– Começar com o pé direito depende do teu adversário estar prestes a dar um soco rápido ou tenta te enganar, atrasando o seu ataque.
Uma lição extraída das lutas de boxe pode definir o que houve nesse GP da Espanha. Em Barcelona. Afinal, tudo foi definido na disputa da primeira curva, uma repetição do que tem acontecido nos últimos tempos. Dessa vez, tivemos a partir da definição de posições na segunda curva um GP muito pouco disputado que, na verdade, pareceu um trenzinho de Ferrorama, com todo mundo andando em fila.
Simplesmente as corridas entram cada vez mais numa época em que, após a largada, quem chega na frente e sai ileso da primeira curva tem 90% da corrida na mão.
Analisando novamente a cena da largada até o final da primeira curva, vimos três postulantes que ficaram quase que lado a lado, Hamilton, o pole Bottas e Vettel. O alemão, vindo da segunda fila, fez a melhor largada dos três e se posicionou na parte externa, mais suja – e que por isso mesmo levou a Ferrari a escorregar demais.
Bottas não teve um bom arranque e ficou no meio da briga, que teve vantagem final para Hamilton simplesmente porque o inglês estava por dentro da curva. Houve um leve toque de rodas entre os pilotos da Mercedes e com isso quase Vettel e Bottas batem. Bottas foi brilhante ao corrigir uma traseirada na segunda curva que podia ter culminado com uma rodada, foi uma bela manobra de sua parte.
Só que a partir dali a corrida, em si, acabou.
Não deu para Vettel, e deu ruim para Bottas, Hamilton mesmo estando do lado de dentro da curva alguns centímetros atrás do finlandês deixou para frear no limite extremo e fez a curva primeiro, houve um leve toque de rodas entre os pilotos da Mercedes e com isso quase Vettel e Bottas batem,Bottas foi brilhante ao corrigir uma traseirada que podia ter culminado com uma rodada, foi uma bela manobra de sua parte.
Só que a partir dali a corrida em si acabou.
Hamilton literalmente guardou para a largada seu melhor golpe e nocauteou Bottas após a primeira curva. Quem também se deu bem foi Max Verstappen que aproveitou a escorregada de Vettel e tomou a terceira posição no trecho seguinte, em que chegou com mais velocidade.
Classificação da prova no final da primeira volta: 1) Hamilton; 2) Bottas; 3) Verstappen; 4) Vettel; 5) Leclerc; 6) Gasly.
Classificação da prova após a bandeirada: 1) Hamilton; 2) Bottas; 3) Verstappen; 4) Vettel; 5) Leclerc; 6) Gasly.
Voltas mais rápidas da prova: 1) Hamilton – 1’18”492; 2) Bottas – 1’18”737; 3) Verstappen – 1’19”769; 4) Vettel – 1’19”820; 5) Leclerc – 1’20”002; 6) Gasly – 1’20”536.
Classificação do campeonato após a prova: 1) Hamilton – 112 pontos; 2) Bottas – 105; 3) Verstappen – 66; 4) Vettel – 64; 5) Leclerc – 57; 6) Gasly – 21.
Idem, idem, idem!!!
Não sei se tal fenômeno já ocorreu em alguma época no campeonato de Fórmula 1, mas vale a pesquisa. Sem sombra de dúvidas, isso mostra a previsibilidade e a monotonia que tomou conta do atual momento da Fórmula 1. Sim, amigos, esse GP foi o ápice da monotonia e a Liberty tem um baita desafio pela frente. Como mudar esse cenário de absoluta previsibilidade, com domínio ainda maior da Mercedes, que ganha tudo desde 2014?
O campeonato caminha para sacramentar o maior período de domínio de uma equipe na história da Fórmula 1. Com 2019, estamos indo para seis anos de domínio, superando a Ferrari do quarteto Schumacher / Todt / Brawn / Byrne.
A próxima corrida será em Mônaco e já torcemos para que, num circuito travado que exige os pneus mais macios disponíveis, algum elemento novo possa apimentar ao menos a disputa na pista.
Ao começarem as paradas para pneus, se formou um cenário em que vários pilotos adotaram táticas diferentes, tanto de escolha de pneus quanto de pits a serem feitos. Parecia interessante, pois alguém poderia surpreender. Pois bem, nada disso mudou as posições finais de pista, ressaltando que as Mercedes nem nesses momentos perderam ou trocaram de posição.
Nem a entrada de um Safety Car na volta 46, que por vezes ajuda a dar uma embaralhada, mudou ou adicionou algum tempero extra nas disputas. Hamilton liderou de ponta a ponta, levando também o ponto extra pela volta mais rápida.
Bottas em nenhum momento representou ameaça, pois sequer esteve próximo o suficiente para tentar uma disputa. Na verdade, no momento mais confortável da prova, antes do Safety Car, Hamilton já estava cerca de 10 segundos à sua frente.
Antes da largada e pelo que havia acontecido nos treinos, havia uma expectativa de uma prova mais disputada entre os pilotos da Mercedes. Bottas estava mais falante e descontraído, demonstrava confiança em ter um bom desempenho, falou até um tom de brincadeira que havia ficado uns dias na Lapônia e que isso havia deixado ele de cabeça bem mais fria. Sendo a Lapônia a terra do Papai Noel, era de se esperar que o bom velhinho desse ao finlandês, que faz sua melhor temporada na carreira, um presente antecipado de Natal. Não foi dessa vez.
A fatura do campeonato está sem dúvida 90% a favor da Mercedes, se é que essa porcentagem não é ainda maior. Dificilmente haverá uma mudança. A Ferrari deste ano não se entendeu com os pneus e está ainda mais perdida em estratégia. Max Verstappen já é o terceiro colocado no campeonato de pilotos, roubando a posição de Vettel, e a Red Bull pode estar em vias de passar a Ferrari pela vice-liderança de construtores.
O holandês vem de maneira positiva andando bem, fazendo provas bem decentes e está amadurecendo. Começa a juntar uma boa dose de agressividade com um ritmo de prova compatível com o equipamento, contando com a boa performance da Honda, que melhorou e muito sua confiabilidade e potência, casando muito bem com o chassi projetado pelo regresso Adrian Newey.
A Red Bull precisa apenas que Pierre Gasly consiga ser mais regular e entregue mais pontos. Se o francês, que começou o ano um tanto perdido, continuar melhorando, a vice-liderança da Ferrari nos construtores vai ficar realmente ameaçada.
A Ferrari, se não tem sido destaque na pista, tem chamado bastante atenção em outro aspecto. É equipe que mais tem falado ao rádio. E tome ordens de equipe! Na entrevista pós GP, Vettel tocou no assunto, reclamando que houve excesso de ordens para ele ou Leclerc mudarem de posição. Nesse caso, porém, eu defendo a equipe. Eles precisam priorizar quem está mais rápido de momento para brigar por melhores posições. E discordo da transmissão oficial de TV que alega que a Ferrari está demorando muito em dar ordens para que um ou outro deixe seu companheiro passar. Não é tão fácil assim tomar esse tipo de decisão no calor da disputa, analisando vários parâmetros de desempenho ao mesmo tempo.
Falemos agora das demais equipes e seus desempenhos na pista ,que é a mais usada na pré-temporada e que vira parâmetro para todas.
Começando pela Haas, que tem feito um bom papel nas classificações e um papelão nas corridas. O que a Ferrari tem em exagerar nas ordens a Haas parece ter em falta. Tem sido uma cena comum os seus pilotos, Magnussen e Grosjean, se acharem na pista: quando não se tocam, acabam comprometendo o desempenho um do outro. Nesta corrida, por duas vezes o Grosjean saiu da pista, pontos preciosos estão indo ralo abaixo. O diretor Günther Steiner tem que abrir o olho.
A Renault caminha a passos largos para ser a decepção do ano. Equipe de fábrica com um bom budget, está bem longe de andar bem, bem longe se firmar como “quarta força”, logo atrás de Mercedes, Ferrari e Red Bull, como o final do ano passado sugeria.
Na corrida, a melhor posição foi alcançada por Hülkenberg, que durante sete voltas esteve na modesta oitava posição. Ao final, seus dois pilotos, Ricciardo e Hulkenberg, terminaram em 12º e 13º, bem longe dos pontos. A equipe é apenas a oitava entre os construtores.
O posto de melhor do resto, por enquanto, está com a McLaren, que está em quarto lugar entre as equipes, ainda que longe do desempenho das três primeiras. Correndo em casa, Carlos Sainz terminou a prova em oitavo, um pequeno alento para a torcida espanhola. Já seu companheiro Lando Norris encontrou um Lance Stroll e ficou pelo caminho, abandonando a prova quando disputava o 15º lugar, o tal lance que causou a entrada do Safety Car citada acima.
A Alfa Romeo começou bem o campeonato, com um Räikkönen mostrando que ainda tem lenha pra queimar. Nas duas últimas provas, no entanto, por ter enfrentado problemas na classificação, estão em declínio. Em Barcelona, largaram na parte final do pelotão intermediário e fizeram uma prova discreta, fora da zona de pontuação. Foi o primeiro GP do ano que não pontuaram e um sinal de atenção pode estar soando dentro dessa equipe que até outro dia era conhecida como Sauber.
A Toro Roso teve algum destaque na classificação, mas o carro sofre durante nas provas com o desgastemais acentuado dos pneus. O russo Kyviat terminou na nona posição e, com isso, empata no mundial de pilotos com seu companheiro tailandês Albon. Vale salientar que o russo foi o protagonista da melhor cena do GP, ultrapassando Hülkenberg por fora, na curva 4 Repsol.
A Racing Point, também conhecida como Daddy Stroll Racing, alusão ao papai de Lance, que comprou a equipe para seu filho continuar com um assento na F1, é a que apresenta o maior abismo de performance entre seus dois pilotos. O mexicano Sergio Pérez tem dado uma surra no filho do patrão, andando sempre na frente e tendo conquistado 13 dos 17 pontos do time até agora.
A equipe não se encontrou na Espanha e os dois carros andaram o tempo todo fora da zona de pontos. Pérez terminou num discreto 15º lugar, enquanto Lance, como já citado, bateu em Lando Norris. Já se pergunta no paddock até quando Lawrence Stroll vai bancar a equipe, assumida com a falência de Vijay Mallya, que ficou devendo na praça e precisou se desfazer da Force India.
E finalizamos com a Williams, outrora uma das grandes equipes da história da Fórmula 1, que numa queda vertiginosa acabou por se transformar em equipe que completa grid e da qual nada se pode esperar. Desde seu ressurgimento em 2014, primeiro ano dessa era com motores híbridos, a perda foi irrefreável:
2014: 3ª, 320 pontos, 9 pódios; 2015: 3ª, 257, 4 pódios; 2016: 5ª, 138, 1 pódio; 2017: 5ª, 83, 1 pódio; 2018: 10ª, 7; 2019: 10ª, 0 – e não há nada que diga que eles sairão do zero este ano.
No campeonato desse ano, em nenhum momento seus pilotos Russel e Kubica deixaram as duas últimas posições. As raras exceções foram por conta de problemas alheios de outros competidores, jamais pela performance do carro, uma situação lastimável pela contribuição e resultados que a equipe obteve na história.
Finalizando, gostaria de falar um pouco sobre o assunto que pipocou aqui em nossas bandas, sobre a possibilidade de ser construída uma pista no Rio de Janeiro e termos uma mudança do GP Brasil de São Paulo para terras cariocas, e ainda por cima em 2020. Fica aqui a pergunta:
– Vocês estão de brincadeira né?
Idem, idem, idem como sempre, autoridades fazendo demagogia.
Abraços,
Mário
5 Comments
Grande Mario,
muito boa a sua coluna.Está claro que a Formula 1 hoje está dividida em 4 categorias.
São elas:
– categoria 1 Mercedes
– categoria 2 Ferrari e RBR
– categoria 3 Restantes das demais equipes
– categoria 4 Williams
Isso está tão evidente que sinceramente eu não espero nada diferente em Monaco … vai ser o tal do idem idem idem
Meu amigo, me desculpe mas vou discordar do final de sua coluna.
Estou torcendo para a Formula 1 voltar a ser disputada aqui no Rio de Janeiro.
Fica mais perto de casa e quem sabe poderei assistir in loco as corridas como fazia na época do Autódromo de Jacarepaguá.
E tem mais uma coisa. Nosso presidente Bolsonaro sugeriu que o nome do circuito aqui no Rio seja Autódromo Ayrton Senna. Discordo completamente.
Não vejo por que não manter o nome de Nelson Piquet, que além de carioca não era torcedor do Corinthians,
Fernando Marques
Niterói RJ
olá Fernando
obrigado pelo comentário e como sempre muito bem embasado,
Deixo claro que não temos absolutamente nada contra sobre a possibilidade do Rio de Janeiro sediar provas de Fórmula 1, seria até salutar haver um revezamento entre as cidades.
O que escrevemos e ironizamos com a pergunta é, que quem conhece os tramites para construir um autódromo a partir de um terreno vazio e em seguida homologar junto a F1 a certificação nível 1, que é o exigido para se sediar provas da F1, assinar um contrato e arrecadar o dinheiro necessário para bancar o evento, estamos falando em algo próximo a 800 milhões de Dólares . Deveria saber que mesmo com recursos, boa vontade e dinheiro abundantes não é uma tarefa tão simples como num rompante populista nosso presidente deu a entender em seu discurso, por essa razão mantenho o tom irônico da pergunta para que nossas autoridades respondam, eles estão sim de brincadeira.
fortes abraços
Sobre este aspecto
o amigo tem razão
Fernando Marques
A pista de Barcelona é tão inútil que o pole fica do lado de fora da curva…se estivesse do lado de dentro, Bottas teria mais hipóteses de liderar após errar o pulo inicial.
Grande Salu!
Excelente Coluna!
Os GPs de F1 estão quase se tornando uma corrida de 100 metros rasos, pois quem chega no final da reta em primeiro após a largada, tende a vencer.
Estou torcendo muito para que o Bottas consiga lutar pra valer com Hamilton, pois do jeito que anda o Ferrorama, Ferrari e RBR são dois vagões puxados pelas locomotivas prateadas.
E será a temporada de 2019 vencida inteiramente pela Mercedes!?
Espero que não!
Grande abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR