Loteria pneumática

Não sou vaticanólogo mas também sei errar feio nas minhas previsões. Então, preparem as canelas: aqui vão elas. A vitória de Kimi Raikkonen no GP da Austrália foi episódica, típico produto da loteria pneumática que anima a Fórmula 1 e que se aperfeiçoa a cada ano.

Mercê da imprevisibilidade dos pneus Pirelli, prevejo que o campeonato 2013 terá um grande revezamento de vencedores, principalmente nas corridas iniciais, talvez não tanto como no ano passado. As duplas da RBR e Mercedes dividirão vários GPs entre si, assim como a Force India acabará por tropeçar na vitória.

Não é possível que Jenson Button também não vença alguma coisa, se bem que a McLaren terá de pedalar muito pra consertar seu carro. Fernando Alonso, claro, vencerá GPs e fica a dúvida: haverá alguma corrida onde o posicionamento de Alonso ou um eventual abandono do espanhol deixará espaço para uma vitória de Felipe Massa? Meu palpite é que não.

Outra dúvida: Romain Grosjean, Sergio Perez e Pastor Maldonado podem vencer? Pelo que se viu na Austrália, não mas arrisco dizer que a agressividade sem noção de Grosjean será premiada hora dessas, ajudado pelas óbvias qualidades do Lotus.

Sobre o campeão da temporada, mantenho meu palpite, cravado aí em cima, ao lado do meu nome, desde agosto de 2011.

Voltando à loteria dos pneus, as coisas são iguais ao ano passado, só que diferentes – daí ter dito que elas se aperfeiçoaram.

Vocês se lembram que, nas corridas inicias de 2012, dificilmente víamos estratégias iguais de uso dos diferentes composto entre os protagonistas dos GPs. Já no GP da Austrália, todos usaram a mesmíssima estratégia, menos Kimi e a dupla da Force India.

Mas isso não adiantou para homogeneizar o desempenho dos carros porque, em 2013, a questão não é propriamente a durabilidade dos pneus mas sim a sua “curva de degradação”, se entendi bem a explicação da Pirelli.

Ou seja, o pneu não vai se desfazer em tiras mas a sua perda de rendimento é brusca e pronunciada – vide o que aconteceu com Massa na altura do seu segundo pit stop -, sendo ditada por mil fatores: estilo de pilotagem, do carro, da regulagem do carro, da pista e da temperatura da pista, se houver mudança brusca. Os engenheiros podem até definir e eventualmente controlar os parâmetros da degradação mas é tudo muito complicado, pelo número de fatores e variáveis envolvidos. Vão demorar algum tempo até chegar lá, mais ou menos como aconteceu em 2012. Entendem porque bato na tecla “loteria pneumática”?

Aliás, fica aí a sugestão às autoridades esportivas para uso futuro dos critérios lotéricos: por que mantê-los exclusivos dos pneus? Por que não estende-los também a outros insumos dos carros, o combustível, por exemplo? A gasolina, fornecida por uma única petroleira, podia queimar mais ou menos conforme o sabor dos ventos, a temperatura ambiente, o fato do piloto esterçar mais ou menos o volante…

Loteria: Kimi fez a volta mais rápida da prova a três voltas do final, quando seus pneus já haviam rodado mais do que os pneus que Alonso usou em seu segundo stint…

Por que, diabos, o Lotus de Kimi produzia tantas faíscas?

Só sou capaz de dizer que a altura do chão é fator decisivo para o desempenho aerodinâmico dos carros.

Aliás, uma explicação possível para o bom desempenho do Lotus em Melbourne é que o carro não gera tanta aderência aerodinâmica quanto a oposição. Isso ajuda muito numa pista como Melbourne.

Passados um quarto da corrida, Ferrari e McLaren ainda não tinham sacado que a Lotus corria por um pit stop a menos

Habemus Macchinam!, proclama AutoSprint em sua edição pós-Austrália. Assanhados, os italianos já apostam que a Ferrari será, no mínimo, campeã do Mundial de Marcas.

Uma coisa parece certa e positiva: a equipe superou o até então crônico problema de aquecimento dos pneus. Confirmada esta tendência, é bastante provável que o bom desempenho de Massa se perenize.

Mas, meus amigos, não vamos cobrar dele coisas que não pode fazer, seja pela falta de apetrechos próprios, seja por questões contratuais/comerciais. Massa, nunca se esqueçam, é o segundo piloto da Ferrari e continuará sendo enquanto estiver na equipe, mesmo que Alonso não esteja correndo, da mesma maneira que ocorreu com Eddie Irvine nos tempos de Michael Schumacher. Alonso é, afinal de contas, um piloto pagante. Sem o dinheiro que ele traz, a Ferrari estaria com sérios problemas de orçamento.

Mesmo assim, cabe uma pergunta: Massa é tão inocente e impotente na sua relação com a Ferrari, a ponto de implorar por uma definição da equipe quanto ao seu pit stop? Ele precisava da opinião de alguém pra perceber que ficar na pista era a tática perdedora naquele momento?

Mark Webber sempre largou mal mas, em Melbourne, ele está de parabéns. É o caso de dizer: antigamente as coisas eram piores – mas elas foram piorando. (Ok, nem tanto assim: pane eletrônica deixou o pobre australiano sem kers…)

É bem estranho um bom piloto como Webber seguir sendo tão fraco num fundamento tão importante da categoria, tanto mais que largadas podem ser ensaiadas à vontade em simuladores, dispensando a experiência nas pistas.

Pelo Twitter, semanas atrás, Alonso disse que a curva mais interessante da Fórmula 1 atual é a curva 14 de Sepang, aquela que dá acesso à reta oposta.

Olho nela domingo que vem!

Iniciei a minha 45ª temporada de Fórmula 1. Como já contei aqui, me aproximei da categoria ao longo de 68, num tempo em que o resultado das corridas chegava pela leitura de QuatroRodas e AutoEsporte. Em 69, com a ida de Emerson para a Europa, as coisas ficaram bem mais fáceis. Aí, já dava pra ler a notícia na 2ª-feira, pelos jornais. A TV só veio pra valer em 72.

Não estranhem, portanto, que eu reclame tão pouco da qualidade das transmissões.

A partir de amanhã, aniversário de nascimento de Ayrton Senna, iniciamos em nossa página no FaceBook – o link está logo aí, acima – uma homenagem à carreira do grande piloto.

A cada dia, uma breve lembrança das vitórias de Senna, aproveitando o fato de o intervalo de dias entre seu aniversário e a morte trágica ser exatamente o mesmo do seu número de vitórias.

Curtam lá!

Eduardo Correa