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As vitórias consecutivas e com ampla vantagem nos últimos dois anos davam a sensação de que Max Verstappen nem suava o seu macacão após 305 quilômetros e que os magníficos modelos projetados por Adrian Newey era o principal fator para os triunfos do neerlandês. Não se pode negar o fato de que Verstappen tem o melhor carro na sua mão, mas nesse final de semana Max demonstrou que tem uma reserva técnica que pode fazer a diferença entre a vitória ou a derrota.

Ao contrário da grande maioria de suas vitórias, onde parecia que tinha um script pronto até a bandeirada, Max Verstappen teve que se desdobrar no sábado e no domingo em Ímola para vencer pela quinta vez em 2024.

Quando projetou um carro completamente diferente do ano passado, Newey sabia que o novo modelo poderia ter vulnerabilidades em determinados momentos, por se tratar de um conceito totalmente novo. O RB20 parecia mais dominador do que seu antecessor, mas também vem se mostrando mais inconstante, fazendo com que o talento gigantesco de Max Verstappen aparecesse, como nesse final de semana.

Já nos treinos livres a Red Bull não estava tendo um final de semana ‘normal’, com Max e Checo reclamando do carro, além de Ferrari e McLaren tendo dominado as três sessões livres. Correndo em casa e com grandes atualizações no carro, a Ferrari parecia ser o time a ser batido, mas a McLaren vinha embalada pela vitória de Lando Norris na quinzena passada em Miami e estava ainda mais forte.

Faltou combinar com Max Verstappen. A Red Bull melhorou no sábado, mas não a ponto de dominar e Pérez ficou fora do Q3, porém, Verstappen foi lá e mostrou que é o melhor piloto da atualidade, batendo a dupla da McLaren por muito pouco (o segundo colocado Piastri acabou punido) e fazendo a diferença pela primeira vez no final de semana. Como Alonso falou no sábado, Ímola hoje é a segunda pista mais difícil de se ultrapassar no atual calendário da F1 e como no principado, a classificação se mostraria primordial para a corrida.

E ter largado na ponta fez muita diferença para Verstappen.

Antes da largada deste domingo, Sebastian Vettel foi à Ímola com uma missão para lá de especial. Com o McLaren MP4/8 que pertencera à Ayrton Senna em 1993, o alemão deu voltas com o belo carro na pista onde o brasileiro perdera a vida pouco mais de trinta anos atrás, emocionando a todos no circuito com a bela homenagem prestada ao inesquecível tricampeão. Para completar, Vettel também não esqueceu de Ratzenberger, usando uma bandeira austríaca.

Como não amar Sebastian Vettel?

A prova deste domingo em Ímola, em boa parte, foi de dar sono. A realidade é que o circuito de Ímola parece ter ficado pequeno demais para os grandalhões carros da atual geração da F1. Numa pista desafiadora, mas estreita, ultrapassar se tornou um artigo de luxo no Grande Prêmio da Emília Romanha. Atacar na largada? Observando o strike na corrida Sprint da F2, arriscar na entrada da variante Tamburello não parecia uma boa ideia e por isso os pilotos da F1 foram bem cuidadosos na largada, iniciando o que parecia ser uma longa procissão na bela paisagem emiliana-romanhola.

Verstappen manteve a primeira posição na largada e rapidamente escapou do 1s que ativaria o DRS a favor de Lando Norris, com o piloto da Red Bull usando muito bem os pneus médios. Norris não tinha maiores problemas em segurar a dupla da Ferrari, enquanto Oscar Piastri, punido por ter atrapalhado Kevin Magnussen na classificação, tentava ataques em cima de Sainz. A dupla da Mercedes já vinha longe e Sergio Pérez iniciava seu calvário em Ímola. O desgaste de pneus seria um fator em Ímola e as primeiras paradas não tardaram a acontecer, inclusive mudando algumas posições para quem resolveu esticar o primeiro stint. Numa pista estreita e cercada de caixas de brita, era esperado entradas do Safety-Car, mas Bernd Maylander assistiu tranquilamente a prova em Ímola no visor do seu carro, não tendo nenhum trabalho na tarde italiana.

A Ferrari talvez esperasse por alguma intervenção que nunca veio e deixou Sainz mais tempo que o necessário na pista, fazendo o espanhol perder a posição para Piastri, que esboçou um ataque em cima de Leclerc. O monegasco aumentou seu ritmo e de atacado, passou a atacar Norris, chegando a ficar 1,5s atrás do piloto da McLaren, mas como normalmente acontece com Charles em momentos de pressão, um ligeiro erro do ferrarista fez com que Lando escapasse. E passasse a olhar para frente. Mais especificamente para Max.

Com 7s de vantagem após a única rodada de paradas dos líderes, tudo parecia azul como o mar de Jeri para Verstappen, mas os pneus duros não tiveram o desgaste esperado para Max e o neerlandês viu seu desempenho despencar nas voltas finais. Livre de Leclerc, Lando Norris aumentou o ritmo e cuidando melhor dos pneus, o inglês fatiou toda a diferença que tinha para Verstappen, iniciando os mais tensos finais de corrida da F1 nos últimos meses. Verstappen rogava pela bandeirada, enquanto se segurava com os pneus no bagaço, a bateria no fim e retardatários lhe atrapalhando. No caso, por ironia do destino, quem mais lhe atrapalhou foi o apagado Daniel Ricciardo. Norris claramente tinha mais carro, mas Verstappen usou todo o seu gigantesco talento para resistir à pressão de Lando e garantir mais uma vitória para ele, a terceira em Ímola.

Apenas sete décimos atrás de Max, Lando Norris mostrou que a sua vitória em Miami não foi circunstancial. A realidade foi que a McLaren deu outro grande salto de desenvolvimento e não apenas atropelou a Ferrari, como se aproximou definitivamente de Verstappen, mas como dito anteriormente, o neerlandês ainda tem reservas técnicas para se segurar. Se não fosse o primeiro stint, onde Verstappen abriu uma diferença decisiva ao largar na ponta, talvez o resultado seria bem diferente na bandeirada.

Correndo em casa, a Ferrari decepcionou com suas esperadas atualizações a deixando praticamente no mesmo lugar. Menos mal para a turma de Maranello é que o ritmo de corrida da Ferrari não é tão inferior assim, com Leclerc chegando a dar um calor em Norris e no final, com todo mundo no limite, Charles estava num ritmo próximo dos líderes, mesmo que longe fisicamente. Contudo, não se pode ignorar que Leclerc vacilou na mesma Variante Alta que fez Charles perder a corrida para Verstappen em 2022, agora deixando Lando escapar. Sainz, atrapalhado pela tática da Ferrari, fez uma corrida opaca para ser quinto, superado por Piastri. Relegado ao quinto lugar no grid após a punição na classificação, o australiano tinha um ótimo ritmo, mas sua posição em pista não permitiu a Piastri um resultado melhor do que a quarta posição.

Também com atualizações, a Mercedes chegou a andar bem nos primeiros treinos livres, mas na hora para valer, o time de Toto Wolff permaneceu como a clara quarta força do campeonato, longe da Ferrari e longe dos demais. Russell e Hamilton andaram sozinhos praticamente o tempo todo, mesmo que Hamilton cometesse um erro quando estava prestes a liderar uma corrida pela primeira vez em 2024, mas acabou tendo que ir aos boxes depois de sair da pista. Se quiser seduzir Max Verstappen para 2025 e além, a Mercedes terá que usar outros argumentos além do desempenho nesse momento.

Sergio Pérez fez uma corrida que lembrou seus piores momentos de 2023. Após uma classificação ruim, o mexicano se viu preso no tráfego em Ímola e ainda saiu da pista na Rivazza, complicando sua situação que já não era boa. A Red Bull esticou ao máximo o stint de Checo, rezando por um SC que nunca veio, enquanto Pérez era ultrapassado por quem chegava nele, perdendo um tempo que o deixou mais de 20s da dupla da Mercedes. O oitavo lugar de Pérez significou a perca da vice-liderança do campeonato para Leclerc e para piorar, Norris está colado nele e com a confiança em alta. Novamente, nesse estágio da temporada, a cabeça de Pérez começa a desandar e nunca devemos nos esquecer que seu contrato ainda não está renovado para 2025 em diante. Com o seu líder nas profundezas da classificação em um final de semana irreconhecível de Fernando Alonso, a Aston Martin ficou errante no pelotão, com Stroll emulando a estratégia de Pérez, acabando por terminar em nono, superando alguns carros no final por ter pneus em melhores condições.

Mais uma vez Tsunoda liderou o pelotão intermediário, mesmo não largando bem. O nipônico fez uma corrida sólida, se consolidando com um dos melhores pilotos de 2024, além de colocar semanalmente Ricciardo em situações complicadas, pois o australiano simplesmente não consegue acompanhar Yuki, ficando fora da zona de pontuação.

Nico Hulkenberg sonhou com os pontos, mas acabou atropelado pelos melhores pneus de Stroll no fim e ficou em 11º, logo à frente de Magnussen, andando com enorme cuidado para não ser punido mais uma vez e por consequência acabar suspenso, algo inédito nessa regra pontos na carteira da F1. A Alpine fez outra corrida medíocre, o mesmo acontecendo com Sauber e Williams, que viu o único abandono do dia com Alexander Albon, após o tailandês voltar do seu pit-stop com a roda solta.

No que parecia ser uma corrida modorrenta acabou se transformando numa prova de alta tensão no final, mesmo que vencedor tenha sido praticamente o mesmo dos últimos dois anos, mas não dá para negar que a Red Bull não tem o mesmo carro dominador do ano passado, com algumas vulnerabilidades que não se via em 2023, mas o braço de Max Verstappen supriu essa deficiência com uma vitória belíssima em Ímola.

Outro fato é que Lando Norris, tendo tirado o peso da primeira vitória, pode estar se tornando um rival real para Max. Muito provavelmente Max vença tranquilamente o título desse ano, mas em determinadas situações, Verstappen terá mais trabalho do que o imaginado para continuar vencendo.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    não sei se estou certo mas o circuito de Imola está muito mutilado e nem de perto chega aos pés do antigo traçado, que era mais desafiador (perigoso sim), que exigia mais dos freios, sempre trazia problemas de pane seca a maioria dos carros nas ultimas voltas … virou um circuito totalmente sem graça a não ser para os tifosis que sempre fazem a festa lá .

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. RAFAEL FRIEDRICH RUDOLF BRANDÃO MANZ disse:

    Como sempre um enorme prazer a leitura do GPtotal, Vida longa e próspera a todos os Gepetos e seres humanos em geral.

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