Chegamos ao final de semana de uma grande festa para a Mercedes. Corrida em casa, piloto liderando o mundial de pilotos, equipe liderando o mundial de construtores e aniversário de 125 anos disputando corridas. Para melhorar a festa, a Formula 1 vem de uma sequência de duas boas provas e da divulgação dos caminhos de um novo regulamento técnico.
A F1 volta a viver um bom momento e o GP da Alemanha inicia a dobradinha (junto com Hungria) que antecipa as férias de verão.
Hockenheim recebeu o Grande Prêmio da Alemanha pela primeira vez em 1970 e passou longos períodos como sede do GP alemão. Primeiro de 1977 a 1984 e depois entre 1986 e 2006. Logo depois a crise financeira chegou e foi costurado um acordo para alternar o evento com o Nürburgring.
Hockenheimring foi originalmente construído em 1939 como uma pista de testes de alta velocidade da Mercedes. Mas aí construíram uma Autobahn no meio da pista e um novo circuito teve que ser criado. “Aquele” Hockenheim, saudoso, com longas retas cortando a floresta. Ao longo dos anos, as chincanes foram adicionadas para melhorar a segurança, antes de passar por uma reformulação (ou eutanásia) completa no início dos anos 2000, com o novo layout estreando em 2002. Essa versão manteve reta principal, a primeira curva e última seção do estádio. E só.
Schumacher e Lewis Hamilton dividem o título de piloto de maior sucesso em solo alemão, quatro vitórias para cada multicampeão. No entanto, Schummy marcou todos os seus triunfos em Hockenheim, enquanto a vitória de Hamilton em 2011 veio em Nürburgring.
Na sequência, com três vitórias, uma longa listinha, incluindo Fernando Alonso, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Jackie Stewart e Juan Manuel Fangio.
Por equipes, a Alemanha fala italiano fluente. Ferrari venceu 21 corridas, marcando seu último triunfo com Fernando Alonso em 2012, numa prova que ele era muito mais rápido que Massa. Depois temos a Williams com nove canecos, seguida pela McLaren, com oito vitórias. Brabham conseguiu cinco vitórias, enquanto Mercedes e Lotus triunfaram 4 vezes. Os únicos outros vencedores repetidos são Tyrell, Benetton e Red Bull.
O forte verão europeu é a grande preocupação da Mercedes para essa sequência de duas provas. O carro alemão sofre com problemas de refrigeração e recebeu um bom pacote de atualizações para essa prova. A prova desse final de semana não deve ser o ápice de criticidade, mas a Hungria representa um desafio gigantesco. Ponto passivo, em Silverstone a equipe deixou mais clara uma preocupação que todos no grid tem: a Mercedes ainda não usou todo o seu potencial. Na prova anterior, o sacrifício de superaquecimento dos motores pra ganhar a prova não valeria a pena e ficaram nas posições que tinham. Deixaram os outros times brincar um pouco.
No time italiano, preocupações. Um carro bom mas que não vence corridas. Um piloto número 1 em uma espiral de apresentações erráticas que estão refletidas nas posições na tabela de classificação. Vettel perdeu a posição para Verstappen, vê o novato companheiro de equipe somente míseros 3 pontos atrás e está abissalmente 100 (esse vai por extenso: CEM) pontos atrás de Hamilton. A Ferrari tem carro melhor que esses dados representam, certamente a imprensa italiana vai cobrar essa conta do Tetracampeão.
Enquanto isso a Red Bull vai aproveitando seu ano de estreia com a Honda para fazer um campeonato competente. Finalmente Gasly mostra algum sinal de reação para mostrar um pouco da qualidade que o fez chegar nessa vaga. A comparação do jovem francês com a estrela mais promissora do grid é cruel, mas mesmo assim ele andava devendo. Ainda é um ano de transição para a Red Bull, a vitória trouxe confiança e podemos esperar um bom crescimento do time (e várias punições por troca de motores) na segunda metade da temporada.
Essa “economia de carro” é o pior mal desse regulamento. A F1 nunca deveria ser uma prova de endurance com duração de 7 finais-de-semana. É um tanto ridículo fazer uma temporada com 3 motores esperando o máximo de performance da categoria máxima do automobilismo.
Enquanto isso não é alterado, os times discutem com a F1 e FIA o novo regulamento para 2021. Há sinais promissores no horizonte. Um carro menos dependente dos aerofólios para ganhar pressão aerodinâmica e a volta do efeito solo como item obrigatório no desenho dos carros. Tudo isso na busca de mais perseguições entre os competidores.
Tudo muito bonito mas ainda é preciso resolver a distribuição de dinheiro e limite de custos para tentar colocar mais times em condições de disputa. Não custa lembrar, hoje um time como a Mercedes consegue trazer uma nova versão do seu carro (entre desenhar, testar, produzir e colocar na pista) em aproximadamente um mês e meio. A Williams, com 1/3 dos funcionários que a Mercedes tem no departamento de Engenharia, precisa de 5 meses.
No restante do grid, a guerra de desenvolvimento vai deixando “corpos” pelo caminho e trazendo renascimentos.
A Haas se perdeu de tal forma que o Grosjean está usando o carro na versão que foi pra pista na Austrália. Assim eles podem comparar com o carro atual e descobrir o que fizeram de errado. Um vexame. Nem precisamos falar da bagunça do patrocinador, não é mesmo?
Outra equipe que não se encontra é a Renault. A cada nova atualização, um passo atrás e mais um fim de semana de inconsistência. Ricciardo está contando o dinheiro pra não se arrepender e Hulkeberg caminha pra encerrar sua participação na F1. É preciso começar a mostrar resultados, esperar 2021 pra mostrar algo pode ser tarde demais.
Quem se aproveita disso é a Mclaren. Voltou pro arroz com feijão, um carro honesto, bons pilotos e terminou a reorganização do time depois do desastre dos anos com a Honda. Agora já está em 4º no campeonato, 21 pontos de vantagem para equipe de fábrica que lhe fornece motores. É um resultado expressivo.
Alfa e Racing Point são duas equipes que prometiam um pouco mais esse ano. Tinha, no papel, potencial para estar liderando o pelotão intermediário. Para essa prova a Racing Point trás uma nova carenagem, totalmente revisada e um carro um pouco mais leve no geral. Estão considerando como a primeira atualização significativa. A Alfa tem suas pistas especiais, mas ainda é muito inconstante. Sorte que contam com Kimi em um bom ano e o finlandês tem garantido pontos preciosos.
E obviamente, temos a Williams. As peças programadas, desenhadas e testadas, durante o inverno europeu estão chegando para o carro agora. E só no do Kubica. Vão testar direitinho pra fazer mudanças nos dois carros para Hungria. O time decidiu voltar para soluções convencionais e mais básicas. Faz sentido, não custa lembrar que o carro não foi para pista nos testes de Barcelona por ter sido considerado ilegal nas suas inovações feitas na suspensão.
Vencer em casa, em uma data tão festiva, seria a cereja do bolo para o time alemão.
O campeonato segue para essa definição prevista do hexa de Hamilton, por conta da grandiosa diferença que ele construiu nesse começo de temporada. Foram muitos pontos diluídos entre Bottas, Verstappen e Vettel.
Mesmo assim, a cada prova o equilíbrio de forças tem mudado e proporcionado boas provas tanto na frente quanto no meio do grid.
É um bom momento da F1, vamos aproveitar essa festa!
E você? Qual seu palpite para a corrida desse domingo?
Abraços,
Flaviz Guerra