Nova era

Último round!
25/11/2016
O Top 10 de 2016
30/11/2016

Das bizarrices repetidas e propagadas pela imprensa, uma é esta de dizer que Nico Rosberg mereceu o título, como grafaram ou pronunciaram muitos jornalistas do meio.

Bizarro primeiramente pela obviedade de que um campeão em uma temporada tão longa é merecedor, e depois porque parece haver uma tentativa de justificar Nico ter sido campeão mesmo tendo vencido menos corridas que o vice-campeão, Hamilton.

Rosberg filho não precisa da compaixão de ninguém, e o título deveria na verdade servir para que se reavaliasse o talento e a posição histórica do piloto.

Recomendo a [re]leitura do ótimo texto Reputação abaixo do talento, de nosso colunista Júlio ‘Slayer’. Escrito há dois anos, após o segundo título de Hamilton, serve muito bem para que repensemos se é mesmo necessário repetir a todo momento que Nico ‘mereceu’.

Outro texto que vale nova visita é do mês passado: em sua coluna O estranho no ninho, Alessandra Alves falou sobre o paradigma de quão engrandecedor seria para Lewis Hamilton que Nico Rosberg fosse o campeão desta temporada.

Hoje, podemos dizer que Hamilton bateu um campeão mundial em três das quatro temporadas que dividiram o mesmo equipamento, e que em nenhum destes campeonatos venceu menos corridas que o companheiro dono de título mundial.

Além deste peso maior no legado, certamente a derrota em 2016 será enorme combustível para que Hamilton venha 2017 mais motivado e focado do que nunca.

As mudanças prometidas para a temporada que vem tendem a trazer alguma mudança nas peças do xadrez — não passa de puro achismo sensacionalista alguma aposta nisso agora, mas da última grande mudança a Red Bull foi atingida em cheio.

Aguardemos.

O que se viu em Abu Dhabi foi um Nico Rosberg muito seguro de si e ciente de tudo que precisava e poderia fazer, em oposição a um Hamilton com potencial muito maior do que o que foi demonstrado. Em outras palavras, ambos foram conservadores em suas performances, mas somente um deles o fez com convicção.

Mas não condeno a atuação de Lewis Hamilton na prova.

Explico: de certa forma, Hamilton arriscou-se e fez diferente de tudo que se diz dele em decisões ou momentos cruciais: teve auto-controle, foi até mesmo algo insubordinado e ainda por cima irônico. Ele teve o mérito de tentar.

É como no futebol, quando aquele time adota uma estratégia defensiva, em vez de buscar a vitória.

O empate seria de Hamilton. Rosberg fez o gol.

Na sua busca incessante por Ayrton Senna, Lewis Hamilton supera uma marca muito importante do brasileiro: em Abu Dhabi, Hamilton liderou 43 giros e chegou a 2.990 voltas na liderança ao longo da carreira — 4 a mais que Senna.

Em seu excepcional livro Fórmula 1 – pela glória e pela pátria [se algum leitor do GPTotal não conhece a obra, trate de presentear-se a si mesmo neste Natal] Eduardo Correa divide os pilotos em algumas categorias — aqueles que simplesmente passam pela categoria, como provavelmente vai ser o caso de Joylon Palmer e possivelmente acabará sendo o de Nasr não são elencados.

a- Grande Senhor das Pistas

b- Campeões

c- Ganhador de GPs

d- Móveis e Utensílios

e- Jovem Leão

Hoje podemos chamar Hamilton ou Vettel de grandes senhores das pistas ou permanecem sendo campeões? Voto na segunda alternativa.

Já Massa e Button, em princípio, seriam b e c. Num olhar mais clínico e crítico, talvez tenham se tornado c e d.

Como o caro leitor classifica esses dois que se despediram ontem?

Somei as pontuações de Nico e Lewis tendo como base os principais regulamentos ao longo da história: Nico seria campeão no sistema de 1950 a 59, 1960, 1961 a 1990 e no de 2003 a 09. Só sairia vice na pontuação 1991 a 2002, e adivinhem: teria os mesmos 136 pontos de Lewis, só perdendo pelo número de vitórias

Provocação levantada pelos amigos do GPTo durante a corrida: com aquela regra bizarra da pontuação dobrada na última corrida – adotada só e unicamente na temporada 2014 -, Hamilton teria se sagrado campeão.

O mundial foi decidido na Malásia, para muitos. A lembrança é o abandono de Hamilton. Mas é preciso lembrar que Nico quase abandona aquela corrida após batida no início (ele poderia ter brigado pela vitória, não?) e ainda teve a questionável punição na batida com Kimi.

Não podemos esquecer, também, do GP de Mônaco: o próprio Hamilton fez questão de agradecer o companheiro após a prova. E tem ainda o controverso GP da Espanha…

Noves fora, a prova na Malásia não foi totalmente decisiva, não.

Porém, creio que já está mais do que provado que o sistema de melhores resultados é o melhor sistema de resultados, com o perdão do trocadilho infame.

No Brasil, tal sistema é incessantemente chamado de descartes muito por conta da necessidade de tentar desvalorizar o mundial de Senna em 1988 — repete-se, por exemplo, que ele é o único campeão somando menos pontos totais. John Surtees, quem?

O curioso é ver os mesmos ”críticos” reclamando de como o GP da Malásia influiu no título de Nico…

Leiam Sobre Marcianos e Descartes, amigos.

Termino esta coluna, que é minha última de 2016, desejando um 2017 cheio de todas aquelas coisas boas que a gente sempre deseja nessa época.

Estou prestes a me tornar oficialmente pai [eu já me sinto e me considero tal, registre-se] e imagino que este será o mais difícil e mais gratificante desafio de minha vida.

Inicio uma nova era. Espero que a Fórmula 1 renasça, também.

Meu muito obrigado e um abraço a todos.

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *