Hamilton iguala Schumacher e Senna

Pista sem alma
02/12/2019
O fim
09/12/2019

O título desta coluna se refere não a uma opinião mas a um fato: no último GP da temporada 2019 (confira aqui  o texto de do nosso colunista JC Viana sobre a etapa)  Lewis Hamilton igualou dois números emblemáticos de Michael Schumacher e Ayrton Senna.

250

Quis o destino, por graça ou ironia, que Lewis Hamilton completasse exatamente 250 GPs nesta etapa de Abu Dhabi, 13 temporadas completas, sem jamais perder ou ficar de fora de algum GP. 250 é exatamente o número de GPs que Schumacher completava naquele inesquecível GP do Brasil de 2006 – alguma fontes divergem, considerando 249, porque no GP da França de 1996 o alemão teve seu motor quebrado na volta de apresentação. Sem sentido.

Assim, desconsiderando o retorno do alemão pela Mercedes – ironia, foi substituído por Hamilton –, os dois tiveram exatamente o mesmo número de participações em prova, ainda que Schumy tenha completado duas temporadas a mais (os números acabam ficando perfeitamente iguais porque até o início dos anos 2000 o calendário era de 16/17 provas.

Assim sendo, temos estes números:

De todas as estatísticas, a única em que Hamilton supera Schumacher é pole-postions (20 a mais), o que denota sua maior velocidade, algo já perceptível desde sua primeira temporada. Porém, isso também é facilmente explicado pelo perfil ascendente de Michael Schumacher (entenda melhor aqui). Nos outros aspectos, principalmente naqueles não traduzidos em números, Schumacher leva vantagem, a meu ver.

Muitas análises são possíveis, mas desta vez deixarei um vídeo em que discorro sobre o tema, deixando o meu voto neste duelo muito particular.

(me perdoem a cara feia, pessoal).

19

Uma das melhores definições que já li sobre o fantástico Jim Clark foi escrita por Homero Benevides, um dos grandes nomes do FORIX: “(o que impressionava) não era quanto ele vencia, mas sim como ele vencia: de suas 25 vitórias, 13 foram de ponta a ponta e 11 liderando a maioria das voltas”. Penso que essa mesma definição serve para Ayrton Senna.

Senna venceu 41 corridas ao longo de sua carreira na Fórmula 1, e 19 delas foram liderando todas as voltas. E foi justamente esta a marca que Lewis Hamilton igualou no último GP de 2019: de suas 84 vitórias, 19 foram sem perder a liderança mesmo em seus pitstops.

A marca de Senna poderia ser significativamente maior: houve várias corridas em que ele abandonou na liderança: algumas em estágio bem inicial (Mônaco, 1985, EUA e Inglaterra, 1989, San Marino, 1990), outras com mais de metade das voltas (Mônaco 1988, Austrália 1990 e Canadá, 1992) e algumas já bem perto do fim (San Marino, 1985, Itália 1988 e 89 – teve ainda México, 1990, em que Senna se arrasta por algumas voltas até abandonar).

Salvo alguns incidentes, a maioria dos seus abandonos nestas provas foi por alguma falha no equipamento.

O recorte mostra que Senna realizou tais desempenhos nos mais variados contextos, épocas e dispondo de equipamentos de primeiríssima qualidade ou não, além de em vários casos não ser o melhor carro do fim de semana mas isso ter sido compensado pelo seu talento e determinação.

Abu Dhabi 2012 é a única corrida em que Hamilton abandonou liderando, estando na ponta desde a primeira volta. Além disso, seu cartel de vitórias de ponta a ponta denota que, exceção feita à Bélgica 2010, a mesma descrição feita sobre Senna não se aplica a ele: foi mais dependente do equipamento de primeira do que Senna, sem contar que em 10 das 19 vitórias de Ayrton Alain Prost, e não Rosberg ou Bottas, ocupava o outro carro. E de certa forma, ambos atingiram o recorde em corridas menos brilhantes do que aquelas de outrora: Hamilton chegou às 19 na pista sem alma, ao passo que Senna teve sua 19ª na corrida mais curta da história.

Mesmo com ele igualando ou superando os números de Schumacher e Senna (há alguns bem importantes, ainda…) na atual conjectura, não creio que ainda se possa falar em Hamilton como um piloto maior ou melhor do que nenhum dos dois.

Sugiro aos amigos a (re)leitura deste texto que linkarei abaixo. Talvez Talvez a ida de Lewis para a Ferrari, e lá fazer algo que Alonso tentou até sua última gota de suor, e que Vettel não imaginava precisar tentar tanto, o coloque, sim, num patamar acima dos dois. Talvez ao lado de Fangio.

Quatro homens, uma missão

Que tenhamos todos, na vida e na Fórmula 1, um 2020 melhor do que 2019.

Abraços!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

7 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Marcio,

    sem levar em consideração os números se fosse fazer uma lista de quem foi melhor entre os 3 esta seria o meu voto: L. Hamilton, A. Senna e M. Schumacher …
    Esqueço os números e prefiro levar em consideração aos que eles fizeram na pista … e justifico o por que do Hamilton na frente do Senna … Hamilton de cara já foi vice campeão em seu ano de estreia e campeão no ano seguinte … Senna precisou correr 4 temporadas até que na quinta conseguiu seu almejado título de campeão … Hamilton já estreou na Formula 1 gerando estragos na concorrência … nunca vi nenhum piloto fazer isso na Formula 1 desde que acompanho as corridas (desde 1970)

    Fernando Marques

    Niterói RJ

    • Gus disse:

      Fernando, Jaques Villeneuve fez o mesmo em 1996, o estreante quase levou o título…ele fez uma quilometragem insana em treinos antes da primeira largada para valer, foi muito preparado assim como Hamilton também foi pela McLaren.
      E começar por uma equipe campeã, e não uma nanica como Senna e outros, ajuda um bocado…

      • Fernando Marques disse:

        Gus, voce tem razão em relação ao J. Villenueve. O inicio dele na Formula 1 foi tão meteórico quanto ao do Hamilton. Só que ele não fez um estrago dentro da Williams como Hamilton fez na Mclaren. A relação Villenueve/D. Hill foi tranquila dentro da equipe. Já a relação entre Hamilton/Alonso foi bem diferente e abalou as estruturas do espanhol … fora isso Villenueve chegou, abalou, venceu, foi campeão e estagnou … Já Hamilton ao contrário continuou vencendo …

        Fernando Marques

        • Gus disse:

          Sim, não houve estrago por parte do Canadense até porque D.Hill era menos sanguíneo que o espanhol. E este estava há quase 3 anos na fila para ser campeão (1994,1995 e 1996) tendo sua posição consolidada para vencer de uma vez por todas. Mas a McLaren na época de Hamilton não contava com um carro tão dominante, o ambiente era naturalmente mais tenso, e só ficou pior com a clara preferência da equipe em relação ao Hamilton (aspecto que foi admitido anos depois)…claro que o Alonso não ia deixar barato né? rsrsrsr
          Hamilton sempre foi bem melhor que Jaques, naturalmente, mas isso não reduz Senna que “teve” que correr quatro temporadas até ser campeão, quando Senna finalmente teve um carro para levar o campeonato, ele o fez…Hamilton teve a mesma oportunidade (em termos de carro com potencial de ser campeão), mas errou lá na China e perdeu sua chance.
          Hamilton é impressionante, mas teve um começo muito mais fácil que Senna para se firmar na categoria, comum a ambos – apenas o enorme talento para se destacar mais cedo ou mais tarde.

  2. Gus disse:

    Não sei se Lewis é realmente mais veloz que Michael, o alemão era terrível nas classificações mesmo na época de Senna apesar de não conseguir nenhuma pole até a morte deste.
    Seria importante relacionar a porcentagem de domínio nas classificações perante os companheiros de equipe dos dois pilotos, acho que o alemão até leva vantagem.
    Bela coluna, me faltou assistir o vídeo.

  3. MarcioD disse:

    Marcel,
    Após ler seu texto e assistir o vídeo gostaria de fazer as seguintes considerações:
    A- Em qualquer esporte os títulos são o item de maior peso seguido pelas vitorias e ao compararmos multicampeões de épocas diferentes é interessante fazermos comparações baseadas em números relativos. Considerando o embate em questão temos Schumacher : 7titulos em 15 temporadas completas 7/15= 46,67% Lewis 6/13=46,15% , quase um empate. Vitorias 91/250 36,40% 84/250= 33,60% aqui vemos boa vantagem de Schumacher.
    B- Precisamos levar em conta a concorrência interna que o piloto enfrentou e se levarmos em conta o período do auge de Schumacher (94-2006) temos Jos Verstappen, Lehto, Herbert, Irvine, Barrichello e Massa. Para Lewis (07-19) temos Alonso, Kovalainen, Button, Rosberg e Bottas, um bicampeão e 2 campeões. Ou seja, Schumacher teve uma vida muito mais tranquila em casa do que Lewis
    C- Na concorrência externa de Schumi temos os seguintes pilotos que foram ou se tornariam campeões Hill, Villeneuve, Hakkinen, Kimi e Alonso. Na de Lewis Alonso, Kimi, Vettel, Button e Rosberg. Novamente o grupo que concorreu contra Lewis é muito mais forte Além do mais não tivemos na época de Schumi pilotos do calibre de Ricciardo e Leclerc, que venceram Vettel e de Max.
    D- Schumi sempre teve na equipe uma posição clara de 1º piloto com todo tipo de preferencia, principalmente na Ferrari, para onde levou Ross Brawn e Rory Birne e onde já estava seu grande amigo Jean Todt que era chefe de equipe. Na Mclaren e na Mercedes havia permissão para embate direto entre os pilotos
    E- O grande domínio da Ferrari foi de 5 anos com 67,06% de vitorias e o da Mercedes 6 anos com 73,6%. Vantagem para Schumacher
    F- É um embate equilibrado, mas se Lewis vencer o titulo de 2020 a balança passa a pender para o seu lado porque passaria a ter 50% de títulos passando a prevalecer em A, B, C e D acima. Acredito que o nº de pódios de Schumi será facilmente suplantado na próxima temporada, o de vitorias tem uma boa chance e títulos é uma incógnita.
    Abraços,
    MarcioD

  4. Kyle Long disse:

    Bela coluna.

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