O céu de Mônaco

Uma edição à altura
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Fico imaginando como foi esta última edição do tradicionalíssimo GP de Mônaco visto de cima, muito de cima. Fico imaginando gente que brilhou em edições passadas dessa corrida analisando sua edição 2012.

No futebol existem os deuses dos estádios? Eu gosto de imaginar que os grandes do automobilismo continuam ligados à sua paixão mesmo depois de terem passado para uma dimensão muito superior.

Fico imaginando como foi esta última edição do tradicionalíssimo GP de Mônaco visto de cima, muito de cima. Fico imaginando gente que brilhou em edições passadas dessa corrida analisando sua edição 2012.

Alfred Neubauer nem precisou olhar para o lado para saber que Alberto Ascari e Lorenzo Bandini novamente se afligiram com deslizes cometidos na saída do túnel, felizmente sem nefastas consequências físicas.

Neubauer, tendo Caracciola ao seu lado, estavam conjecturando se Nico Rosberg estaria à altura do que se espera dele no futuro mas, principalmente, se será digno das glórias do passado.

Disse Neubauer: “este campeonato está parecido com o que o pai dele ganhou, hein? O Q3 provou que as Mercedes estavam muito competitivas nesse fim de semana e Webber me parecia mais um azarão. Vettel parecia estar com dificuldades com o carro, ele que costuma ser mais eficiente que o australiano, parecia ter desistido de lutar pela pole e justamente em um circuito em que, talvez mais que qualquer outro, essa posição costuma ser vital.

Caracciola: “o Emerson foi um caso notório em que essa regra não valeu, dando uma chance única para Beltoise”.

Neubauer: “esse foi um ponto fora da curva”. E riu gostosamente da sua piada involuntária, no que foi acompanhado por seu ex-piloto.

Caracciola: “no campeonato deste ano, este foi o primeiro GP em que quem largou em primeiro chegou em primeiro”.

Separador

Enquanto isso Ascari e Bandini observavam como a estratégia de uso dos pneus cada vez mais se parece com uma atração do Casino de Montecarlo.

Bandini: “a grande surpresa desta rodada foi a duração, muito acima da expectativa, dos supersoft”. Entrando na conversa, Neubauer comenta que as equipes de ponta estavam prevendo duas paradas mas que a estratégia adotada e executada por Seb os obrigou a mudar.

Neubauer: “a turma da frente optou por começar com os supersoft, trocando na altura da volta 26 pelos soft e repetindo a escolha lá pela volta 52. Com a previsão de chuva na volta 28, todo mundo achou melhor empurrar com a barriga o quanto desse. Risco baixíssimo de ser ultrapassado, como se sabe. Mas aí começam a perceber que Seb ainda conseguia andar rápido mesmo com pneus soft vetustos. Se os líderes mantivessem o segundo pit, a vitória iria parar no colo do Vettel. Então decidiram ficar todos juntos, guardando borracha até o fim, Hamilton inclusive, e seja o que Gott quiser”.

Caracciola, revelando ter esperanças no seu candidato a sucessor, enfatiza que Nico rodou 51 voltas com seus soft. “Digno de uma Sauber em seus melhores momentos”, disse ele.

Ascari, não querendo ser passado para trás por um alemão mesmo em uma mera discussão, observa que Alonso já sabe que os Pirelli se comportam melhor quando têm pista livre à frente do que quando estão atrás de alguém e tratou de abrir distância do Lewis ainda no primeiro stint, mostrando muita habilidade ao fazer isso sem grande desgaste. Entusiasmando-se ao ouvir a própria voz, Ciccio, como Ascari é conhecido pelos amigos, entrou em detalhes técnicos, explicando que Fernando evitou acelerar forte nas saídas das curvas lentas e muito menos dar qualquer traseirada. Antes de dar motor, colocava as rodas retas, alinhadas com a pista.

Caracciola, também egresso da era das derrapagens controladas mas famoso por sua suavidade ao volante, lançou um olhar admirado mas ao mesmo tempo cúmplice.

Ciccio continuou: “foi isso que permitiu a ele se aproveitar do pit stop do Lewis para tomar o terceiro posto; tinha pneu para fazer voltas rápidas enquanto o outro ainda estava esquentando seus soft. Poderia até ter ganho porque no final do primeiro stint Mark e Nico estavam mais lentos com pneus novos que ele com seus supersoft conservadões”.

Caracciola: “é, mas na sua primeira volta com os soft Nico não foi tão lento assim e podia ter pego Alonso de surpresa na sua parada. Então, ele e a equipe acharam melhor lamber os dedos com o terceiro lugar praticamente na mão”.

Neubauer: “em um campeonato tão apertado quando esse, o nome do jogo é constância. Eu teria feito a mesma coisa, Caracciola. Mesmo com você guiando”.

Bandini: “fiquei com a impressão de que Seb e sua equipe contaram com a previsão meteorológica para escolher largar com soft. Penso que eles apostaram em ficar mais tempo na pista do que os líderes e assim trocar de vez para os de chuva, pegando todo mundo no contrapé. Só isso para me fazer crer que um piloto como ele iria abrir mão de tentar a pole. Observem: na volta 31 seus softs velhos ainda permitiam tempos melhores que os novos dos líderes, ainda frios. Uma das manhas dos Pirelli é que o “envelope de voo” da temperatura é bem estreito, então enquanto não se alcança essa faixa ou se mantém nela, problemas à vista. Quando os pneus do Mark atingiram essa faixa, mataram a estratégia do Vettel. Só restou a ele ficar na pista. Seu problema passou a ser matar a estratégia de Hamilton, coisa que ele pode fazer na volta 45”.

Graham Hill, que estava acompanhando a conversa, interveio: “parece que a McLaren deu uma bobeada e não percebeu o bote do Seb. Quem também parece ter bobeado foi a equipe Lotus, que liderava todas as apostas. What a shame!”

Nesse momento Ayrton apareceu. Todos pensaram mas acharam melhor não perguntar o que ele tinha achado do sobrinho.

Mas ele pareceu ter lido o pensamento coletivo e disse: “ele começou tarde. Talvez tarde demais. Mas os pilotos, este ano, estão muito irregulares. Um dia o Maldonado ganha, no outro faz besteira. Um dia o Perez parece ser a maior revelação dos últimos tempos, no outro faz palhaçada. Um dia o Button faz milagre, no outro é um fiasco. A sorte dele é que não está na Ferrari”.

Carlos Chiesa

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

3 Comments

  1. Rafael Carvalho de Oliveira disse:

    Chiesa, foi um belo texto!

  2. simplesmente genial texto. parabens Carlos!

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