Italian job

Circuito inédito, vencedor inédito. Só um item não muda
04/09/2025
32 milésimos
12/09/2025

Monza e suas longas retas não combinam com carros com grande arrasto aerodinâmico. A McLaren domina a temporada 2025 e o modelo MCL39 tem como uma de suas características ter bastante arrasto e como foi dito por Lucas Giavoni no último vídeo do canal do GPTotal (www.youtube.com/@gptotal), em Monza a equipe poderia ter dificuldades. E Lucas acertou na mosca! Os ‘papaias’ não dominaram como normalmente fizeram nesse ano, mas ainda assim houve domínio em Monza. Assim como fizera na outra corrida italiana do calendário da F1, em Ímola, Max Verstappen venceu com bastante facilidade em Monza, completando a
dobradinha italiana em 2025, porém, para azar de Verstappen, não teremos uma terceira corrida na Itália e nem outro circuito como Monza até o final do ano.
A vantagem de Max Verstappen foi tamanha nesse domingo, que ele teve tempo até mesmo de rir da presepada da McLaren, que nesse domingo se embananou inteiramente na estratégia e, principalmente, na gestão dos seus dois pilotos.

Se tem algo que a temporada 2025 da F1 pode se orgulhar é da compactação do grid, o mais apertado da história. Monza foi mais um exemplo de um mísero vacilo na classificação pode colocar um bom carro fora do Q2 ou Q3. Uma semana depois de conquistar o pódio em Zandvoort, Isack Hadjar ficou no Q1 pela primeira vez no ano, mas sua diferença para o primeiro colocado foi ligeiramente superior a quatro décimos de segundo, enquanto que no Q2, a diferença entre os dez primeiros colocados foi inferior a três décimos. Isso, num circuito com mais de cinco quilômetros de extensão!
Já nos treinos a McLaren demonstrava que não dominaria em Monza como fizera em outras pistas. A dupla 'mclariana' era a mais lenta no final da longa reta de Monza, chegando a tomar quase 15 km/h de Gabriel Bortoleto, o mais rápido e novamente se destacando, mais uma vez indo ao Q3.
Verstappen ficou com a pole, superando a dupla da McLaren no estouro do cronômetro, batendo o recorde extra-oficial de Monza a uma incrível média de 264,682 km/h. E este não seria o único recorde batido por Max no final de semana.

Como normalmente ocorre em setembro na região da Lombardia o céu estava claro e o sol radiante para mais um Grande Prêmio da Itália com clima perfeito e arquibancadas lotadas.
Porém, ainda antes da largada ocorreu o primeiro drama do dia, com a Sauber chamando Nico Hulkenberg para os boxes durante a volta de apresentação, fazendo com que o alemão setornasse o primeiro abandono do dia por causa de um problema hidráulico ainda antes do apagar das luzes vermelhas.
A largada em Monza sempre é tensa pela longa reta até a forte freada rumo à estreita chicane da Variante del Rettifilo. Ainda com receio de como seria o ritmo de corrida do seu carro, o pole Max Verstappen fez uma largada bem diagonal, fazendo com que Lando Norris fosse para a grama, mas o inglês se manteve por dentro, enquanto Leclerc, correndo na casa da Ferrari, partiu para cima de Piastri. A primeira freada foi hirta, com Lando alargando a primeira curva e fazendo com que Max Verstappen cortasse a chicane. Norris saiu lentamente da chicane, encaixotando atrás de si Piastri e Leclerc, que se aproveitou para tomar a terceira posição do australiano.

Na freada da Variante Della Roggia, Norris tentou novo ataque em cima de Max sem sucesso e novamente o inglês ficou lento na retomada. Dessa vez quem se aproveitou foi Piastri, executando uma bela ultrapassagem por fora sobre Leclerc na segunda de Lesmo. Antes mesmo que a FIA iniciasse qualquer investigação, a Red Bull mandou Verstappen ceder a primeira posição para Norris, enquanto Leclerc usava a velocidade prodigiosa da Ferrari em linha reta para retomar a terceira posição novamente.
Um início elétrico de corrida, mas rapidamente as coisas se acalmaram. Com um ótimo acerto com pouca asa em seu Red Bull, Verstappen não esperou muito para retomar a ponta, enquanto Piastri demorou um pouco mais para ultrapassar Leclerc. O ritmo de Max lembrou os bons tempos da Red Bull e logo os três primeiros colocados ficaram bem espaçados entre si.
Leclerc claramente correu para a torcida e superaquecendo os pneus, viu Piastri ir embora na mesma medida em que Russell se aproximou rapidamente. Se Hulkenberg abandonava tristemente ao fim da volta de apresentação, Gabriel Bortoleto fazia uma bela corrida em Monza, onde ano passado saiu da última posição rumo à vitória na F2, chegando a colocar de lado em cima da Mercedes de Russell durante a primeira volta e segurava um enorme pelotão de carros, com seu Sauber com pouquíssima asa e muita velocidade de reta.
A corrida ficou estática, principalmente com a certeza de que a estratégia padrão seria de uma única parada, restando às equipes escolherem o melhor momento de trazer seus pilotos aos pits. Lawson foi o primeiro e algumas voltas depois foi a vez de Bearman visitar os boxes, fazendo com que Bortoleto fosse aos pits, trazendo colado atrás de si Alonso. A parada de Gabriel foi uma clara reação à parada de Bearman, mas um pit-stop lento por causa de um erro de Bortoleto, que travou o pneu dianteiro, somado a manobra de Alonso, que colou no brasileiro na entrada do pit-lane, fez com que o espanhol emergisse na frente de Bortoleto com os pit-stops feitos, mas ambos saíram na frente de Bearman e Lawson.

Enquanto os pilotos do pelotão intermediário colocavam as cartas da estratégia na mesa, a pergunta que ficava era quando os líderes parariam. Max, Lando e Oscar faziam corridas tranquilas e distantes dos rivais quando Verstappen fez o trivial e parou nos boxes no último terço de corrida e colocou pneus duros para levar seu carro até a bandeirada. A McLaren tentou fazer diferente e deixou seus dois pilotos na pista, esperando por um Safety Car que não veio. Deixando para parar tão perto da bandeirada, a McLaren optou por colocar pneus macios usados nos carros dos seus pilotos. A tática da McLaren começou a ir para os ares nesse momento.
Com Piastri se aproximando de Norris no final do stint, a McLaren trouxe o australiano primeiro, na vã tentativa de evitar um undercut involuntário. O problema foi que a McLaren errou no pit de Norris, com a pistola pneumática do pneu dianteiro esquerdo não funcionando e Lando perdendo 6s na parada. Quando o inglês da McLaren retornou à pista, Piastri tinha acabado de passar. Para completar, Verstappen tinha quase 20s de vantagem sobre o duo da McLaren no final da manobra atrapalhada da turma de Stella, mas o pior ainda estava por vir.
Norris começava a tirar a vantagem de Piastri, quando a McLaren interveio na disputa e mandou Oscar ceder sua posição, numa atitude inacreditável de Andrea Stella seus papayas caps. Com os dois lutando diretamente pelo título e vendo a chance de aumentar a vantagem de forma inesperada, Piastri não discutiu muito e simplesmente deixou Lando passar para receber a informação: agora está valendo!

Um erro estratégico se transformou numa situação desconfortável dentro da McLaren, com Norris e, principalmente, Piastri com caras de poucos amigos depois da corrida ante a situação.
Um erro de pit-stop não era motivo para ordens de equipe, ainda mais com dois pilotos lutando pelo título. O paddock inteiro criticou a decisão da McLaren, que abriu um precedente perigoso e tornou a gestão dos seus jovens pilotos ainda mais delicada até o final do ano.

Enquanto isso, a situação de Max Verstappen na frente da corrida era tão confortável que o neerlandês achou tempo para rir da desgraça alheia. Ao saber que a dupla da McLaren trocou de posições por um erro no pit-stop, Max riu da situação e seu bom humor tinha razão de ser.
Com a McLaren não estando tão confortável em Monza, Verstappen enxergou uma chance de agitar o status quo de 2025 e como normalmente acontece, Max agarrou a oportunidade com as duas mãos. Foi uma vitória sem qualquer contestação de Verstappen, que conseguiu um Grand Slam, bateu recordes de velocidade em ritmo de corrida (250,706 km/h de média na corrida) e mostra mais uma vez que é o melhor piloto da atualidade. Um carro melhor e Max entraria de vez na cabeça de Lando e Oscar. Ao ser perguntado depois da corrida se teria a mesma atitude de Piastri, Max foi enfático em dizer não. Eyes of tiger…
Já o outro carro da Red Bull segue seu calvário. Mesmo largando entre os dez primeiros e se mantido na zona de pontuação o primeiro stint inteiro, Yuki Tsunoda se perdeu completamente após sua parada e com pneus duros, o nipônico caiu pelas tabelas. Yuki também reagiu a parada prematura de Bearman, mas ao contrário de Bortoleto, Tsunoda foi se apagando a ponto de Isack Hadjar, que largou dos boxes após trocar o motor, estender seu stint e ainda marcar um ponto, na frente do nipônico. E quase Tsunoda levou uma ultrapassagem de Lawson, mas o atabalhoado neozelandês acabou tendo que devolver a posição após sua tentativa temerária na Variante Della Roggia.
Enquanto Verstappen recebia a bandeirada, o carro de Tsunoda estava logo à frente do neerlandês, quase tomando uma volta do companheiro de equipe. Com a Honda indo embora do programa Red Bull no final desse ano, Tsunoda dificilmente permanecerá na equipe, ainda mais com desempenhos tão abaixo. O problema de Helmut Marko será quem ficará na ingratasituação de companheiro de equipe de Max Verstappen.

 


Após uma primeira volta empolgante, a corrida de Charles Leclerc murchou. O monegasco ainda teve que controlar alguns ataques de Russell, mas sem grandes sustos. Depois disso Leclerc questionou o momento de sua parada, recebendo um 'depois da corrida vemos isso' antes de receber a bandeirada em quarto lugar próximo da dupla da McLaren mais pelos estrategistas papaias do que pelo desempenho da Ferrari. Hamilton foi punido por um incidente em Zandvoort e largou em décimo. O veterano soube fazer uma boa corrida de recuperação, ultrapassou Antonelli e Tsunoda na pista e ao estender seu stint, facilmente ultrapassou Bortoleto, chegando a pensar em fustigar Russell, mas isso não foi possível, fazendo com que Lewis se conformasse com o sexto lugar.
Russell ficou no meio do sanduíche das Ferrari numa corrida praticamente incógnita, trazendo mais pontos para a equipe, enquanto Antonelli fazia uma corrida de altos e baixos. O jovem italiano foi ajudado pela estratégia para ficar na frente de Bortoleto, mas seu ritmo de corrida não era exatamente dos melhores e quando foi atacado por Albon, Kimi acabou jogando o piloto da Williams para fora na Curva Biassono e seria punido em 5s por isso. Para piorar, Albon mais tarde completaria a ultrapassagem e Antonelli ficou atrás do piloto da Williams no campeonato. Uma temporada de estreia nada animadora para Antonelli.
Falando em novatos, Gabriel Bortoleto fez outra boa prova rumo aos pontos em 2025. Após segurar sem maiores problemas um pelotão de carros no primeiro stint, Gabriel não foi muito ajudado pela Sauber, que o trouxe para uma prematura parada reagindo ao movimento de Bearman. Bortoleto teve sorte com a estranha quebra de Alonso, mas foi superado por Antonelli no ritmo e por Albon na estratégia. Com o entrevero entre eles, no entanto, Gabriel herdou uma posição com a punição de 5s de Kimi, subindo para oitavo e ganhando uma posição no campeonato, superando Bearman. O inglês teve um toque com Sainz que quase fez a alegria da McLaren, que torcia por um SC desesperadamente, mas os dois pilotos voltaram à corrida sem problemas, contudo, Bearman foi punido e acabou fora dos pontos, o mesmo acontecendo com Ocon, punido por um toque com Stroll ainda no começo da corrida.
Sainz escapou de uma punição por cortar a chicane, mas o toque com Bearman não o ajudou muito, principalmente com seu companheiro de equipe continuando a marcar pontos para a equipe, enquanto o espanhol se atrapalha com outros carros. A Alpine teve um dia para esquecer e mesmo escolhendo estratégias distintas para os seus dois pilotos, os pontos não
foram uma questão para Gasly e Colapinto. Stroll largou nas últimas filas e assim como a McLaren, esticou seu stint ao máximo rezando por um SC que não veio, fazendo com que o canadense terminasse em último, contudo, nem de longe Stroll andou como Alonso, que caminhava para marcar mais pontos, mas acabou tendo sua suspensão dianteira direita quebrada após um toque aparentemente normal na zebra da Variante Ascari. Alonso lamentou mais pontos perdidos.

 

Correndo em casa, Marc e Alex Márquez transformaram o Grande Prêmio da Catalunha da MotoGP em Barcelona num assunto caseiro. Após arrancar a pole no sábado, Alex Márquez decepcionou ao cair na Sprint Race, fazendo tornar seu apelido de 'Ralf Schumacher piorado'.
No entanto Alex esteve perfeito no domingo, não cedendo aos ataques do irmão para vencer pela segunda vez na MotoGP, além de impedir que Marc ganhe o campeonato em Misano, semana que vem. Será mesmo?
Mesmo que tivesse a chance de decidir o campeonato 2025 da MotoGP na corrida caseira da Ducati, a missão de Marc não seria fácil, porém, o mais difícil seria comemorar um título na casa também de Valentino Rossi e sua torcida inflamada, que não esquece da rivalidade entre as duas lendas. Em Mugello, mesmo correndo com o rosso Ducati, Marc Márquez foi impiedosamente vaiado pela torcida italiana. Talvez para Marc consolidar o título na etapa seguinte, no Japão, seja bem mais apropriado.

 


Mesmo com Max Verstappen completando a dobradinha italiana com todo mérito e dando um recado claro para a concorrência que ele pode fazer muito mais se tiver o equipamento certo, a presepada da McLaren foi o grande assunto do pós-corrida. Uma série de questionamentos se levantam na medida em que a McLaren se intrometeu na briga dos seus pilotos, no que poderia ser uma bela batalha dentro das pistas.

Aparentemente a McLaren se lembrou do caso da Hungria ano passado, quando quase entregou a vitória à Norris após Piastri dominar a prova. Com a volta paga, isso significa que daqui em diante não teremos mais ordens de equipe como essa? Piastri e Norris não estão se portando de forma passiva demais frente à McLaren? Essas respostas serão dadas até o final do campeonato.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J.C. Viana,

    Independente do arrasto aerodinâmico dos carros da fórmula 1 , se tem uma coisa que eu gosto é de assistir as corridas em Monza por causa da velocidade … É a corrida que mais gosto de assistir por ser uma prova rápida e que me prende em frente à TV mesmo com essa dinâmica chata de corridas que a fórmula 1 nos proporcionam .
    Monza esse ano não fugiu a regra esse ano. Tivemos duas ou 3 voltas frenéticas logo após a largada e depois de tudo acomodado valeu as estratégias de cada equipe é tome corrida chata.
    Verstappen pelos recordes alcançados e pela vitoria deu um show de pilotagem.
    Quanto a McLaren, não vi nada de polemica após o por stop lento do Norris … É ela que banca a equipe é ela que decide o que melhor achar. A Fórmula 1 sempre foi assim desde os seus primórdios. A diferença é que nos anos 50 ser o primeiro, segundo e até terceiro piloto era bem claro face ao que o regulamento permitia … hj em dia tem esse mimimi

    Todas as equipes levaram atualizações em Monza, exceto a Sauber que aliás não vai fazer mais nenhuma até o fim da temporada. Por isso achei o desempenho do Bortoleto muito bom, tanto nos treinos quanto na corrida … não esperava esse bom desempenho dele … o que será dele daqui pra frente …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Leandro disse:

    Problemas em paradas de boxes é algo da corrida, este tipo de movimento é algo que atrapalha o fator esportivo (já contestato) da F1. Fosse uma briga pelo título seria OK.

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