003 Mais tarde, na mesma curva, Rubinho passou por Ralf (2 minutos do vídeo) de um jeito totalmente diferente, ficando por dentro na primeira perna da curva e tomando a posição na segunda perna. E teria mais: Rubinho retoma a liderança de Kimi na saída da Bridge, numa manobra clássica mas muito corajosa (3m30 do vídeo).
Jones x Prost – Hockenheim 81 Ele largou em 4º e, na volta 5, chegou à vice-liderança, partindo atrás de Alain Prost, pilotando um Renault. O desempenho dos carros era quase que idêntico, Prost ligeiramente mais rápido nas retas, Jones com o carro mais estável nas curvas. Foram treze voltas e várias tentativas até realizar a ultrapassagem, belíssima, corajosa e extremamente inventiva, Prost tendo sido ligeiramente atrapalhado por um retardatário, seu companheiro de equipe, René Arnoux. A velocidade que Jones chega à curva é espantosa.
Provavelmente voltarei ao tema no futuro próximo para examinar casos como Senna x Alesi, no Canadá 93, Piquet x Villeneuve, no Rio 82, Mansell x Berger, na Hungria 90, Senna x Mansell, na Espanha 86, Piquet x Mansell, em Monza 86, Mansell x Prost, em Mônaco 91, Capelli x Patrese, em Spa 88 e Laffite x Johansson, em Mônaco 86. Agradeço mais sugestões e links. Uma boa semana a todos Eduardo Correa |