Confira a primeira (clique aqui) e a segunda partes (clique aqui) da entrevista.
(…)
Como é que você viu aquilo de dentro do carro, Roberto? Porque você largou muito bem…
Aquilo foi muito rápido, cara. Foi muito rápido. A gente viu um monte de poeira, e viu que tinha acontecido alguma coisa na frente, porque deu pra ver os carros indo reto pra fora saindo uma poeira desgraçada. E aí eu sabia que tinha que tomar cuidado na hora de entrar naquela curva, então eu vim por dentro porque se o carro desse alguma derrapada eu ainda teria pista para consertar. E com isso eu evitei a água e o óleo dos carros.
Você largou muito bem. Se classificou com o nono tempo, mas partiu em oitavo porque o Alesi não largou depois de um acidente que sofreu no sábado. E você já fez a primeira curva em quarto…
É, eu passei uma Williams na largada…
Na verdade foram duas. É que o Boutsen largou mal e segurou o Patrese. Você largou tão melhor que só se deu conta do Boutsen, que disputou a frenagem contigo.
É, isso me marcou porque logo na minha primeira corrida com a Benetton já colocar uma Williams para trás estava demais… E aí quando eu fui abrir a segunda volta eu me lembrei que precisava ter cuidado na primeira curva, porque ela estaria suja com água e óleo dos carros que tinham batido, e não deu outra. O Berger, que nessa altura vinha liderando, pegou aquela sujeira toda e rodou, foi parar fora da pista. Quando eu vi ele rodando pensei: “Poxa, acertei em cheio”. E fiz de novo a curva com o maior cuidado. A partir daí o Mansell ficou liderando tranquilo, e eu tava ali, em terceiro, conseguindo acompanhar o Nelson.
E o Nelson fez uma coisa muito boa. Nós largamos com pneus duros (tipo B), e ele começou a economizar pneu. Então muita gente ficou dizendo que eu poderia ter tentado passar o Nelson, mas eu acho que fiz a coisa mais inteligente ao não forçar o ritmo, porque se eu acelerasse para passar o Nelson ele ia acelerar também, e nós teríamos que parar nos boxes para trocar os pneus. Eu entendi o que o Nelson estava fazendo, e comecei a seguir o ritmo dele. Logo depois o Mansell teve problemas nos boxes, e nós ficamos na liderança da corrida. Então foi a coisa mais inteligente que eu fiz, porque nós economizamos os pneus, e com isso nossos dois carros estavam bons no final.
Então eu fui indo, fui indo, fui indo… E comecei a ficar cansado… Essa é a parte que poucas pessoas sabem que aconteceu comigo. Eu comecei a cansar.
Em Suzuka você começa a volta com uma curva de alta para a direita, que tem duas tomadas. E ali meu carro original vinha muito de traseira, mas o carro reserva tava perfeito ali. E depois vinha uma sequência de curvas esquerda-direita, esquerda-direita que vai até um outro curvão de alta para a esquerda, e aquele trecho todo cara, eu fazia com meus dentes travados! Toda volta! Já não aguentava mais cara…
O pescoço já tinha ido “pro vinagre?”
Já tinha ido “pro vinagre”. Aí eu lembrei do Emmanuel, e comecei a lembrar daquilo que ele tinha me falado, de que eu ia encontrar forças através da minha fé. E aí me veio essa sensação muito mágica, que os maratonistas chamam em inglês de third wind, que em português seria “terceiro vento”. É uma espécie de energia mais forte, como uma injeção de adrenalina em dose dupla, que vem quando você já está esgotado, e então você consegue correr muito mais ainda. Foi a primeira vez que eu senti isso na minha vida. Eu sei que as minhas voltas começaram a ficar rápidas, eu fiquei rápido pra caramba, e aquilo me levou até o final da corrida, cara.
E então, logo assim que eu cruzei a bandeirada eu relaxei. Relaxei e comecei a agradecer tanto a Deus, por ter me dado aquela energia, meu anjo da guarda por ter me protegido e feito com que eu superasse todos os desafios, e atravessasse tudo aquilo obtendo sucesso no final. E eu fui assim rezando e agradecendo, até que quando foi perto do meio da volta, naquele trecho que passa embaixo da pista eu encontrei o Nelson. Aquele momento ali, pra mim, foi o momento mais prazeroso da minha vida, depois do nascimento das minhas filhas. Foi uma coisa impressionante, não dá nem para descrever em palavras. Foi uma emoção bem parecida com a do nascimento da minha primeira filha, Andressa. Uma sensação de que valeu a pena, sabe? Passar por todas as dificuldades que você passa, enfrentar tudo que você enfrenta… Ali, naquele momento sozinho dentro do carro (nitidamente emocionado), foi o momento mais prazeroso de minha vida, depois do nascimento de minhas filhas.
E aquela acabou sendo a primeira dobradinha da Benetton, e você veja como são as coisas… Justo em meio a toda aquela energia por eles terem perdido um piloto. São coisas assim até difíceis de entender, né? Depois de todas as dificuldades que a Benetton tinha vivido ao longo daqueles dias ela acabou conseguindo o melhor resultado de sua história.
E aquela continua sendo a última dobradinha conquistada pelo Brasil na Fórmula 1…
Ah é? Não sabia disso não… Quando eu comecei a entrar nos boxes a adrenalina diminuiu, e aí é que eu vi o quanto estava cansado. Eu não conseguia me mexer dentro do carro mais (risos). Eu não queria sair daquele banco. Tava tudo bom. Aí eu comecei a chorar, a chorar, a chorar… Porque eu olhei o carro da frente e era o do Nelson, cara! E aquilo significava pra mim (novamente emocionado), agradecer ao Nelson por ter acreditado na minha carreira em 1979 e ter me dado a força para correr na Europa. Por ter sido um grande irmão, e não só ter me ensinado o caminho das pedras, mas também por ter me ensinado a seguir ele sozinho, para eu poder me virar na vida. Era eu agradecendo ao Nelson sem palavras, cara. “Aí Nelson, valeu a pena…” (Moreno faz uma pausa, nitidamente emocionado) Você ter me dado um empurrão no início de minha carreira.
Então veio tudo ao mesmo tempo. Essa ficha caiu ali, na mesma hora em que eu caí fisicamente, porque a adrenalina baixou, e eu olhei o carro da frente e era do Nelson… Passou um filme na minha cabeça, igual a quando você está para sofrer um acidente, foi a mesma coisa. Naqueles instantes ali passou um filme da minha vida diante dos meus olhos. Meus primeiros momentos na Inglaterra… O dia em que o Nelson me deixou numa oficina pela primeira vez, e me disse para só telefonar de volta quando eu já soubesse montar e desmonatar o câmbio do meu Fórmula Ford. É até difícil falar… Quando ele me disse que se eu fosse para a Inglaterra eu ia aprender a falar inglês e ia voltar bem sucedido. Tudo aquilo passou pela minha cabeça, e eu caí num daqueles choros profundos, uma mistura de alegria, uma coisa que você não conseguia parar. O Nelson quando olhou pra mim falou: “Cara, para de chorar senão eu também não me aguento aqui, para”. E eu abracei ele ali, e eu queria ficar abraçado com ele o resto da vida ali, cara.
Foram muitos momentos que vão ficar na minha cabeça para sempre. No pódio eu não tava conseguindo ficar em pé, eu tava com as pernas tremendo e ia dobrar os joelhos a qualquer momento. Eu ficava me mexendo e olhando pra cima, torcendo para não cair ali na frente de todo mundo. Mas acho que ninguém notou meu estado de fadiga ali no pódio. Na press conference eu nem sabia o que dizer, aquilo pra mim era novidade. Tudo aquilo foi muito emocionante, né? O Brasil ter sido campeão… Tirando o incidente do Senna com o Prost, e o Alessandro Nannini ter perdido um braço, tudo foi muito positivo.
E aí depois que eu tava tranquilo e relaxado os mecânicos fizeram uma festa muito bacana comigo. Aquela sensação de surpresa e prazer… O Briatore, o Barnard… E aí o Ken Tyrrell entrou nos meus boxes e disse: “Olha Roberto, eu quero te dizer aqui o quanto que eu estou satisfeito por você ter terminado a corrida em segundo. Eu duvidava que você com tão pouco tempo de volante este ano fosse conseguir ter um resultado aqui no Japão. Na verdade eu fiz uma aposta com minha mulher de uma libra, dizendo que você pararia umas 10 voltas depois da metade da corrida. E eu estou muito impressionado por você ter terminado, ter feito as voltas que você fez, e fez o trabalho com muito pouco treino esse ano. Você é um grande piloto, cara”.
E me deu um abraço, sabe? Um abraço de pai mesmo, com orgulho. E isso vai ficar na minha cabeça pra sempre.
Você considera aquele fim de semana como o ponto alto de sua carreira?
O ponto alto não. Foi o ponto mais emocionante. O ponto alto eu ainda considero meu campeonato inglês na Fórmula Ford, em 1980. Um ano em que eu tive equipamento, estrutura, e ganhei metade das corridas que participei. Aquilo sim era ser piloto. Depois, o restante de minha carreira foi uma grande luta para continuar correndo e fazer uma carreira no automobilismo.
E com aquele resultado o Briatore veio me dizer que não tinha sido a favor de minha contratação para o Japão, mas que agora ele queria que eu corresse também na Austrália. Eu respondi assim: “Briatore, you just made my day!”. (Risos).
Em tempo: Diante da grande quantidade de manifestações, Roberto enviou uma resposta geral aos leitores que comentaram a coluna sobre seu retorno a Zandvoort (confiram na seção de comentários do artigo).
Infelizmente, o Baixo perdeu sua mãe no último mês, mas leu e salvou todos os comentários.
Abraços!
Márcio Madeira
15 Comments
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E imaginar que tive que enganar meus pais, deitando lá pelas 9 horas e acordando as 2 da manhã escondido para assistir ao GP. Tinha 12 anos e fui consagrado pelo resultado. Minha felicidade ao ver o Mansell esmurrando o volante de sua Ferrari são indescritívies.
O mais engraçado é que a adrenalina pouco me deixou dormir e fui o primeiro a levantar e acabei falando da vitória do Piquet e minha casa caiu, meus pais descobriram a tática!!!! Bons tempos aqueles em q tinha que assistir ao GP com o volume zerado e torcendo para ninguém levantar durante a noite e acabar com minha “aventura”. Obrigado Piquet e Moreno por essa lembrança eterna!
A dobradinha no Japão de Piquet e Moreno será sempre inesquecivel para mim por dois motivos que em muito me tocou naquela epoca … uma de poder ver novamente Piquet vencendo e mostrando que não estava “acabado” para a Formula 1. Inclusive ele venceu a corrida seguinte na Australia com Mansel no seu cangote … a outra foi de poder ver Moreno dirigindo um carro decente na Formula 1, chegar em segundo, fazer parte de uma dobradinha historica e mostrar o seu real valor … Moreno merecia melhor sorte no automobilismo …
Fernando marques
Niterói RJ
deixei para ler toda a sequência das três colunas de uma única vez, fiquei muito emocionado, naquele dia 21 eu já havia ficado pelo retorno de Nelson a vitória e a dobradinha deles dois, agora todo o filme foi revivido
Parabéns Márcio, por ter conseguido traduzir toda essa emoção novamente
Parabéns Márcio!!!
Que história incrível, e graças ao GPtotal e ao amigo Márcio Madeira, que é um Baita profissional, pudemos ter acesso a tal relato, pois na época o que se falava era que o Moreno não quis atacar o Piquet por consideração.
Realmente, é de se emocionar.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Roberto, naquela corrida… “you just made my day!”
🙂