O dia da caça

Acabou
09/11/2011
Em defesa de Tilke
15/11/2011

Em Abu Dhabi, seria possível dizer que Vettel, Hamilton, Alonso e Button estiveram próximos da perfeição. O primeiro e o último, no entanto, enfrentaram problemas, e Hamilton acabou vencendo por ter em mãos um carro ligeiramente melhor que a Ferrari do espanhol.

A vitória de Lewis Hamilton no GP de Abu Dhabi admite, pelo menos, duas abordagens distintas. Por um lado seria possível dizer que ficou faltando a “cereja do bolo”, na medida em que o conjunto favorito não chegou a ser batido, tendo sofrido problemas enquanto liderava, ainda na 1ª volta. Já por outro lado, seria igualmente justo ponderar que tanto Hamilton quanto Alonso tiraram todo o potencial de seus respectivos carros, e não poderiam ter feito muito mais do que fizeram. Abandonos, afinal, fazem parte do esporte, e Vettel certamente não irá reclamar da sorte em 2011.

Entre estes dois ângulos, me identifico mais com o segundo. Imaginar o que Vettel teria feito se não tivesse abandonado seria incorrer em condicionais, e ainda que ele faça por merecer o benefício da dúvida, o fato é que o vencedor foi Hamilton, porque estava na posição certa para se aproveitar quando Sebastian tivesse algum problema – e cedo ou tarde ele iria ter. Foi uma vitória muito merecida, enfim.

É bem verdade que Alonso foi igualmente brilhante, e que Jenson Button carregou nas costas uma McLaren cujo Kers ia e voltava sem aviso ao longo da prova, tornando cada frenagem um difícil jogo de adivinhação. Sob o aspecto das atuações, portanto, seria possível dizer que Vettel, Hamilton, Alonso e Button estiveram próximos da perfeição. O primeiro e o último, no entanto, enfrentaram problemas, e Hamilton acabou vencendo por ter em mãos um carro ligeiramente melhor que a Ferrari do espanhol.

 

Separador

 

Hamilton e Alonso, aliás, deram para rasgar mútuos elogios recentemente, deixando para trás a enorme rivalidade que construíram desde que dividiram (literalmente) a McLaren em 2007.

Da mesma forma como Ayrton Senna fez as pazes com Alain Prost imediatamente após o eterno rival ter se aposentado, ainda no pódio do GP da Austrália de 1993, Alonso e Hamilton parecem estar se identificando bastante um com o outro, desde que o crescimento de Sebastian Vettel passou a jogar alguma sombra sobre os dois. Igualmente talentosos e momentaneamente relegados a resultados abaixo daquilo que são capazes de fazer, Fernando e Lewis demonstram ter entendido que estão no mesmo barco, e que talvez não faça sentido a manutenção de uma disputa tão acirrada, quando o que está em jogo são meras migalhas. Mais conveniente, neste caso, é a união contra um adversário comum.

Tire da equação o favoritismo de Vettel e sua “Kinky Kylie”, no entanto, e aposto minhas fichas como ambos voltam a trocar tapas tão logo retornem à briga por campeonatos.

 

Separador

 

O abandono prematuro de Vettel não nos privou apenas do que prometia ser uma boa briga, ou do que teria sido uma vibrante corrida de recuperação, mas também da espetacular câmera voltada para seu rosto. De qualquer forma, quem acompanhou o fim de semana desde os treinos de sexta, teve a chance de compreender de forma um pouco mais íntima o tipo de contexto que torna este esporte algo tão único e fascinante.

De modo especial, as imagens serviram para transmitir duas noções muito interessantes. Primeiro, foi impressionante ver a concentração a e calma com que Vettel atacava a pista durante voltas rápidas, mantendo a mesma expressão facial relaxada que teria ao jogar videogame. E, por fim, foi quase assustador notar seus olhos esbugalharem durante as frenagens, não apenas pelo esforço físico necessário para suportar forças da ordem de 5g, mas também pela inevitável transferência de sangue para as extremidades frontais de seu corpo.

Vale a pena prestar atenção nisso, caso a tomada seja repetida no futuro.

 

Separador

 

Com o abandono, Vettel não poderá mais superar a emblemática marca dos 400 pontos numa só temporada. Se vencer em Interlagos, o bicampeão terminará o ano com 399 pontos anotados.

 

Separador

 

Bastante elogiada pela equipe de transmissão televisiva, a determinação de dois trechos para utilização da asa móvel foi, a meu ver, um novo deboche esportivo em nome do “espetáculo”.

Diversas vezes ao longo da prova um determinado piloto conseguia a manobra ao longo da grande reta oposta, apenas para levar o troco óbvio no trecho seguinte. Mark Webber – sempre ele – passou por isso tanto contra Jenson Button quanto contra Felipe Massa.

Devo estar me tornando um velho ranzinza, mas para mim Fórmula 1 não é lugar para este tipo de brincadeira.

 

Separador

 

Em relação aos brasileiros, destaque total para Rubens Barrichello. Largando em último e com pneus médios, Rubinho mesclou um ritmo no limite das possibilidades de seu carro, com uma administração dos pneus digna de sua experiência. Mais algumas voltas, e certamente ele teria deixado Pérez para trás, na luta pela 11ª posição. Pena, para ele, que atuações neste nível tenham sido pouco freqüentes ao longo do ano.

Felipe Massa, por sua vez, não pode ser comparado diretamente ao companheiro de equipe, pelo fato de a Ferraria ter utilizado asas dianteiras diferentes em seus dois carros. Ainda assim, Felipe pareceu guiar com bastante comprometimento e vontade, apesar de jamais ter encontrado um equilíbrio satisfatório para seu carro. A rodada, já no fim da prova, combina perfeitamente com este cenário.

Por fim, Bruno Senna teve mais uma corrida de cão. Largou com pneus médios, tracionou mal, arriscou uma troca prematura buscando ter pista livre com pneus novos e macios, e depois voltou a ter problemas com o Kers. Para completar, ainda sofreu uma punição por ignorar bandeira azul, cruzando a linha de chegada apenas 3 segundos à frente de Lotus de Kovalainen. A culpa, no entanto, não é só sua. Carro e equipe também estiveram muito abaixo da crítica.

 

Separador

 

Também neste fim de semana, o incrível Sébastien Loeb conquistou mais um título mundial de rali – o 8º consecutivo! E foi um campeonato mais que merecido, no qual o velho campeão teve que enfrentar fortíssima resistência dentro do próprio time, na forma do xará Sébastien Ogier, e ainda lidar com algumas quebras bastante incomuns dentro da eficiente equipe Citroën.

Por conta dos pontos perdidos pelo octacampeão a disputa acabou prolongando-se até a última etapa do ano, na Grã-Bretanha, envolvendo Loeb pelo lado da Citroën, e Mikko Hirvonen representando a Ford. O desfecho, no entanto, acabou representando um anticlímax, tão logo Hirvonen deu uma rodada e acabou causando um pequeno furo ao radiador de seu carro. Quando o problema foi notado, o motor já tinha sido danificado para além de qualquer possibilidade de reparo.

Olhando sob uma perspectiva histórica, o título de Loeb em 2011 foi consagrador, se é que isso ainda é possível numa carreira como a dele. Sua rivalidade com o talentosíssimo Ogier fez lembrar os anos de Senna e Prost na McLaren, e será muito interessante acompanhar o desenrolar dos fatos nas próximas semanas. Desde já, se ambos continuarem sob o mesmo teto em 2012, a promessa é de mais uma temporada arrepiante no WRC.

 

Separador

 

Nos dias 8 e 9 deste mês, Bernie Ecclestone foi testemunha no caso de suborno e corrupção do banqueiro Gerhard Gribkowsky, em Munique, protegido pelo esquema de delação premiada. Em seu depoimento, Bernie assumiu ter transferido 44 milhões de dólares para comprar o silêncio de Gerhard, em relação a possíveis complicações fiscais atreladas à negociação que terminou por vender a maioria dos direitos da categoria ao grupo CVC. Segundo o próprio Ecclestone, determinadas interpretações do fisco britânico poderiam gerar pagamentos “bastante caros”, da ordem de 2 bilhões de libras.

Duvido muito que algo de mais sério venha a acontecer com Ecclestone ao fim deste episódio. No entanto, ninguém pagaria um valor tão alto de suborno, se não tivesse um punhado de segredos cabeludos a esconder. Vale a pena, portanto, acompanhar o caso com atenção.

Abraços a todos,

Márcio

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *