Metade da laranja

O que vi em Interlagos – final
23/08/2024
A obra-prima de Fernando Alonso
30/08/2024

A torcida neerlandesa coloriu o tradicional circuito de Zandvoort de laranja, na esperança de se repetir o que aconteceu nos três últimos anos, quando Max Verstappen conseguiu vitórias enfáticas na frente de sua torcida.

Contudo, os tempos são outros na F1 e vimos, sim, os laranjas ganharem em Zandvoort, mas não era da torcida de Verstappen. A McLaren provou que nem as péssimas largadas de Lando Norris são capazes de para-la nesse momento, com uma vitória acachapante do inglês, lembrando os triunfos de Max Verstappen no começo de 2024, no que foi a primeira derrota de Max em sua casa desde o retorno de Zandvoort ao calendário da F1.

Para Zandvoort, a McLaren trouxe as maiores atualizações em seus carros desde a prova em Miami, corrida onde começou a incomodar a Red Bull a ponto de ultrapassa-la meses depois. Num final de semana com clima instável, a McLaren mostrou sua força na classificação, com Lando Norris marcando a pole com boa vantagem e a McLaren só não completando a dobradinha por causa de uma volta pobre de Oscar Piastri no Q3. A torcida em Zandvoort se sustentava na esperança de que Lando Norris não liderou uma volta de abertura sequer na sua carreira na F1 e o inglês teria ao seu lado na primeira fila justamente o herói local, Max Verstappen.

Os torcedores não se decepcionariam com a largada de Lando, mas não demoraria muito para que a esperança acabasse…

Zandvoort amanheceu com sol forte e tempo radiante nesse domingo, fazendo com que a torcida neerlandesa lotasse o acanhado circuito de Zandvoort, que luta para permanecer no calendário da F1, mesmo oferecendo pouco espaço para a categoria, incluindo dentro da pista, pois é nítido a estreiteza da pista, ainda mais para os gigantescos carros atuais da F1. O histórico de más largadas de Lando Norris era notório e se repetiu nesse domingo, com uma largada horrenda não apenas de Norris, como também do seu companheiro de equipe Piastri. Verstappen emergiu na ponta ainda antes da famosa curva Tarzan, enquanto Piastri era engolido por Russell e só não foi ultrapassado por Pérez, por falta de espaço, fazendo o mexicano ser ultrapassado por Leclerc.

A torcida neerlandesa vibrou com a liderança de Verstappen, mas havia um certo ceticismo no ar. Mesmo com ar limpo, Max não conseguiu se desgarrar de Norris, com a diferença nunca passando de 1,5s, bem no limite do DRS. Bastou quinze voltas para que Norris quebrasse o limite do DRS e iniciasse os primeiros ataques em cima de Max, que se defendeu como pôde, mas na volta 18 Norris fez a ultrapassagem definitiva bem na frente da arquibancada principal de Zandvoort. A torcida laranja sentiu o golpe, assim como Verstappen. O piloto da casa tentou se manter dentro de 1s de desvantagem para aproveitar o DRS mais eficaz da Red Bull, mas assim que Norris construiu a vantagem necessária, simplesmente desapareceu do horizonte ‘verstapiano’. Foi um passeio no parque em Amsterdã por parte de Lando Norris.

A vitória de Lando Norris nesse domingo foi a de maior margem no ano, destacando o tamanho da vantagem que a McLaren tem nesse momento. Verstappen apenas limitou os danos, se conformando com o segundo lugar e vendo sua ainda larga vantagem no campeonato encolher oito pontos, pois Norris ainda se deu ao luxo de esfriar o carro na penúltima volta para abocanhar o ponto da melhor volta no giro final. Se a vantagem de Verstappen ainda é contornável, a Red Bull vê sua liderança no Mundial de Construtores se desmanchando, mas ainda contou com alguma sorte nesse domingo.

A McLaren ainda sofre de muita insegurança nas táticas de corrida e se acertou com Norris, errou com Piastri. O australiano foi o último a parar dos líderes, o jogando para o sexto lugar. Piastri ultrapassou Russell até mesmo com facilidade, mas não encontrou a mesma prontidão contra um inspirado Leclerc. Depois de tantos erros, a Ferrari acertou na tática de Leclerc, ainda se aproveitando de uma parada longe da perfeição de Russell. O ritmo de Piastri nos fazia crer que a ultrapassagem seria iminente e que até mesmo Oscar poderia efetuar um ataque em Verstappen, se a manobra sobre Leclerc fosse rápida, mas o problema foi que essa ultrapassagem nunca veio. Charles andou no seu limite e segurou os ataques de Piastri na reta principal, conquistando um até mesmo inesperado pódio para uma Ferrari que sofreu em todo o final de semana. Os pontos perdidos de Piastri podem fazer falta lá na frente no Mundial de Construtores, mesmo com a McLaren nitidamente em viés de alta nessa altura do campeonato.

Vindo de três vitórias em quatro corridas, a Mercedes vinha com boa expectativa para Zandvoort, principalmente depois de uma sexta-feira forte e Russell ficando com um lugar na segunda fila, mas a classificação ruim de Hamilton parecia um mau presságio e se confirmou na corrida, com um ritmo pobre dos carros alemães. Russell foi facilmente superado por Leclerc e Piastri na única rodada de paradas, ficando bem longe da briga dos dois pelo pódio. Hamilton rapidamente subiu ao oitavo lugar, depois de ver sua 11º posição no grid se transformar em 14º por ter atrapalhado Pérez ainda no Q1 da classificação. Porém, Hamilton foi incapaz de subir mais e tentando uma tática diferente, partiu para uma segunda parada, onde teria pneus macios novos no intuito de atacar Pérez, em outra corrida opaca do mexicano, mas pelo menos ele marcou alguns pontos, ajudando a causa de sua equipe.

O problema foi que a Mercedes fez o mesmo com Russell, que não tinha pneus novos e meio que atrapalhou o avanço de Hamilton, fazendo-os terminar nas últimas posições entre as quatro grandes equipes. Quando a Mercedes olha para a sua equipe cliente dominar a corrida, será difícil para Toto Wolff explicar que seus carros com apoio de fábrica foram apenas sétimo e oitavo. Sainz corroborou com a boa performance da Ferrari em ritmo de corrida e foi quinto, se recuperando de sua má classificação.

O melhor do resto foi Pierre Gasly, ao conseguir uma ótima largada deixando para trás a dupla da Aston Martin. O piloto da Alpine se manteve por muito tempo em oitavo, até ser ultrapassado por Hamilton e liderar um trem que tinha a dupla da Aston Martin, Hulkenberg e Albon. Mais uma vez nos pontos, a Alpine mostra evolução, mas ainda muito aquém de uma equipe com apoio de fábrica, o mesmo acontecendo com o décimo colocado Alonso. Por mais que tenha estrutura e contrate gente graúda de equipes grandes, a Aston Martin parece em plena decadência e de equipe que buscava vitórias um ano atrás, agora se conforma com poucos pontos.

Desclassificado do grid ontem, Albon quase marcou ponto, além de ter protagonizado a cena da corrida, quando cinco carros entraram juntos na reta dos boxes, com vantagem para Gasly, numa valente ultrapassagem sobre o piloto da Williams na freada da curva Tarzan. O tradicional time azul se cansou das presepadas de Sargeant, que nesse sábado destruiu o seu carro cheio de atualizações, que se tornaram imprestáveis em outro erro do americano. Se fala inclusive de que Sargeant nem corra em Monza na semana que vem, já tendo uma lista de substitutos, encabeçado pelo aniversariante de domingo Andrea Kimi Antonelli, que estrearia na F1 na frente de sua torcida, antecipando sua estreia em alguns meses, pois seu anúncio por parte da Mercedes é iminente.

A Haas fez uma corrida dentro de suas possibilidades e esteve perto de marcar pontos com Hulkenberg, mas nos bastidores teve uma final de semana agitado, com a Ural Kali, pa(i)trocinadora de Nikita Mazepin cobrando na justiça o dinheiro adiantado em 2021, quando o russo ainda era piloto da Haas, antes da eclosão da guerra na Ucrânia e dispensa de Mazepin na sequência. A Ural Kali venceu um processo contra a equipe americana e confiscou todo o equipamento da Haas em Zandvoort, atrasando a saída da equipe rumo à Monza.

Numa corrida onde todos os vinte pilotos que largaram receberam a bandeirada, a Sauber terminou com seus dois carros nas duas últimas posições, com Bottas e Zhou sendo os únicos a tomarem duas voltas. A Audi terá muito trabalho para resgatar a Sauber, começando com a sua dupla de pilotos.

A vitória de Lando Norris, a sua segunda na F1, impressionou mais pela forma. O inglês enfiou 22s goela abaixo de Verstappen em sua casa, onde vinha de três vitórias consecutivas, na maior diferença do ano até agora.

Uma vitória daquelas para encher de moral Lando Norris, mas até que ponto esse efeito laranja tenha vindo tarde demais, pensando no Mundial de Pilotos?

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J.C. Viana,

    O Norris deu um passeio em zandvoort.
    Verstappen comeu poeira. E acho que a RBR até que andou bem.

    Em relação a corrida,de certa forma foi chatinha. Sei lá esperava mais das Mercedes.

    Se a McLaren não tiver problemas, Verstappen vai comer poeira até o fim da temporada. Mas acho que vai ser campeão se não quebrar.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Leandro disse:

      A situação da RedBull me lembra um pouco a da BrawnGP, fizeram uma gordura até que as outras equipes alcançassem.

      Também acho que ele deva conseguir administrar a vantagem para levar o título de pilotos, mas de equipes, acho que vai ficar com a McLaren, pois estão com os dois pilotos pontuando sempre.

      Vantagem para Lando é as outras equipes também chegarem no Max e tirarem pontos, só assim para ele brigar a sério pelo campeonato de pilotos, mas já dá pra sonhar.

  2. Rafael Friedrich Rudolf Brandão Manz disse:

    Ainda mais que tem um osso duro como companheiro e a Mclaren não tem um histórico contumaz de ordens de equipe. Boa semana a todo o mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *