Mario Verstappen

O crescimento de Oscar (coluna + YouTube)
15/04/2025

Nunca fui exatamente um fã de videogames. Explico: sempre gostei, mas nunca fui um consumidor ávido, tampouco fiz dos jogos parte realmente essencial de meus dias. A conexão que os de minha geração têm com FIFA, F1 ou Gran Turismo nunca chegou a mim, por exemplo.

Porém, alguns jogos até hoje fazem parte de minha rotina, em dada medida: Street fighter e alguns de futebol. Mas um destaque especial vai para o Mario Kart. Desde os tempos do Super Nintendo, depois o 64, os emuladores e, por fim, no Wii.

Agora, sempre que tenho alguma folga ou encerro o trabalho, uma partida nesse jogo é muito relaxante e, em dada medida, desafiante. Meu filho costuma dizer que quer que eu consiga “X” recordes. Começamos com 10 pistas. Ele foi anotando. Levei um tempo para obter as melhores marcas. Depois, 15. Aí, 20, Então, 25. Agora ele me pediu 30, mas a 26ª tem sido quase impossível.

Simplesmente não consigo reduzir minha própria marca no Parque Fluvial. Marquei um tempo 0.601s acima do recordista, um esforço hercúleo de minha parte, uma vez que meu primeiro registro na pista foi mais de 10 segundos pior do que o tempo a ser batido. Mas agora não encontro maneiras nem mesmo de entrar na casa dos 1’34” (a melhor marca é 1:34.480, a minha é 1:35.081).

Depois de assistir aos treinos para o GP do Japão,  me pus a pensar: “Será essa a solução para eu obter a vigésima-sexta marca no Mario Kart?”. Repetir aquilo,  acho que não consigo, mas vou continuar tentando.

Ainda hoje, a volta de Max Verstappen na classificação para o GP da Arábia Saudita de 2021 causa assombros: a poucos metros do final, o holandês estampa o muro, assim perdendo a oportunidade de largar na pole-position da corrida e, consequentemente, a melhor oportunidade para a vitória — Verstappen largou em terceiro.

Em video que acompanha as voltas de Max até o acidente e a volta da pole de Hamilton, verifica-se que o holandês estava mais de 3 décimos (!) à frente de Lewis pouco antes de ter seu acidente. Assim, pode-se dizer que aquela foi, possivelmente, a melhor não-pole de todos os tempos, ainda que as voltas de Schumacher na Argentina, em 1996, e de Senna na África do Sul, em 1993, tenham sido as melhores voltas de primeira fila da história.

Para que Max – dono de 40 poles anteriores – voltasse a impressionar da mesma forma, seria necessário, portanto, completar o que não foi possível em Jeddah. E ele conseguiu fazê-lo em Suzuka, este ano.

Antes da análise da volta, vale lembrar que a Red Bull atual não é sombra do que foi nos últimos anos (já em 2024 havia uma queda sensível, sobretudo se comparada a um 2023 quase perfeito, a mais dominante temporada já registrada). O último GP do Bahrein foi um balde de água fria nas pretensões de título mundial do holandês, reduzindo suas possibilidades de conquista do penta. Ao mesmo tempo, só faz enaltecer o feito realizado por ele em em terras japonesas.


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Separei aqui a análise comparativa de Verstappen e Norris para a pole em Suzuka: Max bateu Lando por 0.012s, mas essa pequena diferença só seria conquistada no último setor da pista, no Setor 1 Verstappen sendo superado por 0.029s e ficando 0.054s mais lento no segundo setor.

E tudo isso ocorreu, basicamente, na última curva.

Abaixo, selecionei takes do video (já que a FOM não permite sua reprodução na íntegra).

Take 1
No approach final, Lando, quase um décimo à frente – vísivel pelos letreiros da QATAR AIRWAYS à direita -, chega com praticamente a mesma velocidade de Verstappen:

Take 2
Norris pisa no freio, enquanto Max não alivia: a diferença em velocidade é de quase 70 km/h:

Take 3
Max diminui, pero no mucho: é 27 km/h mais veloz. Enquanto Norris ainda está nos 232 km/h, ele vai a 259:



Take 4
Ambos diminuem novamente, mas outra vez a redução de Verstappen é muito menor, ele se mantendo 45 km/h à frente – e agora os dois em ponto quase idêntico da pista, visível pelo guardrail à direita:



Take 5
Já próximos da chicane, novamente é preciso diminuir, mas outra vez Verstappen se mantém mais veloz, 6 km/h melhor do que Norris estava no frame anterior, e com 29 km/h de vantagem pro inglês no mesmo ponto da pista:



Take 6
Vai ficando cada vez mais claro que Verstappen estava freando pra lá do deus me livre“, se mantendo com a mesma média de vantagem, 28 km/h mais veloz:



Take 7
Já chegando próximos à chicane, percebe-se que Verstappen esterçou um pouco mais, enquanto que, pela primeira vez desde o take 1, a velocidade é praticamente a mesma (Max 1 km/h mais veloz):



Take 8
Chicane contornada, aceleração retomada. Verstappen é 18 km/h mais veloz do que Norris na aproximação da reta final:

Take 9
Verstappen mantém seus 18km/h de vantagem já se aproximando da linha de chegada:

Take 10
Muito próximos do final da volta, Norris diminui a diferença (11 km/h mais lento), mas não o suficiente para descontar a vantagem adquirida por Verstappen: o holandês, portanto, foi quase um décimo (0.095s) melhor no Setor 3 da pista.

Na internet, viralizou a reação de Alonso após os treinos: o espanhol, já na sala de imprensa, deu uma breve pausa na entrevista para acompanhar a última flying lap de Max, abrindo um sorriso de orelha a orelha, como um pai orgulhoso do filho – ou um fã diante de seu ídolo.

Fernando, aliás, comentou na semana passada sobre as conquistas de Max terem um valor maior do que as de Hamilton e Vettel: “Houve alguns anos de domínio ultimamente nas últimas duas décadas, com grandes pilotos, grandes talentos e equipes, mas as vitórias foram fáceis (…). Todos os campeonatos que Max conquistou até agora, com exceção de 2023, foram de uma forma mais competitiva do que nas duas últimas eras de campeões“.

Assino embaixo.

Mais do que já ser um “Grande Senhor das Pistas“, conforme a definição do chefe Edu Correa, eu diria que Verstappen me parece o mais forte piloto surgido desde Michael Schumacher, e possivelmente é superior ao alemão (coisa da qual, há dois anos, eu ainda duvidava). E como o meu querido Lucas Giavoni costuma dizer, o pódio histórico da Fórmula 1 é hermético: Fangio, Clark e Senna – não necessariamente nessa ordem.

Mas Verstappen é o primeiro piloto que, creio, pode vir a bagunçar esse trio. Nem mesmo no Mario Kart dá pra replicar o que ele vem realizando.

Abraços e Boa Páscoa a todos.

Marcel Pilatti

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

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