Na terra de Puskás

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O GP da Hungria é um sinal da Fórmula 1 que apenas lembra o passado -- mas já não consegue trazê-lo de volta.

Quando criado, em 1986, o GP da Hungria era o primeiro da história a acontecer na famigerada “cortina de ferro”: um ano antes a Fórmula 1 havia visitado a Austrália e no ano seguinte voltaria ao Japão de forma definitiva. Era o período inicial de expansão, que culminaria nas loucuras atuais com Azerbaijão, Emirados e afins.

Mas a Hungria não é um país exótico (Budapeste é o sexto principal destino da Europa), tampouco sem tradição no esporte: verdade que na Fórmula 1 seu único nome foi o nulo Zlost Baumgartner, mas é a terra de Ferénc Puskàs, um dos maiores jogadores de futebol de sempre e um de meus esportistas favoritos.

Após o domínio soviético, Puskás se recusaria a retornar para seu país, e só seria recebido novamente nos anos 90. De certa forma, a Fórmula 1 chegou à Hungria quando os húngaros estavam se preparando para voltar a fazer parte do mundo.

Hoje a pista húngara já é tradicional: a prova do último domingo foi a 31ª disputada em Hungaroring. Apenas outros 12 países receberam mais GPs. E diante das peculiaridades do traçado (a velha frase de Piquet, “um circuito de rua sem os prédios“), há mais chances de se tornar um verdadeiro clássico.

Na pista, isso não se traduz: disputas cada vez mais raras, punições a rodo, previsibilidade a partir do grid etc.

Da vitória de Lewis Hamilton não se pode dizer surpreendente: o melhor tempo nos treinos livres e a pole-position lhe escaparam por pouco (uma batida e o setor com bandeira amarela), mas de certa forma foi beneficiado: a largada na segunda posição muitas vezes proporciona uma melhor largada.

E assim foi a história: Hamilton partiu melhor, Rosberg chegou a superá-lo em velocidade, mas o posicionamento do inglês era muito melhor — e Nico tinha agora que se preocupar com Ricciardo, também.

Hamilton assume a liderança do mundial pela primeira vez, e de quebra se torna o maior vencedor da história do GP húngaro: porém, quando não vence, Lewis não leva muita sorte em Hungaroring: um pódio nas cinco corridas restantes — Schumacher (e Senna) ficou 7 vezes entre os três primeiros na pista.

Não vi Rosberg “afrouxando” na largada. Como apontei acima, o piloto teve a “desvantagem” da pole, e ainda precisou superar Ricciardo. A Nico, deve pesar a incapacidade de girar mais rápido nos momentos em que Lewis ia aos boxes.

Lição maior do ex-maior vencedor da Hungria.

httpv://youtu.be/AZVKs45wd7E

Vejo a liderança do campeonato nas mãos do melhor piloto.

Rosberg não tem condições de bater Hamilton no “mano a mano”. Assim, tentará sempre colecionar o máximo de pontos possíveis e contar com algumas qualificações problemáticas para Hamilton.

Interessantes as disputas entre Ferrari e Red Bull. Ricciardo e Vettel não chegaram a ter um combate mais acirrado, mas os pegas entre Räikkönen e Verstappen foram o melhor momento da corrida.

Kimi, talvez pela convivência com Vettel, fez bastante uso do rádio para pedir punições ao jovem holandês. Não vi motivo para tanto, nem mesmo naquele momento da breve batida entre ambos. Kimi foi afoito, simplesmente.

httpv://youtu.be/iL4cqtpGT08

Na sétima posição, atrás das “três grandes”, surgiu Fernando Alonso com a McLaren. Ano passado, também na Hungria, ele conseguiu seu melhor resultado. Neste ano, Alonso já passou para o Q3 quatro vezes – 2015 foi apenas uma.

É uma inegável melhora, mas é também muito pouco para um piloto bicampeão mundial e sexto maior vencedor da história da categoria.

Por isso, Alonso já sinaliza que o fim da sua carreira pode estar próximo: “não quero ficar como Massa”, diz ele.

E o que seria “ficar como Massa”?

Na última corrida, uma amostra: Felipe teve mais um fim de semana daqueles: largou em décimo-oitavo, terminou em décimo-oitavo.

“O volante estava pesado para um lado, leve demais para o outro”, comentou o brasileiro.

Bottas saiu em décimo e fechou em nono. 56 a 38 para o finlandês no campeonato.

Quererem punir Hamilton por conta do “dedo do meio” ou Alonso por “andar fora dos limites da pista” seria digno de boicote.

As recentes notícias dão conta de uma possível compra dos direitos da Fórmula 1 por parte da gigante Apple. Mero rumor, até aqui. Mas caso se confirme, será de fato o fim da F1 como esporte para se tornar entretenimento: “Faça aqui o seu download do app Formula One “…

Saudades de Puskás.

Boa semana a todos!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

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