Mera formalidade matemática, versão 2013

Tudo se decide em Monza
06/09/2013
Monza, 73
13/09/2013

O GP da Itália de 2013 define mais um momento da temporada.

O tempo é linear. Mas a história por tantas vezes parece cíclica. Vai e volta, em situações que se tornam parecidas umas com as outras – basta a gente ficar atento a isso. Tivemos neste GP da Itália uma situação semelhante ao do GP da Bélgica de 2011, corrida que valeu o título desta coluna. Sebastian Vettel mais uma vez conquistou uma vitória de campeão e sua consagração na temporada passa a ser mera formalidade matemática.

Monza é um circuito diferenciado que exige um pacote aerodinâmico próprio, uma vez que tem uma configuração totalmente diferente das demais pistas do calendário (no que bate saudade da velha Hockenheim e os retões da floresta). Eu acreditava que o fim de semana seria de Hamilton. Afinal, a Mercedes tem velocidade – sobretudo em flying lap – e não teria problemas de pneus numa pista pouco exigente com a borracha. Mas Hamilton fez tudo errado no qualify, e a partir dos treinos livres já era possível ver que a Red Bull estava, de fato, um degrau acima das demais.

Por sinal, em praticamente todos os fins de semana em que a Red Bull começava na frente já na sexta-feira, era possível dizer que a vitória, salvo uma hecatombe, seria de Vettel. Em Monza não foi diferente.

É necessário, porém, dar todos os méritos a Vettel pelo triunfo no fim de semana. Foi ele quem fez uma pole sensacional (q-u-a-d-r-a-g-é-s-i-m-a da carreira), liderou com segurança e fez com que Fernando Alonso, um piloto tão fora-de-série quanto ele, tivesse certeza de que não haveria luta pela liderança.

Olho para a tabela de pontos. Após 12 de 19 provas, Seb tem 212 pontos, conquistados com seis vitórias. As demais vitórias estão espalhadas nas mãos de diversos pilotos, sendo o mais consistente Fernando Alonso, que está 53 pontos atrás – distância superior a duas vitórias. Lewis Hamilton, 3º na tabela com 141, e que vinha confiante num levante da Mercedes, já jogou a toalha publicamente. Kimi Räikkönen, pela 2ª vez fora dos pontos, nem se fala. Quer assistir tudo com um sorvete de chocolate numa mão e uma coca na outra.

Faltam ainda sete provas – ou seja, há fartos 175 pontos em jogo. Mas, como eu já disse antes, ao olhar números, temos que ir além dos números. Não há nenhum cenário que apresente Mercedes, Lotus ou Ferrari dispostas a roubar pontos importantes do líder do campeonato. A Red Bull tem um carro que é bom em qualquer pista – se não ganha, chega muito bem nos pontos.

O fim da temporada na Europa costuma decidir o rumo das equipes – ou focam totalmente no novo carro, ou mantém desenvolvimento no modelo vigente. Torna-se um equívoco concentrar forças num cenário tão desfavorável e praticamente decidido, ainda mais se considerarmos que os novos motores e regras aerodinâmicas para o próximo ano vão exigir trabalho extra para os projetistas. O ano está perdido e todos sabem disso, por mais que não possam dizê-lo.

O tour da Ásia tem pistas tilkeanas que favorecem a Red Bull e seu apex superior, num carro feito pra andar de cara pro vento, já que não tem velocidade final. Em Monza, eles ficaram em 11ª Webber e 14º com Vettel em velocidade máxima. E tomamos um susto ao percebermos que na Intermediate 2 Vettel foi simplesmente o MAIS LENTO de todos os carros – 318,2 km/h contra 338,3 km/h de Hamilton.

Já descobrimos também os vícios e as virtudes da Ferrari: é um carro ruim de treinos, que é excelente em largadas (parece ser o que melhor aproveita o kers), bem como tem ritmo de prova consistente. A Lotus se dá bem quando a economia de pneus vale a pena, e a Mercedes tem uma janela de funcionamento muito restrita com pneus, em que alterna fins de semana lindos e desastrosos.

Felizmente a fase de publicar asneiras sobre as vagas de pilotos para 2014 está passando. A Silly Season, que rendeu um monte de porcarias puramente especulativas na imprensa sendo vendidas como “jornalismo”, está diminuindo cada vez mais, ainda que muitos órgãos não tenham se dado conta que publicações como o alemão Bild são um lixo total, e que não devem ser levadas a sério. E o primeiro movimento foi justamente a confirmação de Ricciardo no assento de Webber.

Nosso querido amigo Flaviz Guerra foi responsável pela última do domingo. Ele publicou em seu facebook: “Nada mais significativo que a marca de energéticos brasileira fazer propaganda com o Alonso, né?

httpv://youtu.be/0GRidFru8LE

Não é possível tirar conclusões categóricas. Mas que nos põe a refletir Felipe Massa fora da Ferrari, ah, isso sim.

Ainda assim ficaria muito difícil a F1 ficar sem ter ao menos um piloto brasileiro no grid. Motivo? Não é bom para os negócios. Não é bom para a emissora detentora dos direitos, que ainda não se livrou do modelo “você-não-está-aqui-para-apreciar-o-esporte-mas-sim-para-torcer-pra-brasileiro” e, fundamentalmente, não é bom para o Tio Bernie.

A mais felpuda das raposas sabe que a audiência brasileira é grande, a despeito da queda sofrida nos últimos tempos, e que por mais que a estrutura seja precária, o GP do Brasil é um dos mais lucrativos e atraentes do calendário.

Deste modo, Felipe Massa, caso fora da Ferrari (o que envolveria a ida de Kimi para seu lugar, e Hülkenberg no lugar vago na Lotus), poderia muito bem voltar às origens num assento da (infelizmente carente de recursos) Sauber. E sim, com background do Banco do Brasil, Sky e OGX, Felipe Nasr pode pegar a vaga aberta na Toro Rosso. Seu concorrente direto é o português Antonio Felix da Costa, oriundo do programa de pilotos da Red Bull.

Aguardemos agora a chegada do segundo tour asiático, quando o campeonato estará decidido. Vettel vai ser tetra antes das duas corridas na América. É o meu palpite.

Aquele abraço!

Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

9 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Felipe Massa confirma o fim de seu ciclo na Ferrari … se despede dela no GP do Brasil …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Mauro Santana disse:

      Pois é Fernando, que situação o Brasil esta vivendo na F1.

      Será que estamos chegando ao fim!?

      Nem o Reginaldo Leme nos comentários estamos tendo mais.

      Realmente, que situação!!!

  2. Mauro Santana disse:

    Uma pergunta senhores:

    Os carros de 2014 irão mudar bastante de visual ao comparar estes modelos atuais que estão nas pistas desde 2009?

    Abraço!

  3. Mauro Santana disse:

    É senhores, Vettel já é tetra, e esta fase dele junto a Red Bull lembra muito os tempos de Schumacher no início da década passada, e que por sinal, as corridas estavam cada vez mais se tornando uma chatice.

    A respeito de Massa e da F1 ficar sem um piloto brasileiro pela primeira vez desde 1970, abaixo segue uma entrevista com mister Ecclestone falando de Felipe Nasr.

    http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2013/08/chefao-da-formula-1-garante-apoio-felipe-nasr-preciso-de-um-brasileiro.html

    Como o Lucas muito bem mencionou no belo texto acima, para os negócios que movem a F1, acho muito difícil de não termos um brasileiro alinhando no grid em 2014, porem, como minha esposa comentou, e que é somente um comentário de uma pessoa que aprecia e de muiiiito longe o automobilismo em geral, irá mesmo valer a pena ter um ou mais brasileiros alinhando no final do grid!?

    Se isso acontecesse até meados dos anos 90, eu diria que sim, mas nos dias atuais, com carros inquebráveis, sejamos sinceros, o que um piloto pode mostrar andando do meio para trás,?

    A situação esta mesmo PRETA!!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Lucas dos Santos disse:

      Mauro,

      Lembrei-me imediatamente dessa notícia sobre o Bernie Ecclestone e o Felipe Nasr, em que o “chefão da F1” dá a entender que “mexeria os pauzinhos” para não deixar a Fórmula 1 sem brasileiros.

      Quanto a Felipe Nasr na Toro Rosso, Helmut Marko, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, descartou a possibilidade, apontando para a falta de vitórias do brasileiro. Segue parte da entrevista:
      “O brasileiro Felipe Nasr, na luta pelo título da GP2, é candidato à vaga de Ricciardo na Toro Rosso? Sua resposta não deixa dúvida e não é por não fazer parte da escola da Red Bull. ‘Não. Eu o conheço, é o segundo colocado na GP2 [até a etapa de Monza]. Apesar de ser um campeonato longo ele ainda não venceu nenhuma corrida’. ”

      Ou seja, tudo leva a crer que se Nasr vier a correr na F1, provavelmente não será pela Toro Rosso. Eu ainda sou da opinião que ele deveria fazer mais uma temporada na GP2. Com o “amadurecimento” e a experiência adquiridos nesse ano, ele teria tudo para brigar por vitórias no ano que vem, o que melhoraria a sua imagem perante as poucas equipes que ainda valorizam mais a habilidade dos pilotos do que o dinheiro que trariam à equipe.

  4. Mário Salustiano disse:

    Lucas

    Vettel vai ser tetra em nem vai ser nas duas ultimas provas, na matemática atual com 7 provas a serem disputadas ele já pode se dar ao luxo de administrar Alonso, numa situação improvável ,caso Alonso consiga vencer todas as 7 provas restantes bastaria Vettel ser segundo em todas elas que ainda assim ele saí campeão, ou seja Alonso já não depende apenas dele, evidente que um ou outro abandono de Vettel muda isso, mas ano passado foi exatamente nessa fase pós Europa que ele arrasou a concorrência, venceu 4 provas e conseguiu o tri .
    Sobre teu comentário sobre o atual nível do jornalismo praticado por alguns veículos é de impressionar como ninguém nesses lugares se dá conta das m…, escritas ou faladas, vejo muito disso na ânsia de querer ser o primeiro a veicular algo de diferente dos demais colegas de profissão, ontem por duas vezes ficamos sabendo sobre um ator que trabalhou em SOS Malibu , mas o senhor ao lado dele era ninguém menos que John Surtees, apenas um campeão pela Ferrari em 64 e não foi mencionado ou reconhecido, essa é a F1 atual, muito espetáculo, por isso um ator é mais lembrado que um campeão
    abraços
    Mário

  5. Fernando Marques disse:

    Vettel como previsto segue firme e forte ao tetra …
    mas o que vai realmente chamar atenção da Formula 1 nestes dias é a dança de cadeiras dos pilotos … e neste momento quem tem as cartas nas mangas é o Kimi … cabe a ele o movimento desta carta …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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